'Quando o caminhão passa cedo, dá para conseguir coisas boas': a rotina das famílias que buscam comida no lixo:print bet 365

Crédito, Jonas Rio

Legenda da foto, Famílias exibem pães recém-encontradosprint bet 365caminhãoprint bet 365lixo

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Legenda da foto, Sandra Maria enfrenta as dores nos pés e acorda às 4h da manhã para esperar o caminhãoprint bet 365lixo passar

Ao exibir um pacote recém-encontradoprint bet 365linguiça, Sandra elenca o que costuma consumir periodicamente. "Dia sim, dia não, dá para encontrar umas bananinhas, umas cenouras, umas frutinhas um pouquinho amassadas que o pessoal rico joga fora. É muito triste precisar procurar no lixo, mas agora é a solução que tem."

Segundo ela, três parcelasprint bet 365auxílio emergencial concedidas pelo Governo Federal durante a pandemia chegaram a atenuar o sofrimento por alguns momentos. O benefício teveprint bet 365última parcela paga ao público neste mêsprint bet 365outubro, e beneficiários ainda aguardam definições sobre o Auxílio Brasil, programa que substituirá o Bolsa Família.

"Agora eu não sei como vai ficar", diz Sandra. "As informações não chegam direito. Isso traz angústia. Eu não tenho condiçõesprint bet 365trabalhar como antes. Não tenho quem cuideprint bet 365mim. O que tem aliviado a situação são algumas cestas básicas que algumas pessoas doam por caridade."

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Legenda da foto, 'O que tem aliviado a situação são algumas cestas básicas que algumas pessoas doam por caridade', conta Sandra Maria

A casaprint bet 365Sandra, nos fundosprint bet 365uma construção na Comunidade dos Trilhos, tem um só cômodo, compartilhado por ela e um senhor com deficiência física e visual. "Chegaram a cortar água e luz. O gás falta com muita frequência. Está custando maisprint bet 365R$100. Às vezes, quando a gente encontra carne, tem que cozinhar a álcool, (sob risco)print bet 365se queimar", comenta, apreensiva.

Seu sonho é comprar um carrinhoprint bet 365cachorro-quente para trabalhar na portaprint bet 365casa. "Assim, eu não precisaria andar tanto, dando um alívio para os meus pés. Eu colocaria o meu negócio embaixo da árvoreprint bet 365frente à minha casa, e as pessoas viriam comprar. Minha dignidade seria o meu melhor presente."

Com o aumento da pobreza e do preço dos alimentos, o acesso à comida tem sido um desafio para muitos. Segundo o Ministério da Cidadania, o Ceará tem 5,1 milhõesprint bet 365pessoasprint bet 365situaçãoprint bet 365pobreza e extrema pobreza, com renda familiar variável entre meio e três salários mínimos. No Brasil inteiro, 19 milhões conviviam com algum grauprint bet 365insegurança alimentar no finalprint bet 3652020, segundo cálculos da Rede Brasileiraprint bet 365Pesquisaprint bet 365Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

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Legenda da foto, Ao apresentar o cômodo onde vive, Sandra Maria relata o sofrimento relacionado à faltaprint bet 365infraestrutura básica

Quando criança, Mariaprint bet 365Lourdes da Silva se dividia entre o sonhoprint bet 365se tornar enfermeira ou médica veterinária. No entanto, diante das dificuldades econômicas enfrentadas ao longo da vida, agravadas pela pandemia, hoje, aos 43 anos, ela pertence ao grupoprint bet 365maisprint bet 36514 milhõesprint bet 365brasileiros desempregados,print bet 365acordo com dados do Instituto Brasileiroprint bet 365Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo ela, o auxílio mensalprint bet 365R$ 261 tem sido insuficiente para as despesas básicas por 30 dias. Sem condiçõesprint bet 365pagar aluguel, ela mora na casaprint bet 365conhecidos com o marido e com a filha e, além da fome, convive com o medo do despejo.

"Eu cheguei a trabalhar como cuidadoraprint bet 365idosos, mas, com a pandemia, parou tudo. A gente vai vivendo assim, um dia depois do outro, sem segurançaprint bet 365nada. A pior coisa do mundo é depender dos outros. Para sobreviver, eu apelo para a reciclagem e, sempre que dá, ficoprint bet 365plantão esperando o caminhão do lixo passarprint bet 365buscaprint bet 365comida", detalha.

Entre os alimentos frequentemente encontrados estão frutas, verduras, carnes e iogurtes. "Quando o caminhão passa cedo, dá para conseguir coisas boas, mortadela, pão, salsicha e danone. Quando não passa, não tem muita escolha", lamenta.

