O que sabemos sobre Maria, mãechelsea palpites hojeJesus:chelsea palpites hoje

Estátuachelsea palpites hojeMaria

"Não acredito que seja possível inferir verdades históricas, saber quem foi Maria, a mãechelsea palpites hojeJesus", comenta o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Institutochelsea palpites hojeHistória da Universidade Federal do Riochelsea palpites hojeJaneiro (UFRJ), autor dos recém-lançados Jesuschelsea palpites hojeNazaré: o que a história tem a dizer sobre ele e Jesus, o mago: um olhar (ainda) negligenciado sobre Jesuschelsea palpites hojeNazaré, entre outros.

Ele aponta como a provável primeira menção a uma mãe biológicachelsea palpites hojeJesus a carta escrita pelo apóstolo Paulo ao povo dos Gálatas. "Ele fala sobre o processochelsea palpites hojeencarnaçãochelsea palpites hojeum ser angélico no seiochelsea palpites hojeuma mulher, como quem diz que Jesus nasceuchelsea palpites hojeuma mulher. É um documento dos anos 50 do primeiro século", contextualiza. "Mas não fala nada além disso. Nem sequer fala o nome da mãechelsea palpites hojeJesus."

Pesquisadorachelsea palpites hojehistória do catolicismo na Pontifícia Universidade Gregorianachelsea palpites hojeRoma, a vaticanista Mirticeli Medeiros concorda que "as fontes sobre 'Maria histórica' são bem escassas". "Além do Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, juntamente com a literatura apócrifa, já que o Protoevangelhochelsea palpites hojeTiago, e o Protoevangelhochelsea palpites hojeBartolomeu são alguns exemplos, não há nenhuma outra fonte que descrevachelsea palpites hojetrajetória, do pontochelsea palpites hojevista histórico", salienta ela.

Mãe adolescente, viúva jovem

Romariachelsea palpites hojefiéis com imagemchelsea palpites hojeMaria

Crédito, REUTERS/PEDRO NUNES

Legenda da foto, Festa da Assunção, na próxima segunda-feira (15/08) é feriadochelsea palpites hojeparte da Europa

Mas há indícios que permitem acreditar que ela teria se tornado esposachelsea palpites hojeJosé ainda adolescente, como era praxe entre famílias judaicas daquela época. "Segundo a literatura apócrifa, que mencionamos, ela teria sido apresentada a José aos 14 anoschelsea palpites hojeidade", afirma Medeiros. "Agora seguindo a práxis da época, a mulher deveria ser dadachelsea palpites hojecasamento logo cedo porque era considerada 'fontechelsea palpites hojeinquietação para os pais'. Sendo assim, segundo a visão da época, melhor que ela fosse prometida já no começo da puberdade. Algumas chegavam a ser apresentadas a seus futuros maridos a partir dos 12 anoschelsea palpites hojeidade. Sendo assim, Maria, como qualquer outra moça da época, pode ter se casado com 14 ou 15 anos, no máximo."

"Especialistas defendem que, como mandava a tradição da época, Maria foi prometida a José quando tinha por voltachelsea palpites hoje12 anos", conta o estudiosochelsea palpites hojehagiologias Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federalchelsea palpites hojeSão Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos. "Isso não deve espantar. Essa ideiachelsea palpites hojeque Maria foi prometida a José muito nova é compatível com a tradição. E isso nos permite supor que ela teria nascido por volta do ano 18 a.C."

Pesquisas mais contemporâneas, vale ressaltar, costumam situar o nascimentochelsea palpites hojeJesus como algo ocorrido por volta do ano 4 a.C. — e não, como erachelsea palpites hojese supor, no ano 0.

Conforme frisa Chevitarese, "há um modelo que normalmente se aplica para casamentos" desta época e neste contexto. "Comumente, as mulheres chegavam à idade do casamento a partir da primeira menstruação. Portanto, aos 12, 13 anos elas normalmente estavam aptas a casar", explica.

"Do pontochelsea palpites hojevista modelar dos casamentos mediterrâneos, a jovem conhecia o futuro esposo no dia do casamento. A ideiachelsea palpites hojenamorar inexistia. Essas meninas viviam junto à família e, portanto, só iriam conhecer o marido muitas vezes na cerimônia. O matrimônio era uma relaçãochelsea palpites hojeacordo entre as famílias", diz o historiador.

Segundo Chevitarese, eram três as razões que costumavam alinhar esses acordos: favorecimentos políticos, ganhos econômicos ou relaçõeschelsea palpites hojeauto-ajuda. "Em se tratandochelsea palpites hojefamíliaschelsea palpites hojecamponeses, échelsea palpites hojese esperar que fosse a auto-ajuda a motivação dessas famílias", conclui ele.

