Intersexual conta como ganhou um novo pênis dos médicos: 'Agora quero encontrar o amor':patron bet
"Os médicos disseram aos meus pais: 'Essa criança se parece mais com um menino, mas ainda não temos certeza'", diz ele.
Ele tinha testículos, mas estavam no lugar errado. Aos quatro meses, foi submetido àpatron betprimeira cirurgia - para mudá-lospatron betposição.
Ao longo da infância, Anick ouvia que não era como os outros meninos.
"Eu sabia que havia algo diferentepatron betmim, mas não entendia o quê", diz ele.
"Sabia que meus pais me amavam, mas ao mesmo tempo me levavam ao hospital a cada seis meses, onde os médicos usavam palavras como 'anormal' e 'atípico' para se referirem a mim."
Ele achava difícil fazer amizades na escola e se lembrapatron betprender a respiração na infância, numa tentativapatron betse sufocar, epatron betforçar as tampas das garrafaspatron betalvejante com dispositivospatron betsegurança "à provapatron betcrianças" para tentar abri-las.
Após uma tentativapatron betsuicídio mais séria aos 14 anos, ele passou a receber acompanhamento terapêutico, mas não conseguiu se abrir para revelar a origempatron betseus problemas.
"Eu não queria que ninguém mais soubesse", diz ele. "Estava muito, muito isolado."
"Eu achava que ninguém sabia a respeito do que haviapatron betdiferentepatron betmim, que eu era o único no mundo assim, apenas um caso milagroso aleatório", diz ele.
Somente há cinco anos, aos 18 anos, que ele descobriu que havia um nome parapatron betcondição - ele era intersexual - e a razão para todas as cirurgias e tratamentos hormonais a que fora submetido.
A constataçãopatron betque havia outras pessoas como ele fez uma grande diferença.
"De repente, me dei contapatron betque não tenho que ter vergonhapatron betquem eu sou epatron betcomo nasci."
Os médicos também disseram a Anick que ele poderia fazer uma cirurgia reconstrutiva para ter um pênis novo ao completar 18 anos, quando estaria apto a dar seu próprio consentimento. Falaram para ele não se apressar para tomar uma decisão e só seguirpatron betfrente quando se sentisse confortável.
Três anos depois,patron bet2016, Anick decidiu que estava pronto.
"Foi quando tive uma epifania", diz ele.
"Precisava começar a compartilhar com as pessoas. Precisava dizer a verdade. Eu ia passar por muitas cirurgias sérias - e quantas vezes você pode tirar o apêndice? Perdi a conta do númeropatron betvezes que usei essa desculpa."
Ele começou contando aos primos, tios e tias - e ficou surpreso quando eles não reagiram com repúdio.
"Eu não imaginava que as pessoas poderiam ser tão acolhedoras com algo que eu estava escondendo há tanto tempo", diz ele.
A cirurgia final estava marcada para junhopatron bet2018, o que dava a Anick a esperançapatron betquepatron betbreve ele finalmente se sentiria confiante o suficiente para viver seu primeiro relacionamento amoroso.
É fevereiropatron bet2018 e Anick está a caminho da conferência da Organização Internacionalpatron betIntersexuais (OII,patron betinglês)patron betCopenhague, na Dinamarca. Ele está animado, mas também muito nervoso.
"É muito surreal", diz ele. "Pela primeira vez na minha vida, não serei o cara esquisito. Estou descobrindo minha tribo - pode soar estranho, mas é assim que eu sinto."
Representantespatron bettodo o mundo, como Anick, estão chegando para discutir questões que dizem respeito a todos eles e para compartilhar suas experiências.
"Por mais estranho que pareça,patron betpoucas horaspatron betreunião estávamos todos falando sobre nossos órgãos genitais", diz Anick.
Intersexual
É um termo abrangente usado para descrever pessoas que nascem com variações biológicaspatron betsuas características sexuais, que não se encaixampatron betcategorias típicas masculinas ou femininas.
