Por que expressão usada por Piquet para falarentra pixbetHamilton é racista, segundo especialistas:entra pixbet
A fala gerou ampla repercussão, sendo repudiada pelo próprio Hamilton, pela Fórmula 1, Mercedes, FIA (Federação Internacionalentra pixbetAutomobilismo) e dezenasentra pixbetpessoas nas redes sociais.
"É mais do que linguagem", escreveu Hamilton, ementra pixbetconta no Twitter. "Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Eu fui cercado por essas atitudes e fui alvo delas minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação."
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"Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável sob qualquer forma e não tem espaço na sociedade", disse a Fórmula 1,entra pixbetcomunicado postadoentra pixbetconta oficial na rede social.
"Lewis é um embaixador incrível para nosso esporte e merece respeito. Seus esforços incansáveis para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o qual estamos comprometidos na F1″, completou a representação oficial da modalidade.
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Em meio ao repúdio e às duras críticas a Piquet — que é abertamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) —, pessoas ligadas à direita do espectro político passaram a questionar se o uso da palavra "neguinho" pelo ex-piloto foientra pixbetfato racista.
Os defensoresentra pixbetPiquet também criticaram repercussões do caso na imprensa internacional que traduziram a expressão "neguinho" como equivalente a uma expressãoentra pixbetinglêsentra pixbetforte conotação racista cujo uso é considerado atualmente socialmente inaceitável. É a chamada "N-word", como se diz hojeentra pixbetdia nos paísesentra pixbetlíngua inglesa para evitar essa palavra.
Diante da discussão, a BBC News Brasil ouviu três especialistas que explicaram por que o uso da palavra "neguinho", da forma como empregada por Piquet, foi considerado racista.
'Uma forma paternalistaentra pixbetmenosprezo'
"O uso da palavra 'neguinho' é uma forma comumentra pixbetracismo no Brasil porque é empregadaentra pixbetespecial para ressaltar algoentra pixbeterrado que se pensa que alguém fez, como quem diz que tal pessoa só poderia ter feito aquilo por ser negra", observa Thiago Amparo, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas)entra pixbetSão Paulo.
"É uma palavra que, no diminutivo e no contexto, serve para reduzirentra pixbetforma paternalista pessoas negras a inferiores intelectualmente", considera o advogado.
Daniela Gomes, professoraentra pixbetestudos da diáspora africana na San Diego State University, nos EUA, tem entendimento semelhante.
"O racismo brasileiro é diferenciado, é um racismo tido como velado, emboraentra pixbetvelado não tenha nada. Mas ele tem entonações. E ali o que vimos é o Piquet usando uma entonação no diminutivo, mas que não era uma entonaçãoentra pixbetcarinho, masentra pixbetmenosprezo", diz Gomes.
"A questão ali é o desdém com o qual ele se dirigiu a um piloto que é alguém da mesma categoria profissional que ele. Lewis Hamilton tem um nome e não é amigo pessoalentra pixbetPiquet. No nosso racismo à brasileira, foi uma formaentra pixbetinferiorizar,entra pixbettratar como se fosse um moleque."
Para Daniel Teixeira, advogado e diretor do Ceert (Centroentra pixbetEstudos das Relaçõesentra pixbetTrabalho e Desigualdades), a falaentra pixbetPiquet é um produto do racismo estrutural — conjuntoentra pixbetpráticas institucionais e relações sociais, econômicas e políticas que privilegiam um grupo étnicoentra pixbetdetrimentoentra pixbetoutro, perpetuando desigualdades.
"Em função do racismo que é estrutural na nossa sociedade, há dificuldade das pessoas brancasentra pixbetverem pessoas negras numa posiçãoentra pixbetigualdade. Como o próprio Hamilton falou, não se trata apenasentra pixbetlinguagem, mas da mentalidade que está por trás disso,entra pixbetreduzir uma pessoa à corentra pixbetsua pele", diz Teixeira.
"Piquet não faria isso com uma pessoa branca. Essa é a questão que importa e que demonstra o racismo estrutural na sociedade brasileira. Ele não se referiria ao Verstappen como 'branquinho', reduzindo uma pessoa, uma trajetória, uma história, à cor da pele", completa o diretor do Ceert.
