Lula x Bolsonaro: mercado financeiro tem candidato favorito à Presidência?:n1 bet

Bolsonaro e Lula (montagem)

Crédito, Reuters E EPA

"Eu não acho que o mercado tenha uma preferência muito clara, e vou ser sincero com você… isso não é nem uma avaliação minha, é uma avaliação quando se olha o preço dos ativos", diz o economista-chefen1 betuma gestora que preferiu não se identificar.

"Essa é a terceira eleiçãon1 betque eu estou no mercado e é aquelan1 betque a eleiçãon1 betsi tem feito menos preço, por incrível que pareça."

"A gente está muito próximo [do dia da eleição] e o mercado está relativamente tranquilo. Eu lembro que,n1 bet2018, a bolsa abria caindo 4% e fechava o dia 6% pra cima — porque à noite teve uma pesquisa, no meio do dia teve outra, vai dar Haddad, vai dar Bolsonaro, aquela loucura. Isso não está acontecendo."

A reportagem da BBC News Brasil pediu aos professores da Fundação Getulio Vargas (FGV) Claudia Yoshinaga (FGV-EAESP) e Henrique Castro (FGV-EESP), donos do perfil Finance_Br no Instagram, que avaliassem o comportamenton1 betdois indicadores que costumam oscilar bastante durante o período eleitoral: o câmbio e o índice Ibovespa da bolsan1 betvalores.

Os professores colheram informações sobre a volatilidade e a taxan1 betretorno desses dois preçosn1 bettodas as seis eleições do século 21,n1 bet2002 para cá. E ainda que a comparação não seja uma medida perfeita — já que a cotação das ações que compõem o Ibovespa e a do dólar são influenciadas por uma sérien1 betfatores — os resultados sinalizam que,n1 betfato, as eleições presidenciais não têm sidon1 bet2022 um fatorn1 betestresse como foramn1 betanos anteriores.

Tomando a média anualizadan1 betagosto e setembro, a volatilidade do Ibovespa foi a menor entre os períodos analisados — 19,1%, contra 36,6%n1 bet2002, às vésperas da primeira vitórian1 betLula, quando a bolsa subia e descia ao sabor da divulgação das pesquisasn1 betintençãon1 betvoto.

Gráfico mostra comparação da volatilidade da bolsa nas 6 últimas eleições

Crédito, Claudia Yoshinaga e Henrique Castro

Legenda da foto, Volatilidade do índice Ibovespa - modelo GARCH exponencial

Os resultados da análise para o dólar são semelhantes: 2002 foi o período eleitoraln1 betque a taxan1 betcâmbio mais oscilou, com uma volatilidade média anualizadan1 bet33,2% nos mesesn1 betagosto e setembro.

O gráfico elaborado pelos professores ilustra bem como o patamarn1 betvariação do dólar é bem inferior neste 2022 — menor inclusive que o da eleiçãon1 bet2018:

Gráfico mostra volatilidade do câmbio

Crédito, Claudia Yoshinaga e Henrique Castro

Legenda da foto, Volatilidade do câmbio

Passando da volatilidade para o retorno, a análise observou que, neste mêsn1 betsetembro (acumulado até dia 22), o dólar oscilou 0,2% para baixo e a bolsa subiu 4,1%.

Nas eleiçõesn1 bet2018, na mesma comparação, o dólar encolhia 3,2% e a bolsa subia menos, 3,4%. O pior resultado, assim como nas demais comparações, én1 bet2002: o dólar subiu 25,4% e a bolsa despencou 18,6%.

Taxan1 betretorno do dólar e do Ibovespa. Acumuladon1 betmesesn1 betsetembro -n1 bet%.  .
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Por conta das particularidades da eleiçãon1 bet2018, os professores também analisaram o acumuladon1 betagosto e setembro — nessa comparação, o retorno do Ibovespa, que eran1 bet4,1% positivo se tomado só o mêsn1 betsetembro, é praticamente zero. Em 5n1 betagosto daquele ano, lembram os especialistas, o PT oficializou a candidaturan1 betLula à Presidência com Haddad como vice.