Existem muitas variações possíveis, incluindo genitália, ovários e testículos, padrões cromossômicos e hormônios.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cercapatron bet1,7% da população é intersexual.
Ele gosta da sensaçãopatron betestar pertopatron betpessoas para quem não precisa dar explicações. E se pergunta se "ser normal" é assim.
Mas também fica surpreso ao se sentir um pouco isolado, porque muitas pessoas têm experiências diferentes das dele. É inquietante.
"Estou cercadopatron betpessoas capazespatron betentender como estou me sentindo, mas ao mesmo tempo elas não passaram pela mesma coisa", diz ele.
No geral, a experiência deixa Anick com sentimentos contraditórios.
"É a história da minha vida", diz ele. "Não me encaixo como homem, não me encaixo como um intersexual. Então eu sou o quê? Quem sou eu? É uma droga isso."
Algum tempo depois, Anick se comunicou via Skype com um ativista intersexualpatron betChicago, Pidgeon Pagonis. Assim como ele, Pidgeon nasceu sem um órgão genital completamente formado - mas no seu caso, os cirurgiões decidiram criar uma vagina,patron betvezpatron betum pênis.
Pidgeon foi criado como menina, mas hoje prefere que usem o pronome "they" (que, na língua inglesa, é indefinido e neutro) para se referirem a ele,patron betvezpatron bet"she" (ela,patron betinglês).
Hoje, ele considera essas cirurgias procedimentos estéticos desnecessários. Empatron betopinião, a realizaçãopatron betuma operação para modificar o corpo saudávelpatron betuma criança intersexual é uma violaçãopatron betdireitos humanos.
"Eu diria: 'Por favor, deixe seu filho crescer como a pessoa intersexual que ele é e permita que um dia ele tenha autonomia sobre seu próprio corpo", diz Pidgeon.
"Deveríamos estar pressionando os médicos para que parempatron betaperfeiçoar as cirurgias para bebês e comecem a aperfeiçoar as cirurgias para adultos intersexuais, quepatron betfato podem desejá-las."
Esse é um pensamento compartilhado por Anick, cuja família não chegou nem a ser informadapatron betque havia a opçãopatron betesperar para fazer a cirurgia.
"Se um médico disser que seu filho precisapatron betcirurgia, ouça (antespatron betdecidir)", diz ele.
Após participar da conferência da OII e conversar com Pidgeon, Anick também acredita que muitas cirurgias que fez na infância foram "puramente estéticas".
Ele pensou muito sobre até que ponto ele queria mesmo fazer a operação que estava agendada - ou se seria algo que a sociedade fez ele sentir que precisava para ter uma vida mais feliz.
Mas decidiu seguirpatron betfrente.
Agora é junhopatron bet2018 e Anick está prestes a ir para o hospital.
Em 2017, os médicos retiraram amostraspatron betpele do seu braço esquerdo para usar na reconstrução do pênis. Após o procedimento que fez na época, passou-se um ano até conseguir o órgão para urinar adequadamente.
Anick andapatron betum lado para o outropatron betcamisola, cueca e meias cirúrgicas, uma rotina muito familiar agora.
Hoje, os cirurgiões vão colocar uma prótesepatron betseu pênis, que ele vai precisar bombear se quiser fazer sexo com penetração.
"Me sinto como um ciborgue", diz ele.
"Mas pelo menos não vou ter problemaspatron betperformance sexual ou ansiedade."
Parte dele acha muito legal ter um dispositivo implantado no pênis. Mas outra se pergunta como ele vai explicar isso quando estiverpatron betum relacionamento. Ele nunca namorou, mas tem esperançapatron betque vai encontrar o amor após a cirurgia.
"Tudo na minha vida vai ser diferente", diz Anick. "Eu finalmente vou sentir algo mais próximo do que os outros caras sentem, e talvez eu possa experimentar o que outras pessoas fazem na minha idade. Eu sempre evitei relacionamentos por aversão ao meu próprio corpo e autodepreciação, mas venho trabalhando para superar isso."
