Crise leva três gerações da mesma família para as ruasbanca betesporteSão Paulo:banca betesporte
Caroline era faxineirabanca betesporteeventos na zona norte, principalmente no centrobanca betesporteconvenções do Anhembi, mas a pandemia interrompeu os trabalhos. Já Sulamita, que migrou do Recife há 12 anos, produzia adereços e fantasiasbanca betesporteuma escolabanca betesportesamba, mas ficou sem serviço quando o Carnaval foi cancelado.
"A gente vivebanca betesportepegar marmita e pedir no farol. Todo dia um pessoal vem aqui e doa comida", explica Sulamita, que ajuda a cuidar das netas pequenas e espera o partobanca betesporteseu terceiro filho para 8banca betesportefevereiro. Ela tem feito acompanhamento médicobanca betesporteuma Unidade Básicabanca betesporteSaúde (UBS) da região e, quando o bebê nascer, pretende morar por uns tempos na casabanca betesporteum parente que prometeu ajuda. A filha e as netas, porém, devem continuar na rua.
A família recebe R$ 400 do Auxílio Brasil, programa do governo Jair Bolsonaro (PL) que substituiu o Bolsa Família, mas o valor não dá contabanca betesportesanar as necessidades do cotidiano, ainda mais com duas crianças pequenas e uma mulher grávida. "Onde a gente consegue morar com R$ 400banca betesporteSão Paulo? A gente gasta quase tudobanca betesporteleite e fraldas. Um quilobanca betesportecarne está R$ 40. O gás custa R$ 100", diz Sulamita.
A situação da família retrata a crise econômica sob o governo Bolsonaro e agravada pela pandemia: aumentobanca betesportedesemprego e da inflação, milharesbanca betesportedespejos e crescimento da fome. O país soma 12,9 milhõesbanca betesportedesempregados, e o preço dos alimentos acumula altabanca betesportemaisbanca betesporte14,66% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.
Embora existam decisões judiciais impedindo a remoção forçadabanca betesportefamílias na pandemia, os despejos também cresceram nos dois últimos anos. De agostobanca betesporte2020 até novembro do ano passado, 23,5 mil famílias foram despejadas no Brasil, segundo um levantamento da campanha Despejo Zero, lançada por organizações e movimentos sociais. O país somava 123,2 mil famílias ameaçadasbanca betesporteretirada forçadabanca betesporteseus domicíliosbanca betesporteoutubro do ano passado, um crescimentobanca betesporte32%banca betesporterelação ao levantamento anterior,banca betesporteagosto.
"Se você não tem endereço fixo, dificilmente alguém te dá um emprego", diz Caroline, que passa parte do dia "mangueando" para conseguir alimentar as filhas. "Meu sonho mesmo é ter uma casa, um lugar para ficar. Deixar as meninas na creche e procurar um emprego..."
Suas duas filhas foram inscritasbanca betesporteuma creche da região há poucas semanas, diz, mas a família ainda aguarda ser chamada pela prefeitura. Jábanca betesportemãe, Sulamita, sonha com um futuro melhor para o bebê que vai nascerbanca betesportepoucos dias. "Minhas netas já se acostumaram à rua. Não vai acontecer com meu filho também. Só quero um lugar para ficar, ninguém merece a rua", diz.
'A rua é sem futuro'
Nas proximidades da rodoviária do Tietê, a reportagem encontrou dezenasbanca betesportepessoasbanca betesportesituação parecida: despejadas, sem emprego e renda fixa, vivembanca betesportebarracasbanca betesportecanteiros e praças. Pararam ali por causa do fluxo intensobanca betesportepessoas que entram e saem da rodoviária, oportunidadebanca betesporteconseguir mais doações.
Boa parte fica embaixo do elevado por onde passa a linha 3-azul do metrô,banca betesportefrente à entrada principal do terminal rodoviário. As grandes pilastras desse viaduto, pintadas com grafites, já fizeram partebanca betesporteum projeto do poder público ebanca betesporteartistasbanca betesportetransformar a áreabanca betesporteuma espéciebanca betesportemuseu da artebanca betesporterua paulistana. Porém, hoje as obras estão sujas e degradadas, além do mato e lixo acumulado. Quem vive por ali precisa conviver com grandes goteiras e poças d'água que se formam quando chove forte.
Uma dessas famílias é abanca betesporteTatiane dos Santos, 37, e Marcio Freire, 42. O casal tem um filhobanca betesporteum ano e oito meses, que vive com elesbanca betesporteuma pequena barraca.
Eles sãobanca betesporteFrancisco Morato, cidade da Grande São Paulo. Lá, pagavam R$ 600banca betesportealuguel até serem despejados. Sem serviço, migraram para as ruas da zona norte há quatro meses.
"Em Francisco Morato a gente podia passar fome, sem dinheiro. Lá quase não tem assistência, ninguém ajuda. Aqui sempre tem alguém pra doar uma marmita, um alimento", diz Tatiane, que já foi cozinheira e vendedora. Com o filho pequeno e sem endereço fixo, está desempregada há quase dois anos. Recebe R$ 400 do Auxílio Brasil, mas o valor é consumido com as despesas básicas do filho, como fraudas e leite.
