Covid: Falhamos na comunicação e precisamos ajustar expectativa com vacinas, diz ex-diretor do Butantan:saque esportiva bet
"Houve uma falhasaque esportiva betcomunicação, que ainda não conseguiu ser superada. Precisamos ajustar a expectativa do público sobre o que esperar das vacinas contra a covid-19", diz.
O pesquisador explica que os imunizantes utilizados atualmente foram desenvolvidos para diminuir o risco das formas graves da doença, que exigem hospitalização e intubação e podem matar.
Porém,saque esportiva betacordo com a análise que ele faz, isso não ficou tão claro e as pessoas entendem que estão completamente protegidas após tomarem as duas doses.
O médico também entende que, com o avanço das campanhassaque esportiva betvacinação, será necessário ensinar a população sobre o manejosaque esportiva betriscosaque esportiva betse infectar com o coronavírus e como proteger a camada da sociedade que está mais propensa a complicações.
"Você quer passar o Natal com familiares e amigos. Como planejar esse evento para que ele não acabe disseminando a covid-19 para pessoas vulneráveis, que vão acabar internadas? A gente tem que começar a ensinar isso e acho que essa é uma outra falha que precisa ser corrigida", aponta.
Entre o finalsaque esportiva betjulho e o iníciosaque esportiva betagosto, Palacios deixou a diretoriasaque esportiva betpesquisas clínicas do Butantan, após o instituto anunciar uma reestruturação. Durante a entrevista exclusiva para a BBC News Brasil, porém, ele não quis comentar sobre o caso.
Confira os principais trechos a seguir.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Como o senhor entrou para o universo da pesquisa e do desenvolvimentosaque esportiva betvacinas?
saque esportiva bet Ricardo Palacios - Comecei a trabalhar com pesquisa clínica logo depois da minha formaçãosaque esportiva betmedicina,saque esportiva bet1996. Desde aquela época, foquei principalmentesaque esportiva betdoenças infecciosas, no desenvolvimentosaque esportiva bettratamentos e vacinas.
Sobre as vacinas, particularmente, tive a oportunidadesaque esportiva bettrabalhar como consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS)saque esportiva betalguns projetos e conhecer a realidadesaque esportiva betdiversos continentes.
Ainda pude fazer meu doutorado no Brasil, na Universidade Federalsaque esportiva betSão Paulo, e trabalheisaque esportiva betprojetossaque esportiva betpesquisa sob a coordenação do professor Esper Kallas. Na sequência, fui convidado para colaborarsaque esportiva betmuitos projetos e trabalhei com o desenvolvimentosaque esportiva betvacinas no Instituto Butantan, onde virei diretor da áreasaque esportiva betensaios clínicos.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Um detalhe que chama atençãosaque esportiva betseu currículo é o fato de, além da graduaçãosaque esportiva betmedicina, o senhor ter uma formaçãosaque esportiva betciências sociais. É possível encontrar um diálogo entre essas duas áreas do conhecimento?
saque esportiva bet Palacios - Quando passamos por momentos como o atual, fica muito evidente como essas duas áreas conversam claramente. Sabemos, por exemplo, que as doenças estão relacionadas a uma sériesaque esportiva betmarcadores sociais. E a pandemia é muito diferente entre as camadas da população com mais ou menos acesso aos recursos.
Isso também fica claro quando pensamos na vacinação. Existe uma desconfiança muito grande sobre os imunizantessaque esportiva betpaíses da Europa e nos Estados Unidos. Enquanto isso, não há doses suficientessaque esportiva betoutros lugares, mesmo com populações que desconfiam menos das vacinas.
Nós ainda sabemos que o controle da pandemia e a efetiva melhora da saúde da população tem a ver com a adoçãosaque esportiva betpolíticas públicas esaque esportiva betuma assistência social. E o cenário político interfere diretamente nas iniciativas que podem prevenir as doenças.
É possível, portanto, encontrar uma enorme interação entre fatores sociais esaque esportiva betsaúde. A graduaçãosaque esportiva betciências sociais permitiu complementar a minha formação para entendersaque esportiva betforma mais abrangente o que realmente significam as intervençõessaque esportiva betsaúde pública.
saque esportiva bet BBC News Brasil - E como era o desenvolvimentosaque esportiva betvacinas antes da atual pandemia? Como esse processo se modificou nos últimos meses?
saque esportiva bet Palacios - A princípio, não houve uma mudança significativa. Nós continuamos a fazer aquilo que já sabíamos antes da pandemia, principalmente na maneira como as pesquisas clínicas são realizadas.
