Alzheimer: O músico que faz serenata todos os dias para esposa diagnosticada com a doença:cbet ip

Imagem mostra o músico Lúcio Yanel tocando violão para a mulher, Sueli, que tem Alzheimer

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Lúcio conta que Sueli costuma chorar durante boa parte do dia, mas ficacbet ipsilêncio para ouvi-lo se apresentar: Fotocbet ipserenata viralizou

"Para que me sinta ao seu lado, minhas serenatas diárias"

Ele postou uma foto na qual se apresentava com seu violão para a companheira. Junto com a imagem, fez um desabafo. "Já faz alguns anos que o maldito Alzheimer vai me roubando a minha amada companheira. E para que me sinta ao seu lado, minhas serenatas diárias. Tu és o meu melhor público", escreveu.

A publicaçãocbet ipLúcio viralizou nas redes sociais. No Facebook, teve maiscbet ip50 mil reações e 59 mil compartilhamentos.

Nos comentários, internautas parabenizaram o artista. "O amor sempre vai superar as intempéries da vida", escreveu um homem. "A emoção ao ler isso é imensa e quase não cabe no peito", disse uma mulher.

A repercussão surpreendeu Lúcio. "Publiquei meio que sem querer, não imaginei que tantas pessoas fossem ver. Eu sempre vivia ocultando a situação da minha mulher, porque é muito melindroso para um artista fazer esse tipocbet ippublicação. As pessoas podem pensar que é algo piegas", comenta.

"Estou acompanhando minha esposa sofrer com o Alzheimer"

"Mas canseicbet ipaparentar uma alegria. Estou sempre, digamos, fingindo uma alegria que não existe na minha atual fase da vida. Estou acompanhando minha esposa sofrer com o Alzheimer e não tenho muito o que fazer para evitar isso", lamenta.

O Alzheimer é considerado o tipo mais comumcbet ipdemência que existe no mundo. Conforme estudos sobre o tema, estima-se que 5% da população acima dos 65 anos possa desenvolver a doença. Após os 80 anos, a estimativa sobe para 30%.

As causas da doença não são completamente conhecidas. Os tratamentos disponíveis ajudam a aliviar os sintomas, mas não impedem a evolução do Alzheimer.

Imagem mostra o músico Lúcio Yanel e a mulher, Sueli, que tem Alzheimer. Na foto, eles aparecemcbet ip1996

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Lúcio e Sueli se conheceram nos anos 90: O músico afirma que se encantou com a mulher desde a primeira vezcbet ipque a viu

A família

Lúcio nasceu na Argentina e vive no Brasil há 40 anos. Ele conheceu a esposa no início dos anos 90. O artista conta que havia ficado viúvo há um ano quando se apresentoucbet ipuma casacbet ipshowscbet ipPorto Alegre (RS). Sueli era chefcbet ipcozinha do estabelecimento. O músico relata que se encantou com a esposa desde a primeira vezcbet ipque a viu.

"Eu gostei muito dela. Além disso, queria uma pessoa que me desse segurança e um suporte emocional, porque havia ficado viúvo. Logo fomos morar juntos, com os nossos filhos", relembra.

Lúcio tinha cinco filhos e Sueli tinha três. Um ano após se conhecerem, nasceu o caçula e único filho deles juntos. Na época, eles se mudaram para Caxias do Sul (RS), onde vivem até hoje.

Antes do Alzheimer, o músico diz que a forma que Sueli encontrava para agradar a família era por meio das comidas. "Ela sempre fazia as receitas que aprendia. Era uma ótima chefcbet ipcozinha", diz o artista.

Sintomascbet ipAlzheimer

Foram justamente as comidas que indicaram os primeiros sinais do Alzheimercbet ipSueli. "A minha mãe começou a esquecer receitas. No início, parecia que era algo comum, mas depois foi se intensificando. explica Pedro Giles,cbet ip24 anos, filho caçula do casal.

"O humor dela mudou muito e ela passou a ficar nervosa com frequência. Em razão disso, ela foi procurar ajuda médica", diz ele.