Seu companheiro, Marcio, não consegue serviço fixo como vigilante há maisbanca betesporteum ano -banca betesportevezbanca betesportequando consegue pequenos bicos nas ruas. "A rua é sem futuro, mas é o que tem pra gente. Sempre ouvi que as pessoas que moravam na rua eram 'vagabundas', drogados. Hoje são famílias inteiras, crianças, bebês", diz ele.
O casal afirma ter dificuldade para conseguir uma vagabanca betesportecentrosbanca betesporteacolhida da prefeitura. "Nunca tem vaga pra mulheres e crianças", diz Tatiane.
A poucos metros dali, na avenida Zaki Narchi, há um abrigo municipal, mas o espaço só recebe homens. A reportagem tentou visitar o local na tarde do dia 13/1, mas funcionáriosbanca betesporteuma empresa terceirizada que administra o ponto impediram a entrada, alegando ser necessária autorização prévia da prefeitura.
Acolhimento
O acolhimento falho a famílias desabrigadas é um dos atuais gargalos da políticabanca betesporteassistência à populaçãobanca betesportesituaçãobanca betesporteruabanca betesporteSão Paulo, segundo Renata Bichir, professora da USP e pesquisadora do Centrobanca betesporteEstudos da Metrópole (CEM).
"Existem pouquíssimas opçõesbanca betesporteabrigo para famílias e mulheres com filhos. Muitas vezes, as mulheres precisam sair para procurar emprego, mas não têm com quem deixar as crianças, porque alguns abrigos não permitem que elas fiquem. Acabam deixando com colegas,banca betesporteuma relação informal", diz.
Para Bichir, o poder público não acompanhou a recente mudançabanca betesporteperfil dessa população. "Os equipamentos sempre foram voltados para homens, mas muitas mulheres e famílias foram viver na rua recentemente, e o serviço não melhorou", explica. "Era muito difícil encontrar crianças nas ruasbanca betesporteSão Paulo. Mas com a crise econômica, a alta da inflação e o desemprego entramosbanca betesportenovo nesse buraco", diz.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) informou que a cidade tem 18 centrosbanca betesporteacolhida exclusivos para mulheres, totalizando 986 vagas - 50 delas para gestantes, mães e bebês. Já para homens existem 11.692 vagas - outras 1.569 não têm predefiniçãobanca betesportegênero e são destinadas às famílias que necessitambanca betesporteacolhimento, diz a prefeitura.
Também afirma que todos os dias agentes abordam adultos, crianças e adolescentesbanca betesportesituaçãobanca betesportevulnerabilidade social na região da rodoviária, "oferecendo apoio e encaminhamento para os centrosbanca betesporteacolhidas, inclusive, orientando-os com relação a inscriçõesbanca betesporteprogramasbanca betesporteassistência".
O problema é que, na prática, muita gente prefere não recorrer aos abrigos por uma sériebanca betesporteproblemas, como estrutura ruim, dificuldadebanca betesporteencontrar vagas, regras restritivas e baseadasbanca betesportepadrões moraisbanca betesportecomportamento e, no caso das mulheres, receiobanca betesporteperder a guarda dos filhos caso o contato com municipalidade inicie algum processo judicial nesse sentido.
Essa é a avaliação Juliana Rocha, mestrebanca betesporteadministração pública e governo pela FGV e pesquisadora do Núcleobanca betesporteEstudos da Burocracia (NEB), que participabanca betesportepesquisasbanca betesportecampo com mulheresbanca betesportesituaçãobanca betesporterua.
"Alguns espaços permitem que as mulheres fiquem no local durante o dia. Jábanca betesporteoutros ela precisa ficar fora e só voltar no fim da tarde. Além disso, as mulheres são cobradas para ter uma super postura maternabanca betesportetrabalho e estudo ao mesmo tempobanca betesporteque são julgadas negativamente quando existe algum problema, quando deixam o filho com alguém para procurar emprego, ou quando arrumam namorado", diz.
Para ela, a situaçãobanca betesporterua é ainda mais dramática para as mulheres e crianças, que ficam mais expostas à violência. "A Constituição tem esse compromissobanca betesporteproteger a criança, porque ela estábanca betesportedesenvolvimento e é vulnerável. Nas ruas, elas estão expostas à violência, ao trabalho infantil, às vezes sem a oportunidadebanca betesporteestudar e experimentar a vida com a proteção social que toda criança merece", diz.
Censo
Nesta semana, a prefeitura lançou um censo da populaçãobanca betesporterua da cidade. Em 2021, havia 31.884 pessoas vivendo nas vias públicas, altabanca betesporte31%banca betesportecomparação com 2019. Segundo a pesquisa, 16,6% eram mulheres - 83,4%, homens. Em 2019, a porcentagembanca betesportemulheres era menor, 15%. Já o recortebanca betesporteraça aponta que, no ano passado, 70,8% da populaçãobanca betesporterua era formada por negros (pardos e pretos), e 25,8% por brancos.
