Como envelhecimento do eleitorado brasileiro pode afetar as eleições:monaco black jack

O envelhecimento do eleitor é uma boa notícia para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, que tende a ter uma maior aprovação entre os mais velhos. Do outro lado, é um desafio para seu principal rival e favorito nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pontua melhor entre os mais jovens.

Dados do TSE evidenciam essa tendência. Em 1994, 21,46% dos eleitores aptos a votar tinha entre 16 e 24 anos. Em 2022, os jovens nessa faixa etária são apenas 13,78% do total.

Na outra ponta, o númeromonaco black jackeleitores acima dos 60 anos cresceu. Em 1994, eles eram 11,6% do eleitorado. Em 2022, são 20,26%.

As mudanças também afetaram o "miolo" da pirâmide etária do eleitorado. Em 1994, o grupo que concentrava o maior percentualmonaco black jackeleitores tinha entre 25 e 34 anosmonaco black jackidade.

Naquele ano, eles representavam 27,6% do eleitorado. Em 2022, a faixa com o maior percentualmonaco black jackvotantes está pelo menos 20 anos mais velha e vai dos 45 aos 59 anosmonaco black jackidade. Eles somam 24,8%.

Mas quais são as consequênciasmonaco black jackum eleitorado cada vez mais velho?

Conservadorismo e idade

O doutormonaco black jackdemografia e pesquisador aposentado do Instituto Brasileiromonaco black jackGeografia e Estatística (IBGE) José Eustáquio Diniz Alves estuda o processomonaco black jackenvelhecimento do eleitorado brasileiro há vários anos.

Ele diz que esse fenômeno é uma tendência mundial resultantemonaco black jackuma combinaçãomonaco black jackfatores que afeta a demografia do país como um todo.

"Nas últimas décadas, a gente teve uma redução das taxasmonaco black jacknatalidade e um aumento da expectativamonaco black jackvida. Isso se reflete, também, na composição das pessoas aptas a votar", explica.

Segundo o Banco Mundial, a taxamonaco black jacknatalidade no Brasilmonaco black jack1960 eramonaco black jack6,06 crianças por cada mulher. Em 2019, ela caiu para 1,72. A queda acompanhou a tendência global. Em 1960, a taxamonaco black jacknatalidade mundial eramonaco black jack4,98 crianças por cada mulher. Em 2019 ela ficoumonaco black jack2,4.

Do outro lado dessa equação, o IBGE mostra que a expectativamonaco black jackvida no Brasil saiumonaco black jack45,5 anosmonaco black jack1940, para 76,8 anosmonaco black jack2020.

Internacionalmente, alguns estudos apontam que o envelhecimento do eleitorado tende a favorecer partidos ou lideranças classificadas como conservadoras.

Em 2014, os professores James Tilley e Geoff Evans, da Universidademonaco black jackOxford, no Reino Unido, publicaram uma pesquisa indicando que, à medida que o eleitorado britânico envelhece, aumenta a tendênciamonaco black jackque ele votemonaco black jackmaior número no Partido Conservador, legenda teoricamente mais identificada com a direita e a defesamonaco black jackvalores tradicionais naquele país.

Estudos anteriores apontam que, à medida que a idade avança, a tendência é que os indivíduos sejam menos abertos a novas experiências e conceitos e deem preferência a produtos ou soluções (inclusive políticas) que já foram testadas previamente.

José Eustáquio avalia que, no Brasil, um dos efeitos do envelhecimento da população seria uma maior dificuldade para a implementaçãomonaco black jackpolíticas públicas classificadas como "progressistas".

"No resto do mundo, pessoas mais idosas tendem a ser mais conservadoras e o Brasil acompanha esse fenômeno. Nesse contexto, candidatos que defendam abertamente pautas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e uma política mais brandamonaco black jackrelação às drogas tendem a ter mais resistência com um eleitorado mais velho", explica o pesquisador.

Religião

A professora da Universidade Federal do Riomonaco black jackJaneiro (UFRJ) e presidente da Associação Brasileiramonaco black jackCiência Política (ABCP), Luciana Veiga, concorda com José Eustáquio.

Segundo ela, uma das chaves para explicar a relação entre conservadorismo e idade no Brasil é a religião.

Luciana cita a pesquisa Latinobarômetro, que coleta dadosmonaco black jackpaíses da América Latina sobre diversos temas.

Em 2020,monaco black jackacordo com os dados mais recentes, a pesquisa aponta que, no Brasil, o percentual das pessoas que afirmam seguirem uma religião aumenta conforme a idade.

A pesquisa mostra que na população entre 15 a 25 anosmonaco black jackidade, 76% dos entrevistados afirmam professar algum tipomonaco black jackreligião. Entre as pessoas com 61 anosmonaco black jackidade ou mais, esse percentual sobe para 95,5%.

"Nesse contexto, é difícil imaginar, ainda que não seja impossível, que pessoas mais religiosas possam apoiar algumas pautas como o aborto, por exemplo", explica Luciana.

O aborto, aliás, voltou a ser tema das eleições presidenciais deste ano.

Em fevereiro, a senadora e pré-candidata à Presidência Simone Tebet (MDB-MS), disse ser contra o aborto.

Em abril, Lula disse que o aborto deveria ser tratado como uma questãomonaco black jacksaúde pública e que todo mundo deveria ter direito ao procedimento.

