Por que experimentei LSD quase aos 60 anos e como isso mudou minha vida:telegram vbet
Embora nunca tenha escrito sobre esse tema, Pollan sempre se interessou por questões ligadas à saúde. Suas reportagens investigativas, publicadastelegram vbetjornais como The Washington Post e The New York Times, viraram best-sellers sobre a indústria alimentícia. Alguns exemplos são os livros O dilema do onívoro e Cozinhar: uma história naturaltelegram vbettransformação (ambos lançados no Brasil pela Editora Intrínseca).
Em 2010, o escritor foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista americana Time.
Agora, o "guru" da alimentação saudável se transformoutelegram vbetum dos maiores defensores da "nova ciência" da psicodelia etelegram vbetsuas possíveis vantagens para a saúde mental.
A BBC News Mundo, serviçotelegram vbetespanhol da BBC, conversou com Michael Pollan durante o Hay Festivaltelegram vbetCartagena, um encontro entre escritores e filósofos ocorrido na Colômbia na semana passada. A psicodelia foi o principal tema da conversa.
Diáriotelegram vbetuma viagem psicodélica
Antestelegram vbetcomeçartelegram vbetpesquisa sobre os psicodélicos, Pollan nunca havia provado os chamados "ácidos". Tampouco tinha interesse especialtelegram vbetdrogas.
"Vivo na Califórnia, onde a maconha é legalizada, mas eu não uso. Eu só consumo álcool e cafeína", diz.
Sua curiosidade pelo tema surgiutelegram vbet2010, quando soube que médicos estavam retomando ensaios clínicos iniciados nas décadastelegram vbet1950 e 1960. Depois, esses estudos seriam reprimidos pelo "pânico moral" ligado ao consumotelegram vbetdrogas - que, diz Pollan, ainda segue vigente.
"Os psicodélicos adquiriram uma má reputação. Mastelegram vbetgrande parte isso é injusto e se deve a seus vínculos com o movimentotelegram vbetcontracultura. Muitostelegram vbetseus efeitos foram exagerados, mal interpretados ou confundidos com surtos psicóticos", afirma.
Pollan diz que seu pontotelegram vbetinteresse é o uso clínico da droga.
Em 2010, o cientista Bob Jesse, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, enviou a Pollan um artigo científico com conclusões positivas sobre o uso medicinaltelegram vbetLSD a partirtelegram vbetestudos recentes.
Pollan se interessou pela história, mas a deixou na gaveta. Dois anos depois,telegram vbetum jantar comtelegram vbetesposa Judith e alguns amigos, uma das convidadas - uma "psicóloga proeminente" - falou sobre novas experiências com LSD e como elas eram "estimulantes" para seu trabalho.
Foi quando Pollan decidiu investigar o tema.
Primeiro, ele leu sobre o químico suíço Albert Hoffmann (1906-2008), que acidentalmente descobriu o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), sem saber que a substância acabaria se tornando uma droga urbana popular.
Depois, o jornalista se sentiu preparado para provartelegram vbetprimeira dosetelegram vbetLSD na vida - estava prestes a completar 60 anos. Ele também provou psilocibina e DMT (dimetiltriptamina, o composto alucinógeno da ayahuasca).
Ele fez isso com a ajudatelegram vbetvários "conselheiros" - pessoas que usavam a drogatelegram vbetforma recreativa. No capítulo "Diáriotelegram vbetuma viagem", ele resume a experiência com três palavras: "alucinante, interessante e surpreendente."
A primeira substância que o escritor experimentou foi a psilocibina - ele a usou comtelegram vbetesposa ao lado, na casa da família nos Estados Unidos.
"Senti muitas coisas sobre meus pais", lembra. "Eles eram maiores. Havia duas árvorestelegram vbetminha casa, e vi com total clareza que uma delas representava minha mãe e a outra, meu pai. Sei que soa poético, mas foi isso que senti nesse momento. Dois anos depois, uma das árvores caiu… e meu pai morreu. Foi incrível pela intensidade emocional."
Enfrentar a morte
O paitelegram vbetPollan morreutelegram vbetjaneirotelegram vbet2018,telegram vbetcâncer. O jornalista dedicou o livro a ele, mas foitelegram vbetmorte que o levou a escrevê-lo?
"Sim e não", responde. "Dediquei o livro a meu pai porque sabia que ele estava morrendo. O livro fala muito sobre a morte. Fiz muitas entrevistas com enfermostelegram vbetcâncer, com quem tive o privilégiotelegram vbetconversartelegram vbetuma maneira muito franca e honesta sobre a morte."
O escritor recolheu depoimentostelegram vbetdoentes terminais sobre como a psilocibina os ajudaram a superar o medotelegram vbetmorrer.
"A ideiatelegram vbetque a psilocibina pode mudartelegram vbetum único dia como você se sente e como se relaciona com a morte é algo extraordinário", diz Pollan.
O escritor confessa que não conversou com seu pai a respeito da morte. "Não sei como ele iria processar a ideiatelegram vbetsaber que estava morrendo, ou o que ele pensava sobre isso, ele não queria falar do assunto… mas ao menos consegui conversar com outras pessoas."
A história que mais o impactou, recorda, foi atelegram vbetuma mulher que tinha câncertelegram vbetovário.