O quesaque esportiva betfato mudou foi a forma como esses dados são divulgados e, principalmente, a parte da colaboração entre os pesquisadores e o fluxosaque esportiva betinformações ao redor do mundo. Nos últimos meses, compartilhamos muita informação entre diferentes atores que trabalham com temas relacionados à pandemia. Isso envolve desde a ciência básica até os maiores fabricantes do mercado. Foi uma troca muito rica e uma experiência valiosa. Essa foi, pra mim, a grande diferença.
Gostariasaque esportiva betchamar a atenção para a interação que houve com as agências reguladoras, como a Anvisa. Nunca é suficiente destacar o esforço incansável dessas pessoas, que trabalharam muito para avaliar os dados e dar orientações aos produtoressaque esportiva betvacinas.
Outro ponto que mudou com a pandemia é a noçãosaque esportiva betque, quando a gente concentra uma grande quantiasaque esportiva betrecursos e elimina as fronteiras, é possível desenvolver soluções.
Por fim, vejo com bons olhos e dou as boas-vindas às novas tecnologias, como as vacinassaque esportiva betvetor viral esaque esportiva betmRNA, que nos permitem enfrentarsaque esportiva betmaneira mais ágil algumas doenças. Imagino que esse será um dos grandes legados dessa pandemia.
saque esportiva bet BBC News Brasil - E o senhor acredita que esses novos conhecimentos poderão ser aplicados no desenvolvimentosaque esportiva betimunizantes para outras doenças, como aids, malária e dengue?
saque esportiva bet Palacios - Com certeza. Eu acho que aprendemos muito com essas novas tecnologias e elas nos permitiram evoluir mais rápido. A experiência atual também fez com que aprendêssemos muito sobre a produçãosaque esportiva betuma vacina e a segurança desses produtos, o que vai nos permitir explorá-las para outras doenças que acometem a humanidade.
Talvez uma grande dificuldade, no caso das outras enfermidades, seja encontrar um alvo específico, como detectamos a proteína S, da espícula do coronavírus. É preciso pensar nesse pedacinho, para o qual desenvolvemos um imunizante com podersaque esportiva betgerar uma boa resposta do sistema imunológico. Esse é um problema enorme quando falamos da malária, por exemplo.
Talvez as novas plataformassaque esportiva betvacina nos ajudem e possam servirsaque esportiva betsolução para outras doenças, mas não podemos dizer ainda que elas são fórmulas mágicas. Existem limitações que precisarão ser superadas. Mas, sem dúvida, a combinaçãosaque esportiva bettecnologias pode ajudar a confrontar esses outros agentes infecciosos que causam tanto problema para a humanidade.
saque esportiva bet BBC News Brasil - No primeiro semestresaque esportiva bet2020, quando as primeiras vacinas começaram a ser desenvolvidas, o senhor achava que era possível ter tantas opções prontas, testadas e aprovadassaque esportiva betmenossaque esportiva betum ano?
saque esportiva bet Palacios - Eu me lembro das entrevistas que dei naquele período e a previsão que fiz foi cumprida: à época, disse que estaríamos vacinando contra a covid-19 ainda no primeiro trimestresaque esportiva bet2021. De fato, era algo que sabíamos ser possível.
Mas por que estávamos tão confiantes? É que as principais nações já estavam desenvolvendo tecnologias para essas vacinas. Elas só precisaram modificar e adaptar projetos anteriores, que avaliaram imunizantes para as epidemiassaque esportiva betSíndrome Respiratória Aguda (Sars), no início do século 20, e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers),saque esportiva bet2011.
Essas tecnologias, baseadas nesse conhecimento acumulado nos últimos anos, foram adaptadas para esse novo coronavírus, o que nos permitiu fazer previsões mais curtas.
Outro ponto que contribuiu foi determinar o resultado que a gente buscava. As vacinas foram pensadas para dar uma resposta imune capazsaque esportiva betproteger contra os quadros mais graves da infecção, que levam a internações e óbitos. Se procurássemos uma proteção contra a infecção mais leve e inicial, a resposta imunológica teria que ser diferente e poderia demorar mais tempo para ficar pronta.
