A épocajogo de dominóque a seleção brasileira era formada por filhosjogo de dominóimigrantes:jogo de dominó

Seleção brasileirajogo de dominó1919

Crédito, Arquivo Nacional

Legenda da foto, Seleção brasileirajogo de dominó1919 tinha ao menos cinco filhosjogo de dominóimigrantes no elenco

Um deles era o atacante Friedenreich, filhojogo de dominóum alemão. Outro, Neco, tinha pai português. Três jogadores, Marcellino, Barbuy e Bianco, eram filhosjogo de dominóitalianos.

Imigrantesjogo de dominóhospedaria

Crédito, Museu da Imigração do Estadojogo de dominóSP

Legenda da foto, Hospedariajogo de dominóimigrantesjogo de dominóSão Paulo;jogo de dominó1920, estrangeiros eram 35% da população da cidade

Os cinco se projetaram no futeboljogo de dominóSão Paulo, onde,jogo de dominó1920, estrangeiros eram 35% da população da cidade, segundo o IBGE.

Origem do futebol no Brasil

O próprio responsável pela introdução do futebol no Brasil vinhajogo de dominóuma famíliajogo de dominóimigrantes, o paulistano Charles Miller.

Filhojogo de dominóum escocês, Miller conheceu o esporte ao estudar na Inglaterra e o trouxe ao Brasiljogo de dominó1895.

Outro brasileiro-britânico, Oscar Cox, ajudou a difundir o futebol no Riojogo de dominóJaneiro ao participar da fundação do Fluminense,jogo de dominó1902. Em poucas décadas, famílias ricas cariocas abraçaram o esporte, encampado por agremiações que tinham outras modalidades como carro-chefe – caso do Flamengo e do Botafogo, inicialmente focados no remo.

Paralelamente, o esporte também se popularizava entre as classes baixas brasileiras, engrossadas pelos milhõesjogo de dominóeuropeus, árabes e japoneses que migraram ao país entre os séculos 19 e 20.

A pujança da atividade cafeeira transformou São Paulojogo de dominóum importante polo industrial e destinojogo de dominóimigrantes. Surgem nessa época vários clubesjogo de dominófutebol que agregavam estrangeiros – caso do Germânia, fundado pela comunidade alemã, do Esporte Clube Sírio, da colônia árabe, e da Portuguesajogo de dominóDesportos.

Partida no estádiojogo de dominóLaranjeiras, no Rio

Crédito, CBF

Legenda da foto, Jogo entre o Brasil e o clube inglês Exeter,jogo de dominó1914, no Rio, foi a primeira partida oficial da seleção

Outros times amadores, formados principalmente por operários, disputavam torneios nas várzeas dos rios Tietê, Tamanduateí e Aricanduva - origem da expressão "futeboljogo de dominóvárzea".

Vários desses grupos agregavam italianos - comunidade estrangeira mais numerosa na São Paulojogo de dominóentão - e forneceram jogadores para dois clubes fundados na época, o Corinthians e o Palmeiras.

No Rio, operários fundaram o Bangu, e imigrantes portugueses criaram o Vasco.

Fundação do Palmeiras

"Aquele italiano que estava marginalizadojogo de dominóuma sociedade paulistana dominada por aristocratas cafeicultores, a partir do futebol, passa a ter uma identidade e a ganhar um pertencimento", diz à BBC News Brasil o historiador Fernando Galuppo, autorjogo de dominósete livros sobre o Palmeiras, nascido como Palestra Itália.

Ele conta que a criação do clube,jogo de dominó1914, buscava agrupar imigrantesjogo de dominótodas as partes da Itália. Até então, famílias italianasjogo de dominóSão Paulo se reuniamjogo de dominóassociaçõesjogo de dominósua provínciajogo de dominóorigem. Fazia poucas décadas que a Itália havia sido unificada, e muitos migrantes que trocaram o país pelo Brasil não falavam italiano, e sim línguas regionais.

