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O futebol brasileiro está embranquecendo?:brazino777 site
Mano Brown perguntou então à filósofa se o futebol teria deixadobrazino777 siteser "o sonhobrazino777 siteconsumo da molecada negra", ao que Carneiro rebateu: "eles não deixarambrazino777 sitedesejar futebol, eles têm sido gradativamente excluídos".
A falabrazino777 siteCarneiro, doutorabrazino777 siteFilosofia pela USP e fundadora do Geledés - Instituto da Mulher Negra, ecoou nas redes sociais.
Mas o que pessoas do universo futebolístico pensam sobre a opinião? O futebol brasileiro está embranquecendo?
A BBC fez a pergunta a quatro pessoas que trabalham com futebol dentro ou fora dos campos.
A resposta unânime foi que sim, os negros estão perdendo espaço no esporte símbolo nacional.
As divergências se deram quanto ao grau do fenômeno: enquanto alguns avaliam que ele se restringe a estádios e categoriasbrazino777 sitebase, um ex-jogador já vê efeitos desse processo na seleção brasileira atual (leia mais abaixo).
Esportebrazino777 sitebrancos e imigrantes
Quando chegou ao Brasil,brazino777 site1895, o futebol era um esporte praticado principalmente por brancos. Na primeira metade do século 20, vários jogadores da seleção eram filhosbrazino777 siteimigrantes europeus.
Com o tempo, no entanto, o futebol e a seleção se tornaram multirraciais.
Desde a Copabrazino777 site1950,brazino777 sitemaior ou menor grau, atletas negros vestiram a camisa brasileirabrazino777 sitetodos os Mundiais. Alguns, como Pelé, Garrincha e Romário, foram os destaquesbrazino777 siteequipes que se sagraram campeãs.
É possível, porém, que negros percam o protagonismo no futebol brasileiro no futuro, segundo comentaristas entrevistados pela BBC News Brasil.
Eles disseram que a mudança na forma com que meninos são selecionados pelos clubes têm deixado as equipes juvenis mais elitizadas e, consequentemente, mais brancas.
No passado, muitos jovens jogadores vinhambrazino777 sitecampos nas periferias das cidades, onde eram identificados por olheiros a serviço dos clubes. Foi assim que muitos meninos negrosbrazino777 sitefamílias pobres conseguiram chegar a grandes times e se destacar no esporte.
Hoje, no entanto, os entrevistados afirmam que cada vez mais clubes têm buscado atletasbrazino777 siteescolasbrazino777 sitefutebol particulares, que cobram mensalidades dos alunos. A mudança, segundo os analistas, tem favorecido meninosbrazino777 siteclasse média, cujas famílias têm condiçõesbrazino777 sitepagar as escolas e são majoritariamente brancas.
Alimentação ruim
O ex-jogador Edinaldo Batista Libânio, o Grafite, cita à BBC outro fator que estaria excluindo do esporte muitos meninos negros pobres: a má qualidade da alimentação.
Hoje comentaristabrazino777 sitefutebol, Grafite diz que jovens que não comem direito na infância chegambrazino777 sitepiores condições físicas às "peneiras", os processosbrazino777 siteseleção dos clubes. E hoje, segundo ele, as equipes consideram a forma física mais importante do que a habilidade ao escolher jovens atletas.
O ex-jogador diz ter notado um sinal "gritante" do desequilíbrio na formação física dos atletas na última Copa São Paulobrazino777 siteFutebol Júnior, principal competição nacional para jogadores com até 20 anosbrazino777 siteidade.
Segundo ele, o desempenho físicobrazino777 siteequipes do Sul e Sudeste no torneio foi muito superior ao dos times do Nordeste, cujos atletas tinham origens mais pobres.
Grafite se tornou um símbolo do combate ao racismo no futebolbrazino777 site2005, quando acusou o zagueiro argentino Leandro Desábatobrazino777 sitechamá-lobrazino777 site"negritobrazino777 sitemierda" durante uma partidabrazino777 siteSão Paulo.
O zagueiro, que negou a ofensa, chegou a ficar dois dias preso no Brasil antesbrazino777 sitevoltar à Argentina.
Embranquecimento dos estádios
O comentaristabrazino777 sitefutebol Paulo Cesar Vasconcellos menciona outro público do futebol que estaria vivendo um "processobrazino777 siteembranquecimento": as torcidas nos estádios.
Ele afirma que muitos campos reformados para receber a Copabrazino777 site2014 deixarambrazino777 sitereceber pessoas mais pobres, muitas delas negras.
Foi o caso do Maracanã: as obras eliminaram a chamada "geral", setor da arquibancada com ingressos mais baratos e que costumava abrigar grande númerobrazino777 sitenegros.
"Veja como a modernização do futebol é perversa: a partir do momentobrazino777 siteque os estádios foram repaginados e se tornaram mais bem cuidados, entendeu-se que eles não podiam mais ter o pobre", diz Vasconcellos.
E a seleção?
Se há concordância entre os entrevistados quanto ao embranquecimento dos estádios e categoriasbrazino777 sitebase, há divergências quanto ao alcance desse fenômeno entre as equipes profissionais.
Para Marcelo Medeiros Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, jovens negrosbrazino777 sitebaixa renda continuam chegando aos clubesbrazino777 sitefutebol graças aos olheiros.
Ele diz que esses profissionais podem ter perdido espaço com o avanço das escolinhasbrazino777 sitefutebol, mas não desapareceram. "O olheiro, talvez inconscientemente, ainda olha para esse menino negro e acha que vai descobrir um novo Pelé, um novo Romário", afirma.
