Fêmeas preferem gorilas que se dedicam aos filhotes, aponta estudo:
E a resposta está no sexo - e na reprodução.
O método
Conforme explicou à BBC News Brasil a antropóloga e psicóloga Stacy Rosenbaum, pesquisadora do DepartamentoAntropologia da universidade e principal autora da pesquisa, os cientistas utilizaram 100 horasobservação do comportamentoum grupogorilas-da-montanha.
"Então, calculamos a porcentagem do tempo que cada macho passou cuidando, tratando, ensinando filhotes e descansando com eles", explica a pesquisadora.
Em seguida, esses dados foram analisadoscomparação com o número totaldescendentes que cada macho havia produzido emvida.
"(E a conclusão foi que) os gorilas machos que gastaram maiores porcentagensseu tempo envolvidostais comportamentos geraram maior prole do que os outros, que se dedicaram menos", diz Rosenbaum, enfatizando que, para o estudo, ajustescontrole foram feitos para que o graudominância do membro do grupo, a idade e a longevidade não interferissem no resultado final da amostra.
Os dados mostram um cenário um pouco diferente do que o imaginário padrão sugere quando se pensaum grupogorilas. Sai a ideiaque a reprodução, no grupo, é dominada por um macho-alfa. E entra o poderescolha feminino.
Conforme ressalta o antropólogo Christopher Kuzawa, coautor do trabalho e professor do InstitutoPesquisa Política da mesma universidade, uma interpretação provável é que "as fêmeas optam por se acasalar com machos com base nessas interações", ou seja, os machos que "passam muito tempo com gruposfilhotes, que cuidam e descansam com eles, são os que têm mais oportunidades reprodutivas".
Rosenbaum lembra que há muito tempo se sabe que os gorilas-das-montanhas competem entre si, dentro do grupo, para ter "acesso às fêmeas" e conseguirem boas "oportunidadesacasalamento".
"Mas esses novos dados sugerem uma estratégia mais diversificada", comenta. "Os machos que cuidam dos filhotes são muito mais bem-sucedidos."
De onde viemos
O estudo dá algumas pistascomo os comportamentos paternos podem ter evoluído, inclusive no caso dos seres humanos.
A antropóloga lembra que, tradicionalmente, os cientistas relacionam o cuidado parental masculino,forma geral, a uma estrutura social específica - a monogamia -, "que ajudaria a garantir que os machos cuidassemseus próprios filhos".
"Mas esta pesquisa (em que o comportamento foi observado entre animais não monogâmicos) sugere que há um caminho alternativo pelo qual a evolução pode ter gerado este comportamento,situaçõesgrupoque os machos podem não saber quais filhotes são seus", comenta.
A ilação, portanto, é: será que não foi assim também entre os ancestrais humanos?
O próximo passo dos pesquisadores é analisar se há hormônios específicos que auxiliam este comportamento - e provoca essa relaçãocausa e consequência.
Estudos anteriores do qual o antropólogo Kuzawa fez parte mostraram que,humanos, a testosterona diminui à medida que os homens se tornam pais. "E acredita-se que isto ajude a concentrar a atenção nas necessidades do recém-nascido", pontua.
No caso dos gorilas, os pesquisadores não sabem se algo semelhante ocorre.
Há dúvidas para ambos os cenários. Se os gorilas que estão envolvidos particularmenteinteração infantil experimentam declíniostestosterona e isso impediriacapacidadecompetir com outros machos, o nível baixo do hormônio poderia funcionar como algum atrativo para as fêmeas?
Ou, como eles são bem-sucedidos na atividade sexual, no caso dos gorilas, altos níveistestosterona e o comportamentopaternidade ativa não são excludentes?
Estas novas questões ainda precisam ser estudadas. Rosenbaum adianta que a ideia agora é justamente esta: caracterizar os perfis hormonais dos machos ao longo do tempo.
Poder feminino
Se ainda não se sabe ao certo qual é o mecanismo biológico que norteia o comportamento dos gorilas machos, o que os cientistas já cravam com segurança é que, nas comunidades desses animais, o papel feminino é fundamental na horaescolher quais genes serão passados adiante.
"Não sabemos ainda qual é o mecanismo que impulsiona tal correlação encontrada, mas a explicação mais plausível é que as fêmeas preferem machos que cuidam da prole", define Rosenbaum.
"Isso sugere que a escolha feminina pode ser um fator muito mais importante do que supúnhamos anteriormente na condução da trajetória evolutiva dos gorilas."
Ela enfatiza que, com base na pesquisa, pode-se dizer que as gorilas fêmeas "não são apenas observadoras passivas que acasalam com qualquer macho que vença as lutas".
"Elas têm preferências e as expressam. E suas escolhas têm importantes consequências evolutivas", diz.
E, enquanto estuda o mundo dos gorilas, a psicóloga não deixapensar nos seres humanos.
"Um dos mistérios da evolução humana é como foi que formas muito intensascuidados masculinos começaram, ainda entre nossos ancestrais já extintos. Nossa pesquisa sugere um caminho que a seleção natural pode ter tomado para obter formas rudimentares desse comportamento zeloso", aponta.