Venezuela: o que o Brasil tem a ganhar ou perder ao retomar relações com paíscassino365Maduro?:cassino365
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a retomada das relações com a Venezuela podem trazer ganhos econômicos, diplomáticos e ajudar a resolver problemas como a crise migratória que tem feito com que milharescassino365venezuelanos atravessem a fronteiracassino365direção ao Brasil.
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Por outro lado, eles afirmam que essa reaproximação pode trazer riscos por conta da instabilidade política e econômica venezuelana e pelo gerado pela associação do governo Lula a um governo acusadocassino365violar direitos humanos pela comunidade internacional.
Aproximação, pico e 'venezuelização'
A históriacassino365proximidade entre o Brasil e a Venezuela nos governos do PT começou com a possecassino365Lulacassino365seu primeiro mandato,cassino3652003. Na época, o país vizinho era governado por Hugo Chávez.
Os dois viraram interlocutores frequentes e o Brasil passou a intensificarcassino365presença comercial no exterior.
Em quase duas décadas, o saldo da balança comercial entre os dois países tem sido marcadamente mais favorável ao Brasil.
Dados do governo federal mostram, por exemplo, que entre 2003 e 2022, o Brasil exportou US$ 52,9 bilhõescassino365produtos e serviços e importou US$ 10,5 bilhões, o que dá um saldo positivocassino365US$ 42,4 bilhões.
O períodocassino365que esse fluxo comercial foi mais intenso ocorreu durante os anoscassino365que o país foi governado pelo PT, entre 2003 e 2016.
As exportações brasileiras para a Venezuela saíramcassino365US$ 603 milhõescassino3652003 para um picocassino365US$ 5,1 bilhõescassino3652008, ainda durante o governo Lula. Nos anos seguintes, o volumecassino365exportações brasileiras para a Venezuela se manteve acima dos US$ 3,5 bilhões até 2014.
Naquele ano, o Brasil havia exportado US$ 4,5 bilhões. A partircassino365então, o volumecassino365produtos e serviços brasileiros vendidos para o país vizinho despencou. Em 2019, foicassino365US$ 420 milhões e,cassino3652022, chegou a pouco maiscassino365US$ 1,2 bilhão.
A intensificação dos laços entre os dois países durante os governos petistas virou alvo da oposição ecassino365políticos como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante as eleições presidenciaiscassino3652022, um dos argumentos mais frequentes contra Lula era ocassino365que a vitória do petista faria com que o Brasil "virasse uma Venezuela",cassino365uma referência às crises política e econômicas vividas pelo país vizinho.
Outra parte da crítica a essa proximidade eracassino365que o apoio do Brasil ao governo venezuelano ocorria apesar das constantes acusaçõescassino365que o regime bolivariano vinha sendo responsável por graves violaçõescassino365direitos humanos e desrespeito às normas democráticas.
Um outro ponto frequentemente citado por opositorescassino365Lula são as acusaçõescassino365que empreiteiras brasileiras aproveitaram seus contatos com políticos do país e da Venezuela para firmarem contratos por meio do pagamentocassino365propina.
Investigações como a Operação Lava Jato mostraram a ligação entre executivoscassino365grandes empreiteiras do país com agentes políticos, tanto do chavismo, que governava o país, quanto da oposição, que governavam municípios como ocassino365Chacao, um dos que compõem a região metropolitanacassino365Caracas.
Delatores da Odebrecht disseram às autoridades americanas que pagaram US$ 98 milhõescassino365propinas a agentes venezuelanos para obter contratos no país.
Afastamento
Em 2016, com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), as relações com a Venezuela sofreram o primeiro arranhão. Maduro chamou o afastamentocassino365Dilmacassino365golpe.
Ao mesmo tempo, a situação política e econômica na Venezuela também se agravou mais, com elevadas taxascassino365inflação, aumento da pobreza e a realizaçãocassino365protestos e reações violentas por parte das forçascassino365segurança bolivarianas.
O estudo Encovi sobre condiçõescassino365vida dos venezuelanos realizadocassino3652021 pela Universidade Católica Andrés Bello apontou que 24,8% dos venezuelanos estãocassino365situaçãocassino365extrema pobreza e que 60% da população vive com insegurança alimentarcassino365moderada a grave.
A vitóriacassino365Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência,cassino3652018, marcou o afastamento sistemático entre os dois países.
No dia 23cassino365janeirocassino3652019, poucos dias depoiscassino365tomar posse, Bolsonaro reconheceu o líder da oposição a Maduro, Juan Guaidó, como presidente da Venezuela, acompanhando um movimento organizado por países do chamado Grupocassino365Lima, que defendia a mudança do governo venezuelano.
Em agostocassino3652019, Bolsonaro assinou uma portaria impedindo a entradacassino365altos funcionários do regime venezuelano, o que, na prática, proibiu o presidente Nicolás Madurocassino365ingressar no Brasil. A portaria só foi revogada no finalcassino3652022.
Em 2020, o governo brasileiro retirou diplomatas da Venezuela e fechou a embaixada que mantinhacassino365Caracas.
Enquanto isso, milharescassino365venezuelanos continuaram a entrar no Brasil pela fronteira seca entre os dois países, principalmente pelo Estadocassino365Roraima.
Nos últimos meses, porém, a posiçãocassino365países como França e Estados Unidoscassino365relação à Venezuela tem mudado, especialmente após a crisecassino365energia gerada pela guerra entre Ucrânia e Rússia.
Em novembro, por exemplo, os Estados Unidos aliviaram sanções aplicadas à Venezuela permitindo que petroleiras americanas voltem a atuar no país.