Filhosjogo de dominóespanhóis, italianos, alemães e ingleses representaram Brasil no início do século 20

Crédito, CBF

Legenda da foto, Jogadores da seleção brasileirajogo de dominó1914, anojogo de dominóque equipe realizou as primeiras partidas oficiais

Os fundadores do Palestra publicaram anúnciosjogo de dominójornais para atrair futebolistas da colônia. Entre os que atenderam ao chamado havia atletas nascidos na Itália e muitos filhosjogo de dominóitalianos – caso, segundo Galuppo,jogo de dominóHeitor (Ettore) Marcellino, Amilcar Barbuy e Bianco Spartaco Gambini, os três presentes na seleção brasileira vencedora do Sul-Americanojogo de dominó1919.

Antesjogo de dominópassar ao Palestra, Gambini e Barbuy jogaram no clube que viria a ser o principal adversário do time, o Corinthians.

Em dissertaçãojogo de dominómestrado apresentada na USPjogo de dominó2014, o historiador Marco Aurélio Duque Lourenço aborda a hipótesejogo de dominóque a rivalidade entre os dois clubes tenha nascido com a transferência dos jogadores e rixas dentro da comunidade italiana.

Lourenço lembra que a palavra rival vem do latim "rivalis", aquele que habita a mesma margem do rio – e que os dois clubes sempre treinaram na margem esquerda do Tietê (décadas depois, o terceiro grande clube paulistano, o São Paulo, também montou um centrojogo de dominótreinamento no mesmo lado do rio).

De operários para operários

Autorjogo de dominóO Futebol Explica o Brasil, o jornalista Marcos Guterman diz que o Corinthians foi fundado quatro anos antes do Palestra para atrair imigrantesjogo de dominótodas as nacionalidades e brasileiros pobres. "Era um clubejogo de dominóoperários para operários: a ideia era que a torcida fizesse o time, e não o contrário."

Vinha do Corinthians o quarto filhojogo de dominóestrangeiros da seleçãojogo de dominó1919 – Manuel Nunes, o Neco. Antonio Roque Citadini, conselheiro vitalício do clube e autorjogo de dominóuma biografia sobre o jogador, diz à BBC News Brasil que Neco era filhojogo de dominóum português que vivia no Bom Retiro, bairro paulistanojogo de dominóimigrantes.

O quinto filhojogo de dominóestrangeiro, Arthur Friedenreich, iniciou a carreira no Germânia e foi o grande destaque da campanha vitoriosa.

Palmeiras, campeão paulistajogo de dominó1934

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Equipe do Palestra Itáliajogo de dominó1934; clube agregava famílias italianasjogo de dominóSão Paulo

Com pai alemão e mãe brasileira negra, o atleta simbolizava ao mesmo tempo a projeçãojogo de dominódescendentesjogo de dominóestrangeiros ejogo de dominónegros num esporte inicialmente dominado pela elite branca nacional.

Fernando Galuppo diz que, nos primórdios do futeboljogo de dominóSão Paulo, famílias ricas "faziam campanha contra a inserçãojogo de dominóelementos populares no jogo". Várias delas frequentavam o Club Athletico Paulistano, na época o principal rival do Palestra Itália.

Quando os dois clubes se enfrentavam, colunistas do jornal O Estadojogo de dominóS. Paulo que também eram sócios do Paulistano "se referiam aos jogadores do Palestra com todo tipojogo de dominóimpropério e ofensa", segundo o historiador. "Era um verdadeiro choquejogo de dominóclasses: o time do operário italiano chãojogo de dominófábrica contra o dos aristocratas e barões do café."

Na época, imigrantes pobres italianos eram discriminadosjogo de dominóSão Paulo e tratados por termos pejorativos, como carcamanos e italianinhos.

Por outro lado, Galuppo afirma que os jogadores ítalo-brasileiros jamais foram contestados na seleção brasileira. "A perseguição acontecia muito mais no plano doméstico do que no nacional."

Racismo no futebol

Para Marcos Guterman, jogadores negros da seleção sofriam mais questionamentos que os filhosjogo de dominóimigrantes naqueles anos.

