Europa sempre foi povoada por diversas etnias, ao contrário do que pensam supremacistas brancos:betano com br

Crédito, Domínio público

Legenda da foto, Obra-primabetano com brBosch mostra negros 'representados entre dezenasbetano com broutros indivíduos nus, sem nenhuma desonra aparente'

"A expansão europeia trouxe consigo projetos políticosbetano com brconquista e controlebetano com brmercados que tornaram o racismo mais visível, embora a colonização interna europeia (no Norte e nas periferias, nomeadamente na Irlanda, na Península Ibérica e na Península Itálica) tenha mostrado tendências discriminatórias semelhantes", comenta o historiador.

Pesquisadores estimam que, no auge econômicobetano com brLisboa, no século 16, um décimo da população da capital portuguesa era composta por negros. E eles estavam inseridos na sociedade, ocupando diversos papéis. Havia escravos? Provavelmente, sim.

Mas também havia negros que atuavam como respeitados cavaleiros e, principalmente, com funções comuns da sociedade - pequenos comerciantes, carregadores etc.

No livro O Mito das Nações: A Invenção do Nacionalismo, o historiador Patrick Geary, professor da Universidade da Califórnia, deixa claro como é extremamente difícil considerar qualquer grupo medieval como etnicamente consistente.

A historiadora Pamela Patton, da Universidade Princeton, faz uma observação importante: é preciso considerar também a maneira como os europeus medievais definiam a raça.

Crédito, Domínio público

Legenda da foto, Pesquisadores calculam que, no século 16, um décimo da populaçãobetano com brLisboa era negra

"Exceto quando se deparou com pessoas com aparências muito diversas das deles, como os africanos subsaarianos, os europeus tendiam a olhar mais para as práticas culturais, como religião e linguagem, do que para características biológicas ou físicas."

Na Rússia, também havia negros muitos anos antes da globalização contemporânea. "O escritor russo Alexandre Pushkin, que viveu entre 1799 e 1837, era descendentebetano com brum negro da cortebetano com brPedro, o Grande, Abram Petrovich Gannibal", disse o historiador e escritor Paulo Rezzutti à BBC News Brasil, citando o czar Pedro 1º, que governou a Rússia entre 1682 e 1721.

Gannibal, que viveu entre 1696 e 1781, é considerado um dos primeiros intelectuais negros da Europa. Chegou como escravo e se tornou governador.

"Ele chegou lá como escravo e virou governador e uma das mentes mais respeitadas da Europa", conta Rezzutti.

A construção do racismo

Pensadores gregos antigos como Heródoto e romanos, como Plínio, o Velho, já escreviam sobre diferençasbetano com braparência, linguagem e costumes entre os povos do mundo", explica Patton,betano com brPrinceton.

No império romano, o preconceito estava ligado à linhagem e ascendência. Até havia uma ideia pejorativa do negro, considerado um povo "queimado pelo sol".

"Porém, não existem provasbetano com bruma discriminação sistemática contra etnias especificas", afirmam Bethencourt,betano com brseu livro sobre o assunto. "Pelo contrário, os romanos eram relativamente generosos na atribuiçãobetano com brcidadania".

Por outro lado, o nomadismo já era malvisto. Os antigos gregos e romanos tinham uma teoria ambiental: projetavam nos outros povos a discussão sobre a autoctonia. Os atenienses, por exemplo, "defendiam ter ocupado desde sempre o mesmo território, sendo, por isso mesmo ,betano com brascendência pura", diz o livro Racismos.

O conceitobetano com brascendência trazia uma carga semântica importante: a ligação entre sangue e solo, a identidade baseada na aparência, na língua e nos costumes, uma definição própriabetano com brpovo.

"Isso queria dizer que os descendentes dos sírios, por exemplo, teriambetano com brsi as características física e mentais básicas dos antepassados, mesmo nascendo no estrangeiro", afirma o livro.

