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'A pior situação humanitária que já vi': os relatosoddset freebetmédico que foi atender os yanomami:oddset freebet
Siqueira diz que se deparou com casosoddset freebetdesnutrição extremaoddset freebetfamílias inteiras. Emocionado, o médico confessou que é muito difícil enfrentar essa situação, que classifica como "catastrófica" e "desastrosa".
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"A gente compara com nossos filhos. Vemos os pais, as crianças e toda a comunidade sofrendo. E, mesmo dianteoddset freebettanta dificuldade, há um sensooddset freebetcoletividade muito grande. Mesmo as pessoas com fome, quando recebem algum alimento, tentam dividir com quem está ali", completa.
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Finaloddset freebetInstagram post
O aumentooddset freebetcasos e mortes por desnutrição e malária na reserva indígena yanomami ligou o sinaloddset freebetalerta do governo federal e motivou um decretooddset freebetEmergênciaoddset freebetSaúde Pública neste território.
Ao ladooddset freebetuma comitivaoddset freebetministros e secretários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma visita à região no sábado (21/1) e classificou a situação como "desumana".
O Ministério da Saúde anunciou uma sérieoddset freebetações para tentar controlar a crise — como a instalaçãooddset freebetum hospitaloddset freebetcampanha e o enviooddset freebetinsumos e profissionaisoddset freebetsaúde.
Já o Ministério da Justiça determinou a aberturaoddset freebetum inquérito para "apurar o crimeoddset freebetgenocídio" na região.
O governo calcula que 570 crianças yanomami morreram nos últimos quatro anos.
Mas como a situação dos yanomami chegou a este ponto? Entenda a seguir os principais elementos que ajudam a explicar esse cenáriooddset freebetcrise sanitária — e o que está sendo feito para revertê-lo.
A maior reserva indígena do Brasil
Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), a terra indígena yanomami é habitada por oito povos, possui cercaoddset freebet26,7 mil habitantes e compreende uma áreaoddset freebet9,6 milhõesoddset freebethectares.
Ela foi homologada e reconhecida pelo governo brasileirooddset freebet1992, por meiooddset freebetum decreto assinado pelo então presidente Fernando Collor (PTB).
O território está localizado entre os Estadosoddset freebetRoraima e Amazonas ao norte, na divisaoddset freebetBrasil e Venezuela.
Entre os povos que habitam o local, estão os yanomami, os ye'kwana, os isolados da Serra da Estrutura, os isolados do Amajari, os isolados do Auaris/Fronteira, os isolados do Baixo Rio Cauaburis, os isolados Parawa u e os isolados Surucucu/Kataroa.
O ISA também destaca quatro "riscos potenciais e problemas existentes" na terra indígena yanomami: os garimpeiros, os pescadores, os caçadores e os fazendeiros.
Entre essas ameaças, o garimpo se tornou uma das grandes preocupações dos habitantes da região eoddset freebetespecialistas no tema.
O relatório Yanomami Sob Ataque, publicadooddset freebetabriloddset freebet2022 pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye'kwana, com assessoria técnica do ISA, faz um balanço da extração ilegaloddset freebetouro e outros minérios nessa região.
"Sabe-se que o problema do garimpo ilegal não é uma novidade na TIY [Terra Indígena Yanomami]. Entretanto,oddset freebetescala e intensidade cresceramoddset freebetmaneira impressionante nos últimos cinco anos. Dados do MapBiomas indicam que a partiroddset freebet2016 a curvaoddset freebetdestruição do garimpo assumiu uma trajetória ascendente e, desde então, tem acumulado taxas cada vez maiores. Nos cálculos da plataforma,oddset freebet2016 a 2020 o garimpo na TIY cresceu nada menos que 3.350%", aponta o texto.
O levantamento das associações mostra que,oddset freebetoutubrooddset freebet2018, a área total destruída pelo garimpo somava pouco maisoddset freebet1.200 hectares.
"Desde então, a área impactada mais do que dobrou, atingindooddset freebetdezembrooddset freebet2021 o totaloddset freebet3.272 hectares", continua a publicação.
Segundo os autores, há vários motivos para essa expansão, como "o aumento do preço do ouro no mercado internacional", "a faltaoddset freebettransparência na cadeia produtiva do ouro", "a fragilização das políticas ambientais eoddset freebetproteção a direitos dos povos indígenas" e "o agravamento da crise econômica e do desemprego no país", entre outros.
O texto também chama a atenção para o fatooddset freebetque "o garimpo dos dias atuais é uma atividade financiada por empresários com alta capacidadeoddset freebetinvestimento e que concentram a maior parte da riqueza extraída ilegalmente da floresta yanomami".
Por fim, o relatório das associações aponta que o avanço do garimpo sobre as terras indígenas está atrelado a "perdas consideráveis" na qualidadeoddset freebetvida dos moradores da região, com pioras nos indicadoresoddset freebetviolência, saúde e suporte social.
