Como deve mudar relação do Brasil com a China no novo governo Lula:bwin 0015.com

Movimentobwin 0015.comapertobwin 0015.commãos com bandeiras da China e do Brasil

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, No plano político, os quatro anosbwin 0015.comgoverno Bolsonaro foram marcados por animosidade com a China

bwin 0015.com Animosidade 'teatral'?

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Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem acreditar que, se por um lado, não deve haver grandes mudanças no comércio bilateral entre os dois países, por outro, esperam uma reaproximação no campo político, alémbwin 0015.comum enfoque maiorbwin 0015.comsetores como sustentabilidade e meio ambiente, uma agenda já definida como prioritária pelo novo governo brasileiro.

Um bom sinal nesse sentido, na opinião deles, veio com o anúnciobwin 0015.comque Lula vai visitar a China, alémbwin 0015.comEstados Unidos e Argentina — os três países são, atualmente, os principais parceiros comerciais do Brasil.

Os especialistas alertam, contudo, que o novo governo petista deveria estabelecer bases para uma relação "mais sofisticada" com a China dentro do próprio agronegócio, bem como reduzirbwin 0015.comdependência da exportaçãobwin 0015.comcommodities (matérias-primas como petróleo e soja), por meiobwin 0015.comprodutosbwin 0015.commaior valor agregado. Parceriasbwin 0015.comsetores estratégicos, como energia e tecnologia, têm que ser aprimoradas e intensificadas, acrescentam.

"A relação política com a China esfriou muito no governo Bolsonaro. Mas ainda assim a parte comercialbwin 0015.comsi não foi particularmente prejudicada, tendo inclusive crescido no ano passado (até novembro; os dadosbwin 0015.comdezembro ainda não foram divulgados). Acho curioso que, apesar desse desinteresse — e até mesmo certa animosidade —bwin 0015.comparte do governo Bolsonaro, a relação com a China fluiu muito bembwin 0015.comtermos práticos na área econômica. Os investimentos aumentaram, o comércio bateu recorde atrásbwin 0015.comrecorde, abriram novos mercados para produtos agrícolas na China", explica à BBC News Brasil Tulio Cariello, diretorbwin 0015.comconteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

"Então, no fim das contas, acho que todo esse suposto afastamento da China foi uma coisa "teatral"bwin 0015.comuma minoria do governo passado. Até porque existem setores poderosos absolutamente interessados na manutençãobwin 0015.comboas relações com o país, com é o caso do agronegócio e da mineração. Até mesmo parte da indústria (aquela que compra insumos importados) busca intensificar as relações com a China", acrescenta.

Bandeiras da China e do Brasil

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, China é principal parceira comercial do Brasil desde 2009

Cariello lembra que, a despeito das tensões políticas entre Brasil e China, com declarações repetidas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pessoas do seu entorno contra o gigante asiático durante seu governo, o Ministério da Agricultura criou um "Núcleo China", uma unidade especial que cuidava das relações com aquele país, a pedido da ex-ministra Teresa Cristina e ligada diretamente a seu gabinete.

De fato, segundo documento intitulado "Investimentos chineses no Brasil: histórico, tendências e desafios globais (2007-2020)", do CEBC, o mais abrangente já realizado sobre o tema, as ações concretas do governo brasileiro indicaram "mais continuidade do que ruptura na relação bilateral" com a China.

Entre 2007 e 2021, a China investiu no Brasil US$ 70 bilhões — sóbwin 0015.com2021, os investimentos totalizaram US$ 5,9 bilhões, o maior valor desde 2017.

E, no ano passado até novembro (os dadosbwin 0015.comdezembro ainda não foram divulgados), a correntebwin 0015.comcomércio bilateral já aponta novo recorde: US$ 139,4 bilhões, cifra que supera a marcabwin 0015.comUS$ 135,4 bilhões registradabwin 0015.comtodo o anobwin 0015.com2021.

Vale lembrar também que o maior superávit (diferença entre exportações e importações) do Brasil com um só país é com a China — isso significa que mais recursos estão entrando no país, melhorando a economia e gerando mais renda, do que saindo. E também representa algo pouco comum, uma vez que geralmente é a China quem tem superávit com seus parceiros (ou seja, vende mais do que compra).