A Idade Média, com a expansão islâmica até a Península Ibérica, entre os anos 632 e 732, trouxe consigo a noção do outro.

Crédito, Reprodução do Twitter

Legenda da foto, Projeto destaca representaçãobetano com brpessoasbetano com brcor na história da arte europeia

"A aparência física, como a cor da pele (branca, preta, castanha ou vermelha), a forma dos olhos (redondos os amendoados) ou do nariz (comprido, largo ou achatado), o tipobetano com brcabelo e a escassez ou abundânciabetano com brpilosidades faciais, era usada para identificar os povos, definindo os principais estereótipos desenvolvidos mais tarde", aponta o autor.

"Já se contrastavam os africanos negros com o resto da humanidade, classificando-os como selvagens, supostamente indolentes e possuidoresbetano com bruma inteligência inferior."

Diferenças étnicas

O geógrafo iraquiano Jahizbetano com brBaçorá (776-869) foi uma voz dissonante sob um prisma invertido. Para ele, havia uma superioridade dos negrosbetano com brrelação aos brancos.

A ideiabetano com brver o etnicamente diferente como inimigo se acentuou entre os séculos 11 e 13, justamente no auge das Cruzadas. Foi um momentobetano com brcontato intenso entre Europa Ocidental e Oriente Médio - com emigraçãobetano com br200 mil pessoas do Ocidente para o Oriente.

"A identificação religiosa e étnica tornou-se essencial para a sobrevivência diária", pontua o livro Racismos. "Tipos físicos, modosbetano com brvestir e/ou penteados associados a crenças religiosas tornaram-se os critérios óbvios para a identificação, o primeiro passo na avaliação dos diferentes povos. Num mundobetano com brperigo ebetano com brconstante mudança, os estereótipos visuais serviam para identificar ameaças e para ajudar os indivíduos a se sentirem seguros."

No século 12, a noçãobetano com brque etnias diferentes habitavam lugares diferentes da Terra estava clara. Foi quando as figuras bíblicas dos três reis magos começaram a ganhar os contornos atuais, sendo cada qual deles o "representante"betano com brum dos povos. Melchior é identificado como um europeu. Gaspar passa a ser retratado como um asiático. E Baltazar, aludindo à África, atravessa um processobetano com brescurecimento - primeiro aparece com a pele trigueira e, a partir do século 13, torna-se negro.

O racismo, com as características semelhantes ao que existe hoje, surgiu com expansão europeia, justamente, conforme frisa Bethancourt, com a combinaçãobetano com brpreconceitos étnicos e ações discriminatórias.

"Tratava-se, então,betano com brmonopolizar recursos econômicos, sociais e políticos", diz, acerca do processo acentuado pela religião.

"A luta pela hegemonia religiosa teve seu papel na criaçãobetano com br'inimigos étnicos'. Enquanto a religião judaica fornecia a basebetano com bruma comunidade nacional atravésbetano com brfronteiras ainda mal definidas, a religião muçulmana tinha uma enorme variedade étnica que foibetano com brcerta forma racializada pela comunidade cristã", afirma Bethencourt.

Nazismo

Mas certamentebetano com brnenhuma outra época do mundo as diferenças raciais foram tão violentamente abordadas quanto durante o regime nazistabetano com brAdolf Hitler (1889-1945). O historiador e filósofo Yuval Noah Harari aborda o temabetano com brseu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade.

"O Homo sapiens já havia se divididobetano com brvárias raças distintas, cada uma com suas qualidades únicas. Uma dessas raças, a raça ariana, tinha as melhores qualidades - racionalismo, beleza, integridade, diligência. A raça ariana, portanto, tinha o potencialbetano com brtransformar o homembetano com brsuper-homem", afirma o autor sobre a ideologia nazista.

