As relíquias que D. Pedro 2º encontrou no Egito e foram queimadas no incêndio do Museu Nacional:1xbet

O imperador Dom Pedro 2º nas pirâmides do Egito,1xbet1871, cercado por moradores do país

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, O imperador Dom Pedro 2º nas pirâmides do Egito,1xbet1871, cercado por moradores do país

"D. Pedro 2º era profundo conhecedor1xbethistória universal, tendo aprendido línguas como o árabe e o hebraico para poder ter acesso a documentos originais", conta a historiadora e professora da PUC do Rio Grande do Sul, Margaret Marchiori Bakos, lembrando que o fato1xbetD. Pedro 2º ter ficado órfão muito cedo fez com que o imperador fosse educado e criado por tutores,1xbetquem recebeu uma educação formal e culta. "A ideia era criar uma memória da monarquia brasileira sóbria, erudita, vinculada a cultura, ciência e educação."

Das expedições ao Egito, D. Pedro 2º trouxe artefatos históricos, mapas, livros e fotos1xbetviagens. Sua coleção1xbetfotografias1xbetviagens - não só ao Egito, mas também1xbetexcursões feitas pela Europa, África e Oriente Médio - foi a maior do século 19 pertencente a um governante. Já a1xbetcoleção1xbetartefatos históricos da civilização egípcia ajudou a formar o maior acervo egípcio da América Latina.

Imagem histórica do Palácio Imperial

Crédito, Museu Nacional

Legenda da foto, O prédio do Museu Nacional já foi morada da família real no Rio1xbetJaneiro

Em 2010, os documentos1xbetviagens1xbetD. Pedro 2º foram reconhecidos pela Unesco como patrimônio da Memória do Mundo e fazem parte do acervo do Museu Imperial1xbetPetrópolis, no Rio1xbetJaneiro, onde os diários podem ser visitados pelo público. Já as relíquias egípcias trazidas pelo imperador ao Brasil e compradas por seu pai, dentre elas peças raras como múmias humanas inteiras e sarcófagos, faziam parte do Museu Nacional desde 1889, mas foram queimados na noite do dia 21xbetsetembro durante o incêndio que destruiu o histórico Palácio1xbetSão Cristóvão, onde funcionava o Museu.

As expedições egípcias

"Foi sempre um grande desejo1xbetD. Pedro 2º conhecer a Europa e o Egito, mas a oportunidade se apresentou somente quando1xbetfilha Leopoldina faleceu na Áustria", conta Bakos.

Nessa primeira viagem ao Egito, feita entre maio1xbet1871 a março1xbet1872, D. Pedro 2º viajou como homem comum, pagou a expedição com suas economias pessoais e evitou ser chamado1xbetimperador.

Dos lugares que visitou, quis conhecer todos os citados na Bíblia, além1xbetAlexandria, Canal1xbetSuez e da capital Cairo, onde passou oito dias. "Conta-se que D. Pedro 2º escalou a pirâmide1xbetQuéops, a maior1xbettodas,1xbetapenas 25 minutos", conta a historiadora.

"Ao ver o Templo1xbetKarnak pela primeira vez, D. Pedro 2º parafraseou o famoso egiptólogo Mariette ao dizer: 'Nunca se vê Karnak o suficiente'. No templo, o imperador almoçou no alto1xbetum dos tetos contemplando a vista. Passou dois dias1xbetKarnak", conta a professora da Universidade Federal do Maranhão, Liliane Correa.

O imperador brasileiro D. Pedro 2º fez uma expedição ao Egito na década1xbet1870

Crédito, Brady-Handy Photograph Collection

Legenda da foto, O imperador brasileiro D. Pedro 2º fez uma expedição ao Egito na década1xbet1870

A segunda viagem ocorreu entre 1876 a 1877 e também foi extensão1xbetuma passagem à Europa, dessa vez para tratar da saúde da mulher, Theresa Cristina. Na realidade, a viagem começou nos Estados Unidos, onde o monarca conheceu intelectuais1xbetseu tempo, como Thomas Edison, seguiu para o Canadá, foi até a Europa e, por fim, para o Egito. Nessa expedição, D. Pedro 2º visitou todas as 18 pirâmides do Baixo Egito.

