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'Meninas': o que aconteceu com adolescentes grávidas que protagonizaram documentáriobrabet com f uihall2006:brabet com f uihall
Filmadobrabet com f uihall2005, após ser aprovadobrabet com f uihallum edital da Petrobras, o documentário foi lançado no ano seguinte. Na época, chegou a ser exibido no Festivalbrabet com f uihallBerlim, na Alemanha. No Brasil, foi adotadobrabet com f uihallescolas brasileiras como partebrabet com f uihallcampanhasbrabet com f uihallprevenção da gravidez na adolescência.
Sandra Werneck diz à BBC News Brasil que decidiu fazer o documentário pois queria responder a uma pergunta: por que uma menina abre mão da adolescência para ter um filho?
A diretora diz que não há uma resposta exata para o questionamento, mas comenta que descobriu que ter um filho pode ser sinônimobrabet com f uihallstatus na periferia.
"Eu acho que elas não têm consciência (sobre o que é ser mãe). Mas muitas passam a vida cuidando dos irmãos mais novos e têm uma vontadebrabet com f uihallter uma coisa delas, porque a vida inteira não tiveram nada", diz Sandra.
"Para essas garotas, ter um filho representa que passarão a ser vistas como meninas mais velhas", acrescenta.
Do anobrabet com f uihallque a obra foi lançada aos dias atuais, a gravidez na adolescência continua como um problema no país.
Nos últimos 20 anos, o Brasil registrou quedabrabet com f uihall37,2% no númerobrabet com f uihalladolescentes grávidas, segundo estudo da Federação Brasileira das Associaçõesbrabet com f uihallGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O levantamento foi feito com basebrabet com f uihalldadosbrabet com f uihallnascidos vivos (NV)brabet com f uihallmãesbrabet com f uihall10 a 19 anos, entre 2000 e 2019.
Mesmo com a redução nos números, pesquisadores ressaltam que esse cenário continua preocupante. Um dos argumentos é que a taxabrabet com f uihallgestação entre adolescentes está muito acimabrabet com f uihallpaíses considerados bons exemplos nessa área.
De acordo com o estudo, o Brasil possuía uma taxabrabet com f uihallmães adolescentes (de 15 a 19 anos)brabet com f uihall48 a cada mil nascimentosbrabet com f uihall2019. Nos Estados Unidos, a taxa erabrabet com f uihall20 a cada mil, ebrabet com f uihallpaíses europeus havia uma médiabrabet com f uihalloito a cada mil, segundo o Banco Mundial.
A gestação na adolescência afeta o presente e o futuro dessas jovens, porque costuma prejudicar os estudos e a busca por emprego.
Os impactosbrabet com f uihallser mãe na adolescência foram sentidos pelas protagonistas do Meninas, na época das gravações e também nos anos seguintes.
Até hoje, o documentário é visto por muitos jovens. É possível observar a dimensão da obra por meio do YouTube. Na plataformabrabet com f uihallvídeos, a produção foi compartilhada por diferentes contas —brabet com f uihalluma delas, contabiliza maisbrabet com f uihall2,4 milhõesbrabet com f uihallvisualizações, enquantobrabet com f uihalloutra tem maisbrabet com f uihall790 mil.
15 anos depois do lançamento do Meninas, a BBC News Brasil foi atrás das histórias das protagonistas do documentário para mostrar os rumos que seguiram.
Grávida aos 13 anos
Uma das histórias mais marcantes no documentário é abrabet com f uihallEvelin Rodrigues. A jovembrabet com f uihall13 anos foi a mãe mais nova entre as meninas. Poucos meses após dar à luz, ela se tornou viúva.
Ela relata que, apesarbrabet com f uihallter sido alertada pela mãe sobre a possibilidadebrabet com f uihallengravidar depoisbrabet com f uihall"ficar mocinha", não obedecia ao conselhobrabet com f uihalltomar anticoncepcional.
"Tinha medobrabet com f uihallengordar ou passar mal", conta à BBC News Brasil.
Quando ela descobriu a gravidez, a mãe e a avó chegaram a sugerir um aborto. "Mas eu não quis tirar", relata a jovem, que afirma que tinha medo do procedimento.
"Eu vi amigas abortarem, vi meninas que morreram no processo, eu não queria tirarbrabet com f uihalljeito nenhum."