'Aquém do potencial'

Larissa Wachholz, que chefiou o 'Núcleo China' do Ministério da Agricultura sob a gestão Bolsonaro e é atualmente senior fellow do Núcleo Ásia do CEBRI (Centro Brasileirobwin 0015.comRelações Internacionais), um think tankbwin 0015.comrelações internacionais, diz esperar uma relação "muito positiva" do novo governo brasileiro com a China, mas ressalva que ela ainda não é exploradabwin 0015.comseu potencial.

"As interações pessoais são muito importantes na cultura asiática e isso se aplica à China. Agora, isso voltou a ser possível com o governo chinês suspendendo as medidas mais severas contra a covid. O Brasil segue sendo um parceiro importante para a segurança alimentar e energética da China, masbwin 0015.comtermosbwin 0015.comestratégiabwin 0015.comdesenvolvimento, precisamos ir mais longe", diz.

Wachholz lembra que os três principais produtos exportados pelo Brasil à China ainda são petróleo, minériobwin 0015.comferro e soja. Mas apesarbwin 0015.como Brasil, como tradicional exportadorbwin 0015.comcommodities (matérias-primas), ter se beneficiado do acelerado crescimento econômico chinês ao longo dos anos, "isso não é suficiente", embwin 0015.comvisão.

"Tem sido muito benéfica para nós (exportaçãobwin 0015.comcommodities para a China), mas acho que não é suficiente. Acho que deveríamos almejar ir além. O Brasil tem uma ambição correta, a meu ver,bwin 0015.comser uma economia diversificada. Poderíamos fazer uso das nossas competências e da nossa grande capacidadebwin 0015.comexportação,bwin 0015.comrecursos naturais,bwin 0015.comcommodities para alcançar o nosso objetivobwin 0015.comsermos uma economia diversificada. A China pode ser um parceiro excelente para que esse objetivo seja alcançado", opina.

Ela assinala que, apesarbwin 0015.comser a segunda maior economia do mundo, a China ainda investe muito pouco do seu PIB (Produto Interno Bruto, ou somabwin 0015.combens e serviçosbwin 0015.comum país) no exterior, ao contrário do Japão (acimabwin 0015.com60%), Estados Unidos (40%) e União Europeia (30%).

"É muito pouco para a segunda maior economia do mundo. Tem muito potencialbwin 0015.comcrescimento e o Brasil pode ser um grande receptor desses investimentos. E esses investimentos podem auxiliar o Brasil nesse projetobwin 0015.comdesenvolvimento ebwin 0015.comter uma economia diversificada".

"Acho que essa é a grande reflexão. Aonde a gente quer chegar? Quais perfisbwin 0015.comcadeias industriais a gente quer atrair? A China pode ser parte disso. Por isso digo que deveríamos almejar ir além".

"São investimentos que podem gerar emprego e renda no Brasil. Que não vão apenas abastecer o mercado nacional brasileiro, mas que podem tornar o Brasil um polo exportador desses produtos na América do Sul", acrescenta.

Riscos

Tanto Wachholz e Turiello fazem um alerta: na opinião deles, a China já deu sinaisbwin 0015.comque não quer dependerbwin 0015.compoucos fornecedores para garantirbwin 0015.comsegurança alimentar e energética e, por isso, vem buscando ampliar o escopobwin 0015.compaísesbwin 0015.comquem compra matérias-primas — nesse sentido, o Brasil pode acabar "ficando para trás" no "longo prazo".

"A China tem a pretensãobwin 0015.comaumentar seu potencial agrícola nacionalmente. Isso é difícil. Ela já trabalha com a produção agrícola no limite. Mesmo que ela passe a produzir mais,bwin 0015.comprodução não dá conta da demanda", ressalva Wachholz.

É o caso da soja. Hoje, a China já produz o grão localmente. Mas só 16 milhõesbwin 0015.comtoneladas das 100 milhõesbwin 0015.comque precisa todos os anos.

"Para produzir muito mais do que isso, a China teria que produzir menos arroz, trigo ou milho, que também são commodities importantes para abwin 0015.comsegurança alimentar. Mas qual é o risco? A China se sente encorajadabwin 0015.comdesenvolver outros fornecedores no mundo, que possam ajudar a atenderbwin 0015.comdemanda, como países africanos", acrescenta Wachholz.

Cariello, do CEBC, concorda. "Não temos como mais nos pautar só nessa ideia vender a commodity bruta para a China, produtos primários. Por que a própria China, no longo prazo, está querendo aumentarbwin 0015.comautossuficiência. Os chineses querem diminuir a dependência delesbwin 0015.comrelação à importaçãobwin 0015.comprodutos agrícolas, por exemplo", diz.

