Bacharelgalera bet minesDireito com paralisia cerebral vê sonhos se desmantelarem após morte da mãe: 'Foi um tombo para mim':galera bet mines

Legenda do vídeo, 'Vou continuar batalhando', diz bacharelgalera bet minesDireito com paralisia cerebral

Mas ele perdeu seu alicercegalera bet minesfevereiro, com a mortegalera bet minessua mãe, Ruth Valderez.

"Foi um tombo para mim. Eu perdi minha mãe, perdi casa, perdi comida, perdi tudo. Apesargalera bet mineseu trabalhar, eu era dependente dela. Ela que me ajudava, que mantinha tudo na casa, que criava o meu viver", diz à BBC News Brasil, minutos antes embarcar para Goiânia.

Leonardo com a mãe
Legenda da foto, Leonardo havia recentemente voltado a morar com a mãe, que o ajudava a tomar conta da barraca na praia; ela morreugalera bet minesfevereiro| Foto: Arquivo Pessoal

Depois da morte da mãe, cuja aposentadoria sustentava os dois, Léo teve que devolver o apartamento conjugado que alugavam no Leme. E sumiu da praia. Vendeu alguns móveis, doou outros, jogou "um montegalera bet minescoisa no lixo". Trancou o que sobrougalera bet minesguarda-móveis na rodoviária, e deixou o Riogalera bet minesJaneiro.

Tentou a sorte no Recife e se fixou temporariamentegalera bet minesGoiânia, onde mora seu irmão. Uma amiga lhe emprestou um apartamento, mas não tem conseguido pagar as contasgalera bet minesluz, água e gás, e tem visto as dívidas se avolumarem.

Nos últimos meses, a depressão que já enfrentaragalera bet minesoutros momentos da vida voltou a ameaçar, na esteira das dificuldades financeiras e da faltagalera bet minesperspectiva.

"Eu estou me sentindo triste e sozinho, porque a minha mãe morreu recentemente. Eu entreigalera bet minesfasegalera bet minesdepressão, mas bons amigos estão me ajudando e me incentivando. A vida continua", afirma, sorridente, dando tchau da porta do ônibus.

Suporte financeiro e emocional

Ruth Valderez morreugalera bet minescâncergalera bet minesfevereiro, três meses depoisgalera bet minesdescobrir um tumor no fígado. A doença já havia se alastrado por outros órgãos.

Era ela quem ajudava Léo a abastecer a barraca na praia, onde o filho anunciavagalera bet minesvoz alta: "Olha a água gelada!". Anos atrás, ela o acompanhava às aulasgalera bet minesDireito na UniverCidade, ajudando-o a copiar as matérias e acompanhar as disciplinas.

Leonardo na praiagalera bet minesCopacabana
Legenda da foto, A princípio, Leonardo tinha vergonhagalera bet minestrabalhar como ambulante, mas depois dizia ter orgulho do que fazia

"Alémgalera bet minestodo o suporte financeiro, eragalera bet minesmãe que lhe dava o suporte emocional", diz a advogada Débora Futscher, amiga desde a faculdadegalera bet minesDireito, onde o defendia quando sofria bullyinggalera bet minesoutros estudantes.

Léo está entrando com recurso no INSS para buscar receber pensão por morte da mãe,galera bet minesquem dependia economicamente.

"Seu primeiro pedido foi negado por ele ter dado entradagalera bet minesGoiânia, domicílio diferentegalera bet minesonde morava com a mãe, e agora temos que esperargalera bet minesseis meses a um ano por uma conclusão positiva ou negativa", explica Débora.

Enquanto isso, a amiga montou uma vaquinha online para conseguir recursos para Léo e vem tentando ajudá-lo a conseguir um emprego, busca que tem sido infrutífera.

"O Léo é esforçado, batalhador, bem articulado, atua muito bem na parte administrativa. Mas ninguém quer empregar pessoas com paralisia cerebral", lamenta. "A lei determina cotas para pessoas com deficiência, mas as empresas preferem contratar pessoas com deficiências mais leves."