"Do pontochelsea palpites hojevista modelar, essas mulheres aos 16, 17 anos já são mãeschelsea palpites hojedois ouchelsea palpites hojetrês filhos", contextualiza.

Imagemchelsea palpites hojeMaria e Jesus feita na Ásia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Maria, sendo uma mulher judia, teria tido um papel fundamental para a educação moralchelsea palpites hojeJesus, diz especialista

O historiador lembra que essa situação acabava legando ao homem a responsabilidadechelsea palpites hoje"educar sexualmente achelsea palpites hojejovem esposa", nesse contexto. Mais velho, o futuro marido já seria alguém maduro. "Era alguém que poderia e deveria ter experiência sexual, com as chamadas prostitutas. Enquanto a mulher, no caso Maria, deveria saber cuidarchelsea palpites hojeuma casa, fazer comida, isso é a educação que a mãe teriachelsea palpites hojeter dado a ela", diz. "Uma educaçãochelsea palpites hojesubordinaçãochelsea palpites hojerelação ao homem, ao futuro marido."

Chevitarese lembra que as referências à mãechelsea palpites hojeJesus nos evangelhos são todos registros feitos posteriormente å morte dela. "Marcos [o evangelista] escreveu nos anos 70 do século 1. Acho muito dificil que ele esteja falandochelsea palpites hojeuma mulher historicamente comprovada", defende o historiador.

"A seguir, temos referências à Maria nos evangelhoschelsea palpites hojeMateus,chelsea palpites hojeLucas echelsea palpites hojeJoão, mas isso tudo é material bastante tardio. Háchelsea palpites hojese ter um certo cuidado e não jogar todas as fichas no que se fala sobre ela como sendo um dado historicamente comprovado. Há um enorme viés teológicochelsea palpites hojetodas essas falas", atenta Chevitarese.

Ele sugere, portanto, partirmos do "enquadramento" para tentar entender a biografiachelsea palpites hojeMaria. "O enquadramento corretíssimo é Jesus como judeuchelsea palpites hojenascimento, vida e morte. Portanto,chelsea palpites hojemãe era uma mãe judia. Quando consideramos os dados arqueológicos advindoschelsea palpites hojeNazaré, publicados pelo [pesquisador britânico] Ken Dark agorachelsea palpites hoje2020 echelsea palpites hoje2021, Maria bem como seu filho Jesus eram judeuschelsea palpites hojecaracterísticas tradicionais, alinhados ao templochelsea palpites hojeJerusalém", diz o historiador. "Possivelmente uma família camponesa. O pai [José], também, um judeuchelsea palpites hojeorigem camponesa."

Chevitarese lembra tambémchelsea palpites hojeum ponto que pode justificar o fatochelsea palpites hojeJosé, sempre apresentado como alguém mais velho, não aparecer nas narrativaschelsea palpites hojeJesus adulto. Para isso, ele recorre a pesquisas realizadas pelo historiador e teólogo irlandês John Dominic Crossan que "aventou a possibilidadechelsea palpites hojeessa ausência serchelsea palpites hojerazãochelsea palpites hojeuma violenta repressão do exército romano ocorrida ao lado da pequena aldeiachelsea palpites hojeNazaré". "Os romanos, para reprimirem uma revolta camponesa, dizimaram os indivíduos que eles consideravam responsáveis. Crossan sugere que José possa ter morrido nessa repressão", acrescenta.

Esse ponto conferiria um outro fator biográfico para Maria: a jovem judia também era viúva. Havia se tornado viúva muito cedo.

Imagemchelsea palpites hojequadro com ilustraçãochelsea palpites hojeMaria

Crédito, Domínio publico

Legenda da foto, "Talvez seja a grande influência na concepção moral e ética do homem Jesus. E isso a colocachelsea palpites hojelugarchelsea palpites hojedestaque na história da salvação", diz pesquisadora sobre Maria

Mãe judia

Maerki atenta para o fatochelsea palpites hojeque Maria, não sendo uma mulher cristã, mas judia, teria tido um papel fundamental para a educação moralchelsea palpites hojeJesus. "A concepçãochelsea palpites hojeMaria cristã é uma construção eclesiástica, feita por padres, monges, teólogos. Maria era judia, frequentava a sinagoga. A ideiachelsea palpites hojeuma Maria cristã,chelsea palpites hojeuma cristandadechelsea palpites hojetornochelsea palpites hojeMaria é um produto da Idade Média", salienta.

