‘Não sabia o que fazer’: os desafiosbet365 1quem cuidabet365 1pessoas com Alzheimer:bet365 1
Ela age matando os neurônios e interfere na capacidade cognitiva. "As pessoas acham sempre que não vai acontecer, porque como o paciente tem muitas funções preservadas, está 'bem', a família pensa: vou deixar ele aqui e já volto. Mas isso é suficiente para o paciente se encontrar num ambiente que ele não sabe onde é e sair andando. Não precisabet365 1muito tempo, precisabet365 1um minuto. Então, quando o familiar pergunta: mas ele ainda pode ficar sozinho? Eu digo: nunca, depois que tem demência", explicou à BBC Brasil Rose Souza Lima, psicóloga e gerontóloga que atua há maisbet365 125 anos no tratamentobet365 1pessoas com demência.
No Brasil, estima-se que existam cercabet365 11,2 milhãobet365 1pessoas com Alzheimer - são cercabet365 1100 mil novos casos por ano. Não se sabe a causa da doença, mas o modobet365 1ação dela vem normalmentebet365 1uma proteína chamada betamiloide, que se deposita no cérebrobet365 1algumas áreas específicas, vai formando placas e causando danos na comunicação dos neurônios.
A primeira característica mais forte desse problema é a perda da memória recente. Basicamente, você diz algo para uma pessoa com Alzheimer e,bet365 1questãobet365 1minutos, ela pode não mais se lembrar do que foi dito.
"A pessoa perde a capacidadebet365 1fixar a informação nova. É como se ele tivesse um caderno cheiobet365 1informações só do passado, que também vão se deteriorar com o passar do tempo", explicou Rose.
Não existe uma cura para o Alzheimer, mas há medicamentos que conseguem retardar o avanço da doença.
"É uma coisa complicadabet365 1entender como é essa limitação. É um grande aprendizado, até lidar com essa perda, porque é uma perdabet365 1vida, na verdade", contou Jorge.
Diagnóstico
O diagnósticobet365 1Alzheimer não é preciso e pode causar muita confusão no início. Não existe um exame específico que traga um resultado positivo ou negativo para a doença. O que se faz é uma análise completa com exames físicos e psicológicos para o que se chamabet365 1"diagnóstico diferencial" - nele, eliminam-se outras possibilidadesbet365 1doenças para aí então concluir que é Alzheimer.
"O diagnósticobet365 1certeza é só pós-morte. Em vida, a gente tem critériosbet365 1probabilidade: muito provável, provável, possível ou não provável. Então você pede exames para descartar outros problemas e ver se tem indíciosbet365 1que é Alzheimer", afirmou à BBC Brasil Renata Areza-Fegyveres, neurologista e pesquisadora do Grupobet365 1Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas.
"Existe um consenso mundial que dá diretrizes para os médicos investigarem. Você analisa o histórico da pessoa, o exame clínico, neurológico, avaliação cognitiva breve, testesbet365 1rastreamento. Quando você faz toda a avaliação e é um médico com experiência, você consegue atingir um graubet365 1certezabet365 195%."
Os primeiros sinais para se atentar segundo as especialistas são a perdabet365 1memória recente e a mudança repentina no comportamento. "Muitas vezes, o diagnóstico inicial vem como depressão, mas era Alzheimer, porque os sintomas são semelhantes na questão do distúrbiobet365 1comportamento", explicou Rose.
Uma vez confirmado o quadrobet365 1demência, é importante iniciarbet365 1imediato dois tratamentos: o medicamentoso e o não medicamentoso. "É importante estimular essa pessoa sempre, a pessoa tem que continuar fazendo tudo enquanto puder, só que com supervisão", disse Renata.
Desafio dos cuidadores
Os especialistas costumam dizer que o Alzheimer é uma doença que afeta mais quem cuida do que quem efetivamente sofre dela. "O problema do paciente com Alzheimer normalmente não é dele, é um problema do outro", pontuou Rose.
