Bolsonaro 'fantasia' retorno a 1964, mas cenário não permite golpe, opina cientista político:pixbet master
Com duras críticas ao governo Bolsonaro, ele conversou com a reportagem sobre o momento político atual no Brasil e no mundo e quais comparações históricas são, empixbet masteropinião, factíveis ou não.
Leia os principais trechos da entrevista, divididospixbet mastertópicos:
'Espetáculopixbet masterconfronto'
Para Lynch, caiu-sepixbet masteruma espéciepixbet masterarmadilha ao achar-se que o governo, que vive baixa popularidade e relativo isolamento, seria capazpixbet masterpromover uma ruptura institucional (ou um golpe) nas circunstâncias atuais, mesmo angariando um número representativopixbet masterapoiadores no 7pixbet mastersetembro.
"Se você observar a conduta do Bolsonaro desde o início da carreira, ele sempre joga o jogopixbet mastersimulaçãopixbet masterpoder,pixbet mastersubversão reacionáriapixbet masterdefesapixbet masteruma imagempixbet masterbom governo associado ao regime militar e seus heróis (os militares, os PMs e os repressores). Ele se vende como alguém que está organizando um motim que nunca explode. O que interessa à família Bolsonaro é reiterar a política como espetáculo do confronto. A gente vê isso na Cultura, nas Relações Exteriores (com o ex-ministro Ernesto Araújo)", diz.
Ao mesmo tempo, prossegue Lynch, "são várias as atitudes não compatíveis com a ideiapixbet masterque ele queira ou possa dar um golpe. Veja a reaçãopixbet masterpersonagens graúdos da República, sejam auxiliares do Palácio do Planalto, sejam (ministros do Supremo) como Gilmar (Mendes) e (Luís Roberto) Barroso, oupixbet masterPacheco (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado) ou (o presidente da Câmara, Arthur) Lira: todos criticam o golpismo, mas sempre passam (a ideia)pixbet masterque ninguém acredita naquilo ali - até porque eles têm contato com os generais e monitoram (a situação)."
Sobre os atospixbet master7pixbet mastersetembro, Arthur Lira afirmou na quinta-feira (2/9) que "o único a perder" se houver tumultos nas manifestações será o próprio Bolsonaro.
'Um golpe absolutamente impossível'
O presidente da República, porpixbet mastervez, manteve o tompixbet masterameaça, dizendo a apoiadores nos últimos dias que "não precisamos sair das quatro linhas da Constituição, mas podemos jogar fora dessas quatro linhas".
Para Lynch, isso é parte dessa estratégiapixbet masterintimidação.
"Bolsonaro quer meter medo para impor os termos dele e tentar dizer 'olha o que eu vou fazer se vocês tentarem prender a minha família'. Ele está ganhando tempo e provando que tem forçapixbet masterbarganhar, negociar", opina.
"Existe a exploraçãopixbet masterum sistemapixbet masterintimidação. Ele excita a base radical, faz com que eles acreditem no mito do golpe - o populismo reacionário explora o mito do líder do povo que vai conseguir restaurar o passadopixbet masterouro, que é uma fantasia do regime militar - e ao mesmo tempo incute nos inimigos a crençapixbet masterque ele é capazpixbet masterdar o golpe. A intimidação gera esses dois efeitospixbet masterpúblicos diferentes."
"Você explora também uma fantasia do eterno retornopixbet master64. Como se o Brasil fosse a mesma coisa, o Exército fosse igual, como se estivéssemos no mesmo ponto e com a ideia um pouco fantasiosapixbet masterque é fácil dar um golpe, chamar as Forças Armadas e fechar o Congresso. Esse golpe é absolutamente impossívelpixbet masteracontecer. Em 64, metade do país ou mais era contra o governo (então não era um autogolpe), o Congresso queria o golpe."
Um cenário muito diferente do atual, diz Lynch, quando o Poder Executivo federal enfrenta fortes resistências no Congresso, na opinião pública e entre grande parte dos governadores estaduais.
Esse "blefepixbet masterque só Bolsonaro segura o povo", opina Lynch, seria uma espéciepixbet mastertentativapixbet masterobter algum tipopixbet masterimunidade, anistia ou garantias para si e para seus filhos - uma vez que todos eles são investigadospixbet masterdiferentes inquéritos no Supremo Tribunal Federal, na Polícia Federal e na Justiça.
Um dos desdobramentos mais recentes diz respeito ao filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio que teve seu sigilo quebrado pela Justiçapixbet mastermeio a investigaçõespixbet masterum suposto esquemapixbet mastercontrataçãopixbet masterfuncionários fantasmaspixbet masterseu gabinete.
Como exemplo da preocupação do presidente da República com o destinopixbet mastersua família, Lynch cita o exemplo da famosa reunião entre Bolsonaro e seus ministros,pixbet master22pixbet masterabrilpixbet master2020, cujo teor foi tornado público por decisão do STF.
Naquela reunião, diz o cientista político, "Bolsonaro não (demonstra) nenhum interessepixbet masternada do que está acontecendo nos assuntos administrativos (citados pelos ministros). Ele só entra para falar quando envolve a família dele. Queria intervir na PF do Rio e diz 'eu não vou esperar f**er minha família toda'. Essa é a grande preocupação dele o tempo todo. (...) Ele vai usar os radicais para barganhar a imunidade dele e ir ganhando tempo. É o João Kleber da política (em referência ao apresentadorpixbet masterTV que tentava sempre demonstrar que seu programa estava prestes a fazer alguma grande revelação): 'vou dar golpe, mas não agora, depois dos comerciais'."