A operação correu bem. Anick diz que "as coisas lá embaixo" parecem bem diferentes agora. Ele não sabe quanto tempo vai demorar para se acostumar.
Ele se prepara para ir para casa, onde seus pais vão cuidar dele. Seu pênis novo vai ter que ficarpatron betuma posição específica durante a semana seguinte - e parece que ele está com uma ereção permanente.
"Sempre que as pessoas vêm me visitar, fico 'animadinho', mesmo quando não estou", diz com bom humor.
Um mês se passou. E, desde que saiu do hospital, Anick sentia muita dor. Ele nunca tinha sentido tanta dor assim antes, apesar do longo históricopatron betcirurgias. Aconteceram ainda algumas complicações, o que resultoupatron betdiversas idas à emergência.
Mas Anick está tentando deixar tudo isso para trás.
"Hoje é um dia histórico", diz ele. "É a primeira vez que pessoas intersexuais vão marchar na parada do orgulho LGBTpatron betLondres."
Nem todos os intersexuais são lésbicas, gays ou bi, mas algumas pessoas acham que a marcha é um bom lugar para informar as pessoas sobre a comunidade intersexual.
É um dia quentepatron betverão e Anick, junto a outros 30 intersexuais - a maioria heterossexual -, se junta à celebração que toma conta das ruas do centropatron betLondres.
"Nesta mesma época, no ano passado, eu não conhecia outra pessoa intersexual", diz Anick.
"Eu fui para a parada sozinho e estava basicamente procurando minha família intersexual. Mas não consegui encontrar ninguém. Agora, neste ano, estou indo com um grupo sópatron betintersexuais."
Ele não consegue pararpatron betsorrir.
"Não consigo pararpatron betpensar no quanto minha vida mudou no último ano", diz ele.
"É inacreditável que isso tenha acontecido. Há muitospatron betnós aqui hoje. Somospatron betidades, origens e países diferentes. Quer algo mais inclusivo?"
Agora é agostopatron bet2018. E Anick precisou ser submetido a outra operação para corrigir o que tinha dado errado. A prótese implantadapatron betseu pênis estava enroladapatron bettornopatron betumpatron betseus testículos, causando uma dor lancinante.
Ele ainda sente dor e precisa tomar cuidado com infecções, mas tem esperançapatron betque não vai precisar passar por novas cirurgias nos próximos cinco ou sete anos, quando a bomba peniana precisará passar por manutenção ou talvez ser substituída, caso um modelo mais novo esteja disponível.
Como não vai mais precisar entrar e sair do hospital regularmente, Anick conseguiu seu primeiro emprego, na universidadepatron betque se formou. E também está passando por outras mudanças.
"Assim que fiz a cirurgia, vi meu corpopatron betuma maneira completamente diferente", diz ele. "Agora estou mais confortável com isso, e falar sobre isso me aproximoupatron betoutras pessoas."
Ele está se aproximandopatron betseus pais também.
"Eu cresci sentindo que eles não estavam fazendo o suficiente e eles não sabiam o que estava acontecendo", diz ele. "Mas não percebi o quanto eles estavam no escuro e sobrecarregados. Meus pais não receberam apoio suficiente e só fizeram o que achavam que era certo."
De uma maneira geral, ele diz que a cirurgia o deixou muito mais feliz. Desde então, começou a usar um aplicativopatron betnamoro - e já saiu com algumas pessoas.
"Só estou vendo o mundo lá fora", diz ele.
"Um dos primeiros encontros não foi tão bom - saí com uma garota que disse que eu não era realmente um homem. Saí então com um cara, mas não senti nada. Estou tendo os problemas normais que as pessoas enfrentampatron betencontros e relacionamentos. É uma sensação agradável."
Anick espera que falar sobre o que costumava ser o grande segredo dapatron betvida ajude outras pessoaspatron betsituação semelhante.
"Eu sou normal, só não sou comum", diz ele.
"Não há uma única históriapatron betintersexualidade, mas espero que a minha inspire outras pessoas a contarem as suas."
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