Funk faz sucesso no exterior, mas continua a ser atacado no Brasil, diz pesquisador:de quem é a vaidebet
Na entrevista, o autor falou sobre o históricode quem é a vaidebetestigmatização do funk nos anos 1990, o papelde quem é a vaidebetparlamentares na criaçãode quem é a vaidebetleis que dificultaram a realização dos bailes e o chamado funk proibidão, que apostade quem é a vaidebetletras sobre a violência na periferia e facções criminosas.
Por outro lado, Cymrot também comentou como os rolezinhos (encontrode quem é a vaidebetjovens funkeirosde quem é a vaidebetshoppings centersde quem é a vaidebetSão Paulo) desagradaram parte da periferia ede quem é a vaidebetambos os espectros políticos, sendo classificado tanto como "vendido ao capitalismo" como "fútil" por causa do perfilde quem é a vaidebetbaixa rendade quem é a vaidebetseus participantes.
Confira a entrevista abaixo.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Hoje o funk é o ritmo brasileirode quem é a vaidebetmais sucesso fora do país, ao mesmo tempo que ainda se diz perseguido por aqui. Por que essa contradição?
de quem é a vaidebet Danilo Cymrot - Mesmo com sucesso no exterior, ele continua atacado e desvalorizado no Brasil. Claro que um cantorde quem é a vaidebetproibidão não vai fazer o mesmo sucesso da Anitta. Os funkeiros sabem que precisam moldar o discurso para atingir determinados públicos.
Veja o caso da música Deu Onda, do MC G15, que surgiu como um funk com linguagem explícita. Quando ela começou a fazer sucesso, ele mudou a letra para uma versão mais suave. Bailede quem é a vaidebetFavela tocou na Olimpíadade quem é a vaidebetTóquio na apresentação da ginasta Rebecca Andrade, mas também foi uma música que tevede quem é a vaidebetversão original "adaptada" para atingir outros públicos.
Acho que existe uma síndromede quem é a vaidebetvira-lata também, que não valoriza nossa produção. Alguns artistas, mesmo quando são valorizados no exterior, são atacados aqui. O sucesso não traz necessariamente o reconhecimento. Eles são acusadosde quem é a vaidebetterem traído suas origens, como a Carmem Miranda, ou porque "estão manchando" a imagem do Brasil ao reforçar o "apelo sexual e vulgar dos brasileiros", como a Anitta e outros artistas.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Por que você aponta um "arrastão"de quem é a vaidebet1992 como o início da criminalização do funk?
de quem é a vaidebet Cymrot - O primeiro baile funk, o Baile da Pesada, acontecia no Canecão, no Riode quem é a vaidebetJaneiro, antes da casa virar o "templo da MPB". Os bailes saíramde quem é a vaidebetlá e passaram a acontecerde quem é a vaidebetfavelas e na periferia do Rio. Nos anos 1980, a elite intelectual na Zona Sul do Rio não sabia o que era funk. O primeiro contato foi nesse episódio conhecido como "arrastão".
Na verdade, o que aconteceu foi um encontrode quem é a vaidebetduas galeras (grupode quem é a vaidebetjovens da periferia que se reuniam nos bailes). Elas saíram da Paradade quem é a vaidebetLucas ede quem é a vaidebetVigário Geral e foram para a praiade quem é a vaidebetIpanema, que, embora fosse um ambiente democrático, era privatizada por condomínios, hotéis e restaurantes voltados às classes altas.
Os jovens começaram a brigar como uma espéciede quem é a vaidebetcapoeira que misturava briga, brincadeira e dança. Algo parecido com o que acontecede quem é a vaidebetum showde quem é a vaidebetpunk. Quem não estava familiarizado com a cena ficou muito assustado. Essa imagemde quem é a vaidebetjovens negros correndo foi interpretada como um arrastão, porque já havia todo uma imagem construída do jovem negro periférico como um potencial assaltante.
Os participantes foram identificados pela imprensa como funkeiros, nome que virou quase um sinônimode quem é a vaidebetarruaceiro, marginal e ladrão. Vários pesquisadores, como o antropólogo Hermano Vianna, consideram esse episódio como o início da criminalização do funk.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Alémde quem é a vaidebetum gênero musical, o funk também costuma ocupar o espaço público, e isso gera reações. Como essa característica influenciou a criminalização?
de quem é a vaidebet Cymrot - Historicamente, a reuniãode quem é a vaidebetjovens negros sempre causou desconfiança e medo na elite brasileira. No século 19, havia regulamentos que proibiam a circulaçãode quem é a vaidebetajuntamentosde quem é a vaidebetnegros escravizados ou até libertos. Existia a suspeitade quem é a vaidebetque as aglomerações poderiam ensejar revoltas. A capoeira foi criminalizada por isso.
