O boliviano que escapou da forca na Malásia após ser preso com cocaína no estômago:galera bet apostas

Víctor Parada

Crédito, Víctor Parada / arquivo pessoal

Legenda da foto, Víctor Parada: 'espero que meu depoimento convença outras pessoas a não fazerem este tipogalera bet apostasviagem'

Mas Parada foi libertado, no dia 24galera bet apostasjulho do mesmo anogalera bet apostasque foi condenado, e regressou à Bolívia, no que considera um "milagre".

Segundo um comunicado do Ministériogalera bet apostasRelações Exteriores da Bolívia, o Estado boliviano "acompanhou e apoiou" Parada, e realizou os trâmites para agalera bet apostasrepatriação.

Este é o depoimentogalera bet apostasParada à BBC Mundo, o serviçogalera bet apostaslíngua espanhola da BBC, depoisgalera bet apostasvoltar àgalera bet apostascasa, após cinco anos preso na Malásia.

linha central

Quando embarquei, não sabia que na Malásia havia penagalera bet apostasmorte (para o tráfico). A pessoa que me enviou me disse que tudo seria fácil.

Eu lhe devia cercagalera bet apostasUS$ 5 mil, e essa era a minha maneiragalera bet apostaspagá-lo.

Eu viajei da Bolívia para São Paulo,galera bet apostaslá para Dubai (nos Emirados Árabes Unidos), egalera bet apostasDubai para a Malásia.

Víctor Parada

Crédito, Víctor Parada / arquivo pessoal

Legenda da foto, Víctor diz que topou viajar para saldar uma dívidagalera bet apostascinco mil dólares

No meu estômago, eu levava um quilo e meiogalera bet apostascocaína líquida embalada dentrogalera bet apostaspreservativos. Era como uma espéciegalera bet apostasgelatina.

Durante a viagem eu não tive problemas, ninguém me disse nada, foi tudo tranquilo até eu chegar na Malásia. Lá, a polícia já estava me esperando.

Passei pelo controlegalera bet apostasimigração, egalera bet apostaslá me seguiram até a esteira onde se retiram as bagagens. Lá, cinco policiais me agarraram e me levaram para a delegacia.

Eles destroçaram minha mala e começaram a me dizer "droga, droga, você carrega drogas". Eu disse a eles que não, que eu era apenas um turista.

Então outro policial chegou e me levou para o hospital. Lá eu resisti dois dias e meio até que eu não aguentava mais a vontadegalera bet apostasir ao banheiro. Eu expulsei a droga. Então eles me deram acesso a um telefone. Por meio do Facebook, eu contatei a minha namorada da época e contei a ela que tinha sido preso.

Eu tinha um quilo e meio, mas o relatório dizia que levava apenas 450 gramas. O que aconteceu com as outras 1.050 gramas?

Do hospital, me levaram para outra delegacia, onde fiquei por 12 dias sem sabergalera bet apostasnada. De lá, fui jogado na cadeia para esperar pelo meu processo.

Na cadeia, eles te dão uma colcha, uma colher e um prato. Eles também te dão um uniforme com um cheiro inacreditável. Perto desse uniforme, um panogalera bet apostaschão usado pode ser considerado limpo.

Eu tive alergia quando vesti o uniforme. Peguei sarna na região do pescoço e do peito.

Depoisgalera bet apostastrês meses na prisão, alguém finalmente me emprestou um telefone e eu pude falar com minha mãe.

'Não me importava com mais nada'

Eu sou moreno, mas no cárcere fiquei branco como um sapo, sem cor.

Silvia Vargas

Crédito, Silvia Vargas / arquivo pessoal

Legenda da foto, Silvia Vargas, mãegalera bet apostasVíctor, foi visitá-lo na Malásiagalera bet apostasdezembrogalera bet apostas2017

Durante o primeiro ano, nos deixavam tomar sol. Mas logo a minha ala inteira da cadeia foi punida por causagalera bet apostasdrogas. Lá entra muita droga,galera bet apostasgrande quantidade. Os próprios guardas dão drogas para os presos usarem. Maconha, heroína, metanfetamina, LSD.

Eu mesmo não usava drogas na cadeia, a princípio. Mas depois me vicieigalera bet apostasheroína, e já não me importava com nada.

Se te dizem que você vai sair dentrogalera bet apostas20 ou 30 anos, você passa a viver com essa perspectiva. Mas se não te dizem nada, esta é a pior condenação.

Passava o tempo jogando xadrez ou baralho.

Fiquei um mês sem comer, até que o meu estômago me obrigou a fazê-lo. A comida era muito ruim e às vezes cheirava a peixe podre. Quando enfim comi, tive uma alergia, com vômito e febre. Perdi 15 quilos.

Abusos

Um dia, um guarda entrou na cela que eu dividia com um taiuanês e um bengali. O guarda me deu um soco. Perguntei a ele porque me socou, e ele me acertougalera bet apostasnovo. Me defendi, e nós lutamos.

