Morre Pelé: o jogo que deu ao craque o títulobonus bronze stake'rei'bonus bronze stakecrônicabonus bronze stakeNelson Rodrigues:bonus bronze stake

Fotobonus bronze stakepreto e branco mostra Pelé dentro do Gol, sorrindo

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Legenda da foto, Pelébonus bronze stakefotobonus bronze stake1958, anobonus bronze stakeque foi consagrado como 'rei' por Nelson Rodrigues

Dos quatro gols que Pelé meteu no goleiro Pompeia, um deles chamou a atenção do cronista. Aquelebonus bronze stakeque o craque, antesbonus bronze stakeencaçapar a bola, dribla o primeiro, entorta o segundo e corta o terceiro zagueiro. "Até que chegou um momentobonus bronze stakeque não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: a defesa estava indefesa", gracejou o jornalista.

Na crônica, Nelson confessa ter tomado um susto ao descobrir a idadebonus bronze stakePelé: 17 anos! "É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado", escreveu na coluna "Meu personagem do ano",bonus bronze stakejaneirobonus bronze stake1959. "Mas, reparem: é um gênio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: 'Como vai, colega?'".

Em foto preto e branco, Pelé sorri, com casaco do Brasil

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Legenda da foto, Jogador tinha apenas 17 anos quando impressionou Rodrigues, levando-o a escrever a crônica 'A Realezabonus bronze stakePelé'

Para descrever o que viu naquela noitebonus bronze stakequarta-feira, Nelson abusou dos adjetivos: "grande", "perfeito", "fabuloso", "imbatível", "incomparável'... Ao seu lado na arquibancada, um torcedor americano também não economizou palavras: "Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!".

Três meses depois da publicação da profética crônica, a primeira a chamar Pelébonus bronze stakerei, o craque e a seleção brasileirabonus bronze stakefutebol foram coroados campeões do mundo na Copa do Mundo da Suécia.

Em 1975, quando o craque já vestia a camisa do Cosmos, Nelson declarou: "Perguntem a qualquer zebrabonus bronze stakeJardim Zoológico: 'Qual é o maior jogador do mundo?'. Todas as zebras dirão, numa cálida unanimidade: 'Pelé'". E concluiu: "Do esquimó ao chinês, do russo ao alemão, do patagônio ao egípcio, todos acham que Pelé realmente é o grande craque do presente, do passado e do futuro".

Súditos literários

Nelson Rodrigues não foi o único a tecer elogios ao talentobonus bronze stakePelé. Ao longo das décadas, outros autores,bonus bronze stakediferentes estilos e gerações, escreveram contos, poemas e até romances, prestando homenagem ao "jogador mais completo que já existiu", como diria Ruy Castro.

Do poeta mineiro Carlos Drummondbonus bronze stakeAndrade (1902-1987) — "O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé" —, autorbonus bronze stakeQuando É Diabonus bronze stakeFutebol (2014), ao cronista gaúcho Luís Fernando Veríssimo — "Pelé era bom até amarrando a chuteira" —,bonus bronze stakeTime dos sonhos - Paixão, Poesia e Futebol (2010).

Todo craque das letras tem seu lance favorito. O do escritor mineiro Mário Prata, autorbonus bronze stakeParis, 98! (2005), sobre a Copa do Mundo da França, é "totalmente desconhecido". Pelé devia ter 12 anos e jogava no Baquinho, o time infantilbonus bronze stakeBauru, clube do interiorbonus bronze stakeSão Paulo onde o garoto deu seus primeiros dribles.

Em um jogo, relata Prata, Pelé recebeu a bolabonus bronze stakecostas para o gol adversário e, sem olhar para trás, deubonus bronze stakecalcanhar nela. Conclusão? A bola foi no ângulo. No intervalo, o técnico deu uma bronca daquelas no moleque: "Ó, meu, você não precisava ter feito aquilo. A chancebonus bronze stakeerrar era grande. Tinha espaço para virar e chutarbonus bronze stakefrente". Pelé respondeu: "O senhor tem razão. Eu não estava vendo o gol deles. Mas estava vendo o nosso", reproduz Prata.

O lance predileto do escritor paulista Ignáciobonus bronze stakeLoyola Brandão, autorbonus bronze stakeÉ Gol, incluído na antologia 22 Contistasbonus bronze stakeCampo (2006), foi o gol que Pelé marcou no Estádio do Juventus,bonus bronze stakeSão Paulo, no dia 2bonus bronze stakeagostobonus bronze stake1959. O jogo terminoubonus bronze stakegoleada: 4 a 0 para o Santos. "Nunca vi um gol tão narrado, descrito, comentado, discutido, aplaudido, idolatrado, mitificado. Não vi aquele gol. Mas todos viram. O estádio tem capacidade para 4.000 torcedores. Porém, naquela tarde, devem ter estado ali cercabonus bronze stake200 mil. Mais do que o Maracanã,bonus bronze stake1950", ironiza.

