Pesquisadores brasileiros criam 'biblioteca'bet 97ultrassonsbet 97morcegos com 65 espécies do país:bet 97

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Legenda da foto, Pesquisadores compilaram os sons emitidos por 65 especiesbet 97morcegos, entre eles o 'Molosssops temminckii'

A ideia do trabalho surgiubet 972007, quando a cientista Maria João Ramos Pereira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), iniciou seu doutorado com morcegos na Amazônia brasileira e verificou que existia uma grande lacunabet 97conhecimento sobre os chamadosbet 97ecolocalização desses animais no país e na região das Américas Central e do Sul.

"Desde então, comecei a compilaçãobet 97informação com basebet 97sons que obtive ebet 97dados publicados ou disponíveisbet 97bases online", conta.

Legenda do vídeo, 'Biblioteca'bet 97sonsbet 97morcegos ajudará na preservação destes animais no Brasil

De acordo com ela, foram recompiladas, no total, 47 publicaçõesbet 9717 países, que, junto com dados dos próprios pesquisadores, descreveram acusticamente 65 espécies.

"Desse total, para 63 a informação acústica foi retirada da bibliografia ebet 97nossas próprias gravações", explica a bióloga Adriana Arias Aguilar, também da UFRGS e uma das autoras do artigo.

"Para algumas existem maisbet 97uma fontebet 97informação (uma delas os nossos sons). Então dessas 63, 17 têm dados que provêmbet 97nossas gravações e, para as duas restantes, as informações acústicas provêm sóbet 97nossas gravações."

O mito da cegueira dos morcegos

O biólogo Frederico Hintze, do Laboratóriobet 97Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, da Universidade Federalbet 97Pernambuco (UFPE), outro participante do estudo, explica que, ao contrário do que muita gente pensa, os morcegos não são cegos.

"Como mamíferos, ele têm uma visão muito parecida com a nossa. Por isso, não enxergam bem no escuro e, para conseguirem voar na ausênciabet 97luz, aperfeiçoaram o uso do som para se orientarem e capturarem presas."

Ou seja, ao longobet 97milhõesbet 97anosbet 97evolução, eles se adaptaram para viver na escuridão da noite ou no breu das cavernas. Diferentementebet 97outros animaisbet 97hábitos noturnos, seu caminho evolutivo não os levou a desenvolver uma visão noturna acurada, como os felinos, por exemplo, mas a uma outra formabet 97"ver" na ausênciabet 97luz: a ecolocalização.

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Legenda da foto, Pesquisadores usaram um aparelho para captar ultrassons emitidos pelos animaisbet 97locais como Barra do Riveiro (RS)

Esse "sistemabet 97navegação" funcionabet 97maneira semelhante a um sonar, com a emissãobet 97sonsbet 97alta frequência, que batem nos objetos ou presas e retornam aos animais, tornando possível que eles percebam o espaço onde estão e localizem tudo o que está parado ou se move ao seu redor.

Para efeitobet 97comparação, o ser humano é capazbet 97produzir sons entre 85 Hz e 1,1 kHz e consegue e ouvir na faixabet 9720 Hz e 20 kHz, enquanto os cães emitem entre 452 Hz e 1,8 kHz e ouvem no intervalobet 9715 Hz a 50 kHz.

Os morcegos emitem chamadosbet 97ecolocalização que podem alcançarbet 9710 kHz até 200 kHz e conseguem ouvir frequências semelhantes, dependendo da espécie.

Humanos só ouvem sonsbet 97morcegos gravadosbet 97'câmera lenta'

Hintze explica que, para tornar os sons audíveis aos seres humanos, ele é gravado dez vezes mais lento do que o real - semelhante ao que a câmera lenta usada nas transmissõesbet 97futebol faz com as imagens.

