O legado desconhecidocasas praia do cassinoNiemeyer na Argéliacasas praia do cassinofotos: 'Como encontrar uma cidade maia perdida, só que modernista':casas praia do cassino
Ao registrar a importante obra deixada por Niemeyer na Argélia, o livro também captura o que foi, para o escritor, um episódio único na história do século 20: o momentocasas praia do cassinoque, livre do jugocasas praia do cassinoum colonizador brutal, uma nação africana emerge das cinzas da guerra e convida um arquiteto visionário para participar da construçãocasas praia do cassinoum novo país. A Argélia do futuro, radical, moderna e confiante.
A revolução será interrompida, diz o título do livro. Mas o legadocasas praia do cassinoNiemeyer permanece. Qual seria o seu papel na Argélia hoje? — indaga o autor.
As reflexõescasas praia do cassinoJason Oddy vêm acompanhadascasas praia do cassinoum ensaio fotográficocasas praia do cassinosua autoria e tambémcasas praia do cassinoplantas, desenhos inéditos e anotações feitos por Niemeyer.
Do Brasil para o mundo
Um dos mais importantes representantes da arquitetura moderna no mundo, Oscar Niemeyer nasceucasas praia do cassino1907 e morreucasas praia do cassino2012 — com quase 105 anos. Famoso internacionalmente como o homem que projetou Brasília, ele assina centenascasas praia do cassinoobras distribuídas por vários países. Entre elas, o prédio da ONU,casas praia do cassinoNova York (que ele projetoucasas praia do cassinoparceria com o suíço Le Corbusier) e o prédio do Partido Comunista Francês,casas praia do cassinoParis.
Seu estilo inconfundível se caracteriza pelo usocasas praia do cassinomuito concreto, vidro, curvas e vãos livres. Liberdade, surpresa, fantasia e originalidade eram os valores que orientavam o trabalho do arquiteto. Oscar Niemeyer costumava dizer quecasas praia do cassinoarquitetura tinha nenhuma finalidade senão a beleza.
Membro do Partido Comunista Brasileiro, o arquiteto se exilou na França após o golpe militarcasas praia do cassino1964. "Tive dificuldades para trabalhar. Quiseram me calar", ele declarou no documentário A Vida é um Sopro, do diretor Fabiano Maciel. Iniciou-se, então, uma fase mais internacional na carreira do arquiteto, que passou a receber convitescasas praia do cassinodiversos países, inclusive a Argélia.
O legado argelino: tesouro esquecido
Durante uma década trabalhando para o então presidente argelino Houari Boumediènne — entre 1968 e 1978 —, Niemeyer projetou duas universidades e um centrocasas praia do cassinoesportes.
"Eram como esculturas que pareciam levar o concreto até seus limites físicos e poéticos", diz Oddy.
Ele se refere aqui aos prédios do campus da Universidade Constantine, hoje Mentouri. Ele fica nos arredores da cidadecasas praia do cassinoConstantine, 650 km ao leste da capital, Argel. Esta foi a primeira das obras argelinascasas praia do cassinoNiemeyer que o fotógrafo visitou, por acaso, durante uma viagem à Argélia,casas praia do cassino2010.
"Me pareceram tão idealistas. Eram espaços não hierárquicos, criados para dar poder aos estudantes."
"(Arquitetura como essa) era algo tão improvávelcasas praia do cassinoum país tão novo e relativamente pobre", comenta.
"Fiquei surpresocasas praia do cassinosaber que projetos tão importantes haviam desaparecido da história da arquitetura e da história do próprio Niemeyer", diz.
"Ele construiu 600 prédios, continua construindo, postumamente. Mas ao contrário do que ocorreu com suas obras brasileiras, ou com o prédio do Partido Comunistacasas praia do cassinoParis, por exemplo, ningém escreveu sobre os prédios argelinos. Caíram no esquecimento."
Os poucos livros sobre o tema, publicações brasileiras ou estrangeiras, têm foco restrito, detalhando apenas parte do legado do arquiteto no país norte-africano.