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Legenda da foto, 'Quando o caminhão passa cedo, dá para conseguir coisas boas. Quando não passa, não tem muita escolha', lamenta Mariaprint bet 365Lourdes da Silva

A saúde frágilprint bet 365Mariaprint bet 365Lourdes também inspira cuidados. Diabética, está acometida por uma infecção ocular. "Meus olhos são vermelhos por causaprint bet 365uma bactéria. Eu encontrei uma maquiagem no lixo, usei e fiquei assim. Eu até usei um remédio, mas não tenho condiçõesprint bet 365pagar o tratamento certinho. Nós precisamosprint bet 365assistência eprint bet 365emprego. Disposição não falta para lutar pelo que eu preciso. Não quero viver com luxo. Só precisoprint bet 365uma oportunidade", conta.

Também desempregada, Maria Goretti Dutra,print bet 36548 anos, afirma que a fome, alémprint bet 365enfraquecer o corpo, fragiliza a alma. Mãeprint bet 365duas filhas, a beneficiária do Bolsa Família conta que já chegou "a olhar para o armário e ver que não tinha nada" para comer.

"Meu foco é alimentar minhas filhas. Ver cada uma delas comendo enche a minha barriga. Tu acredita? Às vezes, para aguentar o tranco, eu como farinha com água", descreve.

O benefício mensal está servindo para custear apenas os botijõesprint bet 365gás. "Imagine você encontrar alimentos no lixo e não conseguir ferver para desinfetar? Eu gasto muito gás por mês só nisso. No mais, quando não é possível, não tem o que fazer. Cheirou? Tá bom? Só resta comer", chora.

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Legenda da foto, 'Imagine você encontrar alimentos no lixo e não conseguir ferver para desinfetar', questiona Maria Goretti

Já Anice Monteiro, aos 64 anos, conta que seus problemas cardíacos têm dificultado a batalha pelo sustento. "Dia 28print bet 365setembro, depoisprint bet 365subir no caminhão do lixo para pegar umas verdurinhas e encher o meu carrinho, começou a me dar uma agonia nas costas e no peito. Quase desmaiei, saí daquiprint bet 365ambulância do SAMU e passei uns dias internada depoisprint bet 365um cateterismo. Hoje, eu me vejo tendo que comprar muitos remédios enquanto me falta o básico para comer", detalha.

Menosprint bet 365um mês após a internação, Anice estavaprint bet 365volta à rua Bento Albuquerque, mesmo local onde passou mal. "Vim tentar encontrar doadoresprint bet 365comida. Aqui, passam muitas pessoas ricasprint bet 365carrosprint bet 365luxo. Nem parece que estamos na mesma cidade. Contar com a compaixão dos outros é uma esperança porque não estouprint bet 365condiçõesprint bet 365trabalhar agora, muito menos, nesse sol quente. Antes, eu ganhavaprint bet 365R$ 30 a R$ 40 lavando roupa. Agora, não consigo mais."

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Legenda da foto, Anice Monteiro, aos 64 anos, encara o desafioprint bet 365conseguir se alimentar e arcar com as despesas médicas após cateterismo

Ajuda

Na outra ponta, a farmacêutica e professora Renata Euletério está entre as pessoas tentando ajudar essas famílias com cestas básicas. Ela começou a se envolver com a causa ao assistir a um vídeo que viralizouprint bet 36518print bet 365outubro ao mostrar pessoas buscando comidaprint bet 365um caminhãoprint bet 365lixoprint bet 365Fortaleza.

"Pessoasprint bet 365Fortaleza eprint bet 365outras cidades começaram a se mobilizar. Comecei a estimular o grupo da minha família e fui ampliando a rede voluntária", conta.

O principal objetivo, diz Renata, é reunir os dados das famíliasprint bet 365insegurança alimentar para direcioná-las às políticas públicas disponíveisprint bet 365Fortaleza.

"Estamos coletando os nomes, os telefones e as qualificações dessas pessoas. Queremos realizar um cadastro para tentar auxiliá-las na busca por emprego, para averiguar se elas estão vacinadas contra a covid-19 e para orientá-lasprint bet 365relação aos órgãosprint bet 365proteção social. Até agora, fizemos a entregaprint bet 365cestas básicas a 13 famílias, estamos lutando para entender a demandaprint bet 365cada uma delas para que elas tenham autonomia dianteprint bet 365programas já existentes na cidade, como auxílios, atendimentos médicos e tantas outras esferas."

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Legenda da foto, A farmacêutica Renata Eleutério,print bet 36538 anos, tem liderado uma corrente solidária

Em nota, a Prefeituraprint bet 365Fortaleza afirmou que as famílias das pessoas que aparecem no vídeo viral do caminhãoprint bet 365lixo serão acompanhadas pela Secretariaprint bet 365Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, que diz fazer visitas frequentes a pontos da capital cearense com água e lanches.

O governo municipal também diz que estãoprint bet 365curso outras ações voltadas à população vulnerável, como uma busca ativa que realizou 6 mil abordagens para identificar esse público e direcioná-lo a serviços sociais, além da distribuiçãoprint bet 365300 mil cestas básicas e da ofertaprint bet 365100 mil refeições/mês.

O governo do Ceará, porprint bet 365vez, diz que foram distribuídos 255 mil tíquetesprint bet 365Vale Gás Social entre abril e maio para famílias vulneráveisprint bet 365municípios cearenses.

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