Pode começar com simples perguntas repetitivas durante um jogobet365 1futebol na TV. No casobet365 1Eduarda*, ela não hesitavabet365 1responder pacientemente quantas vezes fosse necessário o placar do jogo e quem estavabet365 1campo quando o avô perguntava ao ver o futebol na televisão. Mas não sabia o que dizer na hora que ele a questionava onde estava a avó, recém-falecida. "A vovó não está mais aqui, lembra?", ela dizia. Só que o avô não lembrava - e desatava a chorar.
"Essas questões são as mais difíceis. É muito voltada pra cada situação, não dá para generalizar. Tem pacientes que não sofrem quando você responde que a pessoa não está mais aqui, mas tem outros que entrambet365 1sofrimento, porque eles vivem o minuto ali. Então você pode falar: 'ah, ela foi ao médico, já volta'. E assim seguir, para evitar esse sofrimento toda hora", sugere Rose.
A carga emocional nesses casos pode ser tão grande para o cuidador a pontobet365 1envolver até mesmo revelações familiares inesperadas. Foi o que aconteceu com Joana* e a irmã Lúcia*, casada com Francisco*. Os três já estavam na faixa dos 70 ou 80 anos, quando Joana começou a apresentar sinaisbet365 1demência. E a partir daí, ela mudou seu comportamento com relação ao marido da irmã. Dizia coisas como "por que você não passou lábet365 1casa ontem? Faz tempo que você não vai lá" - tudo na frentebet365 1Lúcia, que começou a desconfiar da relação dos dois.
Até que um dia, a própria Joana,bet365 1um momentobet365 1consciência, pediu perdão à irmã pelo que havia feito. Foi quando Lúcia descobriu que ela e seu marido haviam tido um caso por anos ao longo da vida.
"Foi bem difícil. A generosidadebet365 1ela perdoar essa irmã e esse maridobet365 1meio a uma doença séria e tudo é um trabalho bem difícil. Psicologicamente pra você trabalhar com essa pessoa, ela chega destruída no consultório. É uma realidade dura e cruel, mas que é assim", relatou Rose, que ajudou a família a lidar com o caso.
O estresse para quem cuida é tão grande que há pesquisas comprovando os danos à saúde deles: um estudo da Faculdadebet365 1Medicina da USPbet365 1Ribeirão Preto mostrou que cuidadoresbet365 1pacientes com Alzheimer apresentam sintomasbet365 1ansiedade e têm cinco vezes mais chancebet365 1terem depressão.
A psicóloga Rose Souza Lima oferece reuniões gratuitas para atender esses a cuidadores e orientá-los a respeito dos cuidados com pacientesbet365 1Alzheimerbet365 1São Paulo - os encontros ocorrem toda última quinta-feira do mês na Igreja Dom Bosco (Alto da Lapa, zona oeste da capital).
Estratégia
O principal alerta dos especialistas sobre como tratar um paciente com Alzheimer é nunca recorrer à racionalidade.
"O maior sofrimento que a família tem é porque ela quer conscientizar o paciente. Quer trazê-lo para a realidade. Só que não adianta você tentar usar racionalidade. Você vai lidar com uma pessoa com Alzheimer usandobet365 1estratégias", disse Rose.
Algo muito comum nesses casos, segundo os cuidadores ouvidos pela reportagem, é as pessoas com Alzheimer pedirem para "voltar pra casa" mesmo quando já estãobet365 1casa. E muitas vezes elas se tornam agressivas com isso: "Eu não moro aqui, quero ir embora. Essa não é a minha casa".
"Nesses casos, a melhor coisa é usar estratégia. Você diz: a gente já vai. Quando insistir muito, você dá uma volta no quarteirão com a pessoa e diz: pronto, chegamosbet365 1casa", explicou Rose.