Pelé comemora gol contra a Tchecoslováquia

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Legenda da foto, Entre Tostão e Jairzinho, Pelé comemora gol contra a Tchecoslováquia, com seu famoso 'soco no ar', na Copabonus bronze stake1970. Brasil venceu por 4 a 1
Pelé agachadobonus bronze stakemeio a jogadores da Seleção Brasileira

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Legenda da foto, Seleção que disputou o jogo contra a Romênia, o último da fasebonus bronze stakegrupos da Copa do México. Os brasileiros ganharam por 3 a 2

O escritor amazonense Milton Hatoum também cita um gol comobonus bronze stakejogada magistral do rei do futebol. "Pelé fez dezenasbonus bronze stakegols incríveis. Um dos mais belos foi o que fez contra a Suécia", elege, voltando no tempo até a Copabonus bronze stake1958. Ele próprio narra a jogada: um jogador faz um longo cruzamento para a área. Pelé domina a bola, dá um chapéu num zagueiro e, sem deixar a bola tocar no gramado, chuta no canto direito do goleiro. "Um gol histórico", define. "Infelizmente, o Brasil não celebra seus verdadeiros mitos e heróis".

Já o jornalista paulista Juca Kfouri, autorbonus bronze stakediversos livros sobre futebol, como Meninos Eu Vi... (2003), entre outros, escolhe não um gol, como Prata, Loyola ou Hatoum, mas uma tentativabonus bronze stakegol. O chute do meio-campo contra a Tchecoslováquia, na Copabonus bronze stake1970. "Embora tenha virado o gol que só ele não fez, depoisbonus bronze staketer sido por anos o gol que Pelé não fez, o fato é que ninguém tinha tentado antes", explica.

O escritor mineiro Luiz Ruffato, que organizou Entre as Quatro Linhas (2013), antologiabonus bronze stakecontos sobre o futebol, também é escalado para apontar seu lance predileto do atleta do século. "Pode ser meio óbvio, mas o lance mais bonito foi o primeiro gol na final da Copa do Mundobonus bronze stake1970, contra a Itália". Tostão bate o lateral para Rivelino que, num único toque, coloca a bola na cabeçabonus bronze stakePelé. Gol!

"Recordo os gritosbonus bronze stakefelicidade das pessoas do meu bairro, gente pobre que trabalhava nas fábricasbonus bronze staketecido, e que, naquele momento, sentiam-se reis como Pelé. Eu era menino, tinha nove anos, mas, até hoje, me emociono quando me lembro dessa partida...", confessa.

De artista a criador

Pelé beija réplica da taça Jules Rimet

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Legenda da foto, No Museu da Seleção Brasileira, Pelé beija réplica da taça Jules Rimet, conquistada pelo Brasil na Copa do Mundobonus bronze stake1970, no México.

Para quatro escritores, o lance mais bonitobonus bronze staketodos os tempos do melhor jogadorbonus bronze stakefutebol da história não foi um gol, mas um drible. O clássico driblebonus bronze stakecorpo no goleiro do Uruguai, Ladislao Mazurkiewicz (1945-2013), na semifinal da Copabonus bronze stake1970, no México. "Um drible poucas vezes visto", observa o escritor carioca Carlos Eduardo Novaes, autor da crônica O Rei da Superstição, da antologia Onzebonus bronze stakeCampo e um Bancobonus bronze stakePrimeira (1998). "Visãobonus bronze stakejogo e raciocínio rápidobonus bronze stakequem sabe o que fazerbonus bronze stakecampo".

Antesbonus bronze stakeescolher seu lance favorito, o escritor catarinense Cristovão Tezza faz questãobonus bronze stakerevê-lo "pela milésima vez". "É um lance 'conceitual'", diz. "Tão bonito que a ausênciabonus bronze stakegol passou a ser irrelevante", afirma o autorbonus bronze stakeUma Questão Moral, conto incluído na coletânea Entre as Quatro Linhas,bonus bronze stakeLuiz Ruffato.

Autorbonus bronze stakeOs Cabeçasbonus bronze stakeBagre Também Merecem o Paraíso (2001), entre outros livros sobre futebol, o escritor e roteirista santista José Roberto Torero também vota no drible sem bolabonus bronze stakePelébonus bronze stakeMazurkiewicz. "Foi um drible totalmente novo, que nunca tinha sido visto antes. Naquele instante, Pelé deixoubonus bronze stakeser um artista para se tornar um criador. Fez uma obra-prima, mas uma obra-prima mesmo, algo que nunca havia sido feito antes", justifica seu voto.

O escritor e jornalista mineiro Sérgio Rodrigues gosta tanto do lance que dedicou a ele não uma crônica ou um conto, mas um romance, O Drible (2013). No livro, os nove segundos da jogada são descritosbonus bronze stakeseis páginas. "Além da espantosa capacidadebonus bronze stakefabulação futebolística, da criação instantâneabonus bronze stakeum evento inédito que altera as próprias coordenadasbonus bronze staketempo e espaço do jogo, o que eu vejo nesse lance é uma permanência garantida justamente porbonus bronze stakeinconclusão. Se tivesse resultadobonus bronze stakegol, seria lindo, mas tranquilizador. Como a bola não entrou, vai queimar nossos olhos para sempre", garante.

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