Polarização ameaça democracia do Brasil, diz ex-assessorbetnacional não pagaObama para a América Latina:betnacional não paga

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Protesto pró-Bolsonaro na Avenida Paulistabetnacional não pagamarçobetnacional não paga2021

"Um contextobetnacional não pagaque as pessoas não confiam mais nos políticos, onde há preocupação com questõesbetnacional não pagacorrupção e coisas assim, também leva a uma faltabetnacional não pagaconfiança dos membros da sociedade nas instituições. Isso é um problema".

Mas segundo o chileno naturalizado americano que serviu como assessor especial para o ex-presidente americano Bill Clinton e foi secretário-assistentebetnacional não pagaEstado no governobetnacional não pagaBarack Obama, esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. "Esses problemas são apresentadosbetnacional não pagadiferentes formas ebetnacional não pagadiferentes grausbetnacional não pagamuitos países, incluindo nos Estados Unidos ebetnacional não pagaalguns países da Europa", disse.

Indagado sobre as ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e membrosbetnacional não pagaseu governo sobre o não reconhecimento das eleiçõesbetnacional não pagacasobetnacional não pagaderrota, Valenzuela disse enxergar qualquer esforço para subverter o processo eleitoral como um golpe contra a democracia. "Isso é o tipobetnacional não pagacoisa que afeta o fortalecimento das instituições democráticas", afirmou.

O cientista políticobetnacional não pagaformação comparou ainda os temoresbetnacional não pagarelação ao pleitobetnacional não pagaoutubro com o que aconteceu nos Estados Unidos após as eleiçõesbetnacional não paga2020, quando o ex-presidente republicano Donald Trump se recusou a reconhecerbetnacional não pagaderrota para Joe Biden.

"Como especialistabetnacional não pagaDireito Constitucional, estou preocupado que precisemosbetnacional não pagaalgumas reformas significativasbetnacional não paganossas constituições, para que esse tipobetnacional não pagacoisa não aconteça", disse.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Manifestaçãobetnacional não pagaSão Paulo,betnacional não pagaoutubrobetnacional não paga2021, na frente do Masp, na Avenida Paulista

Arturo Valenzuela concedeu entrevista à BBC News Brasil por ocasiãobetnacional não pagasua participaçãobetnacional não pagaum webinar organizado pelo Centro Brasileirobetnacional não pagaRelações Internacionaisbetnacional não pagaparceria com o Consulado Geral dos EUA no Riobetnacional não pagaJaneiro nesta quarta-feira (13/04). O evento marca a aberturabetnacional não pagaum projetobetnacional não pagaum ano, liderado pelo ex-embaixador do Brasilbetnacional não pagaWashington Sérgio Amaral, que tem como objetivo aprofundar o conhecimento sobre as relações bilaterais entre os EUA e o Brasil.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

betnacional não paga BBC News Brasil - Havia a expectativabetnacional não pagaque o presidente americano Joe Biden adotasse uma posição dura com Jair Bolsonaro, principalmentebetnacional não pagarelação a questões como democracia e meio ambiente. No cenáriobetnacional não pagavitóriabetnacional não pagaBolsonaro nas eleiçõesbetnacional não pagaoutubro, como o senhor acredita que o atual governo dos Estados Unidos se posicionaria para um novo mandato?

betnacional não paga Arturo Valenzuela - A relação dos Estados Unidos com o Brasil é importante, assim como com a América Latinabetnacional não pagageral. É importantebetnacional não pagaquestõesbetnacional não pagadesenvolvimento econômico, comércio, tecnologia, propriedade intelectual, agricultura, abastecimentobetnacional não pagaalimentos e uma sériebetnacional não pagaoutras coisas. Mas, é claro, existem muitas agendas hoje que são realmente críticas, como a da mudança climática. E à medida que vemos o desdobramento da situação na Ucrânia, todas as questõesbetnacional não pagasobrevivência da governança democrática e direitos humanos se tornam realmente importantes.

E assim, fica claro que este é um momento mais difícil na relação com o Brasil. Talvez com o governo anterior houvesse certa afinidade - digo, entre o governobetnacional não pagaDonald Trump e obetnacional não pagaBolsonaro. Mas isso acabou, Bolsonaro está concorrendo à reeleição e vamos ver o que acontece nos Estados Unidos.