Víctor Parada com seu filho

Crédito, Silvia Vargas / arquivo pessoal

Legenda da foto, O filhogalera bet apostasVíctor Parada tem hoje 9 anos

Ele pegou o cassetete, me acertou no braço, na perna e me golpeou na cabeça, o que me derrubou. Ele abriu a minha cabeça. Ficou uma manchagalera bet apostassangue no chão.

O guarda saiu e me deixou sangrando lá. Então dois outros guardas chegaram e me levaram para fora.

Eles me levaram ao médico e me fizeram sete pontos.

O ferimento na minha cabeça infeccionou, e não recebi remédio algum. Fiquei três dias sem comer tremendogalera bet apostasfebre.

Fiquei tão nervoso que arranquei os pontos com a mão. Um pus amarelo saiu do ferimento. Fui ao médico e lá eles me disseram "você lutou com um oficial, nós não atendemos a quem faça isso".

A única coisa que me deram foi paracetamol (um remédio para dor e febregalera bet apostasuso comum, que no Brasil não exige nem prescrição médica).

Eu relatei isso no tribunal e ninguém fez nada, nem mesmo meu advogado.

'Quis me suicidar'

Em janeirogalera bet apostas2018, fui ao tribunal e o juiz disse algo que,galera bet apostasmalaio, significa "você é um homem morto". Perguntei ao meu tradutor o que isso significava e ele explicou que eu havia sido condenado à morte.

Víctor Parada

Crédito, Silvia Vargas / arquivo pessoal

Legenda da foto, A Malásia tem penas severas para delitosgalera bet apostasdrogas, inclusive penagalera bet apostasmorte para o tráfico

Eu tive que pedir a ele que repetisse para mim três vezes porque eu não entendia.

Quando finalmente entendi, meu sangue gelou. Perdi a consciência. Um amigo me disse que liguei para minha mãe, mas nem lembro o que disse.

De lá, eles me trancaramgalera bet apostasquarentena por 14 diasgalera bet apostasuma masmorra, que tinha apenas uma abertura para colocar a comida e outra para ver se estava tudo bem.

Nesses 14 dias estimo que só dormi cercagalera bet apostas20 horas. Queria me matar.

Então, me levaram para outra prisão. Lá, fiqueigalera bet apostasuma celagalera bet apostas5 metros quadrados, com um chuveiro e um banheiro dentro.

Às cinco da manhã, um guarda passou para perguntar como estava e eu nem sequer lhe respondi.

Lá, uma vez por dia eles te dão uma garrafagalera bet apostaságua quente, e às vezes te dão um copogalera bet apostaságua fria. Não se pode beber a água da torneira, não é água potável.

Se eu pedisse um pedaçogalera bet apostassabão a um guarda, ele dizia que ali não era um hotel.

Às vezes, quando os escâners não funcionavam e eles suspeitavam que você estava carregando alguma coisa, eles batiamgalera bet apostasvocê com um cano ou uma varagalera bet apostasbambu na sola dos pés. É um castigo que eles chamamgalera bet apostas"rotan" (por causa da palmeira-ratã, ou Calamus Rotang).

Quando me bateram, disse a eles que eu não tinha nada. E eles responderam: "Eu digo que você tem, e você tem que entregar".

Víctor Parada egalera bet apostasirmã

Crédito, Silvia Vargas / arquivo pessoal

Legenda da foto, O governo da Bolívia disse ter acompanhado Parada e trabalhado porgalera bet apostasrepatriação. Na foto, ele com a irmã

Não importa se você vai urinar, se vai gritar ou se vai defecargalera bet apostasdor, eles ainda vão te dar os cinco golpes. Eu disse que ia ligar para o meu advogado, e eles responderam que, se eu quisesse, poderia ligar para o presidente do meu país, quegalera bet apostasnada adiantaria.

Um dia depois dessa punição, 15 presos foram colocados numa celagalera bet apostas5 metros quadrados. No dia seguinte, me bateramgalera bet apostasnovo. "Se eu disser que você tem, é porque você tem", repetiam. Me batiamgalera bet apostasmanhã e à tarde, durante quatro dias. No final, eu estava rastejando.

'Nascigalera bet apostasnovo'

Fiquei preso por 5 anos, 9 meses e 15 dias.

Ainda não consigo explicar como me salvei, mas nascigalera bet apostasnovo.

Deus mudou o coração dos juízes. No mesmo diagalera bet apostasque fui libertado, sentenciaram um nigeriano à morte. Ele foi enforcado e eu fui para casa.

Mas eu não sou um vencedor. Foi a minha família que venceu, foram eles que lutaram.

Deus não teve piedadegalera bet apostasmim, mas da minha família, porque foram eles que sofreram e gastaram quase US$ 100 mil nisso.

Na internet, tenho visto comentários perguntando por que a Justiça da Malásia não me deu mais tempogalera bet apostascadeia. Mas eu não ligo para o que as pessoas dizem, já cumpri minha sentença.

Espero que meu caso sirva para que quem está pensandogalera bet apostasviajar desta forma pense melhor.

O amor da família é o maior. Mas é melhor comer pão duro com água do que ir parar lá, na cadeia. Não faça essa viagem.

raya

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