O Atlas da Violência 2021, produzido pelo Institutooddset freebetPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que Roraima — onde fica parte da terra yanomami — tem uma das maiores taxasoddset freebetviolência letal contra indígenas, ao ladooddset freebetAmapá, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul.
E a saúde?
Em resumo, as associações indígenas da região apontam que o garimpo ilegal está relacionado a três impactos imediatos na saúde da população.
Em primeiro lugar, "a atividade garimpeira ilegal está associada à maior incidênciaoddset freebetdoenças infectocontagiosas entre as comunidades indígenas,oddset freebetespecial a malária".
Siqueira explica que os garimpeiros circulam por muitas áreas e costumam usar medicamentos contrabandeados que até minimizam os sintomasoddset freebetmalária, mas não eliminam o parasita do organismo deles.
"Eles acabam se tornando uma fonteoddset freebetdispersão [do patógeno], pois carregam o protozoário causador da doença para regiões que até têm o mosquito transmissor, mas estavam com a situação controlada", diz o médico.
Em segundo lugar, a exploração dos minérios depende do usooddset freebetmercúrio, um composto tóxico que contamina a água e os alimentos consumidos pelas pessoas. A exposição a essa substância está relacionada a uma sérieoddset freebetprejuízos à saúde, como doenças neurológicasoddset freebetrecém-nascidos.
Terceiro, as entidades relatam que "a situaçãooddset freebetinsegurança generalizada imposta pelo aumento da circulaçãooddset freebetgarimpeiros armados nas diferentes regiões da TIY tem causado transtornos ao atendimento à saúde das comunidades indígenas, com o total abandonooddset freebetpostosoddset freebetsaúdeoddset freebetalguns casos e, inclusive, a ocupação das pistas comunitárias para a operação e abastecimento do garimpo".
"Também é comum a queixa do desviooddset freebetmedicamentos reservados para os indígenas para o atendimentooddset freebetgarimpeiros."
Siqueira acrescenta que, se a malária for diagnosticada e tratadaoddset freebetaté 48 horas desde o início dos sintomas, é possível reduzir a transmissão para outras pessoas.
"Mas isso não está acontecendo na prática. O garimpo desmobiliza as equipesoddset freebetprofissionais, que não conseguem mais buscar os pacientes infectados e trazê-los para os polosoddset freebetsaúde", relata.
A junção desses vários fatores engatilhados pelo garimpo — aumentooddset freebetcasosoddset freebetmalária, faltaoddset freebetacesso à comida ou água potável e reduçãooddset freebetserviçosoddset freebetsaúde — ajuda a explicar as imagens compartilhadas nos últimos dias, que mostram crianças, adultos e idosos desnutridos eoddset freebetestado críticooddset freebetsaúde.
O relatório publicado pelo ISA cita o exemplo do que aconteceu no polo-base do Arathau, próximo ao rio Parima.
"Em 2020, foram realizados 11,2 mil atendimentosoddset freebetsaúde neste polo, e,oddset freebet2021, o número caiu para 2.800", comparam os autores.
"Como consequência, diversos pacientes com doenças passíveisoddset freebettratamento tiveram o seu quadro agravado, e alguns chegaram a óbito. Esse é o casooddset freebetum xamãoddset freebet50 anos que morreu na comunidade Macuxi Yano,oddset freebetoutubro, por não conseguir atendimento médico. E também a situaçãooddset freebetduas crianças da casa Xaruna que morreramoddset freebetmaláriaoddset freebetoutubro, eoddset freebetuma terceira criança da mesma comunidade vítimaoddset freebetmalária e pneumonia,oddset freebetnovembro."
Um boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúdeoddset freebetmaiooddset freebet2022 traz um panorama da situação da maláriaoddset freebet2021.
As estatísticas revelam que o país registrou 145 mil casosoddset freebetmalária naquele ano. Desses, 45 mil foram diagnosticadosoddset freebetterra indígena, uma quedaoddset freebet5,4%oddset freebetcomparação com 2020.
Jáoddset freebetáreasoddset freebetgarimpo, foram 20,4 mil casos, um aumentooddset freebet45,3%oddset freebetrelação ao ano anterior.
"Quando analisado esse incremento [em áreasoddset freebetgarimpo] no anooddset freebet2021, é possível identificar que o aumento foioddset freebet119,3%oddset freebetRondônia,oddset freebet111,7%oddset freebetRoraima,oddset freebet94,9% no Amapá,oddset freebet66,7%oddset freebetMato Grosso,oddset freebet14,8% no Amazonas eoddset freebet13,5% no Pará", calcula o levantamento.
Já neste relatório, o governo admite "a necessidadeoddset freebetdesenvolvimentooddset freebetestratégias específicasoddset freebetprevenção e controleoddset freebetmalária no contextooddset freebetvulnerabilidade das áreas"oddset freebetgarimpo.
Sinaloddset freebetalerta ligado
Na última sexta-feira (20), o presidente Lula usou o Twitter para anunciar que faria uma visita à região.