No processocassino365reaproximação citado pelo chanceler Mauro Vieira, as primeiras etapas serão enviar um encarregadocassino365negócios a Caracas, reativar as instalações diplomáticas e, futuramente, indicar um novo embaixador ou embaixadora para o país. Ainda não há previsão sobre um encontro entre Lula e Nicolás Maduro.
O que o Brasil tem a ganhar?
Para a doutoracassino365Relações Internacionais e professora da Universidade Federalcassino365São Paulo (Unifesp), Carol Pedroso, apesar do contexto complexo, o Brasil tem muito a ganhar com a reaproximação com a Venezuela.
Segundo ela, as vantagens são: reabrir canais para resolver eventuais novas crises, reduzir o impacto da crise migratória e aproveitar oportunidades econômicas.
"Se surgirem novos problemas na Venezuela, nós já teremos canais abertos para ajudar a resolver e evitar que a crise chegue no ponto no qual ela já chegou", afirmou a professora.
Em relação à crise migratória, a professora diz que reatar os laços com a Venezuela pode fazer com o Brasil se junte ao grupocassino365países que já está atuando para repatriar venezuelanos que emigraram para o Brasil.
Ela pontua que, no plano econômico, também há vantagens.
"Apesarcassino365a Venezuela ter seus problemas, ela ainda é um país economicamente complementar ao Brasil. Isso significa que eles não produzem muitas das coisas que nós produzimos e isso representa uma oportunidade para nós", afirma.
O professorcassino365Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel pontua que, do pontocassino365vista econômico, as oportunidades são menores agora do que foram no passado.
"A economia da Venezuela é menor do que era antes. Ainda está longe da realidade do início dos anos 2000", explica.
Mesmo assim, o professor afirma que o movimento ensaiado pelo novo governo Lula é uma aposta no futuro.
"Aos olhos do governo, essa é uma aposta no futuro. É um movimento que apostacassino365uma recuperação da economia venezuelana no futuro maior do que a vemos hoje", afirmou o professor.
Estimativas da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que a economia da Venezuela deverá ter crescido 12%cassino3652022.
Se a previsão se confirmar, será o primeiro crescimento do produto interno bruto do país desde o período entre 2013 e 2014.
O professor da Universidadecassino365Brasília (Unb) Thiago Gehre Galvão estuda as relações entre o Brasil e a Venezuela há pelo menos 10 anos.
Segundo ele, além dos aspectos econômicos e humanitários, a retomada dos diálogo com Caracas é uma oportunidade para o Brasil se reposicionar como líder regional na América do Sul e na América Latina.
"A grande vantagem para o Brasil neste momento é que ele retome, novamente, uma posiçãocassino365cuidado e liderança na região. Isso pode acontecer fortalecendo os fóruns que já existem ou mesmo retomando alguns que ficaram para trás como a Unasul (Uniãocassino365Nações Sul-Americanas)", disse.
Galvão avalia que o Brasil tende a se beneficiar comercialmente dessa aproximação com a Venezuela.
"A Venezuela é um grande mercado com uma renda oriunda do petróleo. Ou seja: há dinheiro e a indústria venezuelana é muito incipiente. Isso significa que há demanda por uma sériecassino365produtos que o Brasil pode vender", explica.
Desgaste interno, calote e instabilidade externa: o que o Brasil pode perder?
Apesarcassino365verem as vantagens dessa retomada nas relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que há três grandes riscos nessa nova aproximação entre os dois países: desgaste político interno, novos calotes e instabilidade política venezuelana.
"Acabamoscassino365saircassino365uma eleição muito polarizadacassino365que o suposto riscocassino365'venezuelização' foi muito citado. O Brasil ainda está muito polarizado e parte da população brasileira pode ter resistência a essa aproximação", disse Carol Pedroso, da Unifesp.
"Existe algum risco interno. A oposição (ao governo Lula) certamente vai criticar qualquer tipocassino365aproximação e alegar que se tratacassino365um alinhamento ideológico ao regimecassino365Maduro", disse Oliver Stuenkel.
O professor da FGV destaca outro ponto arriscado dessa reaproximação: a possibilidadecassino365empresas brasileiras serem alvocassino365calote na Venezuela.
"A Venezuela ainda é um lugar arriscado para se operar. Há um riscocassino365calote para as empresas que queiram fazer negócios lá. Pode ser que empresas com conexões políticas possam minimizar essa possibilidade, mas ela existe", afirmou Stuenkel.
Calotes da Venezuela também foram um dos pontos levantados pela oposição a Lula para criticar a proximidade com o país.
Isso aconteceu porque, pelo menos desde 2020, o Brasil tenta receber partecassino365um empréstimo feito pelo Banco Nacionalcassino365Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a realizaçãocassino365obrascassino365infraestrutura no país. Segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, o valor da dívida atualizado chega a R$ 6 bilhões.
O professor Thiago Gehre Galvão, da UnB, pontua ainda que essa reaproximação pode colocarcassino365foco o compromisso do novo governo Lulacassino365relação à defesa da democracia.
"Se você começar a aprofundar essa relação economicamente, sempre vai pairar uma espéciecassino365névoa sobre um governo com problemas claroscassino365relação àcassino365própria democracia. E isso vai acontecercassino365um contextocassino365que o novo governo se elegeu num contextocassino365que a própria democracia brasileira estava fragilizada", pontua Galvão.
"A questão é entender o quanto o Brasil vai flexibilizarcassino365posiçãocassino365relação à democracia para se aproximar da Venezuela", avalia o professor.
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