Apesarn1 beto Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter declaradon1 bet16n1 betagosto que Lula era inelegível, o PT só anunciou oficialmente Haddad como cabeçan1 betchapan1 bet1ºn1 betsetembro. "Toda essa turbulência e indefinição fez com que agoston1 bet2018 tenha sido um período mais turbulento no mercado financeiro", escreveram.

Taxan1 betretorno do dólar e do Ibovespa. Acumuladon1 betmesesn1 betagosto e setembro -n1 bet%.  .
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À reportagem, a professora Claudia Yoshinaga comentou que o comportamento dos preços no mercado vinha chamando atenção nas últimas semanas. "Já tínhamos conversado com outros colegas sobre essa 'tranquilidade' a uma semana das eleições."

Aposta no pragmatismo

Uma parte dessa aparente indiferença seria explicada pela avaliaçãon1 betque, se eleito, Lula poderia olhar menos para as ideologiasn1 betseu partido e mais para questõesn1 betordem prática.

"O histórico do PT mostra isso, que já houve pragmatismo no passado - então é possível que a gente tenhan1 betum eventual governo", diz a economista-chefen1 betum banco que preferiu não se identificar e que também acredita, pelas conversas que tem tido com investidores, que o mercado não tem um "candidato favorito".

Em todos os anos do governo Lula,n1 bet2003 a 2010, o setor público registrou superávit primário — ou seja, arrecadou mais do que gastou, levandon1 betconsideração apenas as receitas e despesas primárias (que excluem as despesas com a dívida pública).

O governo da presidente Dilma Rousseff manteve superávits primários nos três primeiros anos, registrando o primeiro déficitn1 bet2014. Desde então, as contas primárias estão "no vermelho" — ou seja, o país fecha o ano gastando mais do que recolheun1 betimpostos, o que, por consequência, faz aumentar a dívida pública.

O governo Bolsonaro entregou déficitsn1 bet2019, 2020 e 2021. Com uma surpresa positiva na arrecadação neste ano,n1 bet2022 o país pode voltar a registrar superávit, conforme as projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI).

"O mercado não teme nesse momento que seria inevitável um descontrole fiscal. Não é. Um exemplo foi o apoio do Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central durante o governo Lula,n1 bet2003 a 2011, e ex-ministro da Fazenda do governo Temer,n1 bet2016 a 2018]. Ao mesmo tempon1 betque deu apoio ao Lula, ele comentou,n1 betentrevista, que apoia o teto [de gastos]. Ele gostarian1 betver o teto mantido — o que inclusive vai contra a fala do próprio candidato, mas mostra que, sim, é possível a gente buscar esse pragmatismo", ela avalia.

Emn1 betvisão, o principal foco do mercado é o equilíbrio fiscal — um governo que mostre compromisso com o controle das despesas públicas e da trajetória da dívida. Nesse sentido, "olhandon1 betmaneira generalista", do ponton1 betvista dos gastos, a economista tem uma visão positiva do atual mandato.

"O governo vai entregar algo como 18,5%n1 betgastos sobre o PIB [Produto Interno Bruto], quando herdou gastos sobre o PIBn1 bet20%. E a gente tem reformas estruturais importantes, acho que a principal foi a da Previdência", opina.

"O teto foi herdado do outro governo, mas também ajuda a controlar outras despesas — o qualitativo a gente pode criticar bastante, mas o quantitativo é isso. O que o mercado gostarian1 betver é a continuidade desse controlen1 betgastos — então não é exatamente qual candidato, mas qualquer um dos candidatos que fizer isso vai ser bem visto."

O "qualitativo" ao qual a economista se refere e que vem sendo alvon1 betcríticas são as manobras usadas neste ano eleitoral para flexibilizar o teton1 betgastos, como a PEC dos Precatórios, e acomodar despesas acima daquelas permitidas pelo dispositivo aprovado por uma emenda constitucionaln1 bet2016.

A executiva ainda vê o teto como uma "âncora fiscal", mas algunsn1 betseus colegas, por outro lado, acreditam que ele perdeu a função.