De certa maneira, a covid-19 nos oferece uma vantagem, que é o temposaque esportiva betuma semana entre a invasão do vírus e a evolução para as formas mais graves. Esse intervalo é importante, porque a resposta imune gerada a partir da vacinação pode ser ativada,saque esportiva betmodo a trazer uma proteção contra o agravamento da doença, que é o nosso objetivo principal.
saque esportiva bet BBC News Brasil - E como foi trabalhar diretamente no desenvolvimento da CoronaVac, na parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantan?
saque esportiva bet Palacios - Eu estava numa posição dentrosaque esportiva betuma instituição pública que, juntosaque esportiva bettoda a equipe, procurava meiossaque esportiva betresponder a esse anseio da humanidade [de ter vacinas no meiosaque esportiva betuma pandemia]. Nesse sentido, há um sensosaque esportiva betresponsabilidade,saque esportiva betentendermos o nosso papel e a relevânciasaque esportiva betnosso trabalho.
Nós sempre prezamos muito pela integridade científica e ética. E nos valemos disso para que nosso trabalho fosse avaliado pelas agências regulatórias porsaque esportiva betforça e qualidade. De um lado, a gente tinha essa pressa. Do outro, não podíamos deixarsaque esportiva betlado o rigor científico e nem simplificar os processos éticos.
Baseado nisso, nós começamos a trabalhar e formamos uma equipe no Instituto Butantan que seguiu os protocolos e fez os testes clínicos.
Com isso, vale a pena destacar que, das seis vacinas aprovadas para uso emergencial pela OMS neste momento, a única que teve a liderançasaque esportiva betum país da América Latina no seu desenvolvimento final foi a CoronaVac.
Esse é um diferencial das outras vacinas, porque a América Latina até foi um lugar onde aconteceram muitos testes, mas eles foramsaque esportiva betprotocolos e pesquisas desenvolvidassaque esportiva betoutros país e que aqui só foram executados e operacionalizados.
No caso da CoronaVac, os testes clínicos foram desenhados completamente no Brasil e conseguimos ser uma dessas seis vacinas que chegou quase ao mesmo tempo no mercado.
Isso quando os outros imunizantes receberam uma sériesaque esportiva betapoios e subsídiossaque esportiva betdiferentes governos e instituições. Realmente, não dá pra entender como conseguimos fazer tudo isso numa circunstância tão difícil, comparativamente com pouco apoio, e entregamos rapidamente o produto.
E vale lembrar que a CoronaVac foi, durante os primeiros meses, a principal vacina da América Latina e isso nos faz sentir muito orgulho. Conseguimos responder não só a demanda do Brasil, massaque esportiva bettoda a região.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Em janeiro, quando foram anunciados os resultadossaque esportiva beteficácia da CoronaVac, o Instituto Butantan publicou um vídeo nas redes sociais saque esportiva bet saque esportiva betque o senhor anuncia os resultados para a equipe e parece estar bem emocionado. O que passou pelasaque esportiva betcabeça naquele momento?
saque esportiva bet Palacios - Existia uma expectativa muito grandesaque esportiva betsaber aqueles números. Isso acontecia dentrosaque esportiva betnossa equipe,saque esportiva bettoda a instituição e, claro, no país inteiro. Naquele momento, eu era o único que conhecia aquele resultado. Quando apareci no vídeo e divulguei a informação para os colegas do Instituto Butantan, eu finalmente pude dizer: nós temos uma vacina.
É claro que esse foi um momento muito significativo, pois ali nós já tínhamos um conjuntosaque esportiva betdados que nos permitia afirmar que a CoronaVac não era mais uma candidata, mas podia ser encarada como uma vacinasaque esportiva betverdade. Minha fala, claro, reflete a emoção que estava sentindo.
Mas hoje eu acho que essa nem foi a grande emoção que eu senti nesses últimos meses. Quando comecei a receber as imagens e os relatossaque esportiva betcolegas sendo vacinados, dos indígenas que tomaram suas doses, aí sim fiquei muito emocionado.
O relato mais recente que me marcou veiosaque esportiva betum colega do Paraná. Ele me disse que havia internado uma pessoasaque esportiva bet83 anos por uma outra causa que não era covid-19. A covid-19 não foi o motivo principal da hospitalização, e isso se deveu à vacina.