'A palavra com N'
Amparo, Gomes e Teixeira concordam que a palavra "neguinho"entra pixbetportuguês não tem o mesmo peso da palavra considerada ofensivaentra pixbetinglês. Mas reforçam que isso não diminui a cargaentra pixbetdesdém, inferiorização e ridicularização da expressão usada por Piquet para se referir a Hamilton.
"A palavra com N era usada nos Estados Unidos pelos senhoresentra pixbetescravos, como uma formaentra pixbetdiminuição. Antes da escravidão, éramos africanosentra pixbetdiversas etnias. Quando começa a escravidão, começa também a dualidade. Os brancos se leem como brancos e nos leem como o oposto, assim a gente se torna negro. E a maneira como os senhoresentra pixbetescravos tratavam os escravizados era através da palavra com N, nigger ou nigga", explica Gomes, da San Diego State University.
"Quando a escravidão e a segregação acabam, a população negra passa por uma sérieentra pixbetmudanças políticas. Há um movimento para ressignificar a palavra 'negro', mas as duas variações são banidas."
A professora destaca que o racismo se expressaentra pixbetforma distintaentra pixbetlugares diversos. E que uma mesma palavra, dependendo do contexto ou tomentra pixbetvoz, pode significar coisas diferentes.
"A minha mãe me chamarentra pixbetneguinha pode ser uma formaentra pixbetcarinho, já uma estranha, ao invésentra pixbetme tratar como professora Daniela Gomes, me tratar como negrinha, é racismo", exemplifica.
'Sociedade não mais aceita o racismo cotidiano'
Para Teixeira, do Ceert, o episódio revela como os preconceituosos têm se sentido mais à vontade para expressar seus preconceitos, sob lideranças políticas que fazem o mesmo.
"Muitas pessoas se sentem autorizadas a se manifestar dessa forma justamente porque há lideranças políticas hoje que fortalecem essa estigmatização, que usam essa mesma linguagem, fazendo com que ela seja usadaentra pixbetforma aberta. Isso influencia sim, mas essas pessoas também refletem uma questão estrutural no Brasil,entra pixbetcomo as pessoas negras são tratadas", diz o advogado.
"Quando pessoas negras despontam nas suas atividades, elas acabam incomodando pessoas brancas que se viam como universais, como o padrãoentra pixbetdeterminados lugares sociais. A presença negra questiona esse padrão e, quando ela ganha um destaque do tamanho do Lewis Hamilton para a Fórmula 1, isso incomoda muito mais, gerando uma reação estereotipada e desrespeitosa."
Para Amparo, da FGV, porém, a força do repúdio à expressão usada por Piquet demonstra o avanço da luta antirracista e como certas coisas não são mais socialmente toleradas.
"É louvável que haja uma rejeição ao uso da palavra 'neguinho' neste episódio específico, porque mostra uma mudança na sociedadeentra pixbetnão mais (aceitar) o racismo cotidiano e antes normalizado", diz Amparo.
"Esta palavra é muito recorrente no dia a dia brasileiro, embora seja invariavelmente utilizada num tom pejorativo. Rejeitar o seu uso implica rejeitar o racismo cotidiano, recreativo ou não, tão comum no Brasil."
Outro lado
Após o forte reação no Brasil e no exterior, Piquet divulgou um comunicado com um pedido públicoentra pixbetdesculpas.
"O que eu disse foi mal pensado, e eu não vou me defender por isso, mas eu vou deixar claro que o termo é um daqueles largamente e historicamente usadosentra pixbetforma coloquial no português brasileiro como sinônimoentra pixbet'cara' ou 'pessoa' e nunca com intençãoentra pixbetofender. Eu nunca usaria a palavra que estou sendo acusadoentra pixbetalgumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestãoentra pixbetque a palavra tenha sido usada por mim com o objetivoentra pixbetmenosprezar um piloto por causaentra pixbetsua corentra pixbetpele. Eu me desculpo com todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um grande piloto, mas a traduçãoentra pixbetalgumas mídias e que agora circula nas redes sociais não é correta. Discriminação não tem espaço na F1."
- Este texto foi publicadoentra pixbethttp://vesser.net/brasil-61974739
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