No documentário, Evelin contou sobre um episódio no qual ela, quando já estava grávida, apanhou do pai da filha na frente dos amigos por ter saídobrabet com f uihallcasa sozinha.
"Minha mãe falava que 'mulherbrabet com f uihallbandido apanha', e eu não acreditava", disse a adolescentebrabet com f uihall13 anos à câmera.
Nove anos mais velho, o pai do filho dela era membrobrabet com f uihalluma organização do tráficobrabet com f uihalldrogas na Rocinha.
Atualmente, ela reconhece que tinha uma relação conturbada com o rapaz. "Ele era um cara ciumento e possessivo, queria me manter presa dentrobrabet com f uihallcasa e dizia que eu era só dele", lembra. "Quando eu saía, ele queria me agredir", conta.
O pai da criança morreubrabet com f uihallum conflito com a polícia, dois meses após o nascimento da filha.
Evelin teve ajuda da mãe para criar a filha. "Ela (mãe) disse que a 'responsa' era minha, mas sempre me ajudou", diz. Ela trabalhou como manicure no fim da adolescência e aos 18 anos conseguiu um emprego como vendedora.
Durante quase uma década, Evelin trabalhoubrabet com f uihalllojas, e hoje investe na carreira como influenciadora digital. Ela acumula 64 mil seguidores no Instagram, sendo a grande maioria composta por pessoas que a acompanharam no documentário e querem saber como está a vida dela atualmente.
Nas redes, Evelin fala com frequência sobre o documentário. Em seu canal no YouTube, onde acumula 48 mil inscritos, os vídeos mais assistidos são relacionados ao Meninas. Entre eles, há conteúdos com perguntas e respostas sobre o documentário e um passeio para mostrar como está atualmente a casabrabet com f uihallque ela morava na época das gravações.
Evelin se mudou da Rocinha após conhecer o atual marido, paibrabet com f uihallseus outros dois filhos. A residênciabrabet com f uihallque ela morava na época do documentário atualmente é ocupada por seu irmão.
Ela considera que a mudançabrabet com f uihallcasa foi uma formabrabet com f uihallevitar que a filha, hoje com 16 anos, repetisse a história da gravidez na adolescência. "Sei que isso não define nada, porque se ela quiser seguir o mesmo caminho, vai seguir. Mas eu quis tentar ter uma vida mais tranquila", afirma.
"Eu tive menos escolha. Parece que tem um ímã, você acaba se envolvendo porque aquela é a realidadebrabet com f uihallque você vive, mas eu quis um outro futuro pros meus filhos", diz.
Hoje, aos 30 anos, Evelin diz que cria os filhosbrabet com f uihallforma diferentebrabet com f uihallcomo foi criada. "Eu tinha muita liberdade", diz.
Em meio às regras que criou para os filhos, uma das mais importantes para ela é a transparência sobre assuntos considerados espinhosos.
"Desde quando ela (a primogênita) quis começar a namorar, eu já fui bem clara sobre ter relação (sexual). Quando ela quis saber do pai, eu também falei. Ela assistiu ao documentário, perguntou se o pai me batia, eu contei que sim, batia e era ciumento", conta Evelin. Ela diz ter orientado a filha a "se cuidar antesbrabet com f uihallse envolver" com alguém.
'Eu realmente quis engravidar'
No início da adolescência, enquanto cuidava da irmã caçula, Luana Santos decidiu que logo se tornaria mãe. "Eu falava que queria ter um (filho) só pra mim por ter cuidado dela", disse no documentário, enquanto estava grávida.
Luana explicou, na produção, que sabia os métodos para evitar uma gravidez, como por meio do usobrabet com f uihallanticoncepcional oubrabet com f uihallpreservativo. Porém,brabet com f uihalldeterminado momento quis se tornar mãe e abandonou as formasbrabet com f uihallprevenção.
Hoje, Luana diz que acreditava que a gestação faria com que ela passasse a ser vista como uma pessoa madura.
"Eu realmente quis engravidar. Eu tinha muitos atritos com a minha mãe e achava que as pessoas entenderiam que eu era adulta se eu também virasse mãe", afirma à BBC News Brasil.