"Acho que o novo governo Lula tem uma grande chancebwin 0015.comestabelecer bases para uma relação mais sofisticada com a China dentro do próprio agronegócio. Mas os grandes parceiros da China na área agrícola, como é o caso do Brasil, precisam explorar mercados diferentes dentro da China com maior valor agregado, com uma cestabwin 0015.comprodutos maior e ser menos dependentebwin 0015.compoucos produtos".

Segundo o especialista, Lula também terá que lidar com uma realidade diferente dabwin 0015.comseus dois primeiros mandatos.

"O contextobwin 0015.comLula 1 e Lula 2 erabwin 0015.commuita euforia com a China. Empresas chinesas faziam grandes investimentos no exterior e houve um maior fluxobwin 0015.comcomércio, sobretudo na área das commodities", lembra.

'Equilíbrio'

Roberto Abdenur

Crédito, Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Legenda da foto, Brasil vai precisar manter uma posiçãobwin 0015.com"equidistância, equilíbrio" entre China e EUA

Um desses desafios, segundo Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasilbwin 0015.comPequim (China) ebwin 0015.comWashington (Estados Unidos), é a postura que o Brasil vai adotar diante da guerra comercial e diplomática travada entre China e Estados Unidos.

Em meio a um processo que descreve como "reconstrução" da política externa brasileira após um "imenso retrocesso" durate o governo Bolsonaro, Abdenur diz que o Brasil vai precisar manter uma posiçãobwin 0015.com"equidistância, equilíbrio" nesse contexto.

"Não podemos nos alinhar com a China, claro, nem tampouco os Estados Unidos, como fezbwin 0015.commaneira ultrajante e vexatória Bolsonaro sob o governo Trump,bwin 0015.comque ele se submeteu humildemente aos caprichos, às políticas, aos preconceitos, às ideias reaciónarias do agora ex-presidente americano".

Diretamente envolvido no lançamento da Parceria Estratégica Brasil-China, que lançou as bases para o fortalecimento das relações econômicas entre os dois países, embwin 0015.comépoca como embaixadorbwin 0015.comPequim, o diplomata aposentado e atual conselheiro do CEBRI diz ser "perfeitamente possível votar contra um país no plano multilateral e preservar com ele uma boa relação bilateral".

"O Brasil sempre votou contra os Estados Unidos nas questões envolvendo Israel e Palestina e na censura ao injusto embargo econômico contra Cuba", exemplifica.

Seria, portanto, um abandono do alinhamento automático aos EUA e um retorno à tradicional posturabwin 0015.comneutralidade por meio do diálogo que sempre pautou a política externa brasileira.

Deputado federal Eduardo Bolsonarobwin 0015.comcorredor, olhando para frente

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Ao comentar a adesão do Brasil a uma aliança contra o usobwin 0015.comtecnologia 5G da Huawei, Eduardo Bolsonaro acusou diretamente a Chinabwin 0015.comespionagem

Polêmicas

As relações entre Brasil e China ficaram estremecidas no plano político no governo anterior. Mesmo antesbwin 0015.comser eleito presidente, Bolsonaro fez críticas à China, ainda durantebwin 0015.comcampanha. Os ataques também vierambwin 0015.compessoas próximas ao presidente, como seus filhos.

Em fevereirobwin 0015.com2019, Bolsonaro visitou Taiwan, irritando os chineses — o país é considerado uma "província rebelde" por Pequim.

Em novembrobwin 0015.com2020, Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP) e filho do ex-presidente, publicou (e depois apagou) mensagem dizendo que o governo brasileiro apoiava uma "aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China".

Em comunicado, a embaixada chinesabwin 0015.comBrasília falou sobre o governo brasileiro "arcar com consequências negativas e carregar a responsabilidade históricabwin 0015.comperturbar a normalidade da parceria China-Brasil".

Em maiobwin 0015.com2021, Bolsonaro insinuou que a pandemiabwin 0015.comcoronavírus seria partebwin 0015.comuma "guerra biológica" chinesa e que "os militares sabem disso". Logo depois, o ex-presidente afirmou que o Brasil é "muito importante" para a China e negou ter citado o país asiáticobwin 0015.comdeclaração sobre a origem do novo coronavírus.

Uma semana antes, seu então ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dito numa reunião que "o chinês inventou o vírus". Posteriormente, pediu desculpas.

- Essa reportagem foi originalmente publicadabwin 0015.com http://vesser.net/brasil-64183029