Na República Velha, negros circulando pela cidade eram acusadosde quem é a vaidebetvadiagem. O samba não foi proibido, mas sambistas foram presos e acusados desse delito. Então, a criminalização se repete com manifestações culturais da população negra e periférica, não é uma novidade no Brasil.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Os chamados rolezinhos, quando jovens da periferia se juntavamde quem é a vaidebetshoppings centersde quem é a vaidebetSão Paulo no iníciode quem é a vaidebet2014, também se enquadram nesse contexto?
de quem é a vaidebet Cymrot - Naquele momento, o shopping center tinha uma simbologia especial, porque o Brasil vivia um bom momento econômico, o ápice da era do consumo. Parte da população ascendeu socialmente por meio do consumo. Isso se refletiu no funk ostentação.
São Paulo não tem praia e os jovens se organizaram pelas redes sociais para se encontrar nesses locais. É importante dizer que eles já frequentavam esses lugares, era parte do cotidiano deles. E não eram shoppings da elite, mas na periferia mesmo, como Itaquera e Aricanduva.
E não são só pessoas brancas e ricas têm hostilidade ao funk, mas também gente das próprias periferias, que convive com o barulho, com os bailes nas ruas, com letras consideradas imorais pela religião evangélica que é muito presente na periferia. Como eles faziam barulho, cantavam e se divertiamde quem é a vaidebetgrupo, essa aglomeração foi reprimida por seguranças e pela polícia.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Os rolezinhos podem ser considerados um movimentode quem é a vaidebetprotesto?
de quem é a vaidebet Cymrot - Alguns pesquisadores tentaram relacioná-los às manifestaçõesde quem é a vaidebetjunhode quem é a vaidebet2013. Elas foram organizadas pelas redes sociais por jovens que tinham demandas sobre mobilidade e direito à cidade, mas também havia diferenças. Embora não tivessem um discurso político explícito, os rolezinhos expressavam o direitode quem é a vaidebetcircular pela cidade, contra o assédio policial e contra o racismo.
Outro ponto é que eles mostravam a necessidadede quem é a vaidebetserem integrados por meio do consumo e, curiosamente, foram criticados por isso. Os rolezeiros foram criticados pela esquerda, que os chamavamde quem é a vaidebetalienados ede quem é a vaidebetse venderem ao capitalismo. E à direita, por ostentarem marcas e desejosde quem é a vaidebetum luxo que não são associados a essa classe social.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Os chamados pancadões também costumam incomodar muito parte da população da periferia, por causa do barulho. Como esse conflito gera repressão e leis que tentam disciplinar o funk?
de quem é a vaidebet Cymrot - Com a crise econômica a partirde quem é a vaidebet2015, os jovens que já não tinham muito dinheiro para frequentar baladas e showsde quem é a vaidebetfunk fechados passaram ainda mais a fazer os bailes no meio da rua, colocando uma caixade quem é a vaidebetsom com volume alto. É um lazer barato. Drogas e bebidas também são consumidas ao ar livre.
Esses bailes então passam a ser reprimidos pela polícia, também porque são frequentados pelo público historicamente marginalizado. Drogas são usadasde quem é a vaidebetbaladas fechadas da classe média, mas essas não passam pelo mesmo nívelde quem é a vaidebetrepressão
É claro que os pancadões causam uma sériede quem é a vaidebettranstornos, como poluição sonora e interrupção do tráfego. A questão é se a repressão policial aconteceria da mesma forma se fosse outra manifestação culturalde quem é a vaidebetoutras regiões.
