Como Davati negociou vacinas Brasil afora sem avalslots brasafabricantes:slots brasa
A AstraZeneca diz que não disponibiliza a vacina por meioslots brasaintermediários. E o Brasil já tinha acordo com a AstraZeneca por meio da Fiocruz, que produz as vacinas ou importa doses prontas do Instituto Serum, na Índia.
Em nota, a Davati disse que "não é representante do laboratório AstraZeneca e jamais se apresentou como tal" (leia mais no fim dessa reportagem).
A suposta negociação do governo brasileiro com a Davati veio à tona há duas semanas, quando Dominghetti, suposto representante da empresa, disse ao jornal Folhaslots brasaS.Paulo que funcionários do Ministério da Saúde cobraram propinaslots brasaUS$ 1 (R$ 5,26) por dose para fechar o contrato.
O diretor exonerado do departamentoslots brasalogística do Ministério da Saúde que teria cobrado a propina, Roberto Ferreira Dias, negou na CPI da Covid nesta semana que tivesse pedido propina e disse que não levou adiante a oferta da Davati porque Dominghetti não apresentou documentos comprovando que a empresa tinha vacinas para entregar.
A Davati também diz que nunca tomou conhecimento da alegaçãoslots brasapedidoslots brasapropina e que Dominghetti não tinha poder para negociarslots brasanome da empresa.
Vendas
Supostos representantes da Davati abordaram o governo federal duas vezes. A primeira, por meioslots brasaDominghetti. A segunda, três semanas depois, no dia 9slots brasamarço, pelo advogado Julio Caron, segundo e-mails disponibilizados pelo Ministério da Saúdeslots brasaresposta a um pedido via Leislots brasaAcesso à Informação.
O advogado ofereceu, por e-mail, 300 milhõesslots brasadoses ao governo federal, apresentando a Davati como "distribuidor autorizado da AstraZeneca". Seu e-mail foi encaminhado a outras instâncias do ministério com prioridade "alta".
À BBC News Brasil, Caron diz que também ofereceu vacinas para vários Estados interessados, sem especificar quais.
Mas a Davati diz que só um representante estava "credenciado" para "facilitar a ofertaslots brasavacinas contra a covid-19": Cristiano Alberto Carvalho, que "detinha poderes limitados". Caron teria apenas "se oferecido para atuar como representante da empresa no Brasil", mas a empresa "retornou que já possuía representantes no país", segundo nota da Davati.
Segundo o jornal O Globo, uma análise do Ministério da Saúde concluiu que a oferta não teria sido procedente, "uma vez que a própria AstraZeneca informa que apenas realiza negociaçãoslots brasaofertasslots brasavacina diretamente com os governos".
Procurado por e-mail pela BBC News Brasil para comentar as supostas negociações com a Davati desde sexta (2/7), o Ministério da Saúde não respondeu até a conclusão desta reportagem.
Outras ofertasslots brasavacinas foram feitas por "vendedores" diferentes, que às vezes nem sabiam da existência um do outro.
Uma das entidades procuradas foi o Consórcio Paraná Saúde, por Paulo Ignácio Uhlmann, conhecido como Paulinho Uhlmann emslots brasacidade natal, Taió, Santa Catarina, onde já foi vereador pelo PR. Hoje, tem uma empresaslots brasaimportaçãoslots brasaprodutos da China chamada Factoall.
É por ter experiência com importação, diz ele, que foi procurado por Caron para prospectar e verificar interessados no sul do país. Se o negócio fosse fechado, ganharia "30 e poucos centavos por dose". Caron confirma que o acordo com Uhlmann era que, caso conseguissem fechar alguma venda, ele teria parteslots brasasua comissão.
"Esse pessoal me ofereceu representação para fazer processoslots brasaimportação. Nossa intenção era buscar clientes", diz Uhlmann. "Nosso trabalho era ter juntado as LOIs e repassado para eles."
LOI, termo usado também por Dominguetti na CPI, significa Letter Of Intent, ou Cartaslots brasaIntençãoslots brasaCompra.
