Como funciona o sistemaenergia na Venezuela e por que entroucolapso:
Segundo o governo do presidente Nicolás Maduro, o blecaute foi provocado por uma "sabotagem" na usina hidrelétrica Simón Bolívar, a principal do país, conhecida como Guri. Mas especialistas do setor sugerem que a causa foi um incêndio "no corredor" da principal linhatransmissão da usina.
Paradoxalmente, a Venezuela possui, além do petróleo, importantes recursos hídricos, dos quais obtém grande parte daenergia, graças principalmente a Guri.
A hidrelétrica, localizada sobre o Rio Caroni, no sul do país, foi construída entre 1963 e 1969 - e se tornou a maior usina do tipo no mundo após uma segunda etapa da obra, que terminou1986.
Um sistema integrado
A eletricidade proveniente da água e dos combustíveis fósseis convergeum único sistema - o Sistema Interligado Nacional - desenvolvido para abastecer toda a Venezuela.
"Há meio século, os urbanistas do país projetaram (o sistema) assimfunção das vantagens comparativas do pontovista energético", explica à BBC News Mundo Winston Cabas, presidente da Associação VenezuelanaEngenharia Elétrica, Mecânica e profissões afins da EscolaEngenheiros da Venezuela.
O especialista observa que a Venezuela tem entre 16 mil e 17 mil megawatts instaladosenergia hidrelétrica e uma quantidade similarenergia termoelétrica, que somam aproximadamente 34,8 mil megawatts.
"O drama deste país é que hoje, com a crise que vivemos, temos disponíveis apenas12 mil a 13 mil megawatts", diz ele.
Desta capacidade, que estava disponível antes do apagãoquinta-feira, o sistema do baixo Caroni era responsável por 11,1 mil megawatts - sendo assim, cerca85% do consumo no país dependiafontes hidrelétricas.
Cabas lembra que a energia gerada por fontes hidrelétricas no sul da Venezuela é transmitida para o resto do país por meiouma das poucas redes existentes no mundo capazesoperar com um nível extralinhasalta tensão: são três linhas765 quilovolts, que percorrem cerca2,3 mil quilômetros.
Em termosgeraçãoenergia termoelétrica, a Venezuela conta com cerca20 centrais, incluindo a Planta Centro, a maior da América Latina.
Falha ou sabotagem?
Com todas essas fontesenergia, o que levou a Venezuela à crise atual?
A versão oficial apresentada pelo governo do presidente Nicolás Maduro sugere que houve sabotagem.
Foi o que afirmou inicialmente o ministro da Energia, Luis Motta Domínguez, seguido pelo ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez; e pelo próprio Maduro, que disse que o sistema foi alvoataques cibernéticos, eletromagnéticos, assim comoexplosões causadas deliberadamente.
Essa versão foi questionada pelo presidente da Assembleia Nacional e líder da oposição Juan Guaidó, que lembrou que desde 2013 as instalações elétricas na Venezuela foram militarizadas e sugeriu que o governo "roubou dinheiro para investir no Sistema Elétrico Nacional".
Especialistas no sistema elétrico venezuelano sugerem, porvez, que a crise foi originada por uma somacircunstâncias.
Cabas, por exemplo, afirma que na quinta-feira houve um incêndio na subestação Malena - próxima a Guri, no sul do país - provocado pela faltamanutenção da vegetação local.
O fogo teria causado superaquecimentoduas das três linhas765 kilovolts, que ficaram foraserviço, e sobrecarregado a terceira linha, que também paroufuncionar.
Essas falhas teriam ativado o sistemaproteção da usinaGuri, paralisando suas máquinas e acabando com a sincronização com a represaCaruachi.
"Diante desse incidente, se cai o sistema hidrelétrico do baixo Caroni - tirando quase 6 mil megawatts do sistema - e só restaoperação a usina hidrelétricaMacagua, que produz cerca1.150 megawatts e serve apenas para atender cidades ao leste do país, passamos a depender do sistema termoelétrico", diz Cabas.
O especialista ressalta, no entanto, que as usinas termelétricas são responsáveis apenas por cerca2.500 megawatts disponíveis.
Mas como isso é possível se a capacidade instalada desse tipoenergia é16 mil a 17 mil megawatts, e a Venezuela investiu durante as últimas décadas bilhõesdólares no seu desenvolvimento?
"A crise das usinas termelétricas é multifatorial: faltarecursos humanos, manutenção, investimento, combustível e corrupção", responde o especialista.
A derrocada
Em 2006, Chávez prometeu que a Venezuela se tornaria uma potência mundialenergia.
Mas, alguns anos depois, o país começou a enfrentar problemasabastecimento -meio à crise, o governo declarou2010 "emergência elétrica", o que permitiria agilizar a compraequipamentos e peçasreposição, assim como desenvolver planos para melhoria do sistema.
"Através da emergência elétrica, eles aproveitaram para beneficiar alguns grupos ligados ao governo na comprauma sérieusinas termelétricas que - como mostrou um relatório detalhado da Assembleia Nacional - foram adquiridasgovernospaíses aliados, muitas já estavam 'usadas', foram reativadas e vendidas para a Venezuela como novas ", diz Cabas.
Ele assegura que o governo também adquiriu usinasgeração distribuída, apesar dos alertas feitos por especialistasque estes empreendimentos não eram destinados a uso contínuo.
"Hoje a Venezuela é um ferro-velho para esse tipomáquina", diz ele.
Também houve falhas nos planos para desenvolver novas fontesenergia hidrelétrica.
O melhor exemplo disso seria a usinaTocoma, cuja construção começou há maisuma década, e não contribuiu até agora com um único megawatt dos 2.100 megawatts prometidos.
Cabas conta que também havia planos para desenvolver projetosenergia eólicaregiões como a penínsulaParaguaná e na Guajira venezuelana (noroeste), que deveria estar contribuindo com cerca300 megawatts, mas isso tampouco aconteceu.
"Esses são investimentos que foram feitos, pagos, cobrados e não geram nada", afirma.
De volta à geração termoelétrica, Cabas lembra que a crise da indústria petrolífera venezuelana também afeta esse setor, uma vez que a PDVSA - petroleira estatal - não está produzindo o diesel e o gás que essas usinas necessitam para operar.
Além disso, devemos acrescentar as limitaçõespessoal da empresa nacionalenergia elétrica Corpoelec, já que a crise na Venezuela provocou a emigração50% a 60% da mãoobra qualificada do setor - cerca17 mil pessoas,acordo com Cabas.
Essa faltamãoobra também seria um desafio para reativar o sistema elétrico. Segundo o especialista, a reativação do sistema interligado deve ser feita manualmente com equipesespecialistas que vão - ao longo dos mais2 mil quilômetrosrede - ativando as subestações uma a uma.
Um processo que ainda pode levar vários dias.
Até lá, será difícil para os venezuelanos contar com fornecimentoenergia elétrica estável.
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