'Me disseram que eu tinha morrido': as histórias da primeira vacinada contra covid no Brasil:maquininha caça niquel

Monica Calazans, primeira pessoa a ser vacinada com a CoronaVac fora dos testes clínicos

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A enfermeira Mônica Calazans não sabia que seria a primeira brasileira vacinada contra a covid

"Era minha diretora. Ela comentou que a vacinação contra a covid-19 poderia começar logo", lembra.

Naquele mesmo domingo, a Agência Nacionalmaquininha caça niquelVigilância Sanitária, a Anvisa, estava fazendo uma reunião para decidir se os imunizantes CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e Oxford/Covishield (AstraZeneca/FioCruz) receberiam (ou não) autorização para serem aplicados no Brasil.

A reunião, que contou com a presença dos principais diretores da agência, foi transmitida ao vivo pelas redes sociais e por alguns canaismaquininha caça niqueltelevisão.

Se aprovadas, essas seriam as primeiras vacinas contra a covid-19 a ficarem disponíveis no país. Até aquele momento, a doença já havia matado 210 mil brasileiros.

Logo depoismaquininha caça niquelfalar com a diretora, Calazans desceu até o Centromaquininha caça niquelConvenções Rebouças, que fica bem próximo do Emílio Ribas. Ali seria local onde as primeiras dosesmaquininha caça niquelCoronaVac seriam aplicadas nos profissionaismaquininha caça niquelsaúde.

Por volta das 15 horas, saiu o resultado: a Anvisa tinha aprovado as vacinas.

"Eu estava sentada no auditório do centromaquininha caça niquelconvenções quando vi uma foto minha numa reportagem com a manchete: 'Enfermeira Mônica Calazans,maquininha caça niquel54 anos, é a primeira vacinada contra a covid no Brasil'", relata.

"De repente, comecei a ouvir: 'Cadê a Mônica? Cadê a Mônica?", continua.

A enfermeira garante que não tinha a menor ideiamaquininha caça niquelque seria a primeira brasileira vacinada contra a covid-19.

"Você acha mesmo que, se eu soubesse que apareceriamaquininha caça niquelrede nacional e internacional, não iria me produzir um pouquinho mais, passar um batom, retocar a maquiagem e trocarmaquininha caça niquelroupa?", brinca.

Assim que recebeu a vacina no braço, Calazans diz que sentiu-se aliviada e vitoriosa.

"Naquele momento, eu entendi que era dado o pontapé inicial para controlar uma doença tão terrível e avassaladora. Finalmente tínhamos uma solução para proteger as pessoas", entende.

"Eu ergui e cerrei meu punho porque senti que era um momentomaquininha caça niquelvitória", complementa.

Monica Calazans ergueu o punho depoismaquininha caça niquelreceber a primeira dosemaquininha caça niquelvacina

Crédito, Governo do Estadomaquininha caça niquelSão Paulo

Legenda da foto, Logo após receber a primeira dose, Calazans diz que sentiu-se aliviada e vitoriosa

Passado um ano desde aquele dia, a profissional da saúde entende que a escolha dela como a primeira brasileira a receber o imunizante foi cercadamaquininha caça niquelsignificados.

"Eu sou mulher, mãe solo, negra, enfermeira e trabalho no SUS [Sistema Únicomaquininha caça niquelSaúde] desde 1985. De certa maneira, eu represento a força, o engajamento e o comprometimentomaquininha caça niquelmuita gente", avalia.

O dia seguinte

Calazans confessa que não conseguiu trabalhar no dia 18maquininha caça niqueljaneiromaquininha caça niquel2021.

"Das 6 horas da manhã até às 9h da noite eu dei entrevistas. Todo mundo queria saber como era a minha rotina", conta.

"E, pra ser sincera, minha vida só mudou no aspecto da visibilidade. Eu continuo trabalhandomaquininha caça niqueldois empregos, cuido da minha casa, pego transporte público, faço a janta…"

Mesmo que a rotina dela tenha sido pouco alterada nesses 12 meses após se tornar a primeira vacinada do Brasil, o anomaquininha caça niquel2022 promete mudanças: no dia 5maquininha caça niqueljaneiro, o portal G1 noticiou que a enfermeira se filiou ao partido MDB e é pré-candidata a deputada federal nas próximas eleições, marcadas para outubro.

Questionada pela BBC News Brasil sobre os projetos na política, Calazans não quis dar muitos detalhes. Ela comentou apenas que "em breve, terá informações".

Voltando ao dia 17 e 18maquininha caça niqueljaneiromaquininha caça niquel2021, a enfermeira acha que esse interesse da imprensa e da populaçãomaquininha caça niquelsaber mais sobre ela também tem a ver com uma curiosidade natural sobre os efeitos da vacina.

"Existia uma preocupação muito grande das pessoas se poderia acontecer alguma reação adversa ou se eu estava me sentindo mal", diz.

Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, faz as considerações finais na reunião que marcou a aprovação das vacinas CoronaVac e da AstraZeneca no país

Crédito, Divulgação/TV Brasil

Legenda da foto, Na imagem, o médico Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, faz as considerações finais na reunião do dia 17maquininha caça niqueljaneiromaquininha caça niquel2021, que marcou a aprovação das vacinas CoronaVac e da AstraZeneca no país

Foi justamente nesse momento que começaram a surgir as notícias falsas sobre o estadomaquininha caça niquelsaúde delamaquininha caça niquelaplicativosmaquininha caça niquelmensagens e redes sociais.

