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O que torna a população negra mais vulnerável ao HIV e a morrer por complicações da Aids:campo minado pixbet
"Precisei passar por um processocampo minado pixbetautoaceitação e trabalhar para entender como seria minha vida a partir daquele momento."
Dois anos depois, Emer Conatus, ator e professorcampo minado pixbetarte, também se descobriu soropositivo. Apesarcampo minado pixbetjá acompanhar alguns perfis na internet que falavam sobre o tema, as dúvidascampo minado pixbetrelação a seu próprio caso, considerando aspectos sociais, não deixaramcampo minado pixbetsurgir.
Ambos homens pretos e criadoscampo minado pixbetregiões periféricas — Raul no bairro Cariocas,campo minado pixbetNova Lima, Minas Gerais, e Emercampo minado pixbetPerus, bairro da zona noroestecampo minado pixbetSão Paulo — os dois se conheceram pela internet e perceberam que suas trajetórias tinham marcoscampo minado pixbetcomum, não só pelo mesmo diagnóstico, mas porque como muitas pessoas, não tinham informações suficientes sobre o HIV antescampo minado pixbetse verem no papelcampo minado pixbetportadores do vírus, e a raça, além do contexto socialcampo minado pixbetque viviam, influenciavacampo minado pixbetmuitos aspectos do combate à infecção.
As pessoas negras, segundo especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, têm mais barreiras para acessar os serviçoscampo minado pixbetsaúdecampo minado pixbetbuscacampo minado pixbetcuidados para prevenção e tratamento.
"Muitas vezes elas não têm acesso às tecnologiascampo minado pixbetprevenção e terão o diagnóstico mais tardiamente. Também estão entre as pessoas com menor escolaridade, menor renda, estão mais sujeitas à violência, então para elas o diagnósticocampo minado pixbetHIV vem acrescentar mais uma dificuldade às suas vidas. E após o diagnóstico, vão continuar a experimentar o estigma e preconceito, dificultando a realização do tratamento. O estigma atrapalha o acesso ao serviçocampo minado pixbetsaúde e acrescenta estigma, então atrapalha todo o processo", enumera Natáliacampo minado pixbetSouza, psicóloga que atuacampo minado pixbetprojetoscampo minado pixbetpesquisa relacionados ao HIV.
Para ajudar outros na mesma posição, mas também informar quem ainda considera o HIV e a Aids como tabus, assim como aqueles que pouco conhecem sobre o vírus e a doença, Raul e Emer criaram o podcast 'Preto Positivo', disponível na plataformacampo minado pixbetstreaming Spotify.
"Decidimos fazer o projeto porque percebemos que a maior parte dos criadorescampo minado pixbetconteúdo sobre HIV são brancos, sendo que a maioria que vive com o vírus no Brasil e no mundo é negra. A intenção é trazer as dúvidas, questões sociais, familiares,campo minado pixbetatendimentocampo minado pixbetsaúde... Pelo pontocampo minado pixbetvista da negritude", diz Emer.
Os episódios contam com relatos pessoais, informações técnicas e falascampo minado pixbetconvidados, entre eles, médico infectologista, psicólogo, parteira, advogado, pesquisadores, apresentadorcampo minado pixbetTV, cantor, poetisa, artistas e ativistas da causa. Além disso, há a vozcampo minado pixbetum personagem que representa o próprio vírus HIV, narrando, no primeiro episódio, o primeiro encontro com Emer e Raul.
Por que o índicecampo minado pixbetinfecções e mortes é maior entre negras e negros?
A resposta para essa pergunta tem diversas camadas — e algumas delas, complexas — mas todas, na avaliação do infectologista acreano Dyemison Pinheiro, há um panocampo minado pixbetfundocampo minado pixbetcomum: o racismo estrutural (práticas institucionais e históricas enraizadas na sociedade e repetidas constantemente, ainda que por vezescampo minado pixbetforma não consciente).
"O acesso à informação e aos serviçoscampo minado pixbetsaúde, também é afetado pelo racismo institucional, já que há reprodução desse tipocampo minado pixbetviolência simbólica dentro dos ambientes, como por exemplo, nos serviçoscampo minado pixbettestagemcampo minado pixbetHIV ecampo minado pixbetISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis)."
"Por conta dessas barreiras, a população negra morre mais por complicações relacionadas ao vírus, e às vezes isso acontece por demora no diagnóstico. Quando um paciente é diagnosticado mais cedo, ainda sem alterações importantes, o tratamento é muito mais simples e gera melhora mais rápida", afirma o infectologista.
Ele acrescenta que aqueles que descobrem a doença tardiamente por vezes já sofrem com outras infecções oportunistas, já que o vírus causa uma queda na imunidade. E, sem o tratamento adequado, a pessoa já pode ter desenvolvido Aids.