Um fator que talvez contribua para isso, ele pondera, é a situação política no país. "A Argélia hoje é um país fechado, o turismo não é encorajado e jornalistas não são vistos com bons olhos."
Mas, na décadacasas praia do cassino1970, houve um períodocasas praia do cassinorelativa abertura.
Otimismo revolucionário
Líder rebelde durante uma sangrenta guerracasas praia do cassinoindependência contra a França, o oficial do Exército argelino Houari Boumediènne subiu ao poder por meiocasas praia do cassinoum golpecasas praia do cassinoEstadocasas praia do cassino1965, três anos após a vitória dos revolucionários.
Maiscasas praia do cassinoum séculocasas praia do cassinocolonização francesa (1830-1962) havia deixado a Argélia praticamente analfabeta.
"Em 1832 (quando se iniciava o domínio francês), 95% da população da Argélia sabia ler e escrever", conta Oddy. "Em 1962, quando os colonizadores foram embora, 90% não sabiam ler."
Por isso, a primeira obra que o presidente da Argélia independente encomendou ao brasileiro foi uma universidade, diz à BBC News Brasil o engenheiro carioca Bruno Contarini,casas praia do cassino81 anos, que trabalhou com Niemeyer durante maiscasas praia do cassinomeio século (hoje envolvido na construção da Nova Catedralcasas praia do cassinoNiterói, desenhada por Niemeyer).
Contarini: 'Era um artista'
"O Boumedienne saiu pelo lado da educação do povo. Em um ano, entregamos a universidade (de Constantine) já funcionando, com alunos. Quatro ou cinco anos depois, já tinha gente formada na universidade."
"Depois, o Niemeyer fez a Universidadecasas praia do cassinoArgel e fez também o Centro Olímpico."
Contarini diz que Niemeyer ficou satisfeito com as obras.
"Ficou feliz. O que ele pedia a gente fazia. Em Constantine, o vão écasas praia do cassino50 metros, fica bonito. Niemeyer gostavacasas praia do cassinoespaços grandes."
"Ficava apaixonado pelas obras. Era um artista. Botava a mão e fazia as coisas bonitas."
O engenheiro explica que — crucialmente, para o arquiteto — o "cliente" deixava a equipe brasileira muito à vontade.
"Niemeyer ficava livre para criar, o pessoal aceitava o que ele pedia."
Entre as obras argelinas, a favoritacasas praia do cassinoContarini é o ginásiocasas praia do cassinoesportes.
"Estruturalmente ecasas praia do cassinobeleza, a salacasas praia do cassinoesportes (é a minha favorita). Uma estruturacasas praia do cassinocem metroscasas praia do cassinovão com espessuracasas praia do cassino20 cm e sem apoio nenhum", comenta o engenheiro.
"(Niemeyer) pensava, dava um traço, resolvia. Tinha a estrutura no sangue. Todas as obras dele são fáceis. Tudo tem uma lógica, ele não forçava, nunca me pediu coisa impossível. Eu falo que é difícil só pra fazer média."
Para o fotógrafo Jason Oddy, o ginásiocasas praia do cassinoesportes ilustra a visãocasas praia do cassinoNiemeyer para a Argélia:
"Essa forma futurística, como um disco voador, encapsula o projetocasas praia do cassinoNiemeyer para a Argélia. Trazer a Argélia para o futuro, para a era espacial. Para Niemeyer, a grande arquitetura tinhacasas praia do cassinoter surpresa. E essa obra não se parecia com nada do que existia na Argélia pós-colonial."
Em seu livro, Jason Oddy descreve a combinaçãocasas praia do cassinofervor revolucionário pós-colonial, arquitetura moderna e a construçãocasas praia do cassinoum Estado como algo singular.
"Niemeyer deve ter sentido o otimismo e a euforia que existiam na Argélia naquele período. Sabia que não era um país democrático, mas talvez tenha sentido que havia idealismo no trabalho que estava fazendo."
Mas havia limites para o papel do arquiteto. A mesquita projetada por Niemeyer e nunca construída serve como um símbolo desses limites — alémcasas praia do cassinoser a origem do título do livro.