O perigo, diz Lynch, é esse tensionamento sair do controle, assim como aconteceupixbet master6pixbet masterjaneiro nos EUA, com a invasão do Capitólio por partepixbet masterextremistas apoiadorespixbet masterDonald Trump.
"Como a coisa está escalonando muito, eles (figuras centrais do poder, como Arthur Lira) estão advertindo que, se sair do controle, o jogo pode acabar para Bolsonaro, porque se acontecer algum incidente sério os custos podem ficar muito altos", opina Lynch.
A dificuldade maior, prossegue, "é que a eleição está muito longe (para manter esse jogo por mais um ano)."
Comparações históricas
"É cedo para dizer o que vai acontecer, mas a experiência no mundo indica que a gente não pode comparar (o cenário) com o passado brasileiro ipsis litteris. Há ciclos parecidos - estamos num ciclo conservador, comopixbet master60 para 70 e na décadapixbet master30 -, mas que nunca se repetem igualmente do pontopixbet mastervista da anti-democracia", opina.
"O Estado Novo foi muito mais ditatorial do que o regime militar, e um regime autoritário hoje, se houvesse, seria mais frouxo do que foi o regime militar. Isso porque a sociedade muda, vai democratizando."
"Por exemplo, os governos que se pretendem autocráticos na Polônia ou na Hungria não são os governos do tempo do comunismo. (O presidente da Rússia Vladimir) Putin, por mais horroroso que seja, não é igual a Stálin ou ao czar Nicolau 2°. Porque tem um processopixbet masterequalização das condições; as pessoas vão ficando mais cultas e lidas, a sociedade fica mais plural, vem a tecnologia, e você não tem como impor uma ordem autocrática daquele tipo."
No Brasil, diz Lynch, "não é porque se tem uma imaginação do regime militar que tem como restaurar o regime militar. Assim como não dá para acreditarpixbet masteruma revoluçãopixbet masteresquerda que mudaria tudo do dia para a noite. Isso não significa que o imaginário não conte, mas essa inspiração não (é suficiente para) replicar o governo do passado."
'Ciclopixbet masternacionalismo e populismo'
"A democracia tem muito mais (pilares) do que tinha no passado. Mas a gente também não pode imaginar que o futuro é ter sempre a mesma democracia que teve na Nova República. A gente não vai voltar para (o mesmo ambiente global de) 2010 se o Lula for eleito. A globalização como ideologiapixbet masterque todo mundo vai se dar bem,pixbet masterlivre circulaçãopixbet mastermercadorias,pixbet master(criação da) União Europeia, aquilo acabou. A gente entrou num ciclopixbet masterretração,pixbet masternacionalismo, num equivalente à décadapixbet master1930. Mas hoje Hitler não conseguiria fazer o que ele fez naquela época - a gente tem mudanças."
Lynch acha que o exemplo global mais próximo do cenário brasileiro atual é o dos EUA sob Donald Trump.
"Os EUA são mais como o Brasil: um país enorme, com muitas assimetrias, com federalismo e mais fragmentação do poder (em relação a outros países atualmente sob líderes populistas, como Hungria e Polônia). E ainda assim Trump tinha um partido (o Republicano). Bolsonaro nem partido tem, (...) não domina o Congresso, nem a Suprema Corte, não tem penetração institucional, só manda no Executivo federal."
De qualquer modo, Lynch e outros pesquisadores opinam que o avanço no populismo e do nacionalismo deverá ir além dos governospixbet masterTrump, Bolsonaro e demais governos vigentes atualmentepixbet mastertodo o mundo.
Um futuro possível para Bolsonaro, opina Lynch, caso o presidente não seja reeleito no pleito do ano que vem, é conseguir eleger ao Congresso ou a cargos estaduais alguns aliados importantes - além dos filhos, nomes como o ex-ministro Abraham Weintraub ou o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.
"Ele (Bolsonaro) pode ficar igual a família (francesa da direita radical) Le Pen, atazanando por décadas a França com um partido fascista familiar. Minha impressão épixbet masterque isso é um meiopixbet mastervida para eles - são menos golpistas do que parasitas, que vivempixbet masterexplorar a democracia, como faz o parasita do seu hospedeiro. Eles vivem do ódio da democracia, mas não têm nada para colocarpixbet masterseu lugar. Querem viver às custas dela."
"E o discurso nacionalista voltou, seja com Lula ou com quem vier, porque o mundo inteiro está assim. O cosmopolitismo meio que morreu. Há teorias que dizem que o populismo veio para ficar, não necessariamente para destruir a democracia liberal, mas como estilopixbet masterpolítica para acabar com a modorra e a sensaçãopixbet masternão representação que existia antes no mundo inteiro. É um estilo que ativa as paixões, mobiliza, mesmo sendo meio irracional - justamente por ser meio irracional. Pode ser um tipopixbet masterpolítica que vai ficar aí por um bom tempo, até passar esse ciclo. Mas o meu ponto é que isso não necessariamente é uma ditadura."
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