Um outro amigo, que atuasaque esportiva betSão Paulo, me disse que no hospital onde ele trabalha foi possível devolver a Unidadesaque esportiva betTerapia Intensiva (UTI) para o tratamento dos pacientes com câncer. Nos últimos meses, esse local havia sido usado apenas para leitossaque esportiva betcovid-19. Graças às vacinas, estamos conseguindo controlar melhor a pandemia.
Então eu acho que isso é ainda mais emocionante para mim do que aquele momento específico,saque esportiva betque anuncio a eficácia. Talvez, naquele dia, ainda não tinha caído a minha ficha e eu precisava amadurecer o que estávamos fazendo e os efeitos que isso teria. Quando a gente escuta os relatos e vê o sentimento das pessoas, isso realmente traz muita emoção.
saque esportiva bet BBC News Brasil - O desenvolvimento das vacinas foi marcado por muita disputa política, especialmente no Brasil. Isso influenciousaque esportiva betalguma forma o trabalho que vocês estavam fazendo?
saque esportiva bet Palacios - Tudo o que realizamos tinha que ser preservado da esfera política, especialmente das decisões que eram tomadas. Mas não se pode afirmar exatamente que o trabalho que a gente fez não teve repercussões políticas. E isso aconteceu, até porque a gente viu e ainda vê, com muita tristeza, que a presidência do Brasil ainda faz comentários que não condizem com a realidade, que são imprecisossaque esportiva betrelação à CoronaVac. Isso foi uma constante durante todo o processosaque esportiva betdesenvolvimento e continua até agora.
Eu acho que essa identificação da vacina com uma vertente política é totalmente inapropriada. A política não deveria ser a favor ou contra uma vacina. A política deveria promover as vacinas. E nisso também vemos como o Governo Federal tem uma formasaque esportiva betagir que não tem sido suficientemente constante e firmesaque esportiva betprol da vacinação. E isso é algo que entristece.
Felizmente, o Programa Nacionalsaque esportiva betImunizações tem sido fortesaque esportiva betresistir a esse ataque às vacinas. A aceitação da população é grande porque existem décadassaque esportiva bettrabalho, e isso permite contrastar essa faltasaque esportiva betinteressesaque esportiva betrelação às campanhassaque esportiva betimunização [do Governo Federal].
O que a gente percebe é que, no lugarsaque esportiva beto Governo Federal promover a pesquisa e a disseminação da vacinação, existem atores, inclusive líderes, com posturas inapropriadas e que não condizem com um apoio irrestrito à vacinação, como deveríamos esperar.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Uma das críticas mais comuns aos produtoressaque esportiva betvacinas nesses últimos meses foi a forma como se deu a divulgação dos dadossaque esportiva betpesquisa. Muitos dos resultados foram apresentadossaque esportiva bet saque esportiva bet press releases saque esportiva bet e coletivas para a imprensa, com poucos dados publicadossaque esportiva betartigos científicos. Como o senhor encara essas críticas?
saque esportiva bet Palacios - Desde o pontosaque esportiva betvista do desenvolvedor, e isso pode parecer até um pouco curioso para meus colegas cientistas, a prioridade é entregar os dados para a agência regulatória. Não é o artigo científico que faz uma vacina chegar ao braço das pessoas. É a avaliação rigorosasaque esportiva betuma agência regulatória que permite a aprovação do produto.
Estou na contracorrentesaque esportiva betmeus colegas, e tenho recebido críticas nesse sentido, mas essa foi a nossa prioridade: entregar o máximosaque esportiva betinformações para as agências regulatórias para que elas pudessem tomar uma decisão. Porque, independentemente da publicação, somente com o aval das agências é que seria permitida a administração destas vacinas. E isso destaca mais uma vez o papel da agência regulatória, a importância da equipe científica que trabalha lá esaque esportiva betsua independência política.
Nesse contexto, é muito difícil estabelecer estratégiassaque esportiva betcomunicação apropriadas. E a gente viu,saque esportiva betvárias vacinas, que precisamos aprender a nos comunicar melhor com a população. Essa é uma situação que é muito nova para nós. Antes, o nosso trabalho não era objeto dos holofotes da imprensa. Antes da pandemia, era difícil explicar o que eu fazia até para a minha família. Agora todo mundo sabe, e com bastante detalhe.
Essas informações [sobre as vacinas] saem nos jornais, são objeto das conversas no ônibus, no salãosaque esportiva betcabeleireiro e nas festas da família. Eu acho que nós estávamos mal preparados para fazer essa comunicação para o público. Isso está sendo objetosaque esportiva betuma reflexão no Brasil e no mundo.
