PSDB faz préviasmeio a tentativarecuperar relevância para 2022:

ColagemfotosArthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria

Crédito, Ag. Senado/Ag. Brasil/AFP

Legenda da foto, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria; tucanos vão escolher nesse domingo candidato do PSDB à presidência

A partirentão, perdeu quatro disputas nacionais seguidas para o PT: 2002, 2006, 2010 e 2014. Apesar disso, mantevedominânciaestados considerados poderosos como São Paulo e Minas Gerais e se consolidou, neste período, como a principal forçaoposição aos governos petistas.

Após o impeachmentDilma Rousseff (PT)2016, o PSDB se aliou ao então presidente Michel Temer (MDB) e passou a integrar diversos ministérios. Em 2018, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preso como resultado da Operação Lava Jato, a expectativa eraque o partido pudesse voltar ao poder.

No entanto, seu candidato na época, o ex-governadorSão Paulo Geraldo Alckmin, ficouquarto lugar com apenas 4,76% dos votos. Além disso, o partido viuparticipação na Câmara dos Deputados despencar. Em 2014, o PSDB elegeu 54 deputados e era a terceira maior bancada da Casa.

Quatro anos depois, o partido elegeu apenas 29, ficandoem nono lugar. E enquanto tudo isso acontecia, o PT, até então principal adversário dos tucanos, também perdeu deputados, mas conseguiu se manter como a maior bancada na Câmara e ainda levou seu candidato, Fernando Haddad, ao segundo turno das eleições2018.

Geraldo Alckmindiscurso pelo PSDB

Crédito, AFP

Legenda da foto, Em 2018, Alckmin ficouquarto lugar na disputa presidencial, com apenas 4,76% dos votos

Nesse cenário descendente, o governadorSão Paulo, João Doria, passou a tentar emplacar o seu nome como candidato à Presidência2022, mas encontrou resistênciadiferentes grupos na legenda.

Três nomes disputam a chancerepresentar o partido nas eleições presidenciais2022: Doria; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o ex-prefeitoManaus e ex-senador pelo Amazonas Arthur Virgílio.

A disputa está polarizadatornoDoria e Leite. As eleições acontecerãotodo o Brasil por meiovotos eletrônicos e poderão participar todos os filiados ao partido até o dia 31maio deste ano.

A expectativa éque o resultado seja divulgado no domingo (21/11). Se nenhum dos três candidatos atingir a maioria absoluta dos votos, haverá segundo turno, previsto para o dia 28novembro.

O desafio do vencedor2022 será grande uma vez que os dois principais candidatos do partido, Doria e Leite, não aparecem entre os primeiros colocados nas pesquisasintençãovoto realizadas até o momento e que colocam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente Jair Bolsonaro nas duas primeiras posições.

Nesse contexto, uma das perguntas a serem respondidas é: a realização das prévias pode ajudar o PSDB a recuperar a relevância que teve no passado?

Perdarelevância

Para o professorciência política na Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto, a resposta é: não. Ele afirma que antesavaliar os impactos das prévias, é preciso entender o que levou o partido a perder o prestígio e o protagonismo que teve durante quase 20 anos.

Segundo ele, isso se deve a dois fatores: a perda consecutivaeleições presidenciais e a diluição daidentidade.

"Não acho que as prévias,si, podem fazer o partido recuperar arelevância. O PSDB perdeu protagonismo porque perdeu muitas eleições seguidas e isso tem um impacto direto no partido. Além disso, especialmente depois2014, o PSDB teveidentidade diluída. Desdefundação, ele se propunha a ser uma legenda progressista, mas isso se perdeu quando o partido deu uma guinada para o centro-direita e está indo cada vez mais à direita", afirmou.

O cientista político Fernando Bizzarro faz doutorado na UniversidadeHarvard e estuda partidos há quase 10 anos. Ele diz que as prévias têm um ponto positivo que é oproduzir atençãodireção ao PSDB.

"Se não fosse pelas prévias, não estaríamos falando do PSDB agora. E isso é bom. Traz mídia e coloca o partidoevidência", explica.

Bizzarro aponta dois outros fatores para explicar a perdaprotagonismo do PSDB. Um deles foi a mudançaprioridade do eleitorado a partir2014.

"Até 2014, a principal preocupação do eleitorado era a economia. Depois, passou a ser a corrupção. No campo da economia, o PSDB ia bem, tinha repertório. Mas no campo do combate à corrupção, isso mudou, especialmente quando algumas figuras do partido como Aécio Neves passaram a ser alvos da Lava Jato", afirmou.

"O PSDB não tinha a mesma capacidadeincorporar essa pauta como outros partidos ou nomes como Jair Bolsonaro. O PSDB acabou perdendo o bonde da história", afirma.

