Os jovens que encontram nas redes sociais 'válvulaadler casinoescape' para luta contra o câncer:adler casino
A repercussão do relato fez com que o rapaz passasse a fazer diversas postagens sobre a doença, seu tratamento e o seu cotidiano. "Eu acredito que seja preciso divulgar a doença para que as pessoas se cuidem. O câncer é silencioso e é necessário falar mais a respeito. Imagino que mostrando o meu tratamento, a pessoa vai se interessaradler casinosaber como anda a própria saúde. A minha maior intenção é alertar", conta à BBC News Brasil.
O rapaz é um dos diversos jovens que enfrentam o câncer e compartilham a luta contra a doença nas redes sociais. Os relatos sobre os diagnósticos e tratamentos têm se tornado comum na internet.
Para a chefe da seçãoadler casinopsicologia do Instituto Nacionaladler casinoCâncer (Inca), Monica Marchese, a interação nas redes sociais faz com que os jovens que enfrentam a doença se sintam menos solitários.
"Eles sentem que estão fazendo alguma coisa com esse momento da vida. Saemadler casinouma posição passiva diante da doença e das perdas que ela traz. Por isso, tornou-se comum os jovens criarem redes, blogs, publicarem vídeos etc. Assim, não ficam simplesmente reféns da doença e do tratamento."
Segundo o Inca, não há dados sobre jovens que enfrentam o câncer no Brasil, apenas uma expectativaadler casinoquantos brasileirosadler casinogeral devem ser diagnosticados com a doença neste ano: 600 mil, sendo cercaadler casino170 mil casos relacionados ao cânceradler casinopele. A análise não especifica as idades dos pacientes.
Redes sociais como 'válvulaadler casinoescape'
O caso mais famoso entre os jovens que compartilharam a luta contra o câncer nas redes é o da modelo Nara Almeida,adler casino24 anos.
Durante nove meses, ela travou uma dura batalha contra um câncer no estômago. Antes, publicava dicasadler casinobeleza, registrava treinos na academia e falava sobre dietas. A jovem tinha cercaadler casino400 mil seguidores no Instagram. Após o diagnóstico e os relatos sobre a luta contra a doença, o númeroadler casinopessoas que a acompanhavam cresceu para 4,4 milhões, registradosadler casinomaio.
Para a jovem, as redes sociais eram a forma que havia encontrado para lidar melhor com a doença e os tratamentos. Em seu perfil, ela comemorava cada melhoraadler casinoseu quadro clínico e lamentava quando seu estadoadler casinosaúde piorava. "Deus, mais uma vez seguraadler casinominha mão, minha alma aflita pede tua atenção. Cheguei ao nível mais difícil até aqui. Me ajude a concluir", escreveu Nara,adler casinoumaadler casinosuas últimas publicações, feita pouco antesadler casinoiniciar tratamento com imunoterapia.
Nara morreuadler casino21adler casinomaio. Ela não resistiu às complicações da doença e os tratamentos disponíveis não surtiam mais efeitos.
O engenheiro Pedro Rocha, seu marido, diz que as redes sociais foram fundamentais durante a luta dela contra o câncer. "A Nara usava as redes como válvulaadler casinoescape. Ela podia desabafar, conhecer gente que passava pelo mesmo problema, pedir ajuda e auxiliar outras pessoas. Ela também usava esse meioadler casinocomunicação para não se sentir sozinha, quando não podia sair nem receber visitas", conta.
Por meio das redes sociais, o jogadoradler casinofutebol Alexandre Pato, atualmente no Tianjin Quanjian, conheceu o casoadler casinoNara. No fimadler casinoabril, ele se ofereceu para pagar seis mesesadler casinotratamentoadler casinoimunoterapia para a jovem. Antes da ajuda do jogador, a modelo chegou a gravar um vídeo pedindo que fosse contratada para trabalhos como influenciadora digital, para que pudesse arcar com os remédios - que custam R$ 18 mil a dose, a ser tomada a cada 21 dias. "Ela teve tempoadler casinotomar somente duas doses (pagas por Pato)", comenta Rocha.