"O governo Bolsonaro não foi o melhor governo do mundon1 bettermosn1 betmercado. A gente teve um inícion1 betdesmonte do arcabouço fiscal sem colocar nada no lugar, a gente teve um populismo fiscal neste ano — e a sustentabilidade das contas públicas, dado tudo isso, fica mais complicada", diz o economista-chefe da gestora mencionado no início deste texto.

"Um grande avanço obviamente foi a reforma da Previdência, mas foi um governo que não avançoun1 betreforma administrativa, que não avançou na reforma tributária…"

Para ele, além da sinalizaçãon1 betque Lula seria um presidente "maisn1 betcentro" do que se mostra na campanha, o mercado também faz uma leituran1 betque o Congresso, que tende a manter o perfil mais conservador, faria um contraponto a uma eventual agenda maisn1 betesquerda, en1 betque, quem quer que vença o pleito, a tarefan1 betgerir a economia "vai ser muito difícil".

O mercado financeiro nas redes sociais

Para quem navega pelas redes sociais, contudo, a impressão sobre o posicionamento do mercado nestas eleições pode ser outra. Em alguns dos perfisn1 betinfluenciadoresn1 betinvestimentos com dezenasn1 betmilharesn1 betseguidores, há posts recentes que questionam as pesquisas eleitorais que colocam Lula à frente nas intençõesn1 betvoto, que criticam reiteradamente o PT e a esquerdan1 betforma geral e elogiam o ministro da Economian1 betBolsonaro, Paulo Guedes, en1 betgestão da economia.

Um dos economistas que conversou sob condiçãon1 betanonimato com a reportagem destacou que o mundo dos influenciadores pode fazer barulho, mas representa pouco do dinheiro quen1 betfato circula no mercado financeiro brasileiro.

"Ninguém 'opera grande', ninguém faz preço no mercado, é gente que vive às custas do mercadon1 betpessoa física... e quando você olha, aquilo lá é um Fla-Flu gigante — hoje é eleição, amanhã eles arrumam outro motivo pra brigarem."

Ainda assim, o alcance dessas contas é cada vez maior: uma pesquisa recente da Anbiman1 betparceria com o Instituto Brasileiron1 betPesquisa e Análisen1 betDados identificou 612 perfis que falamn1 betinvestimentos nas redes sociais.

Juntos, eles somam uma basen1 bet91,5 milhõesn1 betseguidores nas plataformas Twitter, Instagram, Facebook e YouTube — maior que a dos perfis dos dez maiores portaisn1 betimprensa do país, que contabilizam 80,3 milhões, aindan1 betacordo com o levantamento.

Para Fabio Alperowitch, sócio-fundador da Fama Investimentos, gestora com focon1 betESG (siglan1 betinglês para governança ambiental, social e corporativa) fundadan1 bet1993, a rejeição que parte dos investidores expressan1 betrelação a Lula se explica por uma combinaçãon1 bettrês fatores.

Um deles é o próprio posicionamento ideológico, que no mercado financeiro, formado preponderantemente por homens brancosn1 betclasse alta, está mais alinhado com a direita. "Quando se apresenta um candidato da ideologia oposta, a questão ideológica supera muitos outros debates — discutem-se ideologias antesn1 betse discutirem propostas."

Um segundo componente, para ele, seria a identificação "automática" por parte desses investidores da figuran1 betLula com o período do governo Dilma, "que foi realmente muito ruim para a economia".

Não existe muitas vezes uma "dissociação do que foi o governo Lula versus o que foi o governo Dilma — é o governo do PT", comenta.

O terceiro ponto, ele conclui, estaria ligado às acusaçõesn1 betcorrupção contra o ex-presidente. "Não vou entrar nesse julgamento [sobre as acusaçõesn1 betsi], não me cabe aqui, mas existe claramente um 'double standard' (expressão que pode ser traduzida com 'dois pesos e duas medidas') na maneira como se olha para ele e como não se olha, com o mesmo rigor ético, para outros governos."

"Existe uma predisposição do mercadon1 betrelação a governosn1 betesquerda que precede qualquer tipon1 betanálise objetiva."

- Este texto foi publicado originalmenten1 bethttp://vesser.net/brasil-63040079

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