Por que Norte é região que mais aprova Bolsonaro:
No Nordeste, região com a maior concentraçãopobreza, essa tendência se manifesta claramente, com apenas 19% dos eleitores declarando que pretendem votarBolsonaro, contra 55% que dizem que votarãoLula. Mas, no Norte, 40% dos eleitores declaram que pretendem votar no atual presidente na próxima eleição, e 31% no principal adversário dele, Lula. É a região, empatada com o Sul, onde Bolsonaro lidera com a maior margem.
Mas por que essa preferência tão acentuada dos moradores do Norte por Bolsonaro? Que aspectos do governo do atual presidente agradam a uma parcela considerável da população da região Amazônica?
Especialistas ouvidas pela BBC News Brasil citaram três fatores principais: apoio à política armamentista, o tipoatividade econômica que movimenta a região e a grande presençaevangélicos no Norte. Entenda:
Apoio à política armamentista
A professoraCiência Política Andréa Freitas, da Universidade FederalCampinas (Unicamp), aponta a política armamentistaBolsonaro - popular entre moradores da região Norte, segundo pesquisas - como um dos fatores que contribuem para adesão desse eleitorado.
Pesquisa Ibope realizadamarço2019, após o primeiro decretoBolsonaro flexibilizando portearmas, revelou que o Sul e o Norte são as regiões onde há maior apoio popular à ampliação do acesso a armamentos.
Segundo o levantamento, 73% dos brasileiros são contra flexibilizar o porte para cidadãos comuns e 26% são favoráveis. Os entrevistados também foram questionados sobre a possearmas: 61% são contrários a uma maior facilidade para possuir armacasa; 37% são favoráveis.
No Norte, o percentual dos favoráveis à flexibilização da possearmacasa é43%, atrás apenas do Sul (48%). E é no Norte o maior percentualapoio à flexibilização do portearmas, 34%, seguido pelo Sul, 29%.
A posse permite que o cidadão mantenha a armacasa ou no trabalho. O porte permite que ele circule com armafogo foracasa ou do trabalho.
"A questão das armas é muito importante na região Norte. Uma políticaliberaçãoarmas é muito bem vista para parcela da populaçãolá", diz Freitas, que também coordena o NúcleoInstituições Políticas e Eleições do Cebrap (Centro BrasileiroAnálise e Planejamento).
A professora explica que o conflito agrário nesta região, que envolve disputas frequentes entre mineradores, ambientalistas, indígenas, extrativistas e madeireiros, permite um lugardestaque à discussão sobre acesso a armas.
"Ali a violência é diferente da vivenciada nas grandes cidades. Não é a violência do assaltoáreas urbanas. É uma violência ligada à terra e ao fatoestar na fronteira, tanto no sentido da fronteira com outros países, mas também na fronteira do avanço da agricultura, da mineração, do desmatamento ilegal", diz.
"E o acesso a armas é colocado para uns como necessário para defender essas terras ou defender uma atividade econômica ilegal ou legal."
Agronegócio, mineração e extraçãomadeira
Outro aspecto do Norte que influencia no apoio a Bolsonaro é o tipoatividade econômica que movimenta a região.
Maria do Socorro Braga, cientista política da Universidade FederalSão Carlos (UFScar), lembra que discursosBolsonaro sobre regularizaçãoterras ocupadas ilegalmente, incentivos ao avanço do agronegócio e da mineração atendem a uma parcela importante dos moradores do Norte.
"Você tem naquela região grandes plantações e há uma relação conflituosa entre os donos dessas terras, indígenas e ambientalistas", lembra a professora. "A defesaBolsonaro à regularizaçãoterras públicas invadidas e à expansão do agronegócio na floresta atende a parte dos produtores."
Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro vem defendendo a ampliação das atividades econômicas na Amazônia e a regularizaçãoterras invadidas para produção agrícola.
Em 2021, o desmatamento na Amazônia foi o piordez anos, e 29% maior que2020, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com basedados do SistemaAlertaDesmatamento (SAD).
Segundo ambientalistas, o desmonteórgãosfiscalização durante o governo Bolsonaro e a defesaregularizaçãoterras pelo presidente estão por trás desse crescimento da destruição da floresta.
Socorro Braga lembra que o setor agrícola tem sido uma base importanteapoio a Bolsonaro. "Embora alguns setores estejam se voltando a Lula, o grosso do segmento da pecuária e soja, que são atividades fortes na região Norte, tem se mantido com Jair Bolsonaro. E a proximidade desses setores a partidos e políticos mais conservadores é algo antigo no Brasil e que permanece até hoje", diz.
"São forças que querem manter o controle sobre o poder agrário e a estruturalatifúndio."
Andréia Freitas lembra ainda que pequenos produtores, mineradores e pessoas que atuam no extrativismo ilegalmadeira também se identificam com o discursoBolsonaroque a Amazônia deve ser explorada economicamente.
O presidente já defendeu diversas vezes a expansão da mineração na Amazônia, inclusiveterras indígenas, embora nenhuma proposta nesse sentido tenha sido aprovada durante o governo dele.
"Você tem uma população grandepessoas que sofrem com a precariedade do acesso a mecanismos econômicos e que enxergam a apropriaçãorecursos da Floresta Amazônica como uma solução. Por isso, se identificam com o discursoBolsonaro", diz Socorro Braga.
Grande presençaevangélicos
O terceiro fator listado pelas especialistas é a grande presençaevangélicos no Norte. Foi naquela região que nasceu a AssembleiaDeus, denominação evangélica com o maior númeroadeptos no Brasil.
Segundo pesquisa Datafolha2020, é no Norte que se concentra a maior proporçãofiéis. Lá, 39% da população é evangélica.
Os evangélicos também são considerados base importanteapoio ao atual presidente. Em 2018, quase 70% deles votaramBolsonaro no segundo turno - apoio maciço que, segundo especialistas, garantiu a vitória do atual presidente.
Atualmente, pesquisasintençãovoto apontam que parcela das mulheres evangélicas está migrando votos para Lula, mas os homens evangélicos seguem votandogrande maioriaBolsonaro.
O presidente tem como grande aliado o pastor Silas Malafaia, líder da igreja AssembleiaDeus VitóriaCristo, e nomeou um evangélico, André Mendonça, para o Supremo Tribunal Federal. Além disso, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tem participadouma sérieencontros com mulheres evangélicas, pouco menosseis meses antes da eleição presidencial.
"No Norte, não só há um percentual grandeevangélicos, como é lugar onde se fundou a AssembleiaDeus. Lá há uma tradição, por gerações,presença do pentecostalismo", diz Freitas.
"Essa vertente do protestantismo é a mais vinculada a um apoio ao governo Bolsonaro. Esse é outro fator significativo que ajuda a explicar a liderança e a aprovação do presidente nessa região."
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