O outro fator apontado por ele é a incapacidadeo partido criar uma base sólida e militantetorno dele. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, entre 2011 e 2021, o númerofiliados do PSDB caiu 1,6%, saindo1,370 milhão para 1,354 milhão. No mesmo período, o totalfiliados ao PT aumentou 5,4%, saindo1,524 milhão para 1,607 milhão.

"No períodoque esteve no poder, o PSDB não foi capaztransformar seus eleitorespartidários. O antipetismo nunca foi uma posiçãoadesão ao PSDB e isso se tornou uma fraqueza quando o ambiente mudou e outros atores passaram a ocupar o espaço deixado pelo partido", explica.

Aécio Neves e Michel Temer se cumprimentam; Aécio sorri

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Aécio Neves e Michel Temerfoto2016; após o impeachmentDilma Rousseff (PT), PSDB se aliou ao governo do emedebista

À BBC News Brasil, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, admite que o partido perdeu protagonismo e disse que as prévias são uma tentativarecuperar essa liderança.

"O PSDB teve, sim, enorme protagonismo nas últimas décadas. Em 2018, tivemos um tropeço, mas já estamos nos recuperando. As prévias são, sim, um movimento para devolver um certo protagonismo ao partido. Agora, ganhar ou vencer a eleição será o resultadouma sérievariáveis etrabalho a ser feito", disse.

Riscos das prévias

Cláudio Couto aponta que, ao contrário do que sustenta Bruno Araújo, o PSDB pode sair das prévias mais fraco do que entrou. Isso aconteceria, segundo ele, porque o processoescolha interna suscita disputas entre grupos que poderiam levar o partido ao "esfacelamento".

"O problema que eu vejo é a possibilidadeesfacelamento do partido. Em vezresolver o problema da indicaçãoum candidato, você acaba criando um pontoatrito incontornável. Pelo andar da carruagem é pouco provável que o partido se una inteirotorno do nome que vencer", afirmou Couto.

Atualmente, os dois principais candidatos das prévias tucanas são João Doria e Eduardo Leite. Apesarse tratarem com cordialidade sob os holofotes, os dois disputam acirradamente a indicação.

Em outubro, um grupoapoiadoresLeite acusou Doriater fraudado os registrosfiliações no diretório do partidoSão Paulo para ampliar a base eleitoral do governadorSão Paulo. Doria negou as alegações.

ColagemfotosEduardo Leite e João Doria

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Eduardo Leite e João Doria são os principais nomesdisputa nas prévias do PSDB

"Duvido que se Doria for o vencedor, o partido vai se unir como fazem os partidos Democrata ou Republicano nos Estados Unidos. No Brasil, essa disputa interna deixa marcas, fere sensibilidades e acaba produzindo um estrago muito grande", afirmou o cientista político.

"O risco é o PSDB sair mais fraco do que se tivesse conseguido manter um mínimounanimidade. E isso pode acontecer especialmente agora que aumenta a competição na chamada terceira via com a possível candidatura do ex-juiz Sergio Moro", afirmou Coutoreferência à filiaçãoMoro ao Podemos.

Fernando Bizzarro discorda da possibilidadeque o partido possa sair das prévias pior do que entrou.

"Se o PSDB sair pior, então é melhor fechar o partido. Dada a posição do partido, não tem como isso acontecer. Acho que vai sair ou na mesma posição ouposição relativamente melhor", afirmou.

O cientista político ressaltou que além do acirramento das tensões internas citado por Cláudio Couto, as prévias geram um risco externo ao expor as fraquezas do partido ao público exterior.

"As prévias expõem à sociedade as divisões internas do partido e cria a possibilidadeque candidatos adversários explorem isso ao longo das eleições. Acaba gerando um fogo amigo que pode ser usado mais adiante", explicou.

Bruno Araújo admite que o processoescolha interna pode causar "rusgas", mas ele diz acreditar que essas "feridas" precisam da liderança do vencedor para serem curadas.

"Eu não convoquei uma confraria. Convocamos uma eleição e eleições deixam rusgas. Essas rugas deixam feridas abertas no tempo e precisam da liderança do vencedor pra serem curadas. Depois do resultado, há meses até agosto do ano que vem para as costuras e as feridas serem cicatrizadas", afirmou.

Mudança no vento

Apesar dos riscos da realizaçãopréviastemperatura alta, Fernando Bizzarro diz que o partido pode se aproveitaruma mudançaprioridades do eleitorado2022.

Ele explica que com a possível piora do ambiente econômico e recrudescimento da inflação e do desemprego, a economia pode voltar a ser a principal preocupação do eleitorado nas próximas eleições. Se isso acontecer, o PSDB pode voltar a ser relevante no debate político do ano que vem, diz Bizzarro.

"Se o foco sair da corrupção para a situação econômica, aí o PSDB voltará a navegarum terreno no qual se sente confortável. Isso pode representar uma oportunidade para o partido retomar algum protagonismo nas próximas eleições", afirmou.

Línea

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