Débora vem incentivando Léo a postar fotos e vídeosgalera bet minesseu Instagram para que seguidores acompanhem seus passos. Tem conseguido ajudagalera bet minespessoas e empresas, como um hostel que abrigou Léo gratuitamentegalera bet minesjulho. Ele esteve no Rio para buscar documentos e recuperar os bens que estavam presos no depósito.

"Ele estava quase indo dormir na rua, num papelão. Fiquei com o coração partido", diz a amiga.

Leo na rodoviária do Rio
Legenda da foto, Léo tem paralisia cerebral e dificuldades motoras, mas carregou sozinho suas malas até o alçapãogalera bet minesbagagens do ônibus que o levaria a Goiânia

Filho da violência doméstica

Léo nasceugalera bet minesAnápolis, Goiás, depoisgalera bet minesquase sofrer um aborto precipitado pela violência do pai.

Sua mãe, Ruth Valderez, estava grávidagalera bet minescinco meses quando tomou um tiro na altura do coração que atravessou o pulmão. O autor do disparo foi o próprio marido, que tinha violentas crisesgalera bet minesciúme após beber.

Na época, Ruth tinha 24 anos. Estava casada há quatro e tinha outros dois filhos.

"Os médicos propuseram um aborto quando verificaram que eu estava grávida", contou Ruth à BBC News Brasilgalera bet minesmarçogalera bet mines2018.

Leo da Água na rodoviária, antesgalera bet minespegar o ônibus para Goiânia
Legenda da foto, Depois da morte da mãe, Léo tentou a sorte no Recife e se fixou temporariamentegalera bet minesGoiânia, onde mora o irmão dele

"Mas não aceitei, porque entendi que estava preparada para o filho que viesse. Ele tem saúde e tem as suas limitações. A gente foi convivendo e crescendo com isso. Ele foi superando as limitações e hoje é uma pessoa capazgalera bet minesviver sozinha e se sustentar", afirmou à época.

O pai ficou preso por cercagalera bet minesum ano. Nunca procurou conhecer Leonardo. Ruth criou os três filhos sozinha, com a ajuda da família.

Diagnosticado com paralisia cerebral leve, Léo teve sequelas na coordenação motora que provocam movimentos involuntários e dificuldade para andar e falar. Também teve perda auditiva severagalera bet minesambos os ouvidos.

Estudougalera bet minesuma escola para crianças com necessidades especiais até os médicos atestarem quegalera bet minescapacidade mental não havia sido afetada. Foi alfabetizado aos 10 anosgalera bet minesGoiânia, para onde a família havia se mudadogalera bet minesbuscagalera bet minesmelhor tratamento para o caçula.

"A paralisia cerebral me trouxe, no começo, uma rebeldia, uma revolta. Quando eu via as crianças brincandogalera bet minespique-esconde, eu sempre era o 'carta branca'. Ou seja, eu não podia brincar. Eu era excluído", relembrou,galera bet minesentrevista à BBC News Brasilgalera bet mines2018.

"Quando cresci, comecei a perceber os olhares... Eu sofri muito bullying na escola. Sofri muita discriminação, muito preconceito. Na adolescência, eu queria namorar, mas não conseguia."

Leonardo na infância
Legenda da foto, Leo se alfabetizou aos 10 anosgalera bet minesGoiânia, para onde a família se mudougalera bet minesbuscagalera bet minestratamento para ele | Foto: Arquivo Pessoal

Léo terminou os ensinos fundamental e médio com muita dificuldade, pela faltagalera bet minesagilidadegalera bet minescopiar a matéria e dificuldadegalera bet minesouvir o que era ditogalera bet minessalagalera bet minesaula.

"Eu era muito dedicado e queria aprender. Eu queria ser uma pessoa independente, livre. A minha vontade ajudou muito a minha caminhada."