A reação às declarações foi imediata. Lideranças religiosas e adversários políticosmonaco black jackLula, entre eles o presidente Jair Bolsonaro, criticaram a fala do ex-presidente.

Dias depois, o pré-candidato disse que era pessoalmente contra o aborto e que ele havia apenas defendido que pessoas que teriam praticado o aborto deveriam ser atendidas pela rede pública.

"Essas pessoas pobres que por 'n' razões abortam, e eu não quero saber por que elas abortam, o Estado tem que cuidar. Não sei qual o mal entendimento que as pessoas têm disso. É apenas uma questãomonaco black jackbom senso. Ele (aborto) existe, por mais que a lei proíba, por mais que a religião não goste. Ele existe e muitas mulheres são vítimas disso", disse o petista.

Apoio à democracia aumenta com a idade

José Eustáquio e Luciana Veiga afirmam que o envelhecimento do eleitorado não é necessariamente ruim e que ele pode ter consequências positivas para o restante da população.

Analisando os dados do Latinobarômetro, Luciana Veiga diz que, no Brasil, eleitores mais velhos são os que mais tendem a valorizar o regime democrático.

A pesquisa mostra que entre as pessoasmonaco black jack15 a 25 anos, 37,2% afirmam que a democracia é preferível a qualquer outra formamonaco black jackgoverno. Entre os que têm 61 anosmonaco black jackidade ou mais, esse percentual sobe para 41,1%.

"Considerando o grande númeromonaco black jackeleitores nessa faixa etária, isso é uma boa indicação porque,monaco black jacktese, criaria mais dificuldades a aventuras antidemocráticas", explica.

José Eustáquio afirma que o envelhecimento do eleitorado é um processo aparentemente irreversível com o qual a sociedade terá que aprender a lidar. Segundo ele, isso só configura um problema se os eleitores envelhecerem sem se darem conta das suas responsabilidades com o futuro do país.

"Não é porque um país é mais velho que ele, necessariamente, terá políticas conservadoras. O Uruguai e a Argentina têm uma composição etária mais velha que a brasileira, mas aprovaram leis progressistas sobre o aborto e drogas. A questão é como nossos eleitores estão envelhecendo", disse o pesquisador.

De olho no voto

Nas últimas semanas, autoridades, políticos e até artistasmonaco black jackHollywood como o ator Leonardo Di Caprio convocaram os jovens brasileiros a tirarem o títulomonaco black jackeleitor e participar das eleições deste ano. O objetivo era aumentar a participação dos mais jovens na corrida eleitoral.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comemorou um aumentomonaco black jack42,7% no númeromonaco black jacktítulos emitidos para pessoas entre 16 e 18 anosmonaco black jackidade na comparação com 2018.

Apesarmonaco black jacktoda a celebração, especialmente entre lideranças e artistas posicionados mais à esquerda, o cientista político e presidente do conselho científico do Institutomonaco black jackPesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, aponta, que o envelhecimento do eleitorado no Brasil já é alvomonaco black jackatenção das campanhas presidenciais neste ano.

Ele explica que esse fenômeno cria um desafio a mais para candidatos e candidatas: convencer aqueles que já não são mais obrigados a votar a irem às urnas. No Brasil, o voto é facultativo para quem tem maismonaco black jack70 anosmonaco black jackidade.

Segundo o TSE, o Brasil tem 12,9 milhõesmonaco black jackeleitores nessa faixa. Eles equivalem a 8,64% do eleitorado. Como comparação, a outra faixamonaco black jackvoto facultativo, que compreende os eleitores entre 16 e 17 anosmonaco black jackidade, tem 1,62 milhãomonaco black jackpessoas aptas a votar e representa apenas 1,08% do eleitorado.

"Um dos principais trabalhos que os candidatos vão ter é encontrar uma maneiramonaco black jackatrair esse eleitor para as urnas. É muita gente que não pode ser abandonada nessa disputa", diz Lavareda.

Ao analisar o cenário eleitoral mais recente, Lavareda diz que um dos principais desafiosmonaco black jackLula é ampliar suas intençõesmonaco black jackvoto junto aos eleitores mais velhos.

"A nossa pesquisa mais recente mostra que a diferença entre Lula e Bolsonaro vai caindo conforme a idade dos eleitores aumenta. Entre os que têm 16 a 34 anos, Lula tem 17 pontos percentuaismonaco black jackvantagem. Já entre os que têm 55 anos ou mais, essa diferença émonaco black jackapenas sete pontos", explica.

Lavareda avalia que,monaco black jackcerta maneira, a mera candidaturamonaco black jackLula, que tem 76 anosmonaco black jackidade, já é uma sinalização do PT a esta faixa do eleitorado.

"Há 15 anos, a candidaturamonaco black jackalguém com essa idade talvez não fosse possível. Lula ser candidato aos 76 anosmonaco black jackidade já aponta para uma mudança na cultura sobre o que os idosos podem fazer. Isso já é um aceno para os mais velhos", defende Lavareda.

O cientista político afirma, ainda, que o aumentomonaco black jackidosos no eleitorado brasileiro vai obrigar os candidatos a criarem propostas e discursos que façam sentido para esse segmento.

"O mundo da política é como se fosse o mundo privado. Quem precisa se vender, não vai negligenciar um mercado tão grande e importante", avalia Lavareda.

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