'Revolução Interrompida'
"Um dos projetos, não sei se foi encomendado ou se foi iniciativa do próprio Niemeyer, eracasas praia do cassinouma mesquita. O desenho lembra vagamente a Catedralcasas praia do cassinoBrasília", diz Oddy.
Quando Niemeyer mostrou a maquete a Boumediènne, conta Jason, o presidente teria comentado: "É bonita, mas bastante revolucionária."
"Sim, senhor presidente. Mas a revolução não pode ser interrompida no meio do caminho", Niemeyer teria respondido.
Nesse ponto da entrevista, o tomcasas praia do cassinoJason Oddy revela uma certa melancolia.
"Encomendaram a ele um novo centro cívico para o governo, um novo palácio presidencial, ministérios, uma praça central. Um monumento para a revolução, uma nova área residencial... nada disso foi construído."
"Niemeyer ia construir uma Brasília na Argélia, uma nova cidade, muito diferente da forma como as potências coloniais haviam construído o país. Mas seu plano revolucionário pós-independência nunca se tornou realidade. A Argélia não é um país livre."
Argélia, 40 anos depois
Boumediènne morreucasas praia do cassino1978. O espírito revolucionário e otimista do período pós-independência na Argélia deu lugar, na décadacasas praia do cassino1990, a uma guerra civil entre grupos islâmicos e forças do governo.
Em 1999, um líder com pulso firme, Abdelaziz Bouteflika, assumiu o controle e permaneceu no poder até abril deste ano, quando foi forçado a renunciar por uma combinaçãocasas praia do cassinoprotestos da população e pressão dos militares. Um presidente interino, Abdel Kader Ben Salah, governa atualmente com respaldo das Forças Armadas.
Até fevereiro deste ano, protestos eram raros e pouco tolerados, mas desde então, argelinos têm ido às ruas regularmente para reivindicar eleições e a voltacasas praia do cassinoum regime democrático no país.
Para analistas, no entanto, as chancescasas praia do cassinoque isso aconteça são pequenas — especialmente agora, com os militarescasas praia do cassinovolta à cena.
O Legadocasas praia do cassinoNiemeyer
No documentáriocasas praia do cassinoFabiano Maciel A Vida é um Sopro, filmado quando Niemeyer tinha 97 anos, o arquiteto lamanta o fatocasas praia do cassinoque, "por enquanto, só quem usa a arquitetura é quem tem dinheiro".
Mas não foi assim com as obras argelinas, comenta Jason Oddy.
Como raramente se vê na história da humanidade, na Argéliacasas praia do cassinoNiemeyer a arquitetura ousada e visionária foi colocada a serviço não das elites políticas ou religiosas, mas dos estudantes.
"Niemeyer estava projetando as universidades que educariam o povo que construiria aquele país."
Testemunhocasas praia do cassinoum jovem jornalista
Um daqueles estudantes, hoje com 50 anoscasas praia do cassinoidade, é o jornalista Kamel Souiad, do BBC Arabic, serviço árabe da BBC.
Souiad estudou letras na Universidadecasas praia do cassinoConstantine no ínício da décadacasas praia do cassino1980. Ele lembra com nostalgia daquele tempo e descreve o impacto que sentiu ao chegar do interior, com 18 anoscasas praia do cassinoidade, para estudar no campus projetado por Oscar Niemeyer:
"Nunca tínhamos visto algo parecido", conta. "Os prédios não eram amontoados uns sobre os outros, então você tinha uma sensaçãocasas praia do cassinoliberdade, sentia o espaço àcasas praia do cassinovolta. Era um lugar mágico, carcado por árvores e plantas."
Hoje, os prédios e os lindos jardins já não estãocasas praia do cassinomuito bom estado. Mas não é assim que Souiad, emcasas praia do cassinomemória, os vê.
"O prédio que mais nos impressionava era um auditório imenso, com formacasas praia do cassinoum livro aberto. Ao lado, havia uma coluna que parecia uma caneta, e duas depressões no solo, que pareciam dois potescasas praia do cassinonanquim."
"Não é só um prédio", reflete. "O livro aberto é cheiocasas praia do cassinosimbolismo."
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