A então adolescente morava junto com a mãe e as quatro irmãs na comunidade Morro dos Macacos, na Zona Norte do Riobrabet com f uihallJaneiro. O pai das garotas era traficante e morreu durante uma guerrabrabet com f uihallfacções, quando as filhas ainda eram crianças.
Quando soube da gravidez da primogênita, a mãebrabet com f uihallLuana ficou triste. "Ela me rejeitou a gravidez inteira. Fiz o pré-natal sozinha, junto com o pai da minha filha. A minha mãe só aceitou a minha gestação quando precisou me acompanharbrabet com f uihallum exame, por eu ser adolescente, e ouviu o coração da neta pela primeira vez", diz Luana.
Durante a gestação, a mãebrabet com f uihallLuana exigiu que a filha continuasse estudando. "Parei quando a minha filha nasceu e voltei dois meses depois, levando ela para a escola", diz. Pouco depois, Luana paroubrabet com f uihallestudar. Atualmente, ela está concluindo o ensino médio e planeja cursar administração.
Hoje, Luana entende a postura da mãe. "Ela não aceitava que eu me tornasse mãe tão jovem. Agora, eu falo para a minha filha, que tem 16 anos, que não precisa ultrapassar etapas da vida. Ela pode viver cada fase", diz.
"A minha filha namora há dois anos, mas a minha relação com ela é diferente da que eu tinha com a minha mãe. A gente conversa muito e sou muito parceira. Sou a primeira a saber e sempre digo para ela que não há ninguém melhor do que eu para ajudá-la", comenta Luana.
Dois anos depois do nascimento da primeira filha, Luana se separou do então namorado e iniciou um novo relacionamento. Logo engravidou novamente. Nessa época, ela saiu da casa da mãe para viver com o então marido.
Luana ficou por quatro anos com o pai do segundo filho e se separou. Depois, teve um novo relacionamento e teve o caçula. Atualmente, ela mora sozinha com os três filhos (de 16, 14 e nove anos) na comunidade Morro dos Macacos e tem uma microempresabrabet com f uihallsalgados para festas.
Na adolescência, ela sonhavabrabet com f uihallser atriz e fazia aulasbrabet com f uihallteatro. Mas desistiu da atuação desde a primeira gravidez. "Depois que fui mãe, abandonei, porque tive um filho atrás do outro", comenta.
Atualmente, os filhos mais velhos dela fazem aulasbrabet com f uihallteatro. "Falei pra eles: se vocês conseguirem e for realmente isso que querem, seguem nessa área porque é lindo. Eles cresceram assistindo teatros, porque eu seguia páginas para conseguir ingressosbrabet com f uihallgraça para a gente assistir peças", diz.
Nas redes sociais, Luana costuma ser lembrada com frequência sobre o documentário. Hoje com 31 anos, ela considera que a produção a acompanhará para sempre.
"Na época das gravações, tudo era muito bom pra mim. Toda vez que a equipe iabrabet com f uihallcasa para filmar era uma festa, sempre levavam presentes como fraldas descartáveis. Eu gostava muito disso", diz Luana.
"Hoje as pessoas me enchembrabet com f uihallperguntas sobre o documentário no Instagram, o pessoal me marcabrabet com f uihallpublicações sobre os filmes e eu sempre tento falar sobre esse assunto", comenta ela, que tem 16 mil seguidores, conquistadosbrabet com f uihallrazão do Meninas.
O câncer do colo do útero
Quando conheceu o namorado, Edilene Ferreira gostavabrabet com f uihallbrincarbrabet com f uihallboneca e conversar com as amigas na regiãobrabet com f uihallque moravabrabet com f uihallEngenheiro Pedreira,brabet com f uihallJaperi, na Baixada Fluminense. No documentário, ela conta que o rapaz, na época com 21 anos, foi o primeiro parceiro com quem teve relação sexual.
O namoro durou cercabrabet com f uihallseis meses, eles se separaram e pouco depois a garota descobriu que estava grávida.
"Vou ficar aqui só até ganhar (o filho), porque ele tem outra mulher grávida", explicou Edilene, no documentário, ao comentar sobre o fatobrabet com f uihallter se mudado para a casa do rapaz.
Quando o bebê nasceu, a adolescente voltou para a casa da mãe, Maria José Ferreira, que na época estava grávida do quinto filho — ela engravidou do então marido pouco depois da filha.