E essa questão da divulgação dos resultados já existia antes da pandemia. É normal que as companhias divulguem seus resultados preliminares para a imprensa. Sempre houve, claro, um interesse comercial das farmacêuticas e dos governos nisso. Mas isso não era um problema antes porque não se tratavasaque esportiva betum objetosaque esportiva bettanto escrutínio público.
Agora, essa questão virou um problema. Nós somos assunto constantemente e não estávamos acostumados. E isso nos pegou mal preparados e espero que possamos aprender, enquanto coletivosaque esportiva betcientistas, a lidar melhor com essa situação.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Deve ter sido um desafio enorme explicar o que é uma taxasaque esportiva beteficácia, o que é efetividade, como os estudos foram feitos...
saque esportiva bet Palacios - Vale a pena ressaltar o jornalismo especializadosaque esportiva betsaúde. Vocês fizeram um excelente trabalho. A gente vê um esforço dos meiossaque esportiva betcomunicaçãosaque esportiva bettransmitir a informação.
Mas existem questõessaque esportiva betcomo se geram expectativas que são muito difíceissaque esportiva betlidar. Aqui novamente vemos como as ciências sociais são importantes, pois existe uma representação social do que é uma vacina.
E essa representação social indica que, quando se está vacinado, você evita por completo que algo aconteça. Mas, do pontosaque esportiva betvista científico, a gente já sabia que existiam as vacinas imperfeitas. São aquelas que não evitam por completo uma doença, mas, pelo menos, diminuem o riscosaque esportiva betdesenvolver as formas mais graves dela. E nós temos exemplos disso, como o imunizante que protege contra o influenza, o causador da gripe.
Houve uma falhasaque esportiva betcomunicação, que ainda não conseguiu ser superada. Precisamos ajustar a expectativa do público sobre o que esperar das vacinas contra a covid-19. E isso não é especificamente um problema que aconteceu só com a CoronaVac, mas com muitas outras.
Talvez os resultadossaque esportiva beteficácia muito elevados das vacinassaque esportiva betmRNA contribuíram para gerar essa distorção na expectativa, que neste momento está sendo ajustada. Porque o objetivosaque esportiva bettodos que estávamos desenvolvendo as vacinas era criar uma solução contra as formas gravessaque esportiva betcovid-19. A proteção contra as apresentações mais leves da doença era um bônus, algo a mais que esses produtos poderiam fazer.
Tem sido um trabalho ajustar a expectativa da população sobre o que esperarsaque esportiva betuma vacina. E isso é algo que ainda estásaque esportiva betcurso e temos que seguir construindo coletivamente.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Falandosaque esportiva bettrabalho contínuo, o mundo já tem maissaque esportiva betcinco vacinas contra a covid-19 à disposição, mas existem várias outras ainda na etapasaque esportiva bettestes e desenvolvimento. Faz sentido continuar com esses estudos? Ou os produtos que temos agora já são suficientes?
saque esportiva bet Palacios - Quando vemos a distribuiçãosaque esportiva betvacinas no mundo, é possível notar que há um déficit enorme. E acho que essa deveria ser uma das grandes preocupações nossas, como humanidade. Você vê como é irônico: nos países desenvolvidos, muitas pessoas recusam a vacina e há doses sobrando, enquanto nos paísessaque esportiva betdesenvolvimento os indivíduos estão ansiosos para receber as vacinas, que não chegam.
Essa equação precisa ser resolvida. E uma das formassaque esportiva betresolvê-la é incluir mais atores a esse mercadosaque esportiva betvacinas. Assim, eles conseguem trazer diferentes alternativas e aumentar a acessibilidade para todas as populações.
Essas outras vacinas também nos permitiriam evitar eventos adversos e confrontar a possibilidadesaque esportiva betvariantes que surgiram nos últimos meses. Outro benefíciosaque esportiva better mais opções é aquilo que temos visto sobre a alternância das doses entre diferentes produtores. Essa estratégiasaque esportiva betintercambialidade tem se mostrado interessante, mas é algo que ainda está sendo estudado.
