Crise leva três gerações da mesma família para as ruasjogo suspenso pixbetSão Paulo:jogo suspenso pixbet

Bonecas, livro, tênis, colher, roupas e outros objetos jogadosjogo suspenso pixbetchão embaixojogo suspenso pixbetviaduto da zona nortejogo suspenso pixbetSP
Legenda da foto, Segundo a prefeitura, 3% da populaçãojogo suspenso pixbetruajogo suspenso pixbetSão Paulo são pessoasjogo suspenso pixbet0 a 17 anosjogo suspenso pixbetidade

Caroline era faxineirajogo suspenso pixbeteventos na zona norte, principalmente no centrojogo suspenso pixbetconvenções do Anhembi, mas a pandemia interrompeu os trabalhos. Já Sulamita, que migrou do Recife há 12 anos, produzia adereços e fantasiasjogo suspenso pixbetuma escolajogo suspenso pixbetsamba, mas ficou sem serviço quando o Carnaval foi cancelado.

"A gente vivejogo suspenso pixbetpegar marmita e pedir no farol. Todo dia um pessoal vem aqui e doa comida", explica Sulamita, que ajuda a cuidar das netas pequenas e espera o partojogo suspenso pixbetseu terceiro filho para 8jogo suspenso pixbetfevereiro. Ela tem feito acompanhamento médicojogo suspenso pixbetuma Unidade Básicajogo suspenso pixbetSaúde (UBS) da região e, quando o bebê nascer, pretende morar por uns tempos na casajogo suspenso pixbetum parente que prometeu ajuda. A filha e as netas, porém, devem continuar na rua.

A família recebe R$ 400 do Auxílio Brasil, programa do governo Jair Bolsonaro (PL) que substituiu o Bolsa Família, mas o valor não dá contajogo suspenso pixbetsanar as necessidades do cotidiano, ainda mais com duas crianças pequenas e uma mulher grávida. "Onde a gente consegue morar com R$ 400jogo suspenso pixbetSão Paulo? A gente gasta quase tudojogo suspenso pixbetleite e fraldas. Um quilojogo suspenso pixbetcarne está R$ 40. O gás custa R$ 100", diz Sulamita.

A situação da família retrata a crise econômica sob o governo Bolsonaro e agravada pela pandemia: aumentojogo suspenso pixbetdesemprego e da inflação, milharesjogo suspenso pixbetdespejos e crescimento da fome. O país soma 12,9 milhõesjogo suspenso pixbetdesempregados, e o preço dos alimentos acumula altajogo suspenso pixbetmaisjogo suspenso pixbet14,66% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.

Caroline Silveira ejogo suspenso pixbetfilha mais nova, no colo,jogo suspenso pixbetmeio a carros
Legenda da foto, Caroline Silveira ejogo suspenso pixbetfilha mais nova,jogo suspenso pixbet1 ano e 9 meses, vivem embaixo do viaduto do metrô na zona nortejogo suspenso pixbetSP

Embora existam decisões judiciais impedindo a remoção forçadajogo suspenso pixbetfamílias na pandemia, os despejos também cresceram nos dois últimos anos. De agostojogo suspenso pixbet2020 até novembro do ano passado, 23,5 mil famílias foram despejadas no Brasil, segundo um levantamento da campanha Despejo Zero, lançada por organizações e movimentos sociais. O país somava 123,2 mil famílias ameaçadasjogo suspenso pixbetretirada forçadajogo suspenso pixbetseus domicíliosjogo suspenso pixbetoutubro do ano passado, um crescimentojogo suspenso pixbet32%jogo suspenso pixbetrelação ao levantamento anterior,jogo suspenso pixbetagosto.

"Se você não tem endereço fixo, dificilmente alguém te dá um emprego", diz Caroline, que passa parte do dia "mangueando" para conseguir alimentar as filhas. "Meu sonho mesmo é ter uma casa, um lugar para ficar. Deixar as meninas na creche e procurar um emprego..."

Suas duas filhas foram inscritasjogo suspenso pixbetuma creche da região há poucas semanas, diz, mas a família ainda aguarda ser chamada pela prefeitura. Jájogo suspenso pixbetmãe, Sulamita, sonha com um futuro melhor para o bebê que vai nascerjogo suspenso pixbetpoucos dias. "Minhas netas já se acostumaram à rua. Não vai acontecer com meu filho também. Só quero um lugar para ficar, ninguém merece a rua", diz.

