De sentimento a sintoma, pesquisadora traça mudanças do conceitopalpite basquetesolidão:palpite basquete

Nos registros localizados, Worsley comparou os significados atribuídos à solidão ao longo do tempo e concluiu que aspectospalpite basquetediferentes culturas tiveram um impacto particular sobre como a palavra era descritapalpite basquetedeterminado lugar. Por isso, "solidão" passou por inúmeras transformações e significados.

Entre as mudançaspalpite basquetesignificado, a que deu origem à maneira como a palavra é empregada hoje é a mais complexa, segundo a professora. "O que mais me interessa é que, atualmente, solidão pode descrever uma disjunção entre uma experiência física e uma mental: você pode estar no meiopalpite basqueteuma multidão e se sentir solitário, mas você também pode viver sozinho e não se sentir solitário."

"As mudançaspalpite basquetesignificadopalpite basquetesolidão podem nos dizer muito sobre como as pessoaspalpite basquetediferentes momentos entenderam suas experiências mentais, emocionais e físicas, e como se relacionaram umas com as outras", defende.

No momento, Worsley escreve um livro sobre as mudanças do conceitopalpite basqueteculturas ocidentais, explicando como a palavra passou a ser descrita como um sintomapalpite basqueteproblemapalpite basquetesaúde - e não mais como um sentimento.

No livro, a americana pretende chamar a atenção para a gravidadepalpite basquetese esquecerpalpite basqueteque solidão é um sentimento e apontar como os governos têm se concentradopalpite basqueteenfrentar apenas o aspectopalpite basqueteisolamento físico dos solitários.

'Longe dos vizinhos'

Nos primeiros registrospalpite basquetelíngua inglesa analisados pela professora - que datam do final do século 16 e início do 17 - a palavra era compreendida como sinônimo dos perigospalpite basqueteestar sozinho, isolado fisicamente da sociedade, preso a um lugar remoto.

"Nessa época, 'solidão' e 'solitário' aparecem juntas para descrever um lugar deserto, uma região selvagem e a inserçãopalpite basquetepessoas neles", descreve a pesquisadora. "Sair para caminharpalpite basqueteum deserto,palpite basqueteuma floresta e nas montanhas não era uma atividadepalpite basquetelazer, eram espaçospalpite basquetemedo e perigo, espaçospalpite basquetesolidão."

Um dos registros dessa época encontrados por Worsley foi um glossáriopalpite basquetepalavras inglesas pouco usadas, compiladopalpite basquete1674, pelo lexicógrafo John Ray. Solidão aparece nessa lista com a definiçãopalpite basquete"longe dos vizinhos".

O sentimentopalpite basquetesolidão estava, assim, associado a um estado físicopalpite basqueteisolamento,palpite basquetevagar fora da sociedade,palpite basquetenão poder contar com a proteção oferecida pelo grupo. Solidão não era um estado mental.

Romantizada

Uma mudança drástica do conceitopalpite basquetesolidão ocorreu, segundo Worsley, no período do Romantismo - movimento cultural e literário que ocorreu entre os séculos 18 e 19, na Europa e nas Américas -, principalmente no Reino Unido, onde os poetas do movimento escreveram obsessivamente sobre o tema.

Nessas obras, a solidão aparece como sinônimopalpite basqueteescapismo, como uma escolha pessoalpalpite basquetefugir da angústia que representava a vidapalpite basquetesociedade, uma vida fútil epalpite basqueterelações pessoais superficiais.

Uma das frases mais célebres desse período, escrita pelo poeta inglês Lord Byron, demonstra como o sentimento foi, aos poucos, se transformandopalpite basqueteum estado mental diante do pessimismo e insatisfação com a vida: "É na solidão que estamos menos sós", escreveu o poeta no início do século 19.

"Minhas investigações sobre as origens da solidão mostram que a palavra, mesmo com as várias mudanças que teve, mantevepalpite basqueteessência originalpalpite basqueterepresentar algo perigoso", analisa Worsley.

No Brasil, o Romantismo também abriu espaço para falar sobre o tema. Autores como Álvarespalpite basqueteAzevedo publicaram poemas melancólicos, apresentando uma solidão que se relacionava com a depressão, frustração e desilusão com a vida e com as relações pessoais.

'Pior que fumar 15 cigarros'

Descrições sobre sentimentos despertados pelo fatopalpite basqueteestar sozinho existem desde tempos antigos. Nesse sentido, a Bíblia teria sido a primeira obra a representar sentimentos ligados ao exílio e ao isolamento, como a alienação e a melancolia.

"O Antigo Testamento é cheiopalpite basqueterepresentações assombrosas do que hoje poderia ser chamadopalpite basquetesolidão", afirma Worsley. "No entanto, 'solidão' não teria sido registrada graficamente até o começo do século 17. E, como diz o crítico literário Christopher Ricks, quando não há uma palavra para descrever tal coisa, tal coisapalpite basquetesi nunca pode ser a mesma até ser nomeada."

Para encontrar os registros exatos sobre a palavra, Worsley usou como metodologia a pesquisapalpite basquetebancospalpite basquetedados que reúnem textos antigos. "O bancopalpite basquetedados digital Early English Books Online, por exemplo, permite mapear uma genealogia detalhada da solidão na literatura britânica moderna", explica.

Nos últimos dez anos, Worsley destaca que a palavra vem passando por mais uma transformaçãopalpite basquetesentido, se aproximando agorapalpite basqueteum sintoma coletivo, um estado mental que pode desencadear sérios problemaspalpite basquetesaúde.

"Na última década,palpite basqueteacordo com as notícias dos meiospalpite basquetecomunicação, solidão virou uma crisepalpite basquetesaúde pública, uma 'epidemia' dos dias atuais", aponta.

Segundo a professora, é possível perceberpalpite basquetenosso dia a dia a presençapalpite basquetefrases como: "solidão mata mais que obesidade", ou "solidão é pior que fumar 15 cigarros por dia".

A comparação da solidão com o tabagismo foi feitapalpite basquetejaneiro por Mark Robinson, diretor da Age UK, a maior instituiçãopalpite basquetecaridade da Grã-Bretanha que trabalha com idosos. Na ocasião, o diretor se referia ao recém-criado Ministério da Solidão,palpite basquetevigor no Reino Unido desde o começo do ano para conter a solidão da população britânica.

A interpretação que os governos têm feito da solidão como um problemapalpite basquetesaúde pública, contudo, é limitada e remete à ideia simples que o termo representava no século 17: apalpite basqueteser apenas uma condição físicapalpite basqueteestar longepalpite basqueteoutras pessoas.

"Muitas das medidas dos governos para reduzir a solidão se concentram apenas na redução do isolamento físico, e não no sentimentopalpite basquetesi", explica a professora. "Embora seja verdade que a solidão é frequentemente causada pelo isolamentopalpite basquetemorar sozinho,palpite basqueteum processopalpite basquetedivórcio, durante um tratamentopalpite basquetedoenças e outras formaspalpite basquetevulnerabilidade, não se pode mais reduzir a solidão a isolamento".

A atual complexidade do termo residepalpite basquetecompreender, segundo Worsley, o "sentir-se" e não apenas o "estar" solitário.

"Alguém cercado por pessoas, ou acompanhado por amigos ou por um amante, pode reclamarpalpite basquete'sentir-se longe'", exemplifica a americana. "A solidão virou um estado emocional que já se instalou dentro da mente. O deserto está agora dentropalpite basquetenós."