O professor francês perseguidobet pt slotsSP por querer educar trabalhadores:bet pt slots

Recebeu o apelidobet pt slots"o terrível anarquista", por mais que registros da época mostrem um sujeito culto e distantebet pt slotsqualquer atobet pt slotsviolência.

Perseguido, Jubert respondeu diversos processos durante suas passagens por cidades do interiorbet pt slotsSão Paulo. Graças às essas ações, foi preso, torturado e, também, apagado da história.

'O terrível anarquista'

Jubert nasceubet pt slotsLyon por voltabet pt slots1876 e veio ao Brasil ainda criança,bet pt slotsum períodobet pt slotsintensa imigraçãobet pt slotstrabalhadores assalariados europeus, que chegavam ao país para substituir a mãobet pt slotsobra escravizada nas fazendas. Muitos deles acabaram enganados sobre as reais condições encontradas por aqui.

"A maior parte [dos estrangeiros] vinha na expectativabet pt slotspossuir terras e fugir da fome. Quando chegam aqui e são jogados para trabalhar nos cafezais, passam por maus tratos, dívidas com os armazéns, e muitos desses colonos vão se rebelar", conta Ricardo Rugai, doutorbet pt slotsHistória pela Universidadebet pt slotsSão Paulo (USP).

É nesse contexto,bet pt slotsdesapontamento e abusos sofridos pelos colonos, é que as ideiasbet pt slotsafronta à ordem vigente ganham força - e que Jubert iniciabet pt slotspolitização.

"A ideia dominante era abet pt slotsque anarquistas, comunistas, sindicalistas e qualquer outro ator político tenham vindo para cá já politizados. Mas, na verdade, a maioria dos europeus se tornou anarquista, por exemplo, aqui no Brasil", conta Rugai.

Jubert se aproximou dos anarquistas, mas não se reconhecia como um deles.

"Ele era contra o poder do Estado, da Igreja e da propriedade privada. Mas se declara um livre pensador", afirma Sandrabet pt slotsSouza, que estudou a históriabet pt slotsJubert durante o mestrado pela Universidade São Francisco (USF).

A distância inicial, porém, não o livroubet pt slotsser tachadobet pt slotsperigoso. Logo, o francês foi apelidadobet pt slots"o terrível anarquista", alcunhada dada por um jornal, e passou a sofrer perseguiçõesbet pt slotsrepresentantes da oligarquia rural.

Problemas com a Justiça

O primeiro localbet pt slotsque Jubert teve problemas por causabet pt slotssuas contestações é Atibaia, cidade no interiorbet pt slotsSão Paulo com milharesbet pt slotsimigrantes trabalhando nas lavouras.

Em meio a discussões sobre as novas relaçõesbet pt slotstrabalho e seus consequentes conflitos, o francês, que atuava como professor e advogado, começou a enfrentar dificuldades.

Em 1907, ele foi processado pelo Judiciário local, com base no artigo 399 do Código Penal da época, por não possuir emprego fixo, sendo taxado como vagabundo e vadio pela sociedade da cidade, já que o processo era público.

Ao longobet pt slotssua trajetória no Brasil, ele responderia ainda a outros processos como formabet pt slotsintimidação pelas suas atividades.

"Os processos eram utilizados para conter os chamados agitadores", diz Souza.

Mudança e perseguição

Após ser processadobet pt slotsAtibaia, e estima-se que absolvido, Jubert se muda para a vizinha Bragança Paulista como formabet pt slotsdiminuir a pressão sobre ele. Distante apenas 25 quilômetros, a nova cidade era famosa pelas fazendasbet pt slotscafé e abrigobet pt slotsmilharesbet pt slotsimigrantes, principalmente italianos e portugueses. Um cenário fértil para a divulgação das novas ideias.

Ali, o francês ajudou a fundar a Liga Operária, uma associação que lutava por melhores condiçõesbet pt slotstrabalho, salário mínimo e definiçãobet pt slotsjornada máxima,bet pt slotsum período no qual as leis trabalhistas ainda não existiam.

Após distribuir um boletim da Liga, escritobet pt slotsportuguês e italiano, com tais reivindicações, Jubert foi processado por fazendeiros locais como formabet pt slotsintimidação por "iludir a boa fé dos colonos e causar uma paralisação forçada". O processo foi baseado no artigo 205 do Código Criminal da época que previa penasbet pt slotsprisão por "causar suspensão do trabalho para impor aos operários ou patrões aumento ou diminuiçãobet pt slotsserviço ou salário".