"Recebemos informações sobre a absurda situaçãooddset freebetdesnutriçãooddset freebetcrianças yanomamioddset freebetRoraima. Amanhã viajarei ao Estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuarmos pela garantia da vidaoddset freebetcrianças yanomami", escreveu.
Ainda na sexta, o Ministério da Saúde decretou Emergênciaoddset freebetSaúde Públicaoddset freebetImportância Nacional neste território indígena.
Na mesma decisão, foi criado o Centrooddset freebetOperaçõesoddset freebetEmergênciasoddset freebetSaúde Pública para "coordenar as medidas a serem empregadas durante o estadooddset freebetemergência, incluindo a mobilizaçãooddset freebetrecursos para o restabelecimento dos serviçosoddset freebetsaúde e a articulação com os gestores estaduais e municipais".
Em nota, o governo detalhou que técnicos do Ministério da Saúde estão na região yanomami desde 16oddset freebetjaneiro. "O grupo se deparou com crianças e idososoddset freebetestado graveoddset freebetsaúde, com desnutrição grave, alémoddset freebetmuitos casosoddset freebetmalária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos."
A ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, reafirmou nas redes sociais que "a situação é grave", com três mortesoddset freebetcrianças entre 24 e 27oddset freebetdezembro e maisoddset freebet11 mil casosoddset freebetmalária no ano passado.
Ela fez parte da comitiva que foi até o local no sábado (21), ao lado do do presidente Lula e dos ministros Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e do general Gonçalves Dias (Gabineteoddset freebetSegurança Institucional).
"Se alguém me contasse que aquioddset freebetRoraima tinha pessoas sendo tratadas da forma desumana, como eu vi o povo yanomami sendo tratado aqui, eu não acreditaria. Tive acesso a umas fotos essa semana que efetivamente me abalaram, porque a gente não pode entender como é que um país que tem as condições deixar os nossos indígenas abandonados como eles estão aqui. É desumano o que eu vi", declarou.
Ele também fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Sinceramente, se o presidente que deixou a Presidência esses diasoddset freebetvezoddset freebetfazer tanta motociata tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse tão abandonado como está."
Em um canal do aplicativooddset freebetmensagens Telegram, Bolsonaro classificou a falaoddset freebetLula como "farsa da esquerda" e disse que "de 2020 a 2022, foram realizadas 20 açõesoddset freebetsaúde que levaram atenção especializada para dentro dos territórios indígenas".
Para Siqueira, a visitaoddset freebetvários representantes do governo federal no sábado foi muito bem-vinda. "Trata-seoddset freebetalgo bastante forte, para mostrar que medidas estão sendo tomadas e serão garantidas", avalia.
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Próximos passos
Aindaoddset freebetRoraima, Lula prometeu combater a exploraçãooddset freebetrecursos minerais na região.
"Vamos levar muito a sério essa históriaoddset freebetacabar com qualquer garimpo ilegal. E mesmo que seja uma terra que tem autorização da agência para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, sem destruir a floresta e sem colocaroddset freebetrisco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver", afirmou.
Já a ministra da Saúde detalhou que, na próxima segunda-feira (23), uma equipeoddset freebet13 profissionais da Força Nacional do Sistema Únicooddset freebetSaúde (SUS) chegará a Boa Vista, capitaloddset freebetRoraima. Eles vão operar um hospitaloddset freebetcampanha.
Outra equipe,oddset freebetoito indivíduos, será deslocadaoddset freebetManaus para a regiãooddset freebetSurucucu (que também faz parte do território yanomami).
Além disso, o Hospitaloddset freebetCampanha da Aeronáutica, localizado no Riooddset freebetJaneiro, será transferido para Boa Vista até 27oddset freebetjaneiro.
"No caso da saúde, nós definimos que essa situação é uma emergência sanitáriaoddset freebetimportância nacional semelhante a uma epidemia. É isso que precisa ficar claro. A Saúde está determinada a resolver as emergências. Mas a sociedade tem que estar consciente do que está acontecendo aqui", declarou Trindade Lima.
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Siqueira entende que é necessário pensaroddset freebetaçõesoddset freebetcurto, médio e longo prazo. "É preciso restituir a assistência à saúde dessa população, que vive uma situaçãooddset freebetcatástrofe e emergência."
O governo também já iniciou a distribuiçãooddset freebetcestas básicas e suplementos alimentares para combater a desnutrição.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, divulgou que vai pedir a aberturaoddset freebetum inquérito na Polícia Federal para apurar possíveis crimes cometidos.
"Há fortes indíciosoddset freebetcrimeoddset freebetgenocídio, que será apurado pela PF", afirmou Dino.
Por fim, Siqueira acredita que a situação dos yanomami deve chamar a atenção para o que está acontecendooddset freebetoutros territórios indígenas do país.
"Sabemos que há problemas no Rio Negro e no Alto Solimões, por exemplo. Eu estive lá no ano passado e vi situações semelhantesoddset freebetfaltaoddset freebetassistência e cuidados", informa.
"Isso é algo que precisa ser abordado com urgência, porque a nossa humanidade depende disso", conclui o médico.