Por que a maçonaria inspira tantas teorias da conspiração:
Como sociedade filosófica e filantrópica, a maçonaria foi fundada24junho1717, na Inglaterra. Foi ideiadois pastores protestantes, James Anderson e J. T. Desaguliers, alinhados com os princípios do livre pensamento que nortearam o movimento conhecido como iluminismo.
Historicamente, a sociedade só aceita homens. De acordo com eles, é uma questãotradição: como a maçonaria teve origem nas corporaçõesofício dos pedreiros medievais - e eles eram estritamente masculinos -, a regra foi mantida.
O poder veio nos Estados Unidos. Ali, os maçons tiveram participação importante na Independência americana e, não à toa, dos 55 signatários da DeclaraçãoIndependência, nove vinham da maçonaria. Dos 39 que aprovaram a Constituição, 13 eram maçons. Benjamin Franklin era maçom. George Washington, o primeiro presidente americano, também. Na virada do século 18 para o século 19, a maçonaria era um 'clube' que reunia as mentes mais influentes e antenadas do planeta.
Os maçons também influenciaram a Revolução Francesa - conta-se que a Marselhesa, hino da França, foi composta na loja maçônicaMarselha.
Influência nas independências sul-americanas
Na América do Sul, não foi diferente. Conforme estudos do pesquisador inglês Andrew Prescott, autorA História da Maçonaria da Marca, a sociedade participou dos processosindependênciatodos os países sul-americanos. Na lista dos ilustres maçons libertadores, estão o venezuelano Simon Bolívar, o argentino JoséSan Martín e o chileno Bernardo O'Higgins. Além, é claro,D. Pedro 1º.
"A maçonaria influenciou o processoindependência e, depois do SeteSetembro, reuniõeslojas maçônicas pediam ajuda aos irmãos para que D. Pedro fosse reconhecido como imperador constitucional do Brasil", afirma o historiador Paulo Rezzutti, autor da biografia D. Pedro - A História Não Contada.
A maçonaria brasileira nomeou Pedro 1º grão-mestre da sociedade. E ele assumiu a alcunhaGuatimozin - nome dado pelos cronistas espanhóis ao último imperador asteca.
Não foi só a Independência. A República também veio por meioum maçom, marechal Deodoro da Fonseca.
Conspirações
O terreno fértil para conspirações tem dois motivos: o fatoa maçonaria ser uma sociedade exclusiva, ou seja, um clube onde só entram convidados e cujas reuniões são a portas fechadas; e por causa do alto númerocelebridades da História que já fizeram parte da sociedade.
Dessa junçãofatores veio também a conhecida teoria conspiratória sobre a suposta "Nova Ordem Mundial". De acordo com essa lenda, seria um plano para que o mundo tivesse um governo único, planejado e comandado por maçons. Na prática, não faz sentido: nem as lojas maçônicas são únicas, do pontovista organizacional; cada casa é independente e abriga confrades com pontosvista diferentes.
A Confederação Maçônica Brasileira (Comab) esforça-se para combater os mitos acerca da sociedade. Segundo a organização, os maçons não são anticatólicos, tampouco "racistas e elitistas", como muitos acreditam.
"Quanto ao racismo, a maçonaria estabelece explicitamente a igualdade entre os homens sem considerar raça, credo ou cor. Se considerarmos que apenas são convidados a participar da maçonaria homens virtuosos e representantes da sociedade, pode-se dizer que ela é uma elite, embora o correto seja afirmar que ela impõe critérios rigorosos para a iniciaçãoum novo membro", frisa a Confederação.
Ingresso
Para se tornar um maçom é preciso receber um convite ou se candidatar - hojedia, as associações maçônicas costumam disponibilizar formuláriosinteresse nos seus sites. A sociedade só permite homens maioresidade, com endereço fixo e renda própria. Ter religião não é obrigatório, mas é preciso acreditarDeus. Se o sujeito for casado, temcontar com a anuência da família.
O iniciante passa por uma avaliação que pode durar até um ano.
"Tenha paciência. Esse processo pode demorar algum tempo e nós precisamos ter certezaque você será um elemento útil à nossa Instituição, assim como você também deverá ter certezaquedecisão será benéfica para você efamília", informa a Grande Loja Maçônica do Estado do RioJaneiro,recado aos interessados.
Tudo pode ser investigado: vida financeira, ficha policial, círculoamizades, relaçõestrabalho. O nome é submetido aos outros membros e o candidato precisa ser aprovado por unanimidade.
Uma vez dentro, o novato precisa fazer o pactosilêncio. Ou seja: nada do que é conversado ali dentro pode ser divulgado. Os maçons costumam fazer trabalhos voluntáriosinstituições filantrópicas e também se ajudam uns aos outroscasonecessidade.
Historiadora da UniversidadeSão Paulo, Solange FerrazLima conta que se surpreendeu com a rede maçom quando estudou a vida e a obra do pintor e decorador italiano Oreste Sercelli. Ela percebeu que ele conseguiu rapidamente destaque nos círculos sociais brasileiros, tão logo chegou ao país. Logo, encontrou a explicação: ele era ligado à maçonaria - e, portanto, contava com o apoio dos confrades.
"A história da maçonaria é bem interessante. É impressionante como eles estão presentestudo", afirma a historiadora. "Eles têm essa capacidadearticular, é uma rede muito poderosa. Mas, curiosamente, não é muito estudada - porque eles são muito fechados."
É uma irmandade. E exclusivamente masculina. Mulheres e filhos são bem-vindos nos trabalhos sociais e eventos festivos - nunca nas reuniões ordinárias.
Segundo os maçons, o veto às mulheres é uma questãotradição: como a maçonaria teve origem nas corporaçõesofício dos pedreiros medievais - e eles eram estritamente masculinos -, a determinação foi mantida.
Apesartodas essas regras e esse imaginário, acredita-se que a sociedade esteja muito mais aberta do que no passado. Crítico da ordem, o ex-maçom britânico Martin Short escreveu, no livro Inside The Brotherhood, que a maçonaria passa por essa transição.
Segundo ele, o que era uma sociedade secreta, hoje é uma sociedade discreta. Mas,breve, o autor acredita, a maçonaria será uma sociedade civil aberta.
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