Além das mensagensadler casinoapoio, Nara também recebia críticas por expor a doença. "Todos que optam por abrir suas vidasadler casinouma rede social precisam saber lidar com a rejeição e com as opiniões diferentes. Mas é importante saber a horaadler casinose reservar um pouco", diz o maridoadler casinoNara.
O engenheiro acredita que a modelo conseguiu ajudar outras pessoas. "A Nara mostrou que não é preciso ter vergonhaadler casinopassar por uma situação assim, porque essa doença é mais comum do que gostaríamos. Conheci muita gente que foi procurar saber mais sobre a própria saúde depoisadler casinoconhecer a história dela."
Invasãoadler casinoprivacidade
As redes sociais são consideradas ferramentas importantes para Gui Pagnoncelli. Por meioadler casinouma "vaquinha virtual", ele arrecadou R$ 350 mil para realizar futuramente, nos Estados Unidos, um transplante múltiploadler casinoórgãos - estômago, intestino, pâncreas e fígado.
Enquanto lidava com a doença e compartilhava o cotidiano nas redes, ele batalhava para manter os planos que tinha para si. Um dos sonhos foi realizado no fim do ano passado: a conclusão da faculdadeadler casinoFisioterapia. Gui iniciou o curso pouco após terminar a primeira fase do tratamento contra o câncer. "Em certos momentos, não me imaginava concluindo minha graduação. Meu TCC foi preparado entre uma quimioterapia e outra."
O jovem mostra-se grato com o apoio que recebe nas redes. Porém, afirma que a exposição tem deixadoadler casinoser tão positiva como no início. "Hoje, as pessoas pensam que a minha vida é uma novela,adler casinoque eu preciso colocar mais um capítulo todos os dias. Se eu resolvo me desligar e ficar um pouco sozinho, logo recebo inúmeras mensagens questionando onde estou e até ofensasadler casinoamigos e familiares por não ter dado notícias. Me sinto um pouco invadido."
Ele, que atualmente tem maisadler casino260 mil seguidores no Instagram, relata que uma das situações que mais o incomodaram aconteceu quando estava internadoadler casinorazão da quimioterapia. "Duas pessoas entraram no leitoadler casinoque eu estava e pediram para tirar uma selfie comigo. Aquilo foi muito estranho e novo para mim. Começaram a me tratar como se eu fosse famoso. Isso me assustou", conta.
Apesaradler casinolamentar a faltaadler casinoprivacidade, Gui mantém as publicações diárias nas redes sociais. Compartilha o tratamento e detalha cada dificuldade. O jovem comenta com frequência sobre as constantes dores,adler casinorazãoadler casinoos remédios não surtirem mais efeitos como antes. Em muitos momentos, Gui precisa ser sedado com anestésicos.
Recentemente, o rapaz iniciou novo tratamento com quimioterapia por tempo indeterminado,adler casinorazão do estágio avançado da doença. "Mesmo com tudo o tenho passado, sempre tive o emocional bastante centrado. Dificilmente choro ou passo o dia triste, busco sempre sorrir e levar a vida como posso, dentroadler casinominhas limitações", diz.
Cânceradler casinomama aos 20
A vontadeadler casinolevar a vida da melhor maneira possíveladler casinomeio ao tratamento contra o câncer também é um dos objetivos da universitária Isabel Costa, 21. Em julho do ano passado, ela descobriu um nódulo no seio esquerdo, que viria a ser um cânceradler casinomamaadler casinoestágio intermediário. "Ninguém espera ouvir uma notícia dessas aos 20 anos. Não foi nada fácil."
Ela demorou a aceitar o diagnóstico: "Todos os dias acordava e pensava que tinha sido um pesadelo".
Só depoisadler casinoiniciar o tratamento com quimioterapia, duas semanas depois, Isabel entendeu queadler casinovida estava passando por mudanças. "Foi um susto muito grande."
Ao todo, foram 16 sessõesadler casinoquimioterapia. Ela estava no quinto semestreadler casinoDireito, mas trancou a faculdade temporariamente e retomou os estudos no início deste ano. A jovem planejava um intercâmbio para Portugal,adler casinojaneiro, porém teveadler casinodesistir. "A minha vida mudou completamente. Tive que parar com todas as atividades que fazia."