Há um segundo gruposaque esportiva betvacinas que estásaque esportiva betdesenvolvimento. Elas já trabalham para diminuir a transmissão do vírus. E por que elas são diferentes? A infecção por covid-19 começa principalmente pelo nariz e pelo aparelho respiratório superior. Então o tiposaque esportiva betimunidade que a gente precisa para controlar infecções nessa região está mediada por um anticorpo chamado IgA. E as vacinas injetáveis não são muito boas para gerar esse tiposaque esportiva betimunidade. Alguns grupossaque esportiva betpesquisa estão trabalhando com produtos focadossaque esportiva betgerar uma resposta imune mais específica, que pode ajudar a controlar a transmissão do vírus.
Essas novas geraçõessaque esportiva betvacinas têm outros objetivos, distintos daqueles que foram inicialmente planejados para a primeira geração. Por isso é interessante que as pesquisas continuem.
Nem todas as candidatas vão sobreviver no mercado e há uma diferença na rapidez nos resultados, na aprovação e nas vantagens e desvantagens. Existe uma evolução natural desse conhecimento e seguramente, no decorrer dos próximos quatro ou cinco anos, o mercado vai se reduzir a algumas poucas vacinas que permitirão garantir um fluxo contínuosaque esportiva betprodução para o estado pós-pandêmico.
saque esportiva bet BBC News Brasil - No finalsaque esportiva betjulho e no começosaque esportiva betagosto, veio a notíciasaque esportiva betque o senhor e alguns colegas tinham saído do Instituto Butantan. O que motivou essa decisão?
saque esportiva bet Palacios - Prefiro não comentar a minha saída ou a dos meus colegas que deixaram o instituto nesse período, se você me permite.
saque esportiva bet BBC News Brasil - Do pontosaque esportiva betvista científico, o senhor acha que é possível tirar aprendizados sobre esse períodosaque esportiva betum ano e meio desde o início da pandemia?
saque esportiva bet Palacios - Talvez uma das coisas mais importantes foi estreitar o compartilhamentosaque esportiva betinformação com nossos pares e fortalecer os vínculossaque esportiva betconfiança. Esse aspecto foi definitivo para chegar aonde chegamos, como coletivosaque esportiva betcientistas. Sem essa troca, não conseguiríamos ter uma quantidadesaque esportiva betvacinas disponíveis num prazo tão curto. Tivemos esse aprendizado e uma visão mais aberta sobre compartilhar, escutar os colegas e dividir ideias e informações.
A outra questão é aprender a se comunicar. E, nesse sentido, há uma janelasaque esportiva betoportunidade que temos enquanto cientistas,saque esportiva betapresentar a importância da ciência para a sociedade. Nós precisamos tirar issosaque esportiva betlição e seguirsaque esportiva betfrente. Devemos continuar a mostrar esse conceito da ciência como atividade humana.
E aqui quero ressaltar que a ciência é uma atividade humana tão válida quanto qualquer outra. Não somos melhores ou piores que o camponês, que produz nossos alimentos, ou o motorista, que nos leva e nos traz nos ônibus. A ciência é uma atividade humana como qualquer outra, mas ela fica mais invisível para a sociedade. As pessoas estavam menos familiarizadas com o que era um cientista e com o que fazemos.
Essa foi uma oportunidadesaque esportiva betourosaque esportiva bettrabalhar nesse sentido. E nós podemos dizer que há, sim, ciência sendo feita na América Latina e no Brasil e como isso é importante e decisivo. Dar esse valor social à ciência ajuda, inclusive, na escolha orçamentária e nas políticas públicas.
saque esportiva bet BBC News Brasil - saque esportiva bet D saque esportiva bet o pontosaque esportiva betvista da sociedade saque esportiva bet , q saque esportiva bet uais são os desafios que teremos pela frente?
saque esportiva bet Palacios - Estamos com um problema muito grandesaque esportiva betcomunicar a questão do risco. Precisamos começar a trabalhar e empoderar as pessoas sobre o manejosaque esportiva betrisco.
Eu venhosaque esportiva betuma geração que trabalhou muito com HIV [o vírus causador da aids]. No início, nós tínhamos um mantra que era: use camisinha, use camisinha e use camisinha. E estamos quase repetindo isso agora: use máscara, use máscara e use máscara.
No caso do HIV, nós desconhecíamos a realidade social e o fatosaque esportiva betque as pessoas eventualmente não iam utilizar camisinha. Isso aconteceriasaque esportiva betalgum momento. A gente nunca ensinou como tomar essa decisãosaque esportiva betnão usar camisinha. E estamos fazendo a mesma coisa agora.