Após se tornar mãe, Edilene não voltou para o pai do primogênito e teve outros dois filhos — hoje eles têm 16, 13 e oito anos. Nos últimos anos, ela estava casada com o pai do caçula.
No ano passado, Edilene sentiu dores constantes nas pernas e teve sangramentos, segundo a mãe dela. Quando procurou ajuda médica, passou por exames e foi diagnosticada com câncer do colo do útero.
Ela precisou ser internada e o quadrobrabet com f uihallsaúde piorou rapidamente. O tumor foi descobertobrabet com f uihallum estágio muito avançado. "Disseram que não tinha mais como tratar", conta a mãebrabet com f uihallEdilene.
O câncer do colo do útero, na parte inferior do órgão (entre o corpo do útero e a vagina), é um dos mais frequentes entre as mulheres no país. Na imensa maioria dos casos, é causado por infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV) — que pode ser prevenido com vacina — , que caso não tratada pode progredir para alterações graves e evoluir para o câncer.
"O mais importante quando a mulher tem diagnósticobrabet com f uihallHPV é o acompanhamento, porque caso ela apresente alguma alteração grave é possível fazer o tratamento e a retirada das lesões para não ocorrer a evolução para o câncer", explica a ginecologista e obstetra Laís Yamakami.
No casobrabet com f uihallEdilene, segundo a mãe dela, o câncer surgiubrabet com f uihallmaneira inesperada. "Foi tudo muito rápido, ela era totalmente saudável", afirma Maria à BBC News Brasil. Ela diz que a filha não tinha doenças e afirma não saber o motivo do surgimento do tumor.
Edilene morreubrabet com f uihalljunho do ano passado, aos 30 anos, cercabrabet com f uihallum mês e meio após descobrir o câncer. "Foi uma tristeza muito grande. Ela era muito amiga. Era uma filha e uma amiga", emociona-se a mãe.
Nas redes sociais, muitas pessoas que assistiram ao documentário lamentaram a morte dela. "Tão triste saber que ela se foi, mas ela sempre será lembrada", escreveu uma mulherbrabet com f uihallum perfil no Instagram sobre o documentário. "Tão nova e cheiabrabet com f uihallvida. Que Deus console o coração dos familiares, amigos e fãs", comentou outra, no mesmo perfil.
O filho caçulabrabet com f uihallEdilene mora com o pai. Os dois mais velhos moram com a avó materna,brabet com f uihalluma casabrabet com f uihallEngenheiro Pedreira com outras cinco pessoas: dois tios e três primos.
A principal renda da casa, diz Maria, vem das faxinas que ela faz duas vezes por semana e do valor que tem recebido do auxílio emergencial durante a pandemiabrabet com f uihallcovid-19. Além disso, ela afirma que recebe R$ 200 mensais do pai do segundo filhobrabet com f uihallEdilene.
O fim do sonhobrabet com f uihallentrar para a Marinha
Em meio à históriabrabet com f uihallEdilene surgiu Joice Delfino Rosa, a garota que engravidou do mesmo rapaz.
"Eu sonhavabrabet com f uihallterminar meus estudos e me alistar para a Marinha. Mas agora não vai mais ser possível", desabafou a jovem, na época com 15 anos, embrabet com f uihallprimeira cena no documentário.
Ao longo do filme, Joice aparecebrabet com f uihallpoucos momentos.
"Eu dei graças a Deus que não apareci muito na época, porque eu tenho vergonha", relata à BBC News Brasil.
Primeiro, a produção chegou à históriabrabet com f uihallEdilene. Quando descobriram que o namorado da jovem havia engravidado outra garota também, a direção foi atrásbrabet com f uihallJoice para conhecerbrabet com f uihallhistória.
"A gente resolveu que a gente ia namorarbrabet com f uihallcasa, mas aí depois aconteceu isso tudo: eu fiquei grávida e a outra menina (Edilene) também ficou grávida. Aí terminamos tudo e eu tento esquecer ele", explicou Joice no documentário. Ela, assim como Edilene, também moravabrabet com f uihallEngenheiro Pedreira.
Joice diz à BBC News Brasil que não ficou preocupada quando descobriu a gravidez.