Isso porque o HIV infecta seletivamente os linfócitos (leucócitos) do tipo CD4, responsáveis pela resposta imune. Conforme o vírus se múltipla e destrói os 'CD4', a imunidade vai ficando cada vez mais comprometida.
"Um dos critérios para definir que a pessoa tem Aids é a contagemcampo minado pixbetCD4. quando um paciente tem esse número abaixocampo minado pixbet350, já é considerado como alguém que tem a doença. Com tratamento, é possível melhorar o número, mas ainda assim, algumas pessoas apresentam falhas qualitativas importantes nas célulascampo minado pixbetdefesa, e por isso, há autores que advogam que, uma vez que o número esteve abaixocampo minado pixbet350, a pessoa sempre terá Aids."
Há também, aponta o médico, outras questões relacionadas a dificuldades financeiras para acessar o serviço, regularidadecampo minado pixbetvisitas por rotinas mais complicadas, que afetam principalmente negros, que no Brasil, assim comocampo minado pixbetoutras partes do mundo, ocupam posições historicamente desprivilegiadas.
Além disso,campo minado pixbetacordo com a psicóloga Nataliacampo minado pixbetSouza, características pessoais que podem tornar o momento do diagnóstico e o tratamento mais ou menos difíceis.
"O impacto mental pode variar bastantecampo minado pixbetacordo com o que o paciente já sabe sobre HIV, se conhece alguém que vive com o vírus, etc. Depende muito do seu próprio preconceito também. Para alguém que desconhece como é viver com HIV, por exemplo, ou alguém que tem questões com relação à própria sexualidade, tende a ser mais difícil."
Na opiniãocampo minado pixbetPinheiro, produções como o podcast 'Preto Positivo' que desmistificam o tema, são essenciais.
"Existe uma faltacampo minado pixbetconhecimento muito grande para alguns públicos, trazer uma linguagem acessível, fácil, que cheguecampo minado pixbetfato a todos e todas, especialmente no caso desse podcast, que é focado na população negra, é muito importante."
"O conteúdo traz leveza e tira um pouco desse estigma, porque quando falamoscampo minado pixbetISTs, existe um peso, até um julgamento moral, então ter esse conteúdo facilita o acesso a informação. As pessoas escutam sobre como podem se testar e as formascampo minado pixbetprevençãocampo minado pixbetgeral, alémcampo minado pixbetparticiparcampo minado pixbetuma discussão que vai além da qualidadecampo minado pixbetvida — que se assemelha acampo minado pixbetpessoas sem a infecção — mas que fala sobre descobertas tecnológicas, profilaxia, PrEP injetável, e por aí vai", afirma o infectologista.
Como é o acesso aos testes e tratamentocampo minado pixbetHIV/Aids no Brasil?
Os testes que detectam a presença do HIVcampo minado pixbetcercacampo minado pixbet30 minutos estão disponíveis gratuitamente para toda a população nas UBSs (Unidades Básicascampo minado pixbetSaúde), Upas (Unidadescampo minado pixbetPronto Atendimento) e CTA (Centroscampo minado pixbetTestagem e Aconselhamento).
O SUS também oferece medicamentos antirretrovirais (antes chamadoscampo minado pixbetcoquetel), além da PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição), tratamentos indicadoscampo minado pixbetsituações e por temposcampo minado pixbetuso específicos.
Na avaliação do infectologista Dyemison Pinheiro,campo minado pixbetgeral, o programacampo minado pixbetHIV/Aids brasileiro funciona, mas ainda há margem para se tornar melhor.
"Temos um sistema público que consegue abarcar muita coisa, mas precisamos aprofundar ainda mais as boas políticas. Os usuárioscampo minado pixbetPrEP, por exemplo, que são pouco menoscampo minado pixbet40 mil pessoas, sãocampo minado pixbetmaioria são homens homossexuais brancos e com Ensino Superior completo. Que mais se infecta e morre não é esse público. É necessário pensarcampo minado pixbetcomo chegar nas populações mais vulneráveis"
Em artigo publicado na revista Global Public Health, pesquisadores da Fiocruz, destacam que o programa brasileiro contra a HIV e Aids foi referência, mas regrediu nos últimos anos. Entre as causas, segundo o estudo, está a desarticulação das instituições, tanto agências multilaterais, como a Unaids, quanto do governo brasileirocampo minado pixbetrelação às demandas das ONGs e pacientes, especialmentecampo minado pixbetrelação às políticascampo minado pixbetinformação e prevenção.
A realidadecampo minado pixbetacesso também tende a ser diferente fora das capitais — onde há mais pacientes diagnosticados, mas também um melhor rastreio. "Existe essa falta do acesso, sobretudocampo minado pixbetáreas afastadas, onde falta informação e também falta desejo dos que fazem a gestãocampo minado pixbetpolíticas públicascampo minado pixbetsaúde, municipais e estaduais, para tornar as políticas mais sólidas."
- Este texto foi originalmente publicadocampo minado pixbethttp://vesser.net/brasil-61960207
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