Segundo ele, os arianos afirmavam que a procriação entre raças condenaria o Homo sapiens à extinção. Mas a ciência refutou esse pensamento a partir da Segunda Guerra Mundial, mostrando que as diferenças entre as várias linhagens humanas são muito menores do que os nazistas argumentavam.

"Mas essas conclusões são relativamente novas. Dado o estado do conhecimento científicosbetano com br1933, as crenças nazistas dificilmente estavambetano com brdissonância com o pensamento da época. A existênciabetano com brraças humanas diferentes, a superioridade da raça branca e a necessidadebetano com brproteger e cultivar essa raça superior foram crenças amplamente aceitas pela maior parte das elites ocidentais", ressalta o historiador.

Acadêmicosbetano com bruniversidades ocidentais das mais prestigiosas usaram, inclusive, métodos científicos ortodoxos da épocabetano com brestudos que supostamente comprovavam que "membros da raça branca eram mais inteligentes, mais éticos e mais habilidosos que africanos ou indianos".

História da arte

Segundo o livro Racismos, "a elevação do africano negro ao statusbetano com brsanto ebetano com brrei mago abriu caminho à observação e à representação na Europa dos africanos subsaarianos como pessoais reais nas suas funções comunsbetano com brescravos, servos ou soldados".

"Mas o auge dessa nova tendência para a representação relativamente neutra dos negros terá sido atingido com Hieronymus Bosch, por voltabetano com br1510, no quadro mais tarde intitulado A Variedade do Mundo ou O Jardim das Delícias Terrenas,betano com brque negros surgiam representados entre dezenasbetano com broutros indivíduos nus, sem nenhuma desonra aparente."

De acordo com Bethencourt, "essa nova visão não desafiava os grandes estereótipos alimentados pelo tradicional significado simbólico dado na Europa ao preto como cor, usado para expressar pecado, mal, trevas, imundície, infidelidade, luto, penitência, infortúnio ou fealdade".

Pamelal Patton, historiadorabetano com brPrinceton, defende a utilidade das representações artísticas para mostrar como a sociedade medieval se via e se compreendia. "É importante lembrar que também aqui a maneira como as imagens transmitiam suas mensagens dependia muito das atitudes que predominavam no tempo e no lugarbetano com brque eram feitos."

"Assim, uma figurabetano com brpele escura retratadabetano com brum manuscrito medieval poderia ter sido entendida por seus espectadores como um servo, um muçulmano ou um rei; um judeu pode ser retratado como fisicamente idêntico às figuras cristãs ao lado dele ou como uma dura caricatura; um mongol pode ser descrito como um cortesão sofisticado ou um canibal sedentobetano com brsangue."

Para ela, a análise das obrasbetano com brseus contextos específicos dão diversos indicativos das atitudes das pessoasbetano com brrelação às diferenças humanas. Essa é a essência do projeto MedievalPOC - People of Color in European Art History (pessoasbetano com brcor na história da arte europeia), disponível no Twitter e no Tumblr.

"Durante toda a história da Europa, pessoasbetano com brcor estiveram presentesbetano com brvários lugares,betano com brvários momentos - alguns como visitantes, alguns como residentes, e obrasbetano com brartebetano com brsuas épocas fornecem evidências disso", pontua o autor anônimo do projeto.

betano com br Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube betano com br ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbetano com brautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabetano com brusobetano com brcookies e os termosbetano com brprivacidade do Google YouTube antesbetano com brconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebetano com br"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobetano com brterceiros pode conter publicidade

Finalbetano com brYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbetano com brautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabetano com brusobetano com brcookies e os termosbetano com brprivacidade do Google YouTube antesbetano com brconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebetano com br"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobetano com brterceiros pode conter publicidade

Finalbetano com brYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbetano com brautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabetano com brusobetano com brcookies e os termosbetano com brprivacidade do Google YouTube antesbetano com brconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebetano com br"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobetano com brterceiros pode conter publicidade

Finalbetano com brYouTube post, 3