Paulo Cesar Vasconcellos também acha que a elitização nas categoriasbrazino777 sitebase ainda não produz efeitos visíveis no futebol brasileiro profissional.
"Tanto é que o maior nome do futebol no mundo no momento é um jovem negrobrazino777 sitefamília humilde chamado Vinicius Jr.", afirma o comentarista, referindo-se ao jogador brasileiro que se tornou um dos destaques do Real Madrid, da Espanha, e deverá estar na seleção brasileira na próxima Copa.
Vasconcellos avalia ainda que "por ora não há um processobrazino777 siteembranquecimento da seleção". "A maioria dos jogadores ainda vembrazino777 siteclasses mais baixas e tem na profissãobrazino777 sitejogador a salvação da família".
A possibilidadebrazino777 siteascender socialmente pelo futebol, aliás, é um elemento que distingue o futebol masculino do futebol feminino no quesito racial, diz Renata Mendonça, comentaristabrazino777 sitefutebol e cofundadora do Dibradoras, veículo que enfoca as mulheres do esporte.
Ex-jornalista da BBC, Mendonça diz que, como o futebol feminino nunca ofereceu boas perspectivasbrazino777 sitecarreira no Brasil, muitas atletas profissionais dependeram do apoio financeiro da família para permanecer no esporte.
E como negros são maioria entre os mais pobres, diz a comentarista, "é possível que muitas meninas negras tenham tido que abandonar o esporte por não terem condiçõesbrazino777 siteseguir bancando seu sonho".
Pele mais clara
Já para o ex-jogador Grafite, a elitização das categoriasbrazino777 sitebase já produz efeitos no futebol profissional e na própria seleção brasileira.
Presente na Copabrazino777 site2010, ele afirma que, "considerando o plantel geral, o númerobrazino777 sitenegros vem diminuindo" na seleção, e "jogadoresbrazino777 sitepele clara vêm sendo predominantes".
O ex-jogador diz ainda que o tombrazino777 sitepele dos jogadores negros da seleção tem clareado ao longo das última décadas, algo que ele atribui à "miscigenação" da população brasileira no período.
Na seleção que venceu a Copabrazino777 site1970, por exemplo, havia vários negros retintos (de pele mais escura) - casobrazino777 sitePelé, Zé Maria, Joel e Everaldo.
Hoje, negros com esse tombrazino777 sitepele se tornaram mais raros na seleção principal e na olímpica. Esta última, por abrigar embrazino777 sitemaioria jogadores com até 23 anosbrazino777 siteidade, tende a indicar qual será a cara da seleção principal no futuro.
Pretos retintos
Para o jornalista esportivo Marcos Luca Valentim, um dos membros do Ubuntu Esporte Clube, podcast que busca trazer uma "visão afrocentrada" do esporte, quanto mais escuro é o tom da pelebrazino777 siteuma pessoa no Brasil, "mais chances ela tembrazino777 sitesofrer racismo ebrazino777 siteter oportunidades negadas".
O fenômeno é conhecido entre pesquisadores e ativistas do movimento negro como "colorismo".
"Pessoas pretas retintas têm menos possibilidadebrazino777 siteentrar nas categoriasbrazino777 sitebase não porque os clubes não as queiram, mas porque, por este ser um problema estrutural, terão menos acesso ao transporte e a outras condições para chegar às peneiras", diz Valentim.
Mesmo que consigam entrar no esporte, essas pessoas tendem a ser mais discriminadas ao longo da carreira e receber apelidos pejorativos, segundo o jornalista.
Mas não só pretos retintos sofrem tratamento discriminatório no futebol brasileiro.
Jábrazino777 site1964, o jornalista Mário Filho escreveubrazino777 siteseu clássico O Negro no Futebol Brasileiro que as duras críticas que três jogadores negros (Barbosa, Juvenal e Bigode) receberam após a derrota do Brasil na Copabrazino777 site1950 eram um sinal do racismo entre os brasileiros.
Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, diz que é comum se atribuir o fracassobrazino777 siteum jogador negro "à questão da noite, da malandragem, das mulheres". Já a derrocadabrazino777 sitejogadores brancos raramente é associada a essas causas, diz Carvalho.
E num momentobrazino777 siteque há cada vez mais jogadores estrangeiros nos clubes brasileiros, Carvalho questiona por que há tão poucos atletas africanos no Brasil, ainda que eles tenham grande espaço nos clubes europeus. "A África manda jogadores para o mundo inteiro, menos para o Brasil", diz Carvalho.
Manifestações contra o racismo
Para Marcos Luca Valentim, do Ubuntu Esporte Clube, uma esfera do futebol brasileirobrazino777 siteque negros jamais entraram é a dos dirigentesbrazino777 siteclubes e federações. Essa faltabrazino777 sitenegros no topo, segundo ele, tende a desencorajar atletas negros a protestar contra o racismo.
"Clubes que se comportem como empresas podem achar problemático ter atletas com atitudes contestatórias", diz o apresentador.
"Os negros proporcionam o show, mas quem gere o show são os brancos", afirma Valentim.
Paulo Cesar Vasconcellos também critica a ausênciabrazino777 sitenegros na estruturabrazino777 sitecomando do futebol brasileiro.
"Temos vários técnicos estrangeiros no futebol brasileiro, mas quantos técnicos negros temos na série A? Só um. E dirigentes? E médicos negros entrandobrazino777 sitecampo?", questiona.
"A estrutura é toda branca, e aos negros sempre restaram os postosbrazino777 sitemassagista, cozinheiro, faxineiro, roupeiro", afirma o comentarista.
"O futebol é um território no qual o negro é só pébrazino777 siteobra, nada mais."
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