Não estamos ensinando às pessoas qual o momentosaque esportiva betque não precisa usar máscara ou quando utilizar. Temos que mostrar os recursos e as informações que todos deveriam tersaque esportiva betmente para tomar uma decisãosaque esportiva betnão usar máscara num determinado ambiente.
Com isso, as pessoas tomam decisõessaque esportiva betforma totalmente desinformada, porque a gente não está ensinando adequadamente.
E existem muitos recursos tecnológicos para isso. Mesmo no HIV, para o qual não temos vacina até hoje, nós possuímos a profilaxia pré-exposição, a Prep, e várias outras alternativas que permitiram às pessoas equacionar o risco para cada situação. E nós ensinamos como fazer isso.
Deveríamos fazer o mesmo com a covid-19. A vacina nos deu uma grande plataforma para diminuir o riscosaque esportiva betforma geral. Particularmente na América Latina, a vacinação tem uma boa aceitação, e isso vai dar uma vantagem importantesaque esportiva betcomparação a outros países onde existe uma hesitação, como nos Estados Unidos e na Europa.
Mesmo assim, precisamos começar a explicar para as pessoas sobre o manejosaque esportiva betrisco. Um exemplo: você quer passar o Natal com familiares e amigos. Como planejar esse evento para que ele não acabe disseminando a covid-19 para pessoas vulneráveis, que vão acabar internadas? A gente tem que começar a ensinar isso e acho que essa é uma outra falha que precisa ser corrigida Ainda há tempo.
Em que circunstâncias é necessário usar máscaras? Em quais situações é desejável vesti-las e quais são aqueles momentossaque esportiva betque o risco é tão baixo que realmente não será preciso utilizá-las? Podemos aprender com o HIV para fazer algo parecido com a covid-19.
E precisamos também explicar o risco que estamos dispostos a tomar. Essa é uma discussão que vamos ter que fazer enquanto sociedade. Esses debates já ocorremsaque esportiva betoutras latitudes. A Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, estão abrindo mão da políticasaque esportiva betinfecção zero. Na França e nos Estados Unidos, foram criadas políticas para impulsionar a vacinação. Já na Inglaterra, o passaportesaque esportiva betimunidade parece estar caindo por terra.
Essa discussão precisa acontecer. A sociedade precisa saber que pode ter covid-19 mesmo depoissaque esportiva betvacinada. E esse pode não ser um problema para uma pessoa jovem. Mas como proteger aqueles indivíduos mais vulneráveis? Como fazer a gestão do próprio risco? Isso será fundamental nesta etapa que está se aproximando.
Não vemos esse debate evoluir no Brasil e na América Latinasaque esportiva betforma mais aberta e clara. Há um custo muito grande do distanciamento social, particularmente para as crianças e os adolescentes. Nós somos seres sociais, precisamos do convívio. Vamos ter que aprender a fazer issosaque esportiva betuma forma mais segura. E talvez esse seja o próximo desafio, a próxima fronteira a ser vencida.
saque esportiva bet BBC News Brasil - E o senhor vê alguma luz no fim do túnel? Há alguma perspectiva para o fim da pandemiasaque esportiva betcovid-19?
saque esportiva bet Palacios - Temos que entender o que significa efetivamente o fim da pandemia. Esse é um problemasaque esportiva betconceito. Se você espera que a covid-19 seja erradicada, a resposta é não. É muito provável que nós vamos morrer sem ver o fim dela. São pouquíssimas as doenças infecciosas que foram completamente eliminadas. Quando falamossaque esportiva betquadros infecciosos respiratórios, isso é ainda mais difícil. Nessa perspectiva, portanto, a resposta é não.
Agora, a emergência pela situação pandêmica deve acabar quando avançarmos com a vacinação e conseguirmos estabelecer as medidas para retomar o convívio social. Isso é algo que, sim, esperamos. Em parte, esse cenário depende da ofertasaque esportiva betvacinas e da aceitação da população. Isso vai determinar a rapidez para controlar a pandemia.
O Brasil, por exemplo, que tem avançado bastante no programasaque esportiva betimunização, precisaria entender que é um dever do país ajudar os vizinhos, como Peru, Bolívia, e Venezuela, que estão com mais problemassaque esportiva betacesso às doses.
Só quando todos os países e todas as pessoas saírem da pandemia é que podemos dizer que controlamos o coronavírus.
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