Em 2008, após diversos exames, um neurologista apontou o diagnósticocbet ipSueli: Alzheimer. A doença se manifestoucbet ipmodo precoce na mulher, que na época tinha 52 anos. "O mais comum é que a doença comece a se manifestar a partir dos 65 anos", explica a psiquiatra Regiane Garrido.

Fotocbet ip1996cbet ipSuelicbet ipFátima Teixeira, brasileira que atualmente enfrenta a fase mais grave da doençacbet ipAlzheimer

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O Alzheimer se manifestoucbet ipmodo precocecbet ipSueli e avançou rapidamente. Na foto, ela aparececbet ip1996

Segundo a médica, o Alzheimercbet ipinício precoce costuma evoluir mais rapidamente. "Supõe-se que as alterações neuroquímicas levem anos para se manifestar como sintomas, por isso comumente acontececbet ipidades mais avançadas. Mas quando é um paciente mais novo, ele perde as funções neurológicascbet ipum curto espaçocbet iptempo", pontua.

Assim como outros casoscbet ipAlzheimer precoce, Sueli teve um avanço rápido da doença. Logo ela começou a se esquecercbet ippessoas ecbet ipcuidados básicos. "Em cinco anos depois da descoberta da doença, ela não sabia mais como tomar banho e esqueceu até mesmo como fazer as necessidades mais básicas. Foi muito difícil para a gente lidar com isso", diz Pedro.

Sueli fez tratamento e recebeu ajuda médica. Mas os sintomas não diminuíram. Ela foi perdendo a coordenação, não conseguiu mais falar e,cbet ip2015, paroucbet ipandar. Hoje, não tem mais os movimentos sobre o corpo. "Ela não tem mais domínio sobre si", diz Lúcio. Em razão disso, ela passa os dias deitada na camacbet ipum quarto da residênciacbet ipque mora com o marido e o caçula.

A rotina com a doença

Desde o início do Alzheimer, Lúcio e Pedro estiveram ao ladocbet ipSueli. "Eu costumo dizer que não vivi o que outras pessoas da minha idade viveram, porque quase sempre não podia sair, para ajudar a cuidar da minha mãe. Mas não me arrependocbet ipnada disso", conta o caçula.

Imagem mostra Pedro Giles,cbet ip24 anos, a mãe, Sueli, e o pai, o músico Lúcio Yanel sentadoscbet ippoltronascbet ipavião. Sueli tem Alzheimer e o marido faz serenatas para ela todos os dias

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Legenda da foto, Pedro, Sueli e Lúciocbet ipuma das últimas viagenscbet ipfamília, quando ela ainda conseguia andar e falar

Lúcio deixou parte da carreira como músico para se dedicar à mulher, uma carreira consagradacbet ipque já tocou com Mercedes Sosa, Astor Piazzola e gravou disco com seu discípulo, o violonista Yamandu Costa.

Ele continua fazendo apresentações pelo Brasil, mascbet ipmenor quantidade. "Preciso cuidar dela, então não posso deixá-la sozinha", explica o artista. Quando o pai tem que viajar, Pedro pede licença no serviço ou na universidade, para cuidar da mãe integralmente. Eles também contam com uma cuidadora, que os auxilia no período da tarde.

Antescbet ipSueli perder totalmente os sentidos, chegou a manifestar que não se recordava do marido e do filho. O esquecimento não os incomodava. "Muitas vezes, ela apontava para a janelacbet ipcasa e dizia que o "Pedro" estava andandocbet ipbicicleta na rua. A lembrança que ela tinhacbet ipmim era quando eu era criança", relata o estudante.

Apesar do Alzheimer, Lúcio prefere acreditar que a esposa se recorda deles, mesmo que não tenha manifestado isso nos últimos anos. "Tenho pra mim que ela me reconhece, porque eu peço um beijo, me aproximo e ela me beija. Ela também beija nosso filho na bochecha", diz o músico.