"Algo importante na tradição judaica é o papel da mãe,chelsea palpites hojeimportância ímpar. A mulher judia é responsável por transmitir a tradição religiosa, os valores judaicos para os filhos. A mulher judia é uma mulher extremamente importante, influente no seio familiar", ressalta Maerki. "Por mais que não tenham funçãochelsea palpites hojedestaquechelsea palpites hojerelação ao poder,chelsea palpites hojeuma sociedade onde o poder está na mão dos homens, não podemos esquecer que as mulheres eram as responsáveis pela educação dos filhos."

"Então podemos imaginar Maria como uma mulher importante na formaçãochelsea palpites hojeJesus, naquilo que Jesus se tornaria enquanto homem", conclui o hagiólogo. "Talvez seja a grande influência na concepção moral e ética do homem Jesus. E isso a colocachelsea palpites hojelugarchelsea palpites hojedestaque na história da salvação."

Processochelsea palpites hojesantificação

Essa "história da salvação" é quando Maria transcende a figura humana para se tornar uma figura quase divina, uma instituição fundamental do cristianismo. Segundo Medeiros, "o culto a Maria echelsea palpites hojecolocação no projeto divino" é algo que começa a surgir já no século 2, quando o bispo Ináciochelsea palpites hojeAntioquia descreve "a estirpechelsea palpites hojeJesus, se referindo diretamente a Maria. "Depois vem [no mesmo século, o também bispo] Irineuchelsea palpites hojeLyon, que contrapõe as figuraschelsea palpites hojeEva e Maria", conta a vaticanista. "Eva, no caso, a que 'gerou a morte',chelsea palpites hojereferência ao pecado. E Maria, que pelachelsea palpites hojeadesão ao projeto salvífico, disse sim à vida, a Jesus."

A oração da Ave-Maria, ressalta a pesquisadora, aparece originalmente escritachelsea palpites hojegrego no século 3, como um dos muitos hinos marianos.

"Na minha concepção, a figurachelsea palpites hojeMaria é uma das mais complexas do cristianismo e, quiçá,chelsea palpites hojetoda a tradição religiosa. Há várias fontes e vários elementos que entramchelsea palpites hojecena para a formação da personagem Maria", pontua Maerki. "Além da tradição bíblica, há a própria tradição eclesiástica que foi se firmando com o passar do tempo. A construçãochelsea palpites hojealguns dogmas, algumas verdadeschelsea palpites hojefé que foram sendo construídas pela própria Igreja, por decretos papais, por encíclicas, ideias que foram desenvolvidas e aceitas, tornaram-na uma personagem complexa e difícilchelsea palpites hojeser compreendidachelsea palpites hojeprofundidade."

Um desses dogmas é o da virgindade da mãechelsea palpites hojeJesus. Isto porque, com o passar do tempo, Maria passou a ser vista como alguém cujas necessidades humanas não seriam compatíveis. "A figura humanachelsea palpites hojeMaria foi perdendo espaço com o avançar da história", diz Maerki.

"Ela se torna tão importante quanto mãechelsea palpites hojeJesus, que é Deus, que isso a vincula a um caráter excepcional, alguém além dos seres humanos comuns. Ela chega a ser quase uma divindade", explica ele.

Maria e Jesuschelsea palpites hojeilustração feita na Etiópia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, "A Igreja Católica não considera Maria uma deusa, mas o destaque que ela ganhou na tradição a distancia daquilo que podemos chamarchelsea palpites hojeuma mulher comum", comenta estudioso

"Obviamente que isso não é canônico. A Igreja Católica não considera Maria uma deusa, mas o destaque que ela ganhou na tradição a distancia daquilo que podemos chamarchelsea palpites hojeuma mulher comum", acrescenta ele.

Isso explica essa necessidadechelsea palpites hojeapagar, por exemplo, achelsea palpites hojesexualidade. "Isso começa a ficar problemático", afirma Maerki. "Tudo o que é humano a respeito dela começa a ser negado. O que gera uma sériechelsea palpites hojepolêmicas, como aquelachelsea palpites hojeque Jesus teria tido irmãos ou irmãs, algo mencionado no Novo Testamento e que a Igreja Católica sempre procurou defender [interpretando o trecho como uma tradução para primos e primas,chelsea palpites hojevezchelsea palpites hojeirmãos e irmãs] que Maria teve um único filho, Jesus."