Um outro problema comum aos pacientes é a rejeição à necessidadebet365 1cuidadores profissionais. Jorge conta que teve muita dificuldade com isso ao tratarbet365 1sua mãe e só conseguiu "convencê-la" quando deixou seu estresse explodir na frente dela. "Ela percebeu o quão desesperado eu estava, me abraçou e disse: eu vou deixar você cuidarbet365 1mim", contou.
Mas é possível driblar essa rejeição inicial também com estratégia. "Primeiro entendimento é esse: o paciente não quer, nem vai querer. Então, você vai usarbet365 1estratégia. Muitas vezes, a pessoa entra na casa como empregada doméstica e, na verdade, é um cuidador. Entra um motorista que você treinou como cuidador...", diz Rose.
Nos casos mais complicados, os cuidadores podem ser introduzidos aos poucos - aí eles vão ficando até serem "aceitos" pelos pacientes.
"Houve um casobet365 1que eu coloquei as cuidadoras na porta da casa da paciente. Quando ela saía na rua, pra ela não ser atropelada e tal, as meninas iam atrás dela. Conversavam com ela na rua, ficavam amigas. A gente passou três meses cuidando dela sem que ela soubesse. Ao fim do dia, a cuidadora pedia para dormir com ela. Mas diante da negativa, ela dizia: 'a senhora não precisa mesmobet365 1cuidado. Mas já está tarde, eu moro longe. Posso ficar aqui só por hoje?' E ela deixava." Assim, aos poucos, a paciente aceitou a ideiabet365 1ter alguémbet365 1casa sempre.
Sistema público
Os cuidados profissionais com um paciente que tenha Alzheimer podem trazer melhoras significativas na rotina dele e também dos familiares. O problema é que esse tipobet365 1serviço costuma custar bem caro e não é acessível para pessoasbet365 1baixa renda.
Em um dos casos ouvidos pela BBC Brasil, uma jovembet365 135 anos precisou abandonar o emprego e a vida pessoal para cuidar da mãe, que ficou com Alzheimer aos 62. Ela não tinha com quem deixá-la, nem como pagar um cuidador, então largou o emprego e foi viver com ela.
"Ela chegou a deixar o namorado, a vida pessoal, tudo. Viviabet365 1função da mãe e isso acaba afetando muito a saúde da própria pessoa", contou Rose.
O sistema públicobet365 1saúde oferece gratuitamente os caros remédios para o tratamentobet365 1Alzheimer. Mas quanto a cuidadores para os pacientes, o governo não oferece profissionais específicos.
"Os casos diagnosticados na Atenção Básica podem ser levados para a Rede Estadualbet365 1Assistência do Idoso, composta por hospitais gerais e centros especializadosbet365 1reabilitação, com a presençabet365 1fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e suporte psicológico e familiar, buscando evitar e/ou retardar a perda das funcionalidades e habilidades cognitivas. Nas unidades que compõem esta redebet365 1assistência, os atendimentos são voltados para casosbet365 1demênciabet365 1uma forma geral", afirmou o Ministério da Saúdebet365 1nota.
Para Jorge, a principal lição que ficou ao longo dos 12 anosbet365 1que ele cuidou da mãe com Alzheimer foi que, mesmo com a doença, era possível manter a qualidadebet365 1vida dela dando atenção ao problema do jeito certo.
"É preciso ter esclarecimento, buscar informação e encarar a realidade o mais rápido possível. Procurar logo profissionais que tenham condiçãobet365 1lidar com a situação para te orientar e para você poder dar conforto para o parente que está passando por isso", disse.
Ainda não é possível conter a evolução do Alzheimer - que, ao longo dos anos, pode causar esquecimento dos próprios familiares, dificuldades motoras e atébet365 1atividades básicas, como comer ou levantar da cama -, mas os especialistas defendem que um tratamento adequado pode ser definitivo para proporcionar um fimbet365 1vida digno a essas pessoas.
"Com muito respeito, com muito jeito, dá para usar a melhor estratégia para o paciente não se sentir diminuído, não se sentir agredido", concluiu Rose.