O mapa3D do Universo que redefine as bases da astronomia e confunde os cientistas:
Uma descoberta que está redefinindo as bases da astronomia. Com essas palavras, o diretorCiência da Agência Espacial Europeia (ESA), Günther Hasinger, resume os achados do satélite Gaia, lançado2013 e que criou um mapa3D da Via Láctea.
Essa redefinição está confundindo e provocando discordâncias na comunidade científica.
"O Universo simplesmente ficou ainda mais confuso", escreveu Leah Crane, especialistafísica e astronomia da revista científica New Scientist.
Gaia foi lançado com a missãofazer uma espécie"censo estelar" da Via Láctea e coletou dados que estão sendo considerados como o mais completo catálagoestrelas já feito, segundo a ESA. Trata-se do maior mapatrês dimensões da nossa galáxia feito a partirinformações recebidas por um satélite.
O equipamento mediu com alta precisão cerca1,7 bilhãoestrelas e revelou,acordo com a ESA, "detalhes da nossa galáxia nunca antes vistos".
A exatidão alcançada é tamanha que, no casoalgumas das estrelas mais brilhantes do estudo, é como se uma pessoa pudesse ver, da Terra, "uma moedaum euro na superfície da Lua".
Em expansão
O anúncio do que foi captado pelo satélite Gaia foi feito na semana passada,meio a uma grande expectativa porque,acordo com a agência europeia, trata-seinformação essencial para poder investigar a formação e a evolução da nossa galáxia.
A primeira análise da informação coletada "cristalizou nossa confusão sobre a velocidade com que o Universo está expandindo", segundo o textoCrane na New Scientist.
"Temos duas formasdeterminar a velocidade do crescimento do Universo e elas sempre têm indicado valores diferentes", explica a especialista.
A cientista diz, ainda, que alguns colegaspesquisa esperavam que as informações coletadas pelo Gaia e divulgadas no dia 25abril iriam minimizar as divergências, mas só as intensificaram.
Discrepância na medição
Tradicionalmente, a expansão do Universo, que é ininterrupta, tem sido medida por meio da constanteHubble, que permite calcular distâncias, localizações e distribuições das galáxias por meio da análise do movimento.
Para o cálculo, os especialistas usam a abordagem da "escada cósmica", ou,outras palavras, a escaladistância usada pela astronomia. O editor da BBC Science, Paulo Rincon explica que essa escala é baseadaobjetos astronômicos com luminosidade conhecida (chamada"velas padrão"). Ele cita como exemplo o brilhocertos tipossupernova - explosãoestrelasestágio final - que são usados calibrar distâncias no espaço.
Rincon explica que a segunda formacalcular a expansão usa uma combinação do brilho do Big Bang, que é conhecido como radiação cósmicafundomicroondas, com o modelo cosmológico conhecido como Lambda-CDM.
Mas a grande diferença está na discrepância dos valores medidos.
No caso da primeira abordagem, o objetivo é medir diretamente as distâncias que nos separam das estrelas do tipo Cefeida para determinar "quão rápido os objetos no Universo local estão se separandonós", segundo Crane.
Ela diz que esse método mais direto tem produzido um resultado cujo valor é superiormais9% se comparado ao resultado do método que usa a radiação cósmicafundomicroondas.
"No passado, havíamos sido capazesmedir umas poucas Cefeidasuma vez, mas Gaia identificou 50 delas", diz a especialista.
A confusão
Adam Riess, do InstitutoCiência do Telescópio EspacialBaltimore, nos EUA, é um dos três cientistas que ganharam o prêmio NobelFísica2011 por terem descoberto que a velocidade da expansão do Universo está acelerando.
Riess e os colegas dele têm analisado informações sobre as estrelas Cefeidas coletadas pelo satélite Gaia para avaliar eventuais discrepânciascálculos que usam como base a constante Hubble.
"Não apenas se a discrepância pode ser confirmada, mas também (podemos avaliar) se será reforçada", disse Riess, segundo a New Scientist.
Antes da análise, havia a probabilidade11.000que a suspeitadiscrepância fosse apenas um acidente. "Agora, a probabilidadeque não seja real éapenas 17.000", completa Riess.
"Se a discrepância é real, significa que algo está errado com nossos modelosevolução do Universo. Estamos vendo que ela é cada vez mais real", observa Leah Crane.
Riess acredita que talvez existam mais partículas no cosmos que jamais foram detectadas ou que "talvez nossas suposições sobre a natureza da matéria escura e energia escura estejam incorretas".
Muito trabalho pela frente
As primeiras observações do Gaia foram publicadas2016 e tinham como base os dados coletados durante o primeiro ciclo do satélite no espaço.
Na semana passada, foram divulgados os dados da segunda fase que engloba o períodojulho2014 a maio2016.
Depois22 mesesobservações, o catálogo da ESA revela informações que incluem posições, indicadoresdistância e movimentos das estrelas, assim como dadosasteroides no sistema solar eestrelas mais distantes da Via Láctea.
"Gaia é a mais pura expressão da astronomia", avalia Fred Jansen, responsável pela missão da ESA.
"Esses dados darão aos cientistas algo para fazer por muitos anos, e estamos prontos para nos surpreender com a avalanchedescobertas que desvendarão os segredosnossa galáxia", diz Jansen.