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Legenda da foto, Morcegos não são cegos, apenas não têm uma visão adaptada para a escuridão noturna

"Dessa forma, as frequências do som baixam 10 vezes também", diz. "Isto é, se a frequência original ébet 9770 kHz, utilizando esta técnica ouviremos o som a 7 kHz."

De acordo com ele, para a gravação dos ultrassons dos morcegos, é necessário usar equipamentos especiais, chamadosbet 97detectoresbet 97ultrassons.

Esses aparelhos são compostosbet 97um microfone capazbet 97registrar sonsbet 97alta frequência e um dispositivobet 97gravaçãobet 97alta performance. Existem vários tipos desses equipamentos, uns mais rudimentares e outros muito avançados, que são utilizados com diferentes finalidades.

Para captar e registrar esses ultrassons no estudo dos pesquisadores brasileiros foram feitas gravaçõesbet 97três situações diferentes. Uma delas no momentobet 97solturabet 97morcegos que haviam sido capturados. A segunda, na saídabet 97cavernas e outros abrigos conhecidos deles, e a terceira,bet 97tendasbet 97voo - uma pequena "barraca" com um gravador, dentro da qual o animal é colocado para voar.

As gravações foram realizadasbet 97várias partes do país. Hintze e seu orientador, Enrico Bernard, captaram e compilaram informações sonorasbet 97espéciesbet 97vários Estados do Nordeste.

"Os nossos colegas gravaram morcegosbet 97estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Tocantins e até na Guiana Francesa e Costa Rica", informa. "Todas as gravações foram feitas tantobet 97áreas urbanas comobet 97locais protegidos."

Espécies emitem ondas sonoras únicas

O passo seguinte foi a análise desses sons, por meiobet 97um programabet 97computador específico para isso, e a comparação entre sibet 97alguns parâmetros, como frequências, duração e amplitude.

"Dessa forma foi construída uma bibliotecabet 97sons que, por meio dessa comparação e com ajuda da literatura, puderam ser identificados", explica Ludmilla Aguiar, da Universidadebet 97Brasília (UnB), que também participou da pesquisa.

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Legenda da foto, Os morcegos insetívoros Noctilio leporinus foram uma das espécies estudadas pelos pesquisadores

A identificaçãobet 97morcegos pelo som é possível porque, tal como ocorre com as aves, cada espécie emite ondas sonoras com características únicas, como a frequência e o intervalo entre os pulsos, por exemplo. Depois, elas são representadasbet 97gráficos (sonogramas e oscilogramas) para facilitar a visualização.

"Esses dados do nosso trabalho ficarãobet 97um repositório, na seçãobet 97ecolocalização da Sociedade Brasileirabet 97Pesquisadoresbet 97Morcegos (SBEQ)", conta Aguiar.

"Eles poderão ser utilizados para comparação e identificação desses animais que venham a ser gravados no futuro."

O uso da bioacústica (identificação por som) pelos pesquisadores preenche uma lacuna no conhecimento sobre os morcegos insetívoros - as oito famílias estudadas -, que são muito difíceisbet 97capturar com redesbet 97neblina, muito finas e quase invisíveis, usadas para pegar animais voadores.

"Elas são seletivas, capturam com maior facilidade os frugívoros e nectarívoros, diz Aguiar. "Por isso, a maior partebet 97nossa informação é sobre essas espécies. No entanto, os insetívoros são a maioria e, só com o usobet 97redesbet 97neblina, são subamostradas."

Para Hintze, o trabalho é importante também por ter criado o primeiro documento que reúne e sintetiza informações sobre os sinaisbet 97ecolocalizaçãobet 97dezenasbet 97espéciesbet 97morcegos brasileiros.

"Conseguimos verificar qual a situação atual do uso da bioacústica para o estudo deles no Brasil, quais as perspectivas futuras e as potencialidades dela no país", explica.

"Tal como dissemos no final do artigo, esperamos que este trabalho seja a faísca que faltava para o crescimento do uso sustentado desse método no estudo desses animais no Brasil."