Enem mais negro: por que númerobonus poker 888candidatos pretos e pardos cresceu ao longo dos anos:bonus poker 888

Ou, diante da alta concorrência, candidatos negros teriambonus poker 888fazer a prova mais vezes até serem aprovados?

E qual o peso nessa mudançabonus poker 888pessoas que antes se consideravam brancas mas, ao tentar a prova maisbonus poker 888uma vez, passavam a se autodefinir como pardas?

Ou então, que passavambonus poker 888pardas a pretas, num processobonus poker 888"escurecimento" da população também identificadobonus poker 888outras pesquisas demográficas, como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostrabonus poker 888Domicílios) e o Censo do IBGE, que nenhuma relação têm com o acesso ao ensino superior.

Doutorbonus poker 888educação pela USP (Universidadebonus poker 888São Paulo) e pesquisador do Inep, órgão responsável pela realização do Enem, Senkevics descobriu que cada um desses três fatores contribuíram para a mudança, ainda que com pesos distintos.

Em artigo publicado neste mês pela Dados Revistabonus poker 888Ciências Sociais, periódico científico mantido pelo Institutobonus poker 888Estudos Sociais e Políticos da UERJ (Universidade do Estado do Riobonus poker 888Janeiro), o pesquisador se debruçou sobre o tema.

A BBC News Brasil conversou com ele para entender melhor os principais resultados desse estudo, que é o primeiro a investigar o fenômeno da "reclassificação racial" — isto é, das pessoas que mudambonus poker 888autodefiniçãobonus poker 888raça ou cor — no Enem.

Uma mudança cultural no Brasil

Senkevics conta que muita gente pensa que ele decidiu olhar para o aumento da proporçãobonus poker 888negros no Enem e o fenômeno da reclassificação racial dos candidatos pensandobonus poker 888captar fraudes nas cotas, mas ele deixa bem claro que essa não é a intenção do estudo.

"O que me motivou foi uma curiosidade científica com relação a esse movimentobonus poker 888as pessoas se classificarem cada vez mais como negras", diz o pesquisador.

"Trata-sebonus poker 888um fenômeno cultural brasileiro, que é a assunção cada vez maior da identidade e do pertencimento negro, num país historicamente racista e cujo racismo foi apoiado num processobonus poker 888'embraquecimento' histórico,bonus poker 888negaçãobonus poker 888identidades raciais negras e indígenas e desvalorização da história e cultura dessas parcelas da população", acrescenta.

O estudo é divididobonus poker 888três partes.

Na primeira delas, o pesquisador do Inep olha para os novos inscritos, ou seja, as pessoas que estão prestando o Enem pela primeira vez. Nesse grupo, o percentualbonus poker 888negros passoubonus poker 88851,5% para 57% nos seis anos analisados.

Para Senkevics, a mudança no perfil racial aqui reflete alterações no cenário educacional brasileiro. A primeira dessas mudanças é o aumento na proporçãobonus poker 888jovens que concluem o ensino médio, com redução da repetência e da evasão escolar nessa fase do ensino.

Como resultado desse processo, mais jovensbonus poker 888baixa renda, negros e estudantes vindosbonus poker 888famílias menos privilegiadas se tornaram aptos a tentar uma vaga no ensino superior.

"O perfilbonus poker 888quem termina o ensino médio foi se tornando cada vez mais heterogêneo e representativo da população", observa o especialistabonus poker 888educação. "O jovembonus poker 888classe alta,bonus poker 888família mais escolarizada, já fazia o Enem. A novidade é que vai entrando um perfil novo, que vai aumentandobonus poker 888presença cada vez mais nesse período."

Além disso, políticasbonus poker 888ampliação do acesso às universidades geraram um incentivo para estudantes que antes talvez não acreditassem na possibilidadebonus poker 888ingressar numa faculdade passarem a ter mais esperança com relação ao processo seletivo.

Entre essas políticas, o pesquisador cita o programabonus poker 888bolsasbonus poker 888estudo Prouni, o programabonus poker 888financiamento estudantil Fies, o sistema únicobonus poker 888ofertabonus poker 888vagas Sisu e a leibonus poker 888cotas.

Por fim, Senkevics destaca que esses novos inscritos estão sujeitos às mesmas mudanças culturais e demográficas identificadas na população brasileirabonus poker 888geral e, portanto, mais jovens talvez estejam se percebendo como negros mesmo antesbonus poker 888se inscreverem no Enem, contribuindo para a mudança no perfil racial dos novos inscritos.

Negros são maioria entre inscritos reincidentes

Na segunda parte do estudo, o pesquisador olha para os estudantes que prestam o Enem maisbonus poker 888uma vez. Em 2011, os inscritos reincidentes eram 36% do total, chegando a 65%bonus poker 8882016.

Entre os estudantes que prestam o Enem uma ou duas vezes, há pouca diferença no perfil racial, com brancos superando pardosbonus poker 888cercabonus poker 8881 ponto percentual.

Mas, a partir da terceira tentativa, a parcelabonus poker 888pardos passa a superar abonus poker 888brancos, chegando a 48%bonus poker 888pardos para 30%bonus poker 888brancos entre aqueles que se inscreveram sete vezes, uma diferença significativa,bonus poker 88818 pontos percentuais.