"Disseram pra mim mesma que eu tinha morrido após a vacina", conta.

"Até comentei com a minha mãe que estava com medomaquininha caça niquelandar na rua e o povo me dar paulada, achando que era um fantasma", se recorda.

Desse período, Calazans lembramaquininha caça niqueluma história específica que envolveu um motoristamaquininha caça niquelaplicativo.

"Eu estavamaquininha caça niquelmáscara e vestidamaquininha caça niquelbranco, com a roupa do trabalho. O motorista percebeu que sou profissional da saúde e comentou: 'Sabe aquela mulher que tomou a vacina contra a covid? Coitada, ela está muito ruim, internada no hospital e tudo. Por que ela foi fazer isso? Não deveria ter tomado'", relata.

A enfermeira conta que ficou só escutando toda a história até chegar ao destino. "Quando fui sair do carro, tirei rapidamente a máscara e falei: 'Sabe a primeira mulher vacinada que você diz estar mal? Sou eu mesma!", relata.

"Ele congelou, não sabia como reagir", completa.

Calazans sabe que o maior reconhecimento e a promoção como figura pública também trouxeram muitas responsabilidades.

"Desde aquele dia, tenho que tomar muito cuidado com o que digo e com o que posto nas redes sociais. Tenho que levar informação e conscientizar as pessoas sobre a importância da vacinação para salvar vidas", destaca.

A tormenta e a calmaria

Logo após o início da vacinação contra a covidmaquininha caça niqueljaneiromaquininha caça niquel2021, o Brasil viveu o seu pior momento da pandemia até agora.

Entre os mesesmaquininha caça niquelfevereiro e junho, o país bateu recordesmaquininha caça niquelcasos e óbitos e testemunhou o colapso do sistemamaquininha caça niquelsaúdemaquininha caça niquelmuitas cidades.

"A gente não dava vazão do tantomaquininha caça niquelpacientes que nos procuravam. Eu via os números aumentarem e pensava que daqui a pouco iria morrer todo mundo", confessa a enfermeira.

"Mas, conforme a vacinação avançou, percebi que os casos foram diminuindo e saímos aos poucos daquele período mais difícil", observa.

Monica Calazans recebe primeira dosemaquininha caça niquelvacina

Crédito, Governo do Estadomaquininha caça niquelSão Paulo

Legenda da foto, Calazans relata que ouviu muitas notícias falsas após ser vacinada. Algumas diziam que ela estava internada ou tinha morrido

Com a queda nas infecções e nos óbitos por covid a partir do segundo semestremaquininha caça niquel2021, Calazans diz que houve uma mudança no perfil dos pacientes que buscavam atendimento.

"Aquelas pessoas com comorbidades que tinham receiomaquininha caça niquelir até as unidadesmaquininha caça niquelsaúde reapareceram para cuidar melhor das outras doenças", diz a profissional da saúde, que também notou um aumento na chegadamaquininha caça niquelpacientes com sintomasmaquininha caça niquelinfecções respiratórias nas últimas semanas.

Experiências, aprendizados e projetos futuros

Quando questionada pela reportagem da BBC News Brasil sobre a história que mais marcoumaquininha caça niqueltrajetória desde o início da pandemia, Calazans traz a resposta na ponta da língua.

"Posso ficar horas contando casos e mais casos, mas a primeira que me vem à mente aconteceu no dia 31maquininha caça niqueldezembromaquininha caça niquel2020", destaca.

"Estava no Pronto Atendimentomaquininha caça niquelSão Mateus quando atendi um senhor com 68 anos que tinha sido diagnosticado com covid e precisava ser internado. Ele seria transferido para Parelheiros, na Zona Sul, do outro lado da cidade."

Monica Calazans

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Prestes a completar 56 anos, Calazans continua trabalhando nos dois serviçosmaquininha caça niquelsaúde e deve ser candidata a deputada federal nas próximas eleições

"Eu tive que colocá-lo na ambulância e dizer para o filho que ele não poderia ir junto. Imagina, separar uma família justo na virada do ano, uma data que a gente quer comemorar e estar próximomaquininha caça niquelquem amamos."

A enfermeira lembra que, na correria do atendimento, acabou trocando contatos telefônicos com o filho do paciente.

"Para minha surpresa, recebi uma mensagem no dia 17maquininha caça niqueljaneiro (datamaquininha caça niquelque ela foi vacinada). O filho me escreveu que estava muito felizmaquininha caça niquelsaber que a primeira pessoa vacinada tinha cuidadomaquininha caça niquelseu pai e agradeceu, pois o homem tinha se recuperado depoismaquininha caça niquelpassar cinco dias no hospital", relata.

Embora uma história ou outra fique marcada emmaquininha caça niquelmemória, Calazans entende que a experiênciamaquininha caça niquellidar diretamente com a maior pandemia do século trouxe uma sériemaquininha caça niquellições.

"Eu aprendi que é preciso ter mais empatia e sempre se colocar no lugar do outro", diz.

"É necessário cuidar bemmaquininha caça niqueltodas as pessoas, porque um dia serei eu, ou alguém da minha família, que vai precisar desses mesmos cuidados."

Línea

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