Segundo os produtores rurais, a intenção do professor para com os trabalhadores estrangeiros era "despertar-lhes paixões ruins, visando desviá-los dos trabalho, incitando à greve",bet pt slotsacordo com o processo,bet pt slots1911.

"Ou seja, para a Justiça, o operariado não possuía vontade própria, [os trabalhadores] estavam sendo enganados", conta Sandra. Os acusadores eram os fazendeiros Olympio Barra, Theophilo Francisco da Silva Leme e Felippe Rodriguesbet pt slotsSiqueira - os dois últimos deram seu nomes a vias importantes da cidade até hoje.

Para além da pressão dos donosbet pt slotsfazendas, a imprensa também auxiliava a proteger o status quo. Em artigo, o jornal Cidadebet pt slotsBragança aconselha os colonos a "não serem ingratos para os patrões que lhe estimam e que não venham servir a anarquia social".

Jubert dispensou advogados no caso e fez a própria defesa, mostrando plenos conhecimentos jurídicos. Mas, com a pressão dos fazendeiros, juízes das comarcas próximas davam indicativosbet pt slotsque o professor seria considerado culpado por forçar os trabalhadores a pararem.

Mas, dado o parentesco e as ligações próximas dos julgadores com os acusadores, os três primeiros juízes foram considerados impedidos, graças aos recursos impetrados pela defesa. Assim, foi-se necessário a nomeaçãobet pt slotsum quarto juiz, da cidadebet pt slotsJundiaí, que considerou a denúncia improcedente.

Em pouco tempo, entretanto, diversas greves foram registradas no município, mobilizando cercabet pt slotsmil colonosbet pt slotssete fazendas da região, fazendo com que o conflito social se agravasse.

Educação versus Igreja

Após essas paralisações do trabalho, a pressão ficou cada vez mais forte e o cerco ao francês se apertou.

Outra ideia do francês a causar polêmica foi o planobet pt slotsfundar uma escola para os trabalhadores e seus filhos.

Chamadasbet pt slotsEscolas Modernas, as instituições eram inspiradas nas ideias do pedagogista anarquista espanhol Francisco Ferrer y Guardia. Esse método previa que meninos e meninas estudariam juntos (até então uma inovação), defendia o fim dos exames e dos castigos e, principalmente, uma educação com pouco espaço para o ensino religioso.

"O modelobet pt slotsFerrer é, justamente, uma educação que tenha por base um modelo científico aos estudantes", diz Silvio Gallo, professor doutor da Universidade Estadualbet pt slotsCampinas (Unicamp).

"É a razão contra o dogma. A ideia era contrapor a coisa pragmática com uma educação científica. Ferrer defende uma coeducação das classes, uma igualdade entre homens e mulheres e que eles deveriam ser educados juntos", afirma Gallo.

O plano da escola fez com que Jubert virasse alvo também da Igreja Católica na cidade, que, por meio do Centro Católico, associação destinada à defesa da religião, recebia recursos municipais para bancar a única escola da região.

Um padre chamado Leonardo Gioiele, vigáriobet pt slotsuma das paróquias e vice-presidente da associação, processou Jubert sob acusaçãobet pt slotscalúnia e injúria, após o francês iniciar uma agendabet pt slotsconflitos com o padre por causa dos rumos da educação na cidade.

Em artigobet pt slotsjornal, o professor foi além e criticou a postura do padrebet pt slotsrelação a vida social afirmando,bet pt slotsartigo no jornal A Lanterna,bet pt slots1910, que "padre Leonardo, que como um anjobet pt slotsbondade, foi surpreendido no quintalbet pt slotsuma família, ao pébet pt slotsuma jabuticabeira, a esperabet pt slotsadministrar abet pt slotsbondade a certa mulher casada".

O Centro Católico era presidido por um dos fazendeiros responsáveis pelo primeiro processo contra francêsbet pt slotsBragança, acerca da distribuição dos boletins, o que dá uma ideiabet pt slotscomo o poder econômico e a Igreja andavambet pt slotsmãos dadas na época.