Essa repressão gerou, por exemplo, 9 mortesde quem é a vaidebetuma operação da PMde quem é a vaidebetum bailede quem é a vaidebetParaisópolisde quem é a vaidebet2019. Mas o funk não é homogêneo. Muitos reconhecem que as pessoas da periferia têm direito ao sossego e não querem um baile funk nade quem é a vaidebetporta quatro dias por semana. Outros não querem o diálogo com o poder público porque há uma resistência e desconfiançade quem é a vaidebetse submeter às regras.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Seu trabalho mostra que projetosde quem é a vaidebetlei que tentam disciplinar o funk e os pancadões foram produzidos por parlamentaresde quem é a vaidebetesquerda ede quem é a vaidebetdireita.
de quem é a vaidebet Cymrot - Tentei não ser maniqueísta dizendo que o funk foi criminalizado pelo estado policial e pela burguesiade quem é a vaidebetdireita. É mais complexo. De fato, os projetos desfavoráveis ao funkde quem é a vaidebetmaioria vêm da direita,de quem é a vaidebetparlamentares ligados à polícia. Mas a esquerda também participou.
Políticosde quem é a vaidebetdireita criaram projetosde quem é a vaidebetlei que pediam uma sériede quem é a vaidebetexigências que praticamente tornava impossível a realização dos bailes. Diziam: "O problema não é o funk, mas o barulho". Ao mesmo tempo, esses parlamentares também apresentaram ou apoiaram projetosde quem é a vaidebetleis que reconheciam o funk como manifestação cultural e reservavam espaços para a realização dos bailes, como o sambódromo do Anhembi e o autódromode quem é a vaidebetInterlagos. É aquela coisa: "Não tenho nada contra o funk desde que ele não aconteça na minha porta".
Já no Rio é uma salada mais complexa, porque o funk está tão enraizado que se inseriude quem é a vaidebetvárias instâncias da sociedade e dos partidos. A vereadora Verônica Costa (PL), por exemplo, é uma das parlamentares que mais têm projetos a favor do funk. E ela fezde quem é a vaidebetcarreira políticade quem é a vaidebetvários partidosde quem é a vaidebetdireita.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Mas como a esquerda também perseguiu o funk?
de quem é a vaidebet Cymrot - Primeiro, o funk sempre foi visto com certa antipatia por ser um "gênero alienado", principalmentede quem é a vaidebetrelação ao rap, que era mais politizado e respeitado artisticamente. É claro que isso não corresponde à realidade, porque sempre houve "funks conscientes" e com crítica social.
Segundo: muitos intelectuaisde quem é a vaidebetesquerda enxergam como manifestações populares ricas aquelas mais folclóricas, ou mesmo o rap, por contade quem é a vaidebetsuas letras engajadas. O funk é visto como uma música pobrede quem é a vaidebettermosde quem é a vaidebetqualidade, descartável, um gênero imposto goela abaixo pela indústria cultural. Eu me pergunto se é uma 'música pobre' ou uma 'músicade quem é a vaidebetpobre'.
Mas essa ideiade quem é a vaidebetimposição da indústria também não é verdadeira: o sucessode quem é a vaidebetum funk sempre começa nos bailesde quem é a vaidebetrua, e só depois a indústria corre atrás para tentar tirar uma lasquinha.
O terceiro elemento que gera muita crítica da esquerda é a acusaçãode quem é a vaidebetque o funk tem letras machistas e homofóbicas. Isso é verdade, mas também há muitos sambas, raps, forrós e sertanejos que também são machistas e homofóbicos. Os funkeiros são seresde quem é a vaidebetuma sociedade que é assim, e isso acaba se refletindode quem é a vaidebetalgumas letras. Não dá para generalizar e tratar isso como um problema só do funk.
O que a gente vê são muitas cantoras que questionam e respondem a esse machismo nas letras. Mas essas funkeiras são vistas com desconfiança por parte do feminismo mais ortodoxo porque elas reforçariam a objetificação do corpo da mulher, tendode quem é a vaidebetvista que muitas letras humilham os homens usando argumentos sexistas.
Então, o cenário é que o feminismo está rachadode quem é a vaidebetrelação ao funk, a esquerda também está rachada, e direita, idem. O funk gera todos esses conflitos.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Como avalia o fenômeno do funk proibidão, que apostade quem é a vaidebetletras sobre crimes e facções criminosas?
de quem é a vaidebet Cymrot - Muita gente tem dificuldadede quem é a vaidebetseparar o autor do eu lírico. Não é porque uma pessoa está cantando uma coisa que ela viveu aquilode quem é a vaidebetfato, que aquelas histórias narradas aconteceram exatamente daquele jeito. Em várias culturas existe essa práticade quem é a vaidebetcontar vantagens nas músicas. Isso vale tanto pro funk proibidão quanto o chamado funkde quem é a vaidebetputaria, com letras pornográficas.