Aí vem para a questão da mortechelsea palpites hojeMaria. Como alguém acima dos seres humanos comuns, ela não poderia ter tido uma morte comum, com restos mortais perecendo sob a terrachelsea palpites hojealgum túmulo.

Veio a ideia da Assunçãochelsea palpites hojeMaria. A festa do 15chelsea palpites hojeagosto. Embora fosse uma tradição antiga das igrejas Católica Romana, Ortodoxa, Ortodoxas Orientais e partes da Anglicana, a doutrina só foi formalizadachelsea palpites hoje1950,chelsea palpites hojedocumento do papa Pio 12. O texto diz que "tendo completado o cursochelsea palpites hojesua vida terrestre, foi assumida,chelsea palpites hojecorpo e alma, na glória celeste".

A celebração, contudo, já existia muito antes, como ressalta Medeiros. "A festa,chelsea palpites hojesi, foi instituída tardiamente, no século VII, pelo Papa Sérgio I. Mas já era celebrada no Oriente, por monges da Palestina por volta do século V. É uma das mais antigas festas marianas, sem dúvida. A Igreja Católica só declarou a Assunçãochelsea palpites hojeMaria um dogmachelsea palpites hoje1950, com o Papa Pio XII", pontua ela.

"Há uma referência no Lecionário Gregoriano do século 8,chelsea palpites hojeque a festa já era chamadachelsea palpites hojeAssunção da Bem-Aventurada Maria", diz Maerki.

Chevitarese ressalta que essa "ideia da assunçãochelsea palpites hojeMariachelsea palpites hojecorpo e alma para o céu não se apoiachelsea palpites hojenenhum autor dos quatro primeiros séculos". "Surgiu já no período medieval", diz ele, situando "resquícios" da história entre os século 5 e 10.

O que é obviamente inegável, por razões puramente biológicas, é que Maria tenha morrido. Sobre a longevidade dela, contudo, só há hipóteses. "Há indícioschelsea palpites hojeque Maria, após a formação da primeira comunidade cristã, que ocorreu logo após a mortechelsea palpites hojeJesus, teria passado seus últimos diaschelsea palpites hojeÉfeso, atual Turquia, onde foi assistida por João, discípulochelsea palpites hojeJesus e autorchelsea palpites hojeum dos quatro evangelhos", diz Medeiros.

"Outra tradição sustenta que ela, embora tivesse vividochelsea palpites hojeÉfeso, teria voltado para Jerusalém, onde morreu com cercachelsea palpites hoje50 anoschelsea palpites hojeidade", acrescenta ela. "Sobre o Monte Sião, os arqueólogos encontraram alguns epígrafeschelsea palpites hojeperegrinos que passavam pelo local para venerar um túmulo antigo, datado do século 1, que foi atribuído a Maria, e sobre o qual foi construída uma basílica a ela dedicada."

A vaticanista lembra que, neste lugar, aindachelsea palpites hojeacordo com uma antiga tradição, teria acontecido a "dormiçãochelsea palpites hojeMaria", episódio narradochelsea palpites hojevários manuscritos do século 4. "Mas o documento que sobressaiu entre eles, no qual aparece que Maria morreu 'como qualquer ser humano, mas foi arrebatada,chelsea palpites hojecorpo e alma, gloriosamente aos céus' foi o Dormitio Mariæ, apócrifo atribuído a São João evangelista. É por meio desse escrito que começa a crença na Assunçãochelsea palpites hojeMaria, a partir do século 5, mais ou menos", contextualiza ela.

Biblicamente, Maria teria testemunhado a crucificação e mortechelsea palpites hojeseu filho Jesus. E teria participado da primeira comunidade cristã, ou seja, integrado aquele grupochelsea palpites hojeseguidores que iniciaram a propagação do cristianismo. "Tudo incerto", enfatiza Maerki. "Mas alguns estudiosos apontam que ela teria morrido por volta do ano 40, com cercachelsea palpites hoje58 anos."

"Não temos como inferir com qual idade ela morreu", sentencia Chevitarese. "Não há qualquer projeção que nos permita isso. Os evangelhos associam Maria ao momento da crucificação. Mas eu não arriscaria."

O historiador considera que essa narrativa possa ter sido construídachelsea palpites hojeforma a dar um sentido ao papel da mãechelsea palpites hojeJesus. "As expectativaschelsea palpites hojevidachelsea palpites hojeuma mulher eram infinitamente menores, havia muitos riscos naquela época, sobretudo durante os processoschelsea palpites hojegravidez e parto", frisa ele.

- Este texto foi publicado originalmentechelsea palpites hojehttp://vesser.net/curiosidades-62523987

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