Os riscos para a saúdetomar 'fórmulas emagrecedoras':
Elas podem causar danos ao fígado, ao rim e outros efeitos colaterais graves. Podem também ter efeitos adversos desconhecidos, já que a composição das fórmulas e misturas varia muito e a interação entre as substâncias pode gerar problemas imprevistos.
Quem precisa fazer tratamento da obesidade pode ter se assustado com as notícias e com o alerta ou acabar acreditando que qualquer tratamento tem os mesmos riscos.
Mas os médicos apontam que existem sim remédios para o tratamentoobesidade que são eficazes, seguros e que podem ser prescritos por médicos a pacientes que precisam perder peso.
"É preciso separar o joio do trigo", diz a endocrinologista e pesquisadora Maria EdnaMelo, médica da da SBEM-SP (Sociedade BrasileiraEndocrinologia e Metabologia Regional São Paulo).
"Existem tratamentos modernos, que foram objetomuitos estudos e pesquisas clínicas, e cuja segurança e eficácia foram comprovados", diz Melo, que também faz parte do GrupoObesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da FaculdadeMedicina da USP.
Um deles, por exemplo, é a liraglutida, que tem poucos efeitos adversos e não tem muitas contraindicações.
Mesmo assim, explica Melo, é um tratamento que precisa ser indicado por um médico e acompanhado por outras mudanças, como uma melhora na alimentação e acompanhamentos do estadosaúde do paciente. Além disso, é um tratamento recente e ainda muito caro.
Por outro lado, acrescenta, "não existe erva, fitoterápico ou suplemento para emagrecer com eficácia e segurança comprovados. Às vezes na pressa, na busca por um milagre, ou porque é mais barato, muitas pessoas procuram essas opções, acham que parece mais saudável, mas acabamsituações que colocamvidarisco".
A médica que havia receitado fórmulas para emagrecer para a cantora Paulinha Abelha emitiu uma nota afirmando que "todos os medicamentos prescritos para a paciente foram dentrotodos os protocolos médicos previstos para o quadro clínico que ela apresentava".
Perigo para o fígado
A gastroenterologista e hepatologista Monica Valverde Viana, diretora da Associação Paulista para Estudos do Fígado, diz que é extremamente comum receber pacientes com danos no fígado causados pelo consumofórmulas e compostos para emagrecer. "Não tem um dia que não chegue alguém com esse problema", diz ela.
"É cada vez mais comum ver pessoas consumindo essas misturas. (Pegam do) personal (trainer) que vendeu a fórmula na academia,farmáciasmanipulação que vendem suas próprias fórmulas e muitas vezes até mesmonutricionistas e médicos nutrólogos", diz Viana.
O principal problema das fórmulas e misturas emagrecedoras, diz ela, é que elas misturam muitas substâncias diferentes que individualmente podem não ser danosas, mas cuja ação conjunta pode ser prejudicial.
"Como as fórmulas variam muito, não tem como ter estudossegurança ou interação medicamentosa", explica.
"É muito comum que as fórmulas prescritas misturem remédios alopáticos com ervas e suplementos. O problema é que as fórmulas acabam tendo absolutamente tudoexcesso, o que pode causar uma hepatite medicamentosa", afirma Viana.
"Elas são prescritasuma quantidade que acaba sendo uma overdose."
A hematologista explica que muitas das substâncias misturadas são metabolizadas no corpo pela mesma enzima. Ingeridas ao mesmo tempo nesses compostos, elas acabam sobrecarregando o fígado — ele precisa produzir mais daquela enzima, não dá conta e acaba intoxicado.
"Se é algo pontual, o corpo até consegue dar conta, o fígado consegue depurar. Mas com o uso crônico, fica mais difícil e gera lesões", afirma Viana.
Há dois tipos muito comunslesões no fígado geradas por substâncias ingeridas: as causadas por remédios (dili — drug induced liver injury,inglês) e as causadas por ervas (hili — herbal induced liver injury). Ambas podem ser graves e até mesmo levar à morte, diz Viana, que indica os recursos online do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) para quem quiser saber mais.
Há ainda uma sérieoutros riscos não associados ao fígado — dependendoquais substâncias estão presentes nas fórmulas emagrecedoras.
"Às vezes há um excessodiuréticos ou suplementos proteicos que podem causar problemas nos rins. [O composto pode dar] gastrite, colite, alergias, gases. Às vezes o paciente chega com uma alergia que ele não sabe nem do que — e tem tanta coisa na fórmula que ele toma que é difícil identificar", afirma Viana.
Além disso, a interação entre as diversas substâncias — quer sejam entre remédios, ervas ou suplementos — e o seu excesso podem gerar outros efeitos adversos difíceisprever.
Alto risco
Viana e Melo afirmam que o fatoque muitas vezes profissionaissaúde prescrevem esse tipofórmula para emagrecer dificulta a conscientização.
Segundo as regras do CRM (Conselho FederalMedicina), os médicos têm a liberdadereceitar fórmulas do tipoacordo comavaliação individual sobre o paciente.
Viana e Melo explicam, no entanto, que o entendimento majoritário nas sociedadesendocrinologia e hepatologia éque os riscos são muito altos. "São muitas substâncias ao mesmo tempo e sem estudos não tem como saber os limites diáriosmetabolização", afirma Viana.
As fórmulas não devem ser prescritas por personal trainers, coaches, farmáciasmanipulação ou tomadas por conta própria, afirmam os especialistas. Mas e no casoindicação por um médico ou nutricionista?
O médico Nelson Vinicius Gonfinetti, endocrinologista do Instituto Castro, explica que qualquer tipotratamento para perdapeso ser feito simultaneamente com o acompanhamento do estadosaúde do paciente — o monitoramento da saúde dos rins, do fígado, do sistema cardiovascular.
Se o médico não estiver fazendo esse acompanhamento ou se não fizer perguntas sobre o históricosaúde do paciente, é um sinal vermelho, diz Viana.
Outros sinais para ficar atento, acrescenta Melo, são promessasemagrecimento rápido, usoimagenspessoas muito magras e musculosas para vender tratamentos e associaçãoum número muito grandesubstâncias.
"Na dúvida, melhor buscar uma segunda opinião (de outro profissional)", diz a endocrinologista e pesquisadora.
O principal, afirmam os médicos, é entender que "não existe fórmula mágica" para a perdapeso.
"Para os tratamentos que são seguros, a gente nem usa o termo emagrecedor, porque dá a ideia para a pessoaque ela vai tomar a automaticamente vai ficar magra, vai secar, e essa ilusão é muito danosa para o paciente", assinala Melo. "Chamamostratamento para a obesidade."
"A obesidade é uma condição, uma doença crônica que pode ser muito estigmatizante, ter um impacto muito grande na saúde mental. E com a pressão muitas vezes as pessoas acabam procurando um atalho, procurando o que parece uma solução mais rápida, mas que acaba sendo perigosa", conclui a médica.
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