"Posso ser bem sincero? Desde o início, para falar a verdade, a gente pouco acredita nesse tiposlots brasanegócio. Mas assim, tratando-se da vacina, que era uma solução, e não havia dinheiro antecipado… Nosso trabalho era angariar quem tinha intençãoslots brasacompra. Eu não estava fazendo nadaslots brasaerrado. Só fiz uma busca para eles."
O Consórcio Paraná Saúde chegou a enviar uma cartaslots brasaintençãoslots brasacompra expressando interesseslots brasa2 milhõesslots brasadoses. Mas "nenhuma tratativa avançou, tampouco houve qualquer formalizaçãoslots brasacompraslots brasavacinas por parte do Consórcio Paraná Saúde, inclusive com a informação da inviabilidadeslots brasaentrega", diz o consórcio. Ao receber um e-mail da Davati, consultaram o site da AstraZeneca, confirmando que o laboratório não usava intermediários.
A cidadeslots brasaLondrina, no Paraná, também foi procurada, mas por outro "vendedor".
"Não apresentaram nenhuma informação crível. Não havia o mínimoslots brasaformalidade para prosseguir com uma negociação", diz o secretário municipalslots brasagestão pública da cidade, Fabio Cavazotti. "Como gestorslots brasacompras, via ali todos os elementos para desconfiança."
Um homem que se apresentou como representante da Davati mandou mensagens insistindo no acordo. "Nosso intuito principal é tentar salvar esse pessoal todoslots brasaLondrina", disse,slots brasaum áudioslots brasaWhatsApp. "Quem não aproveitar a chance que estamos oferecendo ficarão (sic) sem vacinas e serão (sic) responsáveis por omissão, quando a oportunidadeslots brasaadquirir chegou até suas mãos", escreveu,slots brasadeterminado momento.
O vendedor ofereceu vacinas da Janssen e da Sinovac. Tanto a Janssen quanto o Instituto Butantan, que tem acordo com a Sinovac, dizem só fornecer vacinas ao Ministério da Saúde. Cavazotti pediu diversas vezes documentos que comprovassem que ele tinha autorização para negociarslots brasanome das empresas, mas recebeu apenas um documento mostrando que Cristiano Alberto Carvalho era representante oficial da Davati no Brasil.
O vendedor pediu que o secretário preenchesse um documentoslots brasaanexo se tivesse interesseslots brasacomprar vacinas para Londrina e que então, só depois, ele poderia solicitar todos os documentos necessários.
O documento enviado era um modelo que servia para diferentes municípios. "Municípioslots brasaNNONONONNO - SP, 27slots brasaabrilslots brasa2021", dizia a primeira linha. "Ao Senhor Cristiano Carvalho, Representante da DAVATI MEDICAL SUPLY no Brasil. ASSUNTO: Interesse na Aquisição da Vacina Jansen. Caro Senhor, Nós do Governo do Municípioslots brasaNONONONONNON, pessoa jurídicaslots brasadireito público interno, inscrito no CNPJ 00.000.000/0001-22, abaixo assinado manifestamos nosso interesse na aquisiçãoslots brasa50 mil doses da Vacina Jansen. Para tanto solicitamos, o envioslots brasaPROPOSTA COMERCIAL FORMAL com as condições para o fornecimento da Vacina Jansen."
Cavazotti não preencheu nada e parouslots brasaresponder às mensagens.
A BBC News Brasil tentou contato com o vendedor por ligaçõesslots brasatelefone e mensagens no WhatsApp, mas não recebeu resposta.
A Secretariaslots brasaPlanejamento e Gestãoslots brasaMinas Gerais também confirmou que foi procurada pela Davati no dia 12slots brasaabril. A secretaria diz que o representante que a procurou foi Cristiano Carvalho - o único, segundo a Davati, credenciado para representar a empresa no país.
A pasta manifestou seu interesse por 20 milhõesslots brasadoses, emitindo uma LOI e uma LOA (cartaslots brasaautorização), mas, ao solicitar documentaçãoslots brasahabilitação técnica e jurídica - incluindo a comprovaçãoslots brasaque a empresa citada representava a indústria — a secretaria diz nunca ter recebido os documentos. A proposta não foi pra frente. Carvalho confirma as tratativas com Minas Gerais.
