Da Roma Antiga ao século 20, violência foi fator-chave para reduzir desigualdade, diz historiador:jogos online de matemática
Muito antes do capitalismo
A desigualdade existe desde que o homem deixoujogos online de matemáticaser nômade e que lhe foi possível acumular recursos, diz Scheidel. Isso aconteceu mais ou menos há 10 mil anos, quando nasceu a agricultura e o processojogos online de matemáticadomesticaçãojogos online de matemáticaanimais. "Ela é uma condição inerente à civilização", ele observa.
No decorrer da História, o abismo entre ricos e pobres foi estreitadojogos online de matemáticaforma significativajogos online de matemáticapoucos episódios, ele defende, desencadeados por quatro "niveladores": grandes guerras, revoluções, colapsojogos online de matemáticaEstados e epidemias.
Antes do século 20, diz, apenas os dois últimos estavam atuantes. O efeito "nivelador" das epidemias se dava, segundo Scheidel, porque, ao matarem tanta gentejogos online de matemáticauma vez só, reduziam drasticamente a ofertajogos online de matemáticamãojogos online de matemáticaobra e empurravam os salários para cima. Esse movimento foi observado, por exemplo, após a Peste Negra, nos séculos 14 e 15, que dizimou praticamente um terço dos europeus.
Quanto ao colapsojogos online de matemáticagovernos, o historiador ressalta que boa parte das civilizações mais antigas foi construídajogos online de matemáticatornojogos online de matemáticaEstados concentradoresjogos online de matemáticarenda. Eram sociedades bastante estratificadas,jogos online de matemáticaque uma pequena parcela privilegiada explorava o restante. Quanto mais tempo esses Estados duravam, maiores ficaram, o que aumentava as chancesjogos online de matemáticaaprofundamento das desigualdades, inclusivejogos online de matemáticarenda.
No Império Romano, um dos temasjogos online de matemáticaespecialidade do historiador, os ricos ficavam ricos cada vez mais rápido à medida que o Estado crescia. O mesmo vale para a China da dinastia Tang, entre os séculos 7 e 10, e a civilização Maia, ele exemplifica.
Quando modelosjogos online de matemáticaEstado como esses desmoronam - e, com eles, as leis e as instituições que permitem que o topo da pirâmide multiplique com mais facilidade seu patrimônio -, abre-se espaço para equalização. Em geral, todo mundo fica "mais pobre" do que antes - mas, como os ricos têm mais a perder, destaca Scheidel, a desigualdade diminui.
O pesquisador usou diferentes basesjogos online de matemáticadados para comparar períodos distintos da História. Quando não havia informação especificamente sobre renda, como foi o caso com as civilizações mais antigas, foram usados dados que se relacionavamjogos online de matemáticaforma indireta com patrimônio, como os registros oficiaisjogos online de matemáticarecolhimentojogos online de matemáticaimpostos sobre a riqueza ou sobre salários e as pesquisas domiciliares que apontavam, por exemplo, o tamanho das propriedades.
Era moderna
O século 20, porjogos online de matemáticavez, foi marcado pelos outros dois "niveladores": grandes conflitos armados - a Primeira e Segunda Guerras Mundiais - e revoluções transformadoras - a comunista, a chinesa, a cubana, por exemplo.
O historiador destaca os dados relativos à Segunda Guerra para dar uma dimensão do impacto desses episódios sobre a distribuiçãojogos online de matemáticarenda.
De 1935 a 1945, a fatia da riqueza concentrada pelos japoneses que estavam entre os 1% mais ricos despencoujogos online de matemática20% para quase 6%, observa Scheidel. Na França, a queda foijogos online de matemática16% para 8% e nos Estados Unidos,jogos online de matemática18% para cercajogos online de matemática11%.
O fenômeno do pós-guerra tem diversas razões - algumas mais ou menos preponderantes a depender do país. Entre elas, estão a redução da rentabilidade dos investimentos e a cobrançajogos online de matemáticapesados impostos sobre renda e propriedade, que afetaram os mais ricos, e a necessidadejogos online de matemáticamãojogos online de matemáticaobra menos qualificada, que proporcionou melhora na remuneração dos mais pobres.
Comum a todos os países foi o choquejogos online de matemáticaviolência da guerra, que, para o austríaco, foi catalisadorajogos online de matemáticamovimentos que poderiam até ter acontecido, masjogos online de matemáticaforma muito mais lenta.
Os níveisjogos online de matemáticadesigualdade se mantiveram relativamente estáveis pelo menos pelas três décadas seguintes, com a ajuda do avanço da democracia, já que regimes autoritários tendem a ser mais concentradoresjogos online de matemáticarenda, a expansão dos sindicatos - com efeito positivo sobre os salários -, e a adoçãojogos online de matemáticamodelosjogos online de matemáticaEstadojogos online de matemáticabem-estar social.
E voltaram a aumentar depois da décadajogos online de matemática1980,jogos online de matemáticaum fenômeno já descrito pelo economista Thomas Pikettyjogos online de matemáticaO Capital no Século 21: o avanço do mercado financeiro fez com que os investimentos passassem cada vez menos pela "economia real" (os mais ricos ganham dinheiro, por exemplo, arbitrando preços na bolsajogos online de matemáticavalores), favorecendo a concentração da riqueza.
A esperança latinoamericana
A desigualdade na América Latina é anterior à chegada dos colonizadores, diz o historiador, que estudou dados do continente desde 1400, referindo-se, por exemplo, à civilização asteca, no México, e aos incas, no Peru.