"A pessoa pode fazer o Enem quantas vezes ela quiser; como o ensino superior é muito disputado e o processo seletivo é muito afunilado, uma pequena parte dos inscritos vai ter sucesso", observa Senkevics. "Candidatos menos preparados, com origens menos privilegiadas, como boa parte da população negra, podem ser obrigados a fazer o exame maisbonus poker 888uma vez."

O pesquisador destaca alguns indicadores que mostram as dificuldades dos candidatos negros no Enem: pretos e pardos têm taxasbonus poker 888abstenção maiores nos diasbonus poker 888provas (quando a pessoa se inscreve mas não consegue comparecer no dia do exame) e médiasbonus poker 888desempenho menores,bonus poker 888relação aos brancos.

Essas dificuldades podem levar um candidato a se inscrever novamente na prova. Quando isso acontece, surge a possibilidadebonus poker 888reclassificação racial, que ocupa a terceira parte do estudo.

Os candidatos que 'mudambonus poker 888raça'

Na pesquisa, Senkevics buscou analisar como se dão esses movimentosbonus poker 888reclassificação entre brancos, pardos e pretos.

E o que ele encontra é que, apesarbonus poker 888as alterações acontecerembonus poker 888todas as direções, o saldo líquido das mudanças resultabonus poker 888uma reduçãobonus poker 8885% no númerobonus poker 888brancos, aumentobonus poker 8881% nobonus poker 888pardos e ganhobonus poker 88813,7% na quantidadebonus poker 888pretos.

O pesquisador observa que vários dados sugerem que essa reclassificação tem pouca relação com possíveis tentativasbonus poker 888fraude.

Uma evidência disso, segundo Senkevics, é o fatobonus poker 888que mudanças semelhantes acontecembonus poker 888diversas outras basesbonus poker 888dados que não têm qualquer incentivo para que as pessoas "se escureçam", como a Pnad, o Censo e a antiga Pesquisa Mensalbonus poker 888Emprego do IBGE.

Outro ponto é a reclassificaçãobonus poker 888pardos para pretos, uma mudança que não dá vantagem nenhuma na políticabonus poker 888cotas, que é voltada para negrosbonus poker 888maneira geral.

"A pessoa que é parda já é beneficiária da política afirmativa racial", observa Senkevics.

"Então o que eu entendo que explica essa grande migraçãobonus poker 888pardos para pretos é que não há outra motivação que não a questão cultural, porque a categoria 'preto' é muito mais alvo do processobonus poker 888ressignificação do que 'pardo'", acrescenta o pesquisador.

"O pardo não é sequer uma categoria nativa, não é usada pelas pessoas nos seus processosbonus poker 888autoidentificação, é uma categoria mais demográfica do que exatamente sociológica", observa o analista.

"Enquanto isso, toda a questão da valorização da negritude vem muitobonus poker 888cima da ideiabonus poker 888ser preto. Então é uma categoria que tem uma militância maior,bonus poker 888torno da qual a conscientização racial se construiu e que marca mais uma diferença com relação ao branco."

O especialista destaca ainda estudos do pesquisador David De Micheli que mostram que a autoidentificação como preto é maior entre os mais escolarizados, o que estaria ligado à maior exposição dessa parcela da população ao debate antirracista, ao resgate da história afro-brasileira ebonus poker 888seus elementos culturais e à militância negra por direitos.

Queda no percentualbonus poker 888negros no Enembonus poker 8882021

Apesar do processo socialbonus poker 888empoderamento da população negrabonus poker 888curso, o Enem mudou bastante desde o período estudado por Senkevics.

Desde 2016, o númerobonus poker 888inscritos na prova tem caído ano após ano, recuandobonus poker 8888,6 milhões naquele ano, para apenas 3,4 milhõesbonus poker 8882021.

A proporçãobonus poker 888pessoas pretas, pardas e indígenas também diminuiu no ano passado,bonus poker 88862,3%bonus poker 8882020, para 55,7%bonus poker 8882021.

Segundo analistas, diversos fatores explicam a redução no interesse pelo Enem. Um deles é que, desde 2017, a prova deixoubonus poker 888servir como certificação para o Ensino Médio.

A partir daquele ano, candidatos que não se formaram na idade usual e buscavam o diploma passaram a prestar o Encceja (Exame Nacional para Certificaçãobonus poker 888Competênciasbonus poker 888Jovens e Adultos), que havia deixadobonus poker 888ser aplicadobonus poker 8882009.

Os especialistas também apontam uma piora nas perspectivasbonus poker 888acesso ao ensino superior, com redução nas bolsas oferecidas pelo Prouni, queda acentuada nos contratosbonus poker 888financiamento firmados através do Fies e estagnação no processobonus poker 888ampliação das vagasbonus poker 888universidades públicas.

A esse cenário, somou-se a pandemia, que afetoubonus poker 888forma muito desigual ricos e pobres, reduzindo a taxabonus poker 888conclusão do ensino médio e fazendo com que muitos estudantes negros ebonus poker 888baixa renda não se sentissem preparados para tentar uma vaga no ensino superior.

Será preciso acompanhar nos próximos anos se o Brasil vai retomarbonus poker 888trajetóriabonus poker 888gradual inclusãobonus poker 888negros e filhosbonus poker 888famílias pobres nas universidades ou se serão duradouros os impactos causados pela pandemia e pelo desmonte das políticas públicasbonus poker 888educação apontado por especialistas.

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