"Eu penso que ela se lembra da gente. Ao longo dos anos, somente nós cuidamos dela. Ela só enxergou a gente e ouviu a nossa voz. Ela só sentiu o nosso abraço", acrescenta.

As serenatas

Em meio à ausênciacbet ipmedicamentos que possam evitar a evolução do Alzheimer, Lúcio conta que optou por ter atitudes carinhosas com a mulher, que possam fazer com que esse período da vida dela seja mais tranquilo. "Desde que a minha esposa descobriu o Alzheimer, faço serenatas para ela praticamente todos os dias. Fiz issocbet ipforma intuitiva, para alegrá-la. Depois, descobri que é uma boa alternativa para aliviar os sintomas da doença", comenta.

Ele conta que a esposa costuma chorarcbet ipgrande parte do dia, mas ficacbet ipsilêncio quando o marido se apresenta para ela. "Os médicos disseram que choro é uma das características que podem ser apresentadas por pacientes com Alzheimer avançado. Em alguns momentos, ela chora porque algo a incomoda e logo resolvemos o problema. Em outros, não há nenhum motivo", comenta Lúcio.

Imagem mostra o músico Lúcio Yanel e a mulher, Sueli, que tem Alzheimer,cbet ip1994

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Lúcio e Sueli: "Por mais difícil que seja, quero que ele (Deus" deixe a minha esposa aqui, porque eu me encarregocbet ipcuidar dela"

"Mas sempre que ouve as serenatas, ela paracbet ipchorar. Por isso posso dizer que ela gosta das minhas canções", diz o artista.

Com o violão, ele costuma cantar músicas do folclore pampeano - pertencente à cultura sulista— e clássicos do sertanejo, como Joâocbet ipBarro, uma das preferidascbet ipYanel. "São músicas que sei que ela sempre gostou", explica Lúcio.

O artista também costuma fazer brincadeiras bem-humoradas para a esposa. "Eu sempre faço palhaçadas, para alegrá-la. Ela não demonstra reação, mas ao menos fica mais tranquila."

Regiane Garrido ressalta que as serenatascbet ipLúcio não trarão a cura para a doença da esposa. No entanto, são importantes alternativas para confortar a mulher. "É comum que os pacientes gostem das músicas, principalmente aquelas que ouviam na mocidade. A memória afetiva é uma das últimas a se perder. Ninguém vai melhorar por causa disso. Mas todo conforto a esses pacientes é bem-vindo", diz.

As serenatas para a esposa costumam ser feitas no quarto dela. "Sentocbet ipuma cadeira ou na cama e canto", diz. Lúcio comenta que não tem forças para levar Sueli para o pátiocbet ipcasa, por isso, na maioria das vezes, faz as apresentações dentro da residência. "Somente canto fora do quarto quando meu filho estácbet ipcasa no período da tarde e consegue levá-la para fora."

Em uma das recentes vezescbet ipque levou a mãe para foracbet ipcasa, Pedro fotografou a serenata do pai. Foi então que Lúcio decidiu fazer a publicação que viralizou. "Eu não imaginei que ele fosse usar aquela imagem, porque meu pai é artista, sempre está arrumado nas fotos e naquela estava sem camisa. Mas ele me disse que não tinha problema estar daquele jeito, porque queria compartilhar aquele momento", relata o jovem.

Respostas

Com o sucesso da publicação, Lúcio espera conseguir respostas que possam auxiliá-lo a melhorar a qualidadecbet ipvida da esposa.

"Tudo aponta que essa doença não tem cura. Não posso esperar muita coisa. Espero que a medicina avance e encontre respostas no futuro. Hoje, quero ajudá-la a não sofrer tanto. Mas não quero nenhum medicamento que a deixe 'grogue' e, praticamente, morta, porque não quero vê-la assim", diz.

"Mesmo com todas as dificuldades, eu jamais vou pensar que quero que Deus a leve. Por mais difícil que seja, quero que ele deixe a minha esposa aqui, porque eu me encarregocbet ipcuidar dela."