Um mês após iniciar a luta contra o câncer, Isabel decidiu falar sobre o assuntoadler casinosuas redes sociais e criou um blog sobre o tema. "Os meus amigos já sabiam, porque eu tinha avisado para eles pouco depoisadler casinodescobrir. Mas decidi criar o blog porque queria que todos soubessem da minha história por mim, não por boatos. Não queria que ficassem pensando que eu estava morrendo ou coisa assim", explica.
Sua primeira publicação repercutiu entre amigos e desconhecidos. Ela, que atualmente possui pouco maisadler casino6 mil seguidores no Instagram, passou a receber diversas mensagens. "Nunca recebi nenhum tipoadler casinocrítica, apenas mensagensadler casinopessoas, conhecidas ou desconhecidas, que queriam demonstrar apoio ou dizer que minhas publicações as inspiravam", comenta.
Nas redes, ela compartilhou publicações motivacionais e também os momentos mais complicados do tratamento. Para a jovem, as partes mais difíceis foram o inchaço causado pelos medicamentos - ela chegou a engordar 18 quilos -, a queda do cabelo e a cirurgiaadler casinoretirada das mamas. "A mastectomia foi o que mais me afetou, porque meus seios foram retirados totalmente. Ficou um esvaziamento. Fiz reconstrução imediata, mas ficaram cicatrizes, mesmo com as próteses. Isso foi muito duro", lamenta.
Atualmente, Isabel faz quimioterapia oral, na qual toma seis comprimidos diariamente durante 14 dias. Posteriormente, por sete dias, pausa os remédios e depois volta. A parte inicial do tratamento da universitária deve ser finalizadaadler casinoagosto. Depois, por cinco anos, ela estaráadler casinofaseadler casinoremissão - períodoadler casinoque não há sinais do câncer, mas ainda não se pode dizer que ele não regressará. Por meioadler casinoconsultas mensais, o médico avaliará a saúde da jovem.
Para Isabel, apesar das dificuldades, a luta contra o câncer teve um lado positivo. "Conheci muita gente bacana e aprendi muito, principalmente por meio das redes sociais. Tenho participadoadler casinovários eventos, para conhecer mais sobre o tema. Além disso, eu criei, junto com uma amiga que também teve a doença, um grupoadler casinoapoio a pacientes com câncer."
Períodoadler casinoremissão
Nas redes sociais, há também históriasadler casinojovens que lutaram contra o câncer, finalizaram o tratamento e agora estãoadler casinofaseadler casinoremissão. É o caso da analistaadler casinocomunicação Anna Narita,adler casino25 anos. Em dezembroadler casino2011, descobriu um câncer no timo, glândula localizada entre os pulmões. Na época, ela fez tratamento com quimioterapia, passou por cirurgias, ficou careca e teve depressão. "A minha maior batalha foi a aceitação da doença."
Na primeira vezadler casinoque teve o câncer, ela chegou a fazer publicações sobre o assunto nas redes sociais, porém não deu continuidade aos relatos. "Eu não estava psicologicamente bem. Foi muito complicado. Eu publiquei e me senti mais exposta do que aliviada e acabei desistindo", revela.
Anna terminou a primeira fase do tratamento e passou a fazer acompanhamentos mensais. No ano passado, quatro anos depoisadler casinofinalizar as sessõesadler casinoquimioterapia, a doença retornou, agora na cavidade abdominal. "Foi um susto, porque eu não tinha mais nenhum sinal do câncer e ele se refez, ainda mais agressivo. Desta vez, eu estava mais forte, apesar do medo ainda existir."
A jovem retomou o tratamentoadler casinojulhoadler casino2017. Ela conta que o amadurecimento fez com que conseguisse comentar sobre a doença nas redes sociais. "Comecei a fazer anotações nos momentosadler casinoque estava mais introspectiva. Essas notas viraram texto e alguns deles, como alternativaadler casinoalívio, foram postados nas minhas redes sociais. Neles, eu falava sobre os sentimentos que me agoniavam", diz Anna, que possui pouco maisadler casino1,7 mil seguidores no Instagram.