'A rua é sem futuro'

Nas proximidades da rodoviária do Tietê, a reportagem encontrou dezenasjogo suspenso pixbetpessoasjogo suspenso pixbetsituação parecida: despejadas, sem emprego e renda fixa, vivemjogo suspenso pixbetbarracasjogo suspenso pixbetcanteiros e praças. Pararam ali por causa do fluxo intensojogo suspenso pixbetpessoas que entram e saem da rodoviária, oportunidadejogo suspenso pixbetconseguir mais doações.

Boa parte fica embaixo do elevado por onde passa a linha 3-azul do metrô,jogo suspenso pixbetfrente à entrada principal do terminal rodoviário. As grandes pilastras desse viaduto, pintadas com grafites, já fizeram partejogo suspenso pixbetum projeto do poder público ejogo suspenso pixbetartistasjogo suspenso pixbettransformar a áreajogo suspenso pixbetuma espéciejogo suspenso pixbetmuseu da artejogo suspenso pixbetrua paulistana. Porém, hoje as obras estão sujas e degradadas, além do mato e lixo acumulado. Quem vive por ali precisa conviver com grandes goteiras e poças d'água que se formam quando chove forte.

Uma dessas famílias é ajogo suspenso pixbetTatiane dos Santos, 37, e Marcio Freire, 42. O casal tem um filhojogo suspenso pixbetum ano e oito meses, que vive com elesjogo suspenso pixbetuma pequena barraca.

Eles sãojogo suspenso pixbetFrancisco Morato, cidade da Grande São Paulo. Lá, pagavam R$ 600jogo suspenso pixbetaluguel até serem despejados. Sem serviço, migraram para as ruas da zona norte há quatro meses.

"Em Francisco Morato a gente podia passar fome, sem dinheiro. Lá quase não tem assistência, ninguém ajuda. Aqui sempre tem alguém pra doar uma marmita, um alimento", diz Tatiane, que já foi cozinheira e vendedora. Com o filho pequeno e sem endereço fixo, está desempregada há quase dois anos. Recebe R$ 400 do Auxílio Brasil, mas o valor é consumido com as despesas básicas do filho, como fraudas e leite.

Seu companheiro, Marcio, não consegue serviço fixo como vigilante há maisjogo suspenso pixbetum ano -jogo suspenso pixbetvezjogo suspenso pixbetquando consegue pequenos bicos nas ruas. "A rua é sem futuro, mas é o que tem pra gente. Sempre ouvi que as pessoas que moravam na rua eram 'vagabundas', drogados. Hoje são famílias inteiras, crianças, bebês", diz ele.

O casal afirma ter dificuldade para conseguir uma vagajogo suspenso pixbetcentrosjogo suspenso pixbetacolhida da prefeitura. "Nunca tem vaga pra mulheres e crianças", diz Tatiane.

A poucos metros dali, na avenida Zaki Narchi, há um abrigo municipal, mas o espaço só recebe homens. A reportagem tentou visitar o local na tarde do dia 13/1, mas funcionáriosjogo suspenso pixbetuma empresa terceirizada que administra o ponto impediram a entrada, alegando ser necessária autorização prévia da prefeitura.

Acolhimento

3 barracasjogo suspenso pixbetfrente a uma pilastrajogo suspenso pixbetviaduto
Legenda da foto, Cercajogo suspenso pixbet31 mil pessoas vivem nas ruasjogo suspenso pixbetSão Paulo, segundo censo da prefeitura

O acolhimento falho a famílias desabrigadas é um dos atuais gargalos da políticajogo suspenso pixbetassistência à populaçãojogo suspenso pixbetsituaçãojogo suspenso pixbetruajogo suspenso pixbetSão Paulo, segundo Renata Bichir, professora da USP e pesquisadora do Centrojogo suspenso pixbetEstudos da Metrópole (CEM).

"Existem pouquíssimas opçõesjogo suspenso pixbetabrigo para famílias e mulheres com filhos. Muitas vezes, as mulheres precisam sair para procurar emprego, mas não têm com quem deixar as crianças, porque alguns abrigos não permitem que elas fiquem. Acabam deixando com colegas,jogo suspenso pixbetuma relação informal", diz.

Para Bichir, o poder público não acompanhou a recente mudançajogo suspenso pixbetperfil dessa população. "Os equipamentos sempre foram voltados para homens, mas muitas mulheres e famílias foram viver na rua recentemente, e o serviço não melhorou", explica. "Era muito difícil encontrar crianças nas ruasjogo suspenso pixbetSão Paulo. Mas com a crise econômica, a alta da inflação e o desemprego entramosjogo suspenso pixbetnovo nesse buraco", diz.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) informou que a cidade tem 18 centrosjogo suspenso pixbetacolhida exclusivos para mulheres, totalizando 986 vagas - 50 delas para gestantes, mães e bebês. Já para homens existem 11.692 vagas - outras 1.569 não têm predefiniçãojogo suspenso pixbetgênero e são destinadas às famílias que necessitamjogo suspenso pixbetacolhimento, diz a prefeitura.