"Em 1876, Pedro 2º fez uma viagem maior ao Egito: saiu1xbetbarco do Cairo, subindo o rio até Aswan. Lá, a imperatriz ficou alguns dias, enquanto Pedro1xbetAlcântara seguia rio acima,1xbetum barco menor até Wadi Halfa, hoje o Sudão. De lá, seguiu mais ao sul, voltou para Aswan e desceu o rio Nilo até o Cairo. Em todo o percurso, visitou todos os monumentos que estavam acessíveis", descreve Correa, que, no começo1xbet2018, viajou ao Egito para percorrer parte do roteiro que o imperador fez nessa viagem.

"Nessa viagem, descobri que o Egito é lindo, o povo egípcio muito simpático e acolhedor, a comida é maravilhosa e que nós, brasileiros, somos muito parecidos com os egípcios. Compartilho com D. Pedro 2º o fascínio pelo Egito."

A múmia do imperador

Na segunda viagem ao Egito, D. Pedro 2º teceu críticas ao quediva (soberano) Ismael, acusando o governante1xbetabandonar os patrimônios históricos.

Museu Nacional do Rio pegou fogo e quase todo o acervo foi perdido

Crédito, Reuters

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"Impressionado com o mau estado dos monumentos históricos egípcios, que mostravam 'incrível vandalismo', o imperador lamentou o fato do quediva ser luxuoso com os seus palácios, mas desleixado na conservação dos monumentos, 'tão interessantes para o estudo do Alto Egito!', conforme escreveu1xbetseu diário1xbetviagem", resgata Bakos.

O escritor Khatlhab conta que o alerta do imperador contribuiu para que fossem tomadas as medidas necessárias para conservação dos monumentos artísticos dos Faraós. "Além disso, constrangido com as observações1xbetD. Pedro 2º, o quediva Ismail fez uma doação ao imperador, no mínimo surpreendente,1xbetum sarcófago contendo a múmia1xbetum corpo feminino."

O sarcófago, feito1xbetmadeira estucada e colorida, era uma peça rara pelo fato1xbetnunca ter sido aberto. "Dentro do caixão, havia a múmia1xbetuma cantora-sacerdotisa e cuja função era entoar cânticos sagrados no templo dedicado ao deus Amon,1xbetKarnak, nos arredores1xbetTebas", conta Bakos.

"Sha-amun-em-su", nome da cantora mumificada dada a D. Pedro 2º, teria morrido com 50 anos e vivido no Egito 750 a.C.. "Os desenhos e hieróglifos do sarcófago foram transliterados e se descobriu que a cantora pertencia a um seleto grupo especial1xbetdamas que ficavam virgens por toda a vida e auxiliavam a Esposa Divina1xbetAmon", explica a historiadora.

D. Pedro 2º teria gostado tanto do presente do quediva que manteve sarcófago e múmia1xbetseu gabinete1xbet1877 a 1889, ano1xbetque a peça foi incluída no catálogo do Museu Nacional e permaneceu até o incêndio do dia 21xbetsetembro.

O Egito no Brasil

O acervo da civilização egípcia que pertencia ao Museu Nacional contava com 700 peças, entre múmias humanas inteiras, partes1xbetmúmias, animais, artefatos, amuletos e sarcófagos, a maioria pertencente ao Período Intermediário e da Baixa época egípcio (cerca1xbet1069- 556 a.C). O sarcófago e a múmia1xbetSha-amun-em-su era uma das peças mais raras da coleção.

Existem outras coleções egípcias e orientais interessantes expostas no Brasil, como as da Fundação Eva Klabin Rapaport, no Rio1xbetJaneiro; Museu1xbetArqueologia e Etnologia da Universidade1xbetSão Paulo e Museu1xbetArte1xbetSão Paulo, SP; Museu Mariano Procópio,1xbetJuiz1xbetFora; Museu Egípcio e Rosa Cruz,1xbetCuritiba. Mas as coleções formadas por D. Pedro 1º e D. Pedro 2º durante o Brasil Império que estavam no Museu Nacional, infelizmente, não existem mais.

"Durante as pesquisas para escrever meu livro, frequentei o Museu Nacional para estudar o acervo. Tínhamos um grande acervo1xbetegiptologia e poderíamos fazer uma viagem pelo Egito dentro do próprio Brasil", afirma Khatlhab. "Estou indignado1xbetsaber que este grande acervo que desapareceu, que simplesmente não existe mais."