Davati
A Davati Medical Supply LCC, que negociou com o governo brasileiro, foi criada na metadeslots brasa2020. Está registrada no mesmo endereço da Davati Building Products, uma empresaslots brasaprodutosslots brasaconstrução civil, e da incorporadora Impact Developers,slots brasaAustin, no estado americano do Texas.
"Para auxiliar com a crise sanitária global, passou a atuar como facilitadora entre governos e instituições e detentoresslots brasacotasslots brasavacinasslots brasaCovid e distribuidores autorizadosslots brasatodo o mundo, com representantesslots brasadiferentes países. No Brasil, a empresa atua por meioslots brasarepresentantes e não possui diretores ou sócios locais", disse a Davati,slots brasanota.
Uma reportagemslots brasa2014 descreve Cardenas como um "empreendedor" que vendeu suas "empresasslots brasatecnologia" nos anos 2000 e que, comslots brasaincorporadora, queria disponibilizar casas com preços acessíveis para compradoresslots brasaprimeira vez. Em seu Linkedin, Cardenas se descreve como "visionário, pioneiro e empreendedorslots brasasérie com paixão por construção e tecnologia" que fundou diversos negócios duranteslots brasacarreira. A BBC Brasil entrouslots brasacontato com Cardenas por e-mail, mas não obteve resposta.
A Davati Medical Supply LCC virou notícia pela primeira vez neste ano quando ofereceu seis milhõesslots brasadosesslots brasavacina da AstraZeneca, também por US$ 3,50 cada, a uma nação indígena do Canadá, segundo a imprensa local.
Em nota à BBC News Brasil, os Serviços Indígenas do Canadá (ISC) disseram ter recebido uma solicitação da Federação das Nações Indígenas Soberanas e da nação indígena James Smith Creeslots brasa3 e 17slots brasafevereiro com relação à compraslots brasavacinas AstraZeneca. Os fabricantesslots brasavacinas confirmaram que essas ofertas não eram legítimas. "Dadas as sérias preocupações com relação à legitimidade dessas ofertas, o ISC procurou a autoridade apropriada."
O negócio nunca aconteceu. Em nota, a Davati diz que apresentou "todos os documentos necessários ao Departamentoslots brasaSegurança Interna dos Estados Unidos à Polícia Federal do Canadá e não foi encontrado nenhuma inconsistência ou acusação com relação à atuação da empresa".
Na época, Cardenas disse à rede canadense CBC que uma fonte "muito confiável" poderia potencialmente colocá-loslots brasacontato com vacinas da AstraZeneca. "Não somos um distribuidor da AstraZeneca. Temos acesso a pessoas que são e estamos testando esse canal para termos certezaslots brasaque podem entregar", afirmou.
Nota da empresa
Em nota enviada à imprensa, a Davati Medical Supply disse que "jamais anuiria com qualquer prática indevida".
"A Davati jamais participouslots brasaqualquer negociação ilícita", afirma Herman Cardenas, CEO da Davati Medical Supply, segundo a nota.
"A Davati Medical Supply apresentou ao Ministério da Saúde,slots brasafevereiro deste ano, oferta para intermediar a compraslots brasaaté 400 milhõesslots brasadosesslots brasavacina, restrita àquele período. Como demonstra o documentoslots brasaoferta (Full Corporate Offer - FCO) enviado à pasta, a Davati Medical Supply não detinha a posse das vacinas, atuando na aproximação entre o Governo Federal e um allocation holder, empresa que possuía créditosslots brasavacinas junto ao laboratório AstraZeneca."
Segundo o texto, "a FCO enviada formalmente ao Ministério da Saúde continha todas as informações, passo a passo, sobre como se daria a intermediação e entrega das vacinasslots brasaquestão, ficando claro que a Davati atuava como uma facilitadora".
"A Davati Medical Supply reforça que não é representante do laboratório AstraZeneca e jamais se apresentou como tal."
"A Davati Medical atua como distribuidoraslots brasamedicamentos e vacinas. Para auxiliar com a crise sanitária global, passou a atuar como facilitadora entre governos e instituições e detentoresslots brasacotasslots brasavacinasslots brasaCovid."
Em outra nota, a empresa disse que seus advogados no Brasil, Silveiro Advogados, "estão analisando o caso".
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