Ela preferiu não retratar o cotidiano do tratamento e só fazer publicações sobre as crises que tinha após superá-las. "Isso ajudou a diminuir a minha própria cobrançaadler casinoestar bem o tempo todo. Isso também reduziu a cobrança das pessoas que estavamadler casinofora, que passaram a lidar melhor comigo e com a minha doença."
Em dezembro passado, Anna encerrou o segundo tratamento. Ela está, novamente,adler casinoperíodoadler casinoremissão e faz exames para assegurar que o câncer não retornou. "Não gostoadler casinoromantizar a minha doença dizendo que tudo deu certo no final. Eu me lembroadler casinotodos os meus sofrimentos e não seria justo comigo esquecê-los, mas saio dessas experiências sendo a melhor versãoadler casinomim mesma. Creio que tudo isso foi necessário", afirma.
A universitária Lívia Oliveira,adler casino19 anos, também superou o câncer. Durante o tratamento, ela detalhou, nas redes sociais, a luta contra a doença. A jovem teve um linfoma não-Hodgkin, que surge no sistema linfático e atinge as célulasadler casinodefesa do corpo. Recebeu o diagnóstico aos 18 anos,adler casinonovembro passado. "Foi chocante, porque eu estava iniciando a vida, tinha acabadoadler casinocomeçar a cursar Direito e não esperava uma notícia dessas."
No dia seguinte à descoberta da doença, ela iniciou o tratamento, pois o câncer foi consideradoadler casinoestágio avançado. "Foi tudo muito pesado. Eu fazia 100 horasadler casinoquimioterapia sem parar, a cada 21 dias", detalha. Ela passou por quatro cirurgias, ficou internada na UTI, teve uma parada cardiorrespiratóriaadler casino12 minutos e chegou a ficar três diasadler casinocoma induzido.
Lívia se recuperou eadler casinodezembro teve a primeira alta hospitalar. Ela raspou o pouco cabelo que lhe restava, após grande parte ter caído durante o tratamento. Em seguida, fez uma publicação no Instagram. "Eu senti que precisava compartilhar com todo mundo sobre o milagre que Deus fariaadler casinominha vida", afirma. Lívia possui, atualmente, 10,4 mil seguidores no Instagram, sendo que grande parte deles veio após ela começar a falar sobre a doença.
Um dos momentos mais especiais para ela foi uma publicação feitaadler casino13adler casinoabril, quando anunciou o fim do tratamento. "Hoje eu só sinto vontadeadler casinogritar para todo mundo que Deus é maravilhoso e me curou", escreveu na postagem. Nos comentários, diversos seguidores comemoraram junto com a jovem.
Atualmente, Lívia estáadler casinoremissão e faz acompanhamento mensal para garantir que não há mais sinais da doençaadler casinoseu organismo. "Eu não deixo que o medo do câncer voltar me impeçaadler casinoviver."
O apoio durante a luta contra a doença
Para a psicóloga Monica Marchese, ainda há bastante desinformação sobre como lidar com pessoas com câncer, o que leva muita gente a ter pena daqueles que enfrentam a doença. "As informações pelas redes devem contribuir para minimizar o estigmaadler casinotorno disso", opina.
De acordo com Marchese, um dos motivos para que os relatos dos jovens atraiam as pessoas é o fatoadler casinoa situação fazer com que muitos reflitam sobre o tema. "Esse interesse acontece pela históriaadler casinovida do paciente. Pode ter um efeito do tipo 'poderia ser comigo ou com meu filho'", diz.
Por meio da experiência adquirida nas duas vezesadler casinoque enfrentou a doença, Anna Narita orienta que parentes, amigos e pessoas que acompanham pacientes nas redes exerçam a empatia.
"Não existe dor maior ou menor que aadler casinoninguém nessa luta. Cada paciente sabe o que vem passando. Respeitar isso é legitimar a luta do outro. É importante oferecer um abraço, companhia no tratamento ou, até mesmo, enviar uma música. A parte principal é não cobrar nada daquela pessoa."