Carreira jurídica: frustração e sonho

Apaixonado por andar a cavalo, Leo decidiu prestar vestibular para Veterinária. Não passou e acabou optando porgalera bet minessegunda opção: Turismo. No decorrer do curso, teve a sensaçãogalera bet minesque a área discriminava pessoas com deficiência, "trabalhando muito com a aparência".

Frustrado, mudou-se para São Paulo e começou a fazer Direito. Com a mãe recém-aposentada, porém, os gastos com a faculdade particular que cursava se tornaram insustentáveis. Depoisgalera bet minesum ano estudandogalera bet minesSão Paulo, Léo conseguiu uma bolsagalera bet mines70% na UniverCidade (faculdade que deixougalera bet minesexistirgalera bet mines2014), no Rio.

Durante um ano, encarou a estrada três vezes por semana, com direito a passagem interestadual gratuita por ser deficiente. Saíagalera bet minesSão Paulo à meia-noite, chegavagalera bet minesmanhã no Rio, assistia às aulas e voltava para São Paulogalera bet minesnoite.

A maratona deteriorougalera bet minessaúde e seu rendimento acadêmico. Até que Léo caiu da escada na faculdade e quebrou a tíbia. Passou por uma cirurgia e trancou o curso enquanto se recuperava na casa da avógalera bet minesGoiás.

Leonardo na formatura
Legenda da foto, Frustrado com o cursogalera bet minesTurismo, Leonardo trocougalera bet minesfaculdade e formou-segalera bet minesDireito | Foto: Arquivo Pessoal

Foi então que decidiu se mudar para o Riogalera bet minesJaneiro. Morou sozinho no conjugado no Leme por dez anos. Depois,galera bet minesmãe veio morar com ele, ajudando a tomar conta da barraca na praia.

Após a formatura,galera bet mines2011, Léo trabalhou por quatro anosgalera bet minesuma empresagalera bet minestelecomunicações, onde fazia protocolosgalera bet minespedidos judiciaisgalera bet minesquebragalera bet minessigilo telefônico.

Foi dispensadogalera bet minesuma demissãogalera bet minesmassa. Quando a mãe morreu, já estava há maisgalera bet minestrês anos desempregado.

Léo ganhou um processo na Justiça do Trabalho por ter sido demitido sem justa causa. Mas a empresa estágalera bet minesrecuperação judicial, e a indenização ainda não foi paga.

Em conversa com a BBC News Brasilgalera bet mines2018, Ruth desabafou sobre a dificuldadegalera bet minesseu filho conseguir emprego, afirmando haver uma "discriminação velada".

"Existem leis que obrigam empresas a contratarem pessoas com deficiência, só que elas contratam, mas não procuram conhecer a capacidade desse indivíduo. Colocam ele ali e pronto, cumpriram a lei. Ainda é preciso discutir muito a questão do respeito ao indivíduo que tem limitação, mas tem capacidade para desenvolver uma sériegalera bet minesatividades", afirmou.

Frustrado por não conseguir continuar os estudos e atuar na áreagalera bet minesque se formou, Léo teve depressão. Ao vê-lo isolado e triste,galera bet minesirmã sugeriu que fosse vender balas nas ruas para ter alguma renda. Em entrevistagalera bet mines2018, Léo lembrougalera bet minesreação inicial.

"Fiquei pensando: 'Ai, mas que vergonha... Um bacharelgalera bet minesDireito sair por aí vendendo balinha? Que decadência'. E comecei a sofrer mais ainda com isso. Porque quando você se forma, você quer status. Você quer melhorar. E quando você vê que nadou, nadou para não chegar a lugar nenhum... Isso me deixava triste," explicou ele.

Até que um dia decidiu ir para as ruas. Usou os R$ 40 que a mãe havia lhe dadogalera bet minespresentegalera bet minesNatal para comprar uma caixagalera bet minesisopor onde cabiam dez garrafas d'água. Começou a vendergalera bet minesum cruzamento enquanto o sinal estava fechado, mas passou a sentir muitas dores nos pés por ter que andar rápido entre os carros.