"Esse processo por injúria continua na mesma formabet pt slotsintimidação feita pelos aliados, fazendeiros e membros da igreja,bet pt slotscimabet pt slotsJubert", diz Sandrabet pt slotsSouza.

Ele denunciou ao jornal A Lanterna, no iníciobet pt slots1911, que vinha sofrendo ameaças por meiobet pt slotscartas anônimas e recados. Também afirmou que foi convidado a acompanhar policiais até a delegacia da cidade, onde foi revistado e ameaçado pelo delegado caso continuasse a falar do padre.

Nessa ação do padre e seus aliados, Jubert é condenado a cinco mesesbet pt slotsprisão e ao pagamentobet pt slotsuma multabet pt slotscercabet pt slotsquatrocentos mil réis, um valor considerável à época e, praticamente, impossívelbet pt slotsser obtido por um trabalhador.

Sorocaba, prisão e tortura

Após ter sido condenado, Jubert se mudou a Sorocaba como formabet pt slotsfugir da punição. A cidade contava com grandes tecelagens e um amplo comérciobet pt slotsgado graças à ferrovia que a ligava a Santos. Ele passou então a dar aulas, por três anos,bet pt slotsuma Escola Moderna que já funcionava por lá.

Paralelamente, o professor também auxiliou a aberturabet pt slotsoutra Liga Operária na região. Em 1912, esteve à frente da defesabet pt slotsoperários que trabalhavam na cidadebet pt slotsVotorantim, onde, após a confusão inicial, um promotorbet pt slotsjustiça tentou expulsá-lo da cidade.

Segundo Jubert,bet pt slotsartigo no jornal A Lanterna,bet pt slots1912, as ameaçasbet pt slotsdeportação eram constantes, mesmo que ele tivesse cidadania brasileira e fosse apto a votar.

No ano seguinte, o jornal Correio Paulistano relata que Jubert, chamadobet pt slots"anarquista perigoso e com intuitos subversivos" pelo periódico, é preso após o desfechobet pt slotsuma ação por calúnia e difamação promovida por um advogado, Octávio Guimarães, após Jubert ter discutido com Guimarães nas páginas dos jornais locais, trocando artigos acusatórios sobre educação.

Mesmo com a sentença, Jubert vai à delegacia pedir autorização para um comício, ignorando o resultado do julgamento sobre esse processo por calúnia. O comício, claro, não ocorreu.

Torturado nos primeiros diasbet pt slotsprisãobet pt slotsSão Paulo, para onde foi mandado, o professor ficou presobet pt slotsuma pequena cela, só podia ler livros religiosos e era proibidobet pt slotsler. Os carcereiros locais também molhavam o chão da cela duas vezes por dia, o que o impediabet pt slotsdeitar e o fez desenvolver artrite.

Após a prisãobet pt slotsJubert, anarquistasbet pt slotstodo o país fizeram uma campanha porbet pt slotslibertação e buscarem doações para auxiliar o pagamento das multas impostas pela Justiça. Só depoisbet pt slotsquatro meses, Jubert é libertado, quando decidiu retornar ao interior.

Depoisbet pt slotsSorocaba, o professor seguiu para Bauru, onde se tornou responsável pela Escola Moderna da cidade, alémbet pt slotslecionar nasbet pt slotsTaquaritinga e Cândido Rodrigues. Ali, continuou a busca por inaugurar centros destinados à educação.

Jubert morreu por voltabet pt slots1945, na capital, após uma vida marcada pela contestação do poder. Mesmo com a trajetóriabet pt slotslutas a favor dos trabalhadores e da educação, histórias como abet pt slotsJoseph Jubert permanecem escondidas do cenário nacional.

"Há um trabalhobet pt slotsocultamentobet pt slotsmemóriabet pt slotslutas, do poder vigente no Brasil, há muito tempo", analisa Ricardo Rugai.

Além da censura do Estado, para o historiador, a hegemonia do Partido Comunista Brasileiro na esquerda, a partir da décadabet pt slots1930, faz com que a história do anarquismo no Brasil anterior a essa década fosse deixadabet pt slotslado, perdendo força social.

"Para além do governo e das fontes oficiais, que ocultam muito histórias como a dele, o PCB também fez um trabalhobet pt slotsocultamento do anarquismo e suas vertentes, ignorando-os ou fazendo críticas pesadas a esses personagens", conclui.

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