"Mas fiquei muito sentida, porque na época eu gostava dele (o paibrabet com f uihallsua filha)", conta.
Ela comenta que seu maior medo era a reação dos pais, mas diz que eles a apoiaram quando souberam. Além disso, afirma ter recebido apoio do pai da criança e da mãe dele.
Aos 32 anos, Joice atualmente está desempregada. Ela não voltou a estudar após a gravidez e teve várias ocupações: já foi auxiliarbrabet com f uihallserviçosbrabet com f uihallhospital, copeira, faxineira e recentemente trabalhou como manicure e como vendedorabrabet com f uihallsalgados. Depois do nascimento da primeira filha, Joice iniciou um novo relacionamento, se casou e teve outras duas filhas com o então marido, com quem ficou durante 10 anos.
A experiênciabrabet com f uihallse tornar mãe na adolescência é usada por Joice para conversar abertamente com as filhas — hoje com 16, 14 e 11 anos — sobre sexualidade.
"Eu explico como é, para elas poderem enxergar a vida com outros olhos, não acharem que a vida é feitabrabet com f uihallflores", diz. "O povo, às vezes, me chamabrabet com f uihallmaluca porque não tenho 'rodeio' com elas", conta.
Uma das preocupações dela como mãe é sobre a homofobia — a filha mais velhabrabet com f uihallJoice é lésbica.
"A gente tem que sentar e conversar, porque o mundo aí fora hoje é puro preconceito. Então, tento passar o máximobrabet com f uihallexperiência", relata.
Na casa da família, o documentário é motivobrabet com f uihallbrincadeira.
"Elas (as filhas) assistem com frequência, ficam zoando e rindo da cara da gente", conta Joice. "Minha filha até tem um vídeo numa rede social dublando uma fala do pai dela no filme".
"Pra mim, foi uma experiência totalmente nova, me olhar nos telões lá do cinema. Uma vergonha que só, mas foi positivo", afirma Joice, ao relembrar a estreia do documentário.
"Foi uma boa experiência, a gente pôde alertar muitos com a nossa história, muitas meninas aprenderam muito com a gente e isso é muito gratificante pra mim."
O atual cenário da gravidez na adolescência no Brasil
As histórias das Meninas mostram também a realidadebrabet com f uihallmuitas jovens brasileiras depois que seus filhos nascem: grande parte da responsabilidade, ou toda, fica com a mãe e seus familiares próximos. Isso costuma afetar duramente o futuro dessas adolescentes.
"Uma menina pobre grávida vai estudar menos, ela vai pro mercado informal, vai ganhar significativamente menos... Como ela vai sair desse ciclobrabet com f uihallpobreza?", questiona a pesquisadora Ana Lúcia Kassouf, docente sênior do Departamentobrabet com f uihallEconomia, Administração e Sociologia (LES) da Escola Superiorbrabet com f uihallAgricultura Luizbrabet com f uihallQueiroz (Esalq) da USP.
As mais afetadas pela gravidez na adolescência são as meninas pretas e pardas, que correspondem a setebrabet com f uihallcada 10 mães adolescentes, segundo levantamento da Esalq com basebrabet com f uihallnúmeros da Pesquisa Nacionalbrabet com f uihallSaúdebrabet com f uihall2013 do Instituto Brasileirobrabet com f uihallGeografia e Estatística (IBGE).
O levantamento feito pela Esalq aponta que mães adolescentes ganhambrabet com f uihallmédia 30% menos (em comparação às que não têm filhos) quando chegam ao mercadobrabet com f uihalltrabalho — esse número é maior nas regiões Norte e Nordeste, áreasbrabet com f uihallque chega a 34%, segundo a pesquisa.
Os salários menores para essas garotas são explicados pela redução da escolaridade. Segundo o levantamento da Esalq, elas têm 12% menos chances (em comparação às que não são mães)brabet com f uihallentrar no mercado formal.
"Sabemos que há uma grande correlação entre pobreza e gravidez na adolescência", diz Ana Lúcia.
Em relação às medidasbrabet com f uihallprevenção da gravidez, especialistas são unânimesbrabet com f uihallafirmar que apenas campanhasbrabet com f uihallabstinência não são eficazes.