Legenda da foto, Arturo Valenzuela, ex-assessor do governobetnacional não pagaBarack Obama

A relação é um trabalhobetnacional não pagaandamento e muito vai depender do que acontecer no Brasil. Neste pontobetnacional não pagaparticular, é justo dizer que há divergências significativas com Bolsonaro ebetnacional não pagaabordagem, tantobetnacional não pagarelação à política doméstica quanto àbetnacional não pagapolítica internacional. E vemos isso com as diferenças que foram colocadas nas últimas semanasbetnacional não pagarelação à crise na Ucrânia.

Mas nosso presidente anterior [Donald Trump] ainda não acredita que perdeu a eleição, então este não é um momentobetnacional não pagaque os Estados Unidos possam pregar a outros países do mundo que temos instituições melhores. Também lutamos com a qualidadebetnacional não paganossas próprias instituições e com muitas pessoas que tentaram essencialmente perturbar o processo democrático. Portanto, esses são desafios comuns que enfrentamosbetnacional não pagatodo o mundo.

betnacional não paga BBC News Brasil - No momento, as pesquisas mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança da corrida presidencial. Considerando um segundo cenário,betnacional não pagaque Lula seja eleito presidente, como acredita que a Casa Branca avaliaria essa mudançabetnacional não pagagoverno?

betnacional não paga Valenzuela - Fui Secretáriobetnacional não pagaEstado Adjunto quando Lula era presidente e tive que lidar com o governo brasileiro. Houve algumas dificuldades e desentendimentos com o ministro das Relações Exteriores e outrosbetnacional não pagatemas como a abordagem da questão iraniana. Por outro lado, houve um esforço para trabalharmos juntosbetnacional não pagauma sériebetnacional não pagaquestões importantes, incluindo, por exemplo, a crise na Venezuela.

Mas não acho que haveria uma lacuna significativa com um novo governo. Creio que os Estados Unidos trabalharão com quem for eleito e farão um esforço nessa direção. Não estou tão preocupado com a possibilidadebetnacional não pagarevisitarmos algumas das questões do passado, porque,betnacional não pagacerta forma, o mundo mudou muito significativamente ebetnacional não pagaum período muito curtobetnacional não pagatempo.

E muito vai depender também do apoio que Lula terá no Congresso. Há uma história recente na América Latinabetnacional não pagacolapso e fragmentaçãobetnacional não pagapartidos políticos. Isso acontece não apenasbetnacional não pagapaíses com períodos curtosbetnacional não pagaestabilidade democrática, mas tambémbetnacional não pagapaíses com históricobetnacional não pagaestabilidade. E não é possível ter certezabetnacional não pagaquem terá maioria no Legislativo.

betnacional não paga BBC News Brasil - Há uma certa preocupaçãobetnacional não pagaalguns setoresbetnacional não pagaque o presidente Jair Bolsonaro pode não reconhecer o resultado da eleição caso perca. Nabetnacional não pagaopinião, essa é uma possibilidade real? Podemos ter uma repetição da invasão do Capitóliobetnacional não paga6betnacional não pagajaneiro e toda aquela violência aqui no Brasil?

betnacional não paga Valenzuela - Prefiro não especular muito sobre qual pode ser o resultado. Obviamente, se houver um esforço para não reconhecer uma eleição legítima e tentar subverter o próprio processo da eleição, a forma como a eleição é administrada ou realizada, seria um problema muito sério para qualquer democracia. Isso é o tipobetnacional não pagacoisa que afeta o fortalecimento das instituições democráticas.

Isso aconteceu e ainda continua acontecendo nos Estados Unidos. Felizmente, os tribunais e muitos dos profissionaisbetnacional não pagadiferentes níveis que estavam encarregados do processo eleitoralbetnacional não pagaambos os partidos se opuseram a essa falsa narrativa. Espero que existam instituições suficientemente fortes no Judiciário ebetnacional não pagaoutros lugares no Brasil para garantir o mesmo tipobetnacional não pagaresultado.

Crédito, EPA

Legenda da foto, O ex-presidente Lula aparece com vantagem nas últimas pesquisas eleitorais

Um dos pontos problemáticos, para voltar a um argumento que fiz anteriormente, é que a fragmentação política significa que não há um processo centrista alternativo no Brasil neste pontobetnacional não pagaparticular. E, como especialistabetnacional não pagaDireito Constitucional, estou preocupado que precisemosbetnacional não pagaalgumas reformas significativasbetnacional não paganossas constituições, para que esse tipobetnacional não pagacoisa não aconteça.