Em muitas culturas, há essa valorização da figura do criminoso. Quando o Chico Buarque faz uma música sobre um traficante ninguém questiona se ele tem ligação com alguma facção. Mas se for um jovem negro, moradorde quem é a vaidebetfavela, ele é sempre visto como alguém suspeitode quem é a vaidebetter envolvimento com o crime, vai ser chamado a prestar esclarecimento na polícia.
A verdade é que vários MCs já disseram que só fizeram funk proibidão por uma questão mercadológica,de quem é a vaidebetvendas mesmo. Essas músicas contam uma realidade, ou são uma formade quem é a vaidebetexorcizar esse terror pelo qual esses artistas passam desde criança. É uma memória subterrânea da história do Brasil. E essa é uma realidade violenta com a qual a sociedade não quer conviver. Prefere matar o carteirode quem é a vaidebetvezde quem é a vaidebetlidar com a mensagem.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Isso não acaba glamourizando uma vida que não é boa para os próprios jovens?
de quem é a vaidebet Cymrot - Sim, muitos cantam o funkde quem é a vaidebetfacção não porque têm envolvimento com o crime, mas porquede quem é a vaidebetcerta forma a vidade quem é a vaidebetum traficante é glamourizada como ade quem é a vaidebetum sujeito que tem poder, dinheiro, contatos… Por outro lado,de quem é a vaidebetcomunidades que sofrem muito com a violência e corrupção policiais, cantar sobre as facções é uma espéciede quem é a vaidebetrevide simbólico. É como se o funkeiro dissesse à polícia: "Você pode me humilhar todos os dias, mas eu te respondo com uma batida e um funk".
Muitos funkeiros se incomodam quando um proibidão fica famoso, pois eles dizem que as músicas são feitas da comunidade para a comunidade, ou seja, o objetivo é que ele fique ali.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Poderia falar um pouco sobre o pornográfico?
de quem é a vaidebet Cymrot - Existe uma tradição da música brasileirade quem é a vaidebetfalar sobre sexo, mas normalmente usando o duplo sentido. Na história, houve outras manifestações da população negra perseguidas por conteúdo tipo por sexual, como o lundu. O funk falar sobre issode quem é a vaidebetmaneira tão explícita é quase uma novidade. Curiosamente, muitos MCs dizem que começaram a cantar esse estilo porque foram reprimidos quando cantavam o proibidão.
O auge do funk com apelo sexual no Riode quem é a vaidebetJaneiro, nos anos 2000, surgiu como uma resposta aos bailesde quem é a vaidebetcorredor,de quem é a vaidebetque a proposta principal era organizar a briga entre o público. Também surgiu com grande participaçãode quem é a vaidebetmulheres, que dançavam e subiam ao palco para cantar sobre o que gostavamde quem é a vaidebetfazer, que também tinham direitode quem é a vaidebetgozar etc.
Esse movimento foi até chamadode quem é a vaidebet"neofeminista". Muitas funkeiras reclamaram disso publicamente, dizendo que só conseguiam espaço se cantassem esse estilo. E muitas não tinham nada a ver com esse universo, eram mais conservadoras e até evangélicas.
Mas há também um papel políticode quem é a vaidebetquestionar os bons costumes. Então, quando fala sobre sexode quem é a vaidebetmaneira explícita, o funk choca setores mais conservadores da sociedade.
de quem é a vaidebet BBC News Brasil - Nos anos 1990, no Rio, repercutiu muito o fatode quem é a vaidebetjovens brancosde quem é a vaidebetclasse média passaram a subir os morros para ir aos bailes.
de quem é a vaidebet Cymrot - É aquela coisa: "Você não gostade quem é a vaidebetmim, masde quem é a vaidebetfilha gosta". Houve uma grande influência da mídia. Enquanto o mesmo canal mostrava no jornal o funk como uma cultura violenta, um programa vespertino, como o da Xuxa, convidava MCs para cantar e mostrar um "funk da paz", como a dupla Claudinho e Buchecha.
Os jovens da Zona Sul carioca se deixam contagiar pela batida e resolvem subir o morro. Isso gera um pânico nos pais. Eles achavam que o funk estava levando seus filhos para o mau caminho, para lugares perigosos.
Este texto foi publicado originalmente emhttp://vesser.net/brasil-62355983
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