Em um primeiro momento, os espanhóis interromperam a trajetória ascendente da concentraçãojogos online de matemáticariqueza quando espalharam doençasjogos online de matemáticalarga escala. Grandes epidemiasjogos online de matemáticagripe ejogos online de matemáticavaríola mataram milhõesjogos online de matemáticaindígenasjogos online de matemáticapouco tempo. Na sequência, contudo, os colonizadores instituíram novos regimes concentradores, que pioraram significativamente a distribuiçãojogos online de matemáticariqueza.
As guerrasjogos online de matemáticaindependência no início do século 19 aliviaram esse processo, que retomou fôlego pelos dois séculos seguintes até o início dos anos 2000, quando o continente passou a experimentar uma redução pacífica da desigualdadejogos online de matemáticapaíses como Argentina, Bolívia, Equador e, inclusive, o Brasil.
As razões, diz o pesquisador, ainda não estão claras. De um lado, diversos países passaram a adotar medidas pontuais redistributivas, especialmentejogos online de matemáticaalívio à pobreza. De outro, o boomjogos online de matemáticacommodities até 2010 engordou a arrecadaçãojogos online de matemáticaimpostos e permitiu que os governos aumentassem as despesas com seguridade social.
"A América Latina pode ser uma esperança, mas não está claro ainda se esse processo é sustentável. Nós estamos muito próximos (temporalmente) para saber", diz, ressaltando a perdajogos online de matemáticafôlego desse processojogos online de matemáticapaíses como o Brasil.
De 2004 a 2015, o chamado Índicejogos online de matemáticaGini do rendimento mensal dos brasileiros com maisjogos online de matemática15 anos recuoujogos online de matemática0,555 para 0,491. De acordo com a medida, hoje uma das mais usadas no mundo, quanto mais próximojogos online de matemática1, mais desigual é o país.
Apesarjogos online de matemáticaos dados disponibilizados pelo IBGE só chegarem até 2015, especialistas acreditam que a desigualdade pode ter estagnado ou mesmo crescido nos últimos dois anos, como consequência do aumento expressivo do desemprego durante a recessão.
Com ou sem esse retrocesso, o Brasil segue entre as nações mais desiguais do mundo. No ranking das Nações Unidas, o Relatóriojogos online de matemáticaDesenvolvimento Humano, ocupa o 10º lugar. Na América Latina, só Haiti, Colômbia e Paraguai têm desempenho pior.
A desigualdade pode ser melhor que a pobreza?
Em algumas situações, a ação dos "niveladores" não necessariamente cria uma situação melhor do que a anterior. Esse é o caso, por exemplo, da Somália, ilustra Scheidel, onde o colapsojogos online de matemáticaum regimejogos online de matemáticagoverno colocou praticamente toda a populaçãojogos online de matemáticaestadojogos online de matemáticapobreza extrema.
Nesses casos, muita gente questiona o historiador se há um "níveljogos online de matemáticadesigualdade tolerável", se muitas vezes ela não é preferível aos cenáriosjogos online de matemáticapobreza generalizada, por exemplo.
Na China dos anos 1980, ele ilustra, todos eramjogos online de matemáticacerta forma "igualmente pobres". Agora, milhõesjogos online de matemáticachineses formam uma classe média que não existia antes - e a desigualdade é duas vezes maior do que naquele período. "Qual o cenário mais desejável? Muita gente vai dizer: 'o que temos agora'", ele provoca.
Apenas nas últimas décadas o homem começou a estudar desigualdadejogos online de matemáticaforma mais consistente, diz o historiador, ejogos online de matemáticaligação com a pobreza. "É um trade off, com implicações políticas".
"É suficiente que consigamos garantir que ninguém esteja fora da redejogos online de matemáticaseguridade social, com medidas que aliviam a pobreza, ou os Estados democráticos devem se perguntar se a riqueza gerada pelos países deveria ser melhor distribuída?", ele acrescenta.
Sem os niveladores, como diminuir a desigualdade daqui pra frente?
As últimas três ou quatro décadas foram marcadas pelo aumento consistente da desigualdadejogos online de matemáticapraticamente todo o mundo. Com a atenção cada vez maior dada ao tema, não faltam propostasjogos online de matemáticasoluções para reverter a tendência, da taxaçãojogos online de matemáticafortunas e do combate a paraísos fiscais a projetosjogos online de matemáticaeducação universal (que seria um instrumentojogos online de matemáticaqualificação da população mais pobre e um passaporte para uma vida melhor).
"O problema é que essas medidas funcionaram no passado, mas precisamosjogos online de matemáticafórmulas que funcionem para o mundojogos online de matemáticahoje, que sejam executáveis do pontojogos online de matemáticavista político", ele destaca, ressaltando que, no século 21, nenhuma das quatro forças niveladores está ativa. "E isso é um coisa boa, ninguém quer guerras mundiais ou epidemias".
A tese do historiador gerou uma sériejogos online de matemáticareações polêmicas desde que o livro foi lançado,jogos online de matemáticameados do ano passado, levando parte dos leitores, por exemplo, a concluir que a desigualdade seria algo inexorável e que, portanto, haveria pouco a se fazerjogos online de matemáticaforma deliberada - e pacífica - para reduzi-lajogos online de matemáticaforma consistente.
"Não era a mensagem que eu queria passar. A História não determina o futuro. Ela mostra o que funcionou e ou não no passado. O que essa pesquisa faz é nos dar ideia do quão difícil é lidar com a desigualdade na ausência desses choquesjogos online de matemáticaviolência."
Especialmente agora, ele acrescenta, quando estãojogos online de matemáticaação uma sériejogos online de matemáticaforças que alargam o abismo entre ricos e pobres: o envelhecimento populacional, que reduz a arrecadação do Estado e o espaço fiscal para Estadojogos online de matemáticabem-estar social, a globalização e a automação, que diminui salários e colocajogos online de matemáticarisco a própria existênciajogos online de matemáticaalgumas profissões.