Na verdade, o segundo turno é uma má ideia. Creio que o Congresso deve ter um papel maior e decidirbetnacional não pagacasosbetnacional não pagacandidatos que não obtêm maisbetnacional não paga45% dos votos. Não deveríamos entrarbetnacional não pagaum segundo turno que pode pulverizar e fragmentar ainda mais o sistema político. Esse tipobetnacional não pagacoisa precisa ser tratada no Legislativo. Portanto, há maneiras pelas quais precisamos parlamentarizar, por assim dizer, os sistemas presidencialistas.

betnacional não paga BBC News Brasil - Vários institutos internacionais que medem o status da democracia no mundo apontam para um declínio na qualidade da democracia brasileira desde o início do governobetnacional não pagaJair Bolsonaro. Nabetnacional não pagaopinião, a democracia no Brasil estábetnacional não pagarisco?

betnacional não paga Valenzuela - Sim, por alguns dos pontos que já indiquei. Há um aumento da polarização. Há,betnacional não pagacerta forma, o desaparecimento do meio-termo onde geralmente são feitos acordos entre os setores, tantobetnacional não pagacentro-esquerda quantobetnacional não pagacentro-direita. Esse tipobetnacional não pagafenômeno é um problema do nosso tempo. Temos observado um declínio considerável dos partidos políticos ebetnacional não pagafragmentação, e esse tipobetnacional não pagacoisa é preocupante.

O Brasil vive um momentobetnacional não pagaextrema fragmentação, com uma polarização maior e talvez mais fortebetnacional não pagaextrema direita manifestada pelo atual presidente. A eleiçãobetnacional não pagasi está muito polarizada, com candidatos da extrema esquerda e da extrema direita com mais apoio do que os candidatos que podem ser identificados como centro.

Um contextobetnacional não pagaque as pessoas não confiam mais nos políticos, onde há preocupação com questõesbetnacional não pagacorrupção e coisas assim, também leva a uma faltabetnacional não pagaconfiança dos membros da sociedade nas instituições. Isso é um problema.

Não estou dizendo que essas sejam características necessariamente exclusivas do Brasil. Esses problemas são apresentadosbetnacional não pagadiferentes formas ebetnacional não pagadiferentes grausbetnacional não pagamuitos países, incluindo nos Estados Unidos ebetnacional não pagaalguns países da Europa.

O que realmente precisamos sãobetnacional não pagaforças políticas pragmáticas que representem setores importantes da população. E deve haver regras nesse jogo para garantir que os partidos fiquem mais fortes e possam ser bons representantes.

Crédito, EPA

Legenda da foto, O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que no passado que poderia não reconhecer o resultado das eleições se fosse derrotado

betnacional não paga BBC News Brasil - O senhor acredita que o Brasil tem instituições fortes o suficiente para lidar com isso?

betnacional não paga Valenzuela - O Brasil mostrou que já teve instituições fortes, por meiobetnacional não pagasua capacidadebetnacional não pagacombater a corrupção, por exemplo. Mas,betnacional não pagacerta forma, isso foi há algum tempo. Então será um desafio para todos os brasileiros analisarem as urnas e fortalecerem suas instituições. Esse também é um desafio nos Estados Unidos.

betnacional não paga BBC News Brasil - Dados recentes mostram que o desmatamento na Amazôniabetnacional não paga2021 foi o piorbetnacional não paga10 anos. O que o senhor acredita que o governo Joe Biden pode fazer nos próximos anos para pressionar mais o Brasil na questão ambiental?

betnacional não paga Valenzuela - Esta é uma questão crítica e,betnacional não pagacerta forma, o Brasil se destaca devido à extraordinária importânciabetnacional não pagasua contribuição para o ecossistema do mundo. As mudanças climáticas estão afetando o mundobetnacional não pagauma maneira muito significativa - tivemos incêndios horríveis na Califórnia por contabetnacional não pagasecas excessivas, seguidosbetnacional não pagatornados e as tempestades no sul dos Estados Unidos. As nações insulares também enfrentam um grande desafio à medida que as geleiras estão derretendo. Portanto, o Brasil desempenha um papel muito importante e não prestar atenção nessas ramificações mais amplas é preocupante.

Mas ao mesmo tempo, observadores e países estrangeiros também estão preocupados com o que está acontecendo com certas populações no Brasil. Não se trata apenasbetnacional não pagacuidar da floresta, mas também das populações indígenas que foram suas guardiãs e tiveram que enfrentar as afrontas do extermínio e comercialização dessas áreas preciosas do Brasil. E sei que muitos brasileiros estão preocupados com isso também.

betnacional não paga BBC News Brasil - O senhor acredita que os EUA podem tomar ações mais assertivasbetnacional não pagarelação ao Brasil?

betnacional não paga Valenzuela - Durante a era Trump houve um desdém pelas alianças e instituições internacionais. Já o governo Biden representa uma administração que entende a importânciabetnacional não pagatrabalhar com outros países,betnacional não pagaapostar no multilateralismo, construir consenso e trabalharbetnacional não pagaconjunto.