"Ela havia se submetido a um tratamento e estavatelegram vbetremissão, mas o medotelegram vbetuma possível volta da doença a estava paralisando e arruinandotelegram vbetvida. Ela provou psilocibina somente uma vez na Universidadetelegram vbetNova York e pôde confrontar seu medo. 'Viajou' imaginariamente pelo seu corpo e viu uma grande massa negra embaixotelegram vbetsua caixa torácica. Ela sabia que não era o câncer, porque o tumor não estava nesse lugar específico", relata o jornalista.
"Ela disse que reconheceutelegram vbetimediato: era seu medo. E ela gritou: 'saia do meu corpo'. A mancha negra se evaporou. Ela me contou que aquela experiência a ensinou que ela não podia controlar o câncer, mas podia controlar seu medo. Então deixoutelegram vbetsenti-lo", relata Pollan.
Dentro do cérebro
Essas conversas e suas próprias experiências com drogas psicodélicas fizeram o jornalista mudartelegram vbetopinião a respeito das substâncias - daí o títulotelegram vbetseu livro.
"Eu não tinha ideia que essas substâncias tinham um valor medicinal", diz. "Todavia, estamos aprendendo quais são os efeitos das drogas psicodélicastelegram vbetnosso cérebro. Mas o principal parece ser o que eles produzem na chamada rede neural padrão [um conjuntotelegram vbetregiões cerebrais que colaboram entre si enquanto o cérebro estátelegram vbetrepouso]. Esse efeito afeta nossa noçãotelegram vbetidentidade."
"Essas estruturas condicionam como pensamos sobre nosso passado e nosso futuro, o que é vital na construçãotelegram vbetnossa identidade. E também a imagem sobre os demais, que é chave para experimentar empatia ou compaixão", explica Pollan. "Eles são neurônios que também estão implicados na narrativa autobiográfica, a história que contamos sobre quem somos."
Pollan diz que as drogas psicodélicas podem fazer com que uma pessoa perca o sentidotelegram vbetsi própria. "Você sente que está se dissolvendo. Experimentei essa sensaçãotelegram vbetuma 'viagem' posterior com psilocibina. Eu me dissolvia enquanto ouvia música. E o mais extraordinário é que eu estava consciente que isso estava acontecendo."
Ele assegura que a experiência o fez enxergar a mortetelegram vbetseu paitelegram vbetoutra forma. "Mas essa sensação pode ser eufórica ou aterradora", pondera.
Mas como os psicodélicos podem ser terapêuticos?
"Os pesquisadores acreditam que,telegram vbetmuitos casos, nosso ego nos faz infelizes porque ele pode ser muito crítico, pode nos castigar. De certa forma, pessoas com depressão estão presastelegram vbetseu sensotelegram vbetidentidade e acabam criando muros ao redor para impedir o contato com outras pessoas", responde Pollan.Os pesquisadores acreditam que,telegram vbetmuitos casos, nosso ego nos faz infelizes porque ele pode ser muito crítico, pode nos castigar
"Reduzir os efeitos do ego pode ser muito positivo para romper hábitos e mudar padrões mentais.".
Segundo alguns cientistas, diz Pollan, os efeitos das drogas seriam positivos para tratamentostelegram vbetvícios, distúrbios alimentares e toda uma sérietelegram vbettranstornos mentais, como ansiedade e depressão.
Essa teoria está sendo testadatelegram vbetvários estudos e experimentos. Todavia, ainda não há resultados conclusivos. Por outro lado, cada vez são mais numerosos os médicos e psiquiatras que apoiam os testes com psicodélicos, ao menos nos Estados Unidos.
"Um deles é Tom Insel, ex-diretor do Instituto Nacionaltelegram vbetSaúde Mental, um dos psiquiatras mais proeminentes no país", diz Pollan.
Os riscos
Outra correntetelegram vbetespecialistas, no entanto, é bastante crítica ao uso dessas substâncias. Eles afirmam que elas apresentam riscos psicológicos.
"O uso é uma experiência psicológica muito potente e há pessoas que, sem dúvida, não deveriam provar essas drogas porque a reação pode ser muito negativa", diz Pollan. "Outro risco é a perdatelegram vbetcontrole da consciência e do corpo, especialmente se você não usa as drogastelegram vbetum ambiente seguro e com uma pessoa ao seu lado o tempo todo."
Pollan diz que o uso recreativo pode ser muito arriscado. "Se meu filho me perguntasse (sobre o consumo das drogas), eu o desencorajaria totalmente, principalmentetelegram vbetespaços públicos."
No entanto, Pollan diz que o uso clínicotelegram vbetpsicoativos pode ser muito positivo diante da atual crise globaltelegram vbetsaúde mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem maistelegram vbet300 milhõestelegram vbetpessoas no mundo com depressão. "Vários psicólogos proeminentes concordam que novas opções são necessárias para tratar esse mal", diz o jornalista.
"A última ferramenta revolucionária foram os antidepressivos desenvolvidos nos anos 80 e 90, mas eles têm sérias limitações porque são viciantes e provocam efeitos colaterais", diz. "Está na horatelegram vbetreexaminar a questão dos psicodélicos. Todas as drogas têm riscos", afirma.
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