Também afirma que todos os dias agentes abordam adultos, crianças e adolescentesjogo suspenso pixbetsituaçãojogo suspenso pixbetvulnerabilidade social na região da rodoviária, "oferecendo apoio e encaminhamento para os centrosjogo suspenso pixbetacolhidas, inclusive, orientando-os com relação a inscriçõesjogo suspenso pixbetprogramasjogo suspenso pixbetassistência".

Malas abandonadas embaixojogo suspenso pixbetviaduto
Legenda da foto, Pessoas vindasjogo suspenso pixbetoutros estados também ocupam a região da rodoviária do Tietê

O problema é que, na prática, muita gente prefere não recorrer aos abrigos por uma sériejogo suspenso pixbetproblemas, como estrutura ruim, dificuldadejogo suspenso pixbetencontrar vagas, regras restritivas e baseadasjogo suspenso pixbetpadrões moraisjogo suspenso pixbetcomportamento e, no caso das mulheres, receiojogo suspenso pixbetperder a guarda dos filhos caso o contato com municipalidade inicie algum processo judicial nesse sentido.

Essa é a avaliação Juliana Rocha, mestrejogo suspenso pixbetadministração pública e governo pela FGV e pesquisadora do Núcleojogo suspenso pixbetEstudos da Burocracia (NEB), que participajogo suspenso pixbetpesquisasjogo suspenso pixbetcampo com mulheresjogo suspenso pixbetsituaçãojogo suspenso pixbetrua.

"Alguns espaços permitem que as mulheres fiquem no local durante o dia. Jájogo suspenso pixbetoutros ela precisa ficar fora e só voltar no fim da tarde. Além disso, as mulheres são cobradas para ter uma super postura maternajogo suspenso pixbettrabalho e estudo ao mesmo tempojogo suspenso pixbetque são julgadas negativamente quando existe algum problema, quando deixam o filho com alguém para procurar emprego, ou quando arrumam namorado", diz.

Para ela, a situaçãojogo suspenso pixbetrua é ainda mais dramática para as mulheres e crianças, que ficam mais expostas à violência. "A Constituição tem esse compromissojogo suspenso pixbetproteger a criança, porque ela estájogo suspenso pixbetdesenvolvimento e é vulnerável. Nas ruas, elas estão expostas à violência, ao trabalho infantil, às vezes sem a oportunidadejogo suspenso pixbetestudar e experimentar a vida com a proteção social que toda criança merece", diz.

Censo

Grafitejogo suspenso pixbetuma criança amarradajogo suspenso pixbetpilastra do viaduto
Legenda da foto, Prefeitura tentou transformar o espaçojogo suspenso pixbetum museu da arte urbana, mas obras ficaram degradadas

Nesta semana, a prefeitura lançou um censo da populaçãojogo suspenso pixbetrua da cidade. Em 2021, havia 31.884 pessoas vivendo nas vias públicas, altajogo suspenso pixbet31%jogo suspenso pixbetcomparação com 2019. Segundo a pesquisa, 16,6% eram mulheres - 83,4%, homens. Em 2019, a porcentagemjogo suspenso pixbetmulheres era menor, 15%. Já o recortejogo suspenso pixbetraça aponta que, no ano passado, 70,8% da populaçãojogo suspenso pixbetrua era formada por negros (pardos e pretos), e 25,8% por brancos.

O censo aponta, ainda, que 3,1% das pessoas tinham entre 0 e 17 anos. A faixa etária entre 31 e 49 anos representava 49,4%; outros 18,5% tinham entre 18 e 30 anos. Já 28% estavam na rua há menosjogo suspenso pixbetdois anos; 28,7%, há maisjogo suspenso pixbetdois anos, e 26% há maisjogo suspenso pixbet5 anos.

As redondezas da rodoviária explicam um pouco esse aumentojogo suspenso pixbetcontingente na pandemia. Há dois anos eram raras as barracas na região. Hoje, o local é uma espéciejogo suspenso pixbetponto inicialjogo suspenso pixbetum corredor ocupado por essa moradia precária: ele sai da Cruzeiro do Sul, passa pelas avenidas Santos Dumont e Tiradentes e pela região da cracolândia, chegando ao centro da cidade, onde é difícil circular sem encontrar pessoas nessa condição.