Mas isso só pode ser feito se as instituições mundiais estiverem funcionando. Por instituições mundiais quero dizer as instituições multilaterais e organizações internacionais como a Organização Mundial do Comércio, a Organização Mundial da Saúde, a Comissãobetnacional não pagaDireitos Humanos das Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos e outras.

Temas como o meio ambiente precisam ser fortalecidos por meio desses tiposbetnacional não pagaorganizações. E o Brasil pode ser um líder nessa área. Mas,betnacional não pagavez disso, o Brasil está desprezando esse tipobetnacional não pagainstituição e está contribuindo,betnacional não pagacerta forma, parabetnacional não pagafraqueza.

betnacional não paga BBC News Brasil - Nabetnacional não pagaopinião, o Brasil perdeu relevância como mediadorbetnacional não pagaconflitos e referência na América Latina?

betnacional não paga Valenzuela - Sim, o Brasil perdeu relevância. Muitos podem discordarbetnacional não pagaalgumas das coisas que foram feitas pelo governo Lulabetnacional não pagatermosbetnacional não pagaprojeção, mas quando o ex-presidente pensoubetnacional não pagacooperar com o Irã tinha o compromissobetnacional não pagatentar abordar os temasbetnacional não pagaforma que seriam vantajosos não apenas para os países envolvidos, mas para a ordem mundial. E pode-se discordar se tudo isso foi útil ou não naquele momento específico, mas pelo menos fez algum sentido.

E acho que o Brasil pode e deve agir dessa forma, porque é um país grande e um dos Brics do mundo. Há muitos elementos da tradição brasileira que contribuíram para essa ordem mundial para a qual precisamos retornar. Eu sou um admiradorbetnacional não pagamuitos dos líderes brasileiros do passado e Fernando Henrique é uma das minhas referências.

Então,betnacional não pagaúltima análise, precisamosbetnacional não pagaordem mundial, precisamosbetnacional não pagauma ordem mundial baseada no conceito fundamentalbetnacional não pagagovernança democrática,betnacional não pagagovernos do povo, pelo povo e para o povo. Precisamosbetnacional não pagainstituições internacionais que ajudem a proteger essa ideia para que possamos ter uma ordem mundial pacífica e bem-sucedida.

betnacional não paga BBC News Brasil - A América Latina passou por muitas crises ao longo dos anos, mas nos últimos cinco anos parece que a situação da democracia na região se complicou, com muitas crises políticasbetnacional não pagapaíses como Chile, Bolívia, Nicarágua, Peru e Venezuela. A que o senhor atribui esse períodobetnacional não pagainstabilidade política?

betnacional não paga Valenzuela - Há uma diferença entre a trajetóriabetnacional não pagadiferentes países da América Latina. Há alguns paísesbetnacional não pagaque não houve a consolidação das instituições democráticas e outros que têm uma longa históriabetnacional não pagaconsolidação das instituições democráticas.

Agora, como eu disse anteriormente, há realmente uma espéciebetnacional não pagacrise universal da democracia. Em alguns países da América Latina, ironicamente, parte disso se deve ao fatobetnacional não pagaque houve muito progresso. E digo isso porque muitas pessoas que observam situação chilena, por exemplo, e pensam que os protestos são motivados por uma enorme desigualdade. Na realidade, havia uma desigualdade muito maiorbetnacional não paga1960, com uma grande uma porcentagem da população na pobreza absoluta, algo como 50% ou 65%. Hoje estábetnacional não pagacercabetnacional não paga8%. O que vimos acontecer é o surgimentobetnacional não paganovas classes médias, que agora se sentem ameaçadas e mais vulneráveis.

Portanto, há razões pelas quais estamos enfrentando uma nova crise. Eu pertenço a várias organizações que analisam pesquisasbetnacional não pagaopiniões voltadas para os mais jovens, e é lamentável, mas muitos jovens sentem que as elites são os partidos convencionais. E isso tem acontecido no Brasil com partidos políticos realmente fortes como PSDB e outros que perderam uma forte basebetnacional não pagaapoio. Há uma crise da social-democraciabetnacional não pagagrande parte do mundo, por essa razão.

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