Precisou, então, juntar dinheiro para comprar uma barraca para trabalhar no calçadão. Com a ajuda da sobrinha, que na época tinha 13 anos, estampougalera bet minescamisetas, chapéus e caixas térmicas: "Água do Léo - GELAAADA".

A mãe se orgulhava. Falava que ele era "mais que um vendedorgalera bet mineságua": "Ele não é só um ambulante, é um microempresário. Ele pensa no cliente, escolhe o melhor produto, pensa na higiene, personaliza esse atendimento e procura servir o cliente da melhor forma possível", afirmou Ruth,galera bet mines2018.

Novos desafios

Léo esteve no Rio no iníciogalera bet minesjulho para tentar resgatar os pertences que deixou no guarda-móveis. A empresa ameaçava leiloar seus bens, já que ele não estava pagando a mensalidade do depósito. Conseguiu quitar a dívida com os recursos da vaquinha online embarcou com seus pertences para Goiânia.

"Essas coisas aqui são documentos, roupas, muita lembrança que eu guardei da mamãe. É a única coisa que me sobrou da minha casa", afirmou na rodoviária, apontando para seus pertences.

Isso egalera bet minesinseparável cachorrinha, Pandora, que levou para Goiânia. "Ela está comigo até hoje. É minha única companheira. Ela também sofreu muito pela perda da minha mãe, era muito apegada", diz Léo.

A advogada Débora Futscher,galera bet minesamiga desde a época da faculdade, diz que a metagalera bet minesLéo deixougalera bet minespassar na prova da OAB. "Ele entendeu que vai ser difícil atuar como advogado e quer estudar para concurso para ser técnico analista", afirma Débora, que conseguiu gratuidadegalera bet minesum curso online para concursos públicos.

Leo da Água se muda para Goiânia
Legenda da foto, Há pouco maisgalera bet minesum ano, Léo vivia uma fasegalera bet minesotimismo, mas a morte da mãe fez os sonhos do ambulante desmantelarem

Em 2018, na conversa com a BBC News Brasil, Léo contou ter se sentido humilhado no início ao ter que vender água na rua. Afinal, é bacharelgalera bet minesDireito. Depois, passou a sentir orgulho.

"Por mais humilde que seja a minha barraquinha, pelo menos estou conseguindo atingir meu ideal, que era trabalhar e ocupar o meu tempo. Eu me sinto realizado, mas não completamente, porque a gente nunca se satisfaz. A gente sempre quer mais e mais", afirmou.

Hoje, levando o pouco que restou da vida no Rio para Goiânia, diz querer "continuar lutando, batalhando":

"Não só para mim, mas para toda a categoriagalera bet minesparalisados cerebrais, que têm muita dificuldadegalera bet minesentrar no mercadogalera bet minestrabalho. É uma das categoriasgalera bet minesdeficiente que mais encontram barreira na sociedade e no mercadogalera bet minestrabalho, enfim. Eu quero ajudar todos", afirma.

Menino do Rio

Trabalhando na praia, Léo rapidamente ganhara a simpatiagalera bet minesoutros trabalhadores da orla, como o gari e rapper João José Luiz Júnior, conhecido como Jota Jr - que no ano passado postou um vídeogalera bet minesLéo que viralizou nas redes sociais. Foi assim que a históriagalera bet minesLéo chegou ao conhecimento da BBC News Brasil.

Apesargalera bet minester nascidogalera bet minesGoiânia, Léo não deixagalera bet minessonhargalera bet minesvoltar para o Rio.

"O Riogalera bet minesJaneiro significa tudo na minha vida. Aqui foi onde eu consegui vencer como pessoa com paralisia cerebral. Eu consegui estudar, me formar, fazer bons amigos. O Rio me proporcionou oportunidades maravilhosas", afirma.

"Estou indo embora daqui por dificuldades financeiras, mas eu tenho fégalera bet minesDeus que tudo será resolvido. A vida continua, eu vou ser forte, essa fase vai passar."

Línea

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