"É importante saber o perfil dessa população para direcionar as políticas públicas adequadas para cada grupo. Há uma série demandas e polícias que poderiam mitigar esse problema complexo, como moradia, segurança alimentar e saúde mental", diz Bichir.

São múltiplos os fatores que levam as pessoas às ruas. O levantamento anterior da prefeitura apontou que 41% dos entrevistados culparam "conflitos familiares" como motivo principal. Outros 26% falaramjogo suspenso pixbet"perdajogo suspenso pixbettrabalho". Dependênciajogo suspenso pixbetdrogas ilícitas e álcool somavam 33%. Perdajogo suspenso pixbetmoradia, 13%.

O próprio serviçojogo suspenso pixbetacolhimento foi bastante criticado pelos usuários. Embora 59,5% dos entrevistados tenham dito que os abrigos são "bons ou ótimos", 20% disseram já terem sido vítimasjogo suspenso pixbetdiscriminação por partejogo suspenso pixbetalgum funcionário, 30% já ficaram sem receber alimentação e 34% relataram ter dormidojogo suspenso pixbetcolchões sujos ou com insetos.

Em nota, a prefeitura afirma que, "preocupada com o agravamento da crise trazido pela pandemia", adiantou o censo da populaçãojogo suspenso pixbetrua para o início deste ano - ele estava previsto para 2023. "A iniciativa se deu justamente pela percepçãojogo suspenso pixbetque havia necessidadejogo suspenso pixbetatualizações", diz a gestão.

Migrantes

A região da rodoviária também é ocupada por migrantesjogo suspenso pixbetoutros estados que estão tentando a sortejogo suspenso pixbetSão Paulo. Sem parentes ou conhecidos na cidade e, principalmente sem oportunidadesjogo suspenso pixbetemprego, acabaram embaixojogo suspenso pixbetalguma barraca.

É o casojogo suspenso pixbetCaio Marinho, 21, que saiujogo suspenso pixbetCeilândia, no Distrito Federal, para procurar trabalho na capital paulista. Chegou no finaljogo suspenso pixbetdezembro, mas até semana retrasada só conseguiu um bico esporádicojogo suspenso pixbetuma lanchonete. Sem dinheiro para alugar um espaço, montou uma barracajogo suspenso pixbetfrente à rodoviária, onde estava vivendojogo suspenso pixbetmeio a dezenasjogo suspenso pixbetciganos que também ocupam a área.

"Fico aqui porque é mais seguro, bem policiado. Passa muita gente e não corro risco, e sempre tem auxílio. De fome ninguém morre", diz. Desempregado há um ano e meio, sonhou que a "cidade das oportunidades" resolveria o problema. "Vim só com a mochila e as roupas. Em São Paulo, se você correr atrás, consegue emprego, sim. Tenho certeza que vai dar certo", diz, dentro da barraca.

Na mesma situação está José Gonçalves Neto, 51, que improvisou um pequeno barracojogo suspenso pixbetplásticojogo suspenso pixbetuma praça a poucos metros da rodoviária. De Divinópolis (MG), chegou a São Paulo há pouco maisjogo suspenso pixbetum ano. Até conseguiu um empregojogo suspenso pixbetcaseirojogo suspenso pixbetCotia (Grande SP), mas perdeu o serviço no iníciojogo suspenso pixbetdezembro.

"Eu tinha R$ 200 no bolso. Vim para a rodoviária para voltar para Minas, mas perdi o ônibus. Fui para a rua e acabei sendo roubado e agredido. Perdi até os documentos", conta. Partejogo suspenso pixbetsua família, que ainda vivejogo suspenso pixbetMinas, não sabe da situação. Sua ex-companheira e a filha,jogo suspenso pixbettrês anos, ficaramjogo suspenso pixbetCotia. "Eu desistijogo suspenso pixbetvoltar para Minas. Tudo o que quero é arrumar um emprego e alugar um quartinho para mim. Depois procurar minha filhajogo suspenso pixbetnovo...", diz, enquanto espera o semáforo fechar.

Durante o dia, José pede comida e emprego entre os carros que param no farol. Carrega sempre uma placa: "Procuro trabalho. Demitidojogo suspenso pixbet10/12/21. Caseiro/Manutenção Geral. Tenho referência. Aceito ajuda! Deus abençoe".

José Gonçalves Neto segurando placa pedindo ajuda entre carros
Legenda da foto, José Gonçalves Neto perdeu o emprego e foi morar na ruajogo suspenso pixbetdezembro
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