"Não defendemos a atividade sexual precoce, mas se essa atividade existe, temos que proteger essas meninas da gravidez com contracepção eficaz", diz a ginecologista Denise Monteiro, secretária da Comissão Nacional Especializadabrabet com f uihallGinecologia Infanto Puberal da Febrasgo, responsável pelo estudo que avaliou os dados sobre gravidez na adolescência nos últimos 20 anos.
"Tem que ter educação mostrando os contraceptivos, ensinar como escolher os mais adequados, mostrar onde buscar… Não permitir que ela tenha a possibilidadebrabet com f uihallengravidar nessa idade", reforça Ana Lúcia.
O Ministério da Saúde afirma que o acesso à educação e aos serviçosbrabet com f uihallsaúde foram fundamentais para o declínio da gestação na adolescência nos últimos anos. Entre as políticasbrabet com f uihalluma estratégia nacional, segundo a pasta, estão "métodos contraceptivos, com destaque aos que protegem por mais tempo".
"Atualmente, o SUS (Sistema Únicobrabet com f uihallSaúde) oferta os preservativos masculino e feminino, a pílula combinada, o anticoncepcional injetável mensal e trimestral, o dispositivo intrauterino (DIU)brabet com f uihallcobre, o diafragma, a anticoncepçãobrabet com f uihallemergência (pílula do dia seguinte), a minipílula e o implante subdérmico", detalha a pasta.
Ainda segundo o ministério, existem "estratégiasbrabet com f uihallplanejamento familiar e reprodutivo, elaboradas no âmbito do Projeto Terapêutico Singular- PTS, com atendimento individual ou coletivo,brabet com f uihallacordo com as expectativas, valores e necessidades das pessoas".
De acordo com o Ministério da Saúde,brabet com f uihall2019 foram registradas 987.362 consultasbrabet com f uihallpré-natal para adolescentes no SUS. No ano seguinte foram 879.632 registros — dados preliminares. Não há nenhum recorte socioeconômico sobre esses números, informa a pasta.
Enquanto o Ministério da Saúde ressalta o declínio nos númerosbrabet com f uihallgestações na adolescência, pesquisadoras destacam que essa redução está longebrabet com f uihallrepresentar que o problema está solucionado. Elas mencionam que é fundamental que haja cada vez mais políticas públicas sobre o tema, principalmente entre as mais novas.
Uma preocupação grande é sobre as meninasbrabet com f uihall10 a 14 anos. Nessa faixa etária, a diminuição nos índices nas duas últimas décadas foi menos expressiva: correspondeu a 26%, enquanto a queda para o grupobrabet com f uihall15 a 19 anos ébrabet com f uihall40,7%.
"O númerobrabet com f uihallestuprosbrabet com f uihallvulneráveis é muito alto, e sabemos que a realidade é muito maior que os números que são notificados. Então a gente tem que agir nesse público (de 10 a 14 anos) que a gente já detectou que é o problema", explica a ginecologista Denise Monteiro.
As pesquisadoras alertam que alémbrabet com f uihallorientação sexual para evitar gestações indesejadas, as políticas sociais e educativas precisam conscientizar essas adolescentes sobre os impactosbrabet com f uihalluma gestação nessa fase da vida.
"Ela (a adolescente grávida) não tem a ciênciabrabet com f uihallque possivelmente vai ficar sozinha, sem renda, com uma criança, pararbrabet com f uihallestudar…", aponta Ana Lúcia.
"Uma pessoabrabet com f uihall11 anos achar que ela tem vontadebrabet com f uihallser mãe, por exemplo, mostra que essa menina não tem outras perspectivas. Uma menina com perspectivabrabet com f uihallfuturo,brabet com f uihallprofissionalização, não vai querer engravidar cedo", afirma Denise.
Para Luana Santos, é fundamental conversar com as adolescentes sobre como a vidabrabet com f uihalluma jovem muda após se tornar mãe. "Esse tema não pode ser colocado como um tabu e precisa ser falado, sim. Quanto mais falar, melhor", avalia. Ela admite que não pensava muito nisso quando engravidou aos 14.
Desde que o documentário ganhou repercussão, Luana passou a dar palestras para conscientizar sobre os problemasbrabet com f uihalluma gestação na adolescência. Ela sempre costuma frisar que abrabet com f uihallhistória exibida na produção não é um exemplo a ser seguido.
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