O censo aponta, ainda, que 3,1% das pessoas tinham entre 0 e 17 anos. A faixa etária entre 31 e 49 anos representava 49,4%; outros 18,5% tinham entre 18 e 30 anos. Já 28% estavam na rua há menosbanca betesportedois anos; 28,7%, há maisbanca betesportedois anos, e 26% há maisbanca betesporte5 anos.
As redondezas da rodoviária explicam um pouco esse aumentobanca betesportecontingente na pandemia. Há dois anos eram raras as barracas na região. Hoje, o local é uma espéciebanca betesporteponto inicialbanca betesporteum corredor ocupado por essa moradia precária: ele sai da Cruzeiro do Sul, passa pelas avenidas Santos Dumont e Tiradentes e pela região da cracolândia, chegando ao centro da cidade, onde é difícil circular sem encontrar pessoas nessa condição.
"É importante saber o perfil dessa população para direcionar as políticas públicas adequadas para cada grupo. Há uma série demandas e polícias que poderiam mitigar esse problema complexo, como moradia, segurança alimentar e saúde mental", diz Bichir.
São múltiplos os fatores que levam as pessoas às ruas. O levantamento anterior da prefeitura apontou que 41% dos entrevistados culparam "conflitos familiares" como motivo principal. Outros 26% falarambanca betesporte"perdabanca betesportetrabalho". Dependênciabanca betesportedrogas ilícitas e álcool somavam 33%. Perdabanca betesportemoradia, 13%.
O próprio serviçobanca betesporteacolhimento foi bastante criticado pelos usuários. Embora 59,5% dos entrevistados tenham dito que os abrigos são "bons ou ótimos", 20% disseram já terem sido vítimasbanca betesportediscriminação por partebanca betesportealgum funcionário, 30% já ficaram sem receber alimentação e 34% relataram ter dormidobanca betesportecolchões sujos ou com insetos.
Em nota, a prefeitura afirma que, "preocupada com o agravamento da crise trazido pela pandemia", adiantou o censo da populaçãobanca betesporterua para o início deste ano - ele estava previsto para 2023. "A iniciativa se deu justamente pela percepçãobanca betesporteque havia necessidadebanca betesporteatualizações", diz a gestão.
Migrantes
A região da rodoviária também é ocupada por migrantesbanca betesporteoutros estados que estão tentando a sortebanca betesporteSão Paulo. Sem parentes ou conhecidos na cidade e, principalmente sem oportunidadesbanca betesporteemprego, acabaram embaixobanca betesportealguma barraca.
É o casobanca betesporteCaio Marinho, 21, que saiubanca betesporteCeilândia, no Distrito Federal, para procurar trabalho na capital paulista. Chegou no finalbanca betesportedezembro, mas até semana retrasada só conseguiu um bico esporádicobanca betesporteuma lanchonete. Sem dinheiro para alugar um espaço, montou uma barracabanca betesportefrente à rodoviária, onde estava vivendobanca betesportemeio a dezenasbanca betesporteciganos que também ocupam a área.
"Fico aqui porque é mais seguro, bem policiado. Passa muita gente e não corro risco, e sempre tem auxílio. De fome ninguém morre", diz. Desempregado há um ano e meio, sonhou que a "cidade das oportunidades" resolveria o problema. "Vim só com a mochila e as roupas. Em São Paulo, se você correr atrás, consegue emprego, sim. Tenho certeza que vai dar certo", diz, dentro da barraca.
Na mesma situação está José Gonçalves Neto, 51, que improvisou um pequeno barracobanca betesporteplásticobanca betesporteuma praça a poucos metros da rodoviária. De Divinópolis (MG), chegou a São Paulo há pouco maisbanca betesporteum ano. Até conseguiu um empregobanca betesportecaseirobanca betesporteCotia (Grande SP), mas perdeu o serviço no iníciobanca betesportedezembro.
"Eu tinha R$ 200 no bolso. Vim para a rodoviária para voltar para Minas, mas perdi o ônibus. Fui para a rua e acabei sendo roubado e agredido. Perdi até os documentos", conta. Partebanca betesportesua família, que ainda vivebanca betesporteMinas, não sabe da situação. Sua ex-companheira e a filha,banca betesportetrês anos, ficarambanca betesporteCotia. "Eu desistibanca betesportevoltar para Minas. Tudo o que quero é arrumar um emprego e alugar um quartinho para mim. Depois procurar minha filhabanca betesportenovo...", diz, enquanto espera o semáforo fechar.
Durante o dia, José pede comida e emprego entre os carros que param no farol. Carrega sempre uma placa: "Procuro trabalho. Demitidobanca betesporte10/12/21. Caseiro/Manutenção Geral. Tenho referência. Aceito ajuda! Deus abençoe".
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