Em O Negro no Futebol Brasileiro, clássico da literatura esportiva nacional, lançadojogo de dominó1964, o jornalista Mário Filho diz que Barbosa, Juvenal e Bigode – três atletas negros – levaram injustamente a culpa pela derrota do Brasil na final da Copa de 1950, postura que, para ele, indicava o racismo entre a população.

Equipe corintianajogo de dominó1910

Crédito, Divulgação/Corinthians

Legenda da foto, Corinthiansjogo de dominó1910, anojogo de dominósua fundação; clube atraiu muitos operários estrangeirosjogo de dominóSão Paulo

"Quando o brasileiro acusou Barbosa, Juvenal e Bigode, acusou-se a si mesmo", escreveu Mário Filho.

Guterman diz que, na época, circulava o discursojogo de dominóque "havia negros demais na seleção". "Tanto que, na Copajogo de dominó1954, quase não havia negros no time." O Brasil caiu nas quartasjogo de dominófinal.

A redenção ocorreujogo de dominó1958, com a conquista do primeiro Mundial sob a liderançajogo de dominóPelé. Desde então, negros se tornaram presença permanente na seleção.

Perseguição na 2ª Guerra

Ainda que, segundo os pesquisadores entrevistados, a xenofobia no Brasil contra atletas filhosjogo de dominóimigrantes não fosse tão forte quanto na Europa atual, jogadores e clubes brasileiros ligados ao Japão, à Alemanha e à Itália sofreram grandes pressões durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando o governo Getúlio Vargas rompeu laços com as três nações.

O clube Germânia, que lançara Friedenreich, foi forçado a mudarjogo de dominónome, virando Pinheiros.

Soldados da FEB na viagemjogo de dominóretorno ao Brasil

Crédito, CPDOC

Legenda da foto, Soldados brasileiros retornam da Itáliajogo de dominó1945; guerra gerou ofensiva contra clubes alemães, italianos e japoneses no Brasil

O Palestra se tornou Palmeiras, tirou as cores da bandeira da Itália do escudo e afastou todos os dirigentes italianos. O clube chegou a pedir salvo-condutos para que sócios pudessem acompanhar jogos do timejogo de dominóoutras cidades.

Galuppo afirma que a repressão à identidade italiana talvez esteja na origemjogo de dominóum hábito presente até hoje entre palmeirenses. "É a única torcida que, enquanto toca o hino nacional, canta uma paródiajogo de dominócima do hino."

Em Belo Horizonte, outro clube criado por italianos e que também se chamava Palestra Itália foi rebatizado como Cruzeiro.

Cornetar e terminarjogo de dominópizza

Sob a forte agenda nacionalista do governo Vargas, palavras estrangeiras associadas ao futebol foram abrasileiradas. Mesmo assim, Galuppo diz que termos criados por ítalo-brasileiros que frequentavam estádios sobrevivem até hoje no vocabulário nacional, caso do verbo cornetar (criticar, reclamar) e da expressão "terminarjogo de dominópizza".

"A expressão surgiu no Palestra, onde jantares com pizza apaziguavam os sócios após debates acalorados", afirma.

Seleção brasileirajogo de dominófuteboljogo de dominó1925

Crédito, CBF

Legenda da foto, Filhojogo de dominóalemão ejogo de dominóbrasileira negra, Friedenreich (à frente e à esq.) foi um dos primeiros destaques da seleção

Galuppo diz que a 2ª Guerra acelerou o abrasileiramento do Palmeiras ejogo de dominóoutros clubesjogo de dominóestrangeiros. Nas décadas seguintes, conforme a imigração para o Brasil arrefeceu, a presençajogo de dominófilhosjogo de dominóimigrantes na seleção se diluiu.

Com o fim do conflito mundial, ele afirma que clubes ítalo-brasileiros deixaramjogo de dominóser oficialmente perseguidos, mas que a crise só foi realmente superadajogo de dominó1965, quando o Palmeiras representou o Brasil numa partida contra o Uruguai, no Mineirão. Os atletas palmeirenses venceram o jogo por 3 a 0.

A paz estava selada.