Com cataratas irreconhecíveis, rio Iguaçu está 'doente' e vê mata nativa minguar:picpay sportingbet
Segundo o Sistemapicpay sportingbetTecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), desde fevereiro, quase todo o Estado tem tido chuvas abaixo da média histórica.
Como as precipitações só tendem a voltarpicpay sportingbetoutubro, reservatóriospicpay sportingbethidrelétricas na bacia têm retido água para garantir alguma reserva para os próximos meses, o que também vem reduzindo a vazão do rio a jusante. Há seis hidrelétricaspicpay sportingbetgrande porte no Iguaçu.
Mas especialistas afirmam que, embora a chuva não esteja ajudando, o Iguaçu é hoje um rio "doente" e nunca esteve tão vulnerável à variação pluviométrica.
Segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, entre 1985 e 2019, a região da bacia do Iguaçu perdeu 21,3%picpay sportingbetsua vegetação nativa, formada principalmente pela Mata Atlântica.
E na sub-bacia que abarca as cabeceiras do rio, nos arredorespicpay sportingbetCuritiba, resta hoje apenas 7,2% da vegetação original, segundo Malu Ribeiro, diretorapicpay sportingbetPolíticas Públicas da ONG SOS Mata Atlântica.
"O Iguaçu é um rio doente e que, para se recuperar, precisapicpay sportingbetmata ciliar", ela afirma à BBC News Brasil.
Ribeiro explica que a Mata Atlântica, quando preservada, atenua o impactopicpay sportingbetsecas e temporais sobre os rios. A floresta retém no solo a umidade acumulada no período chuvoso, garantindo que as nascentes continuem a jorrar mesmo na estiagem.
Porém, quando as árvores são removidas e substituídas por lavouras ou pastagens, o solo deixapicpay sportingbetsegurar a umidade. Isso faz com que, na estiagem, as nascentes próximas gerem menos água ou até sequem.
Já na época úmida, as chuvas não conseguem infiltrar no solo desmatado e tendem a escorrer direto para os rios, causando erosão e enchentes.
Em 2018, Ribeiro participoupicpay sportingbetuma expedição que percorreu todo o curso do Iguaçu para analisar a qualidade da água e o impacto do desmatamento e da construçãopicpay sportingbethidrelétricas na bacia.
Ela diz que o rio está poluídopicpay sportingbetpraticamente todapicpay sportingbetextensão, principalmente por causapicpay sportingbetagrotóxicos, e que a qualidade da água é ruim até mesmo no Parque Nacional do Iguaçu, a maior área protegida da bacia.
Líderespicpay sportingbetdesmatamento
Imagens do satélite Landsat/Copernicus mostram a intensa destruição da floresta na bacia do Iguaçu nas últimas décadas. Em nenhum lugar a transformação foi tão avassaladora quantopicpay sportingbetRio Bonito do Iguaçu, no centro do Paraná.
Em 1984, uma densa e extensa floresta protegia a margem direita do Iguaçu no município. De lá para cá, só sobraram fragmentospicpay sportingbetmatapicpay sportingbettopospicpay sportingbetmorros epicpay sportingbetfaixas estreitas que acompanham cursos d'água.
Rio Bonito do Iguaçu foi o município brasileiro que mais desmatou a Mata Atlântica entre 1985 e 2015, segundo a SOS Mata Atlântica. Só ali foram destruídos 24,9 mil hectarespicpay sportingbetfloresta, o que equivale a quase o municípiopicpay sportingbetFortaleza inteiro.
A Mata Atlântica se estende por 17 Estados brasileiros. Cinco dos dez municípios que mais destruíram o bioma entre 1985 e 2015 ficam no Paraná.
E a destruição não parou. Em partes do Estado, como na própria Rio Bonito do Iguaçu, o noticiário lembra opicpay sportingbetpartes da Amazônia, com registros frequentespicpay sportingbetprisõespicpay sportingbetmadeireiros epicpay sportingbetapreensãopicpay sportingbettoras extraídas ilegalmente.
Em todo o Brasil, a Mata Atlântica já perdeu 87,6%picpay sportingbetsua cobertura original.
Conservação como empecilho
Para Clóvis Borges, diretor executivo da ONG SPVS (Sociedadepicpay sportingbetPesquisapicpay sportingbetVida Selvagem e Educação Ambiental), sediadapicpay sportingbetCuritiba, prevalece entre boa parte da elite política e econômica do Paraná a visãopicpay sportingbetque "a conservação é um empecilho ao desenvolvimento".
A destruição das florestas paranaenses teve um grande impulso a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1919), quando o Brasil enfrentava dificuldades para importar madeira.
Várias famíliaspicpay sportingbetimigrantes europeus passaram a se dedicar à extraçãopicpay sportingbetaraucárias, também conhecidas como "pinheiros-do-paraná" por abundarem na região. Muitas cidades no Paraná epicpay sportingbetSanta Catarina nasceram e cresceram graças à atividade madeireira.
Em 2001, porém, segundo um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), só restava no Estado 0,8% da área original ocupada pelas mataspicpay sportingbetaraucárias.
Ironicamente, o Paraná quase levou à extinção o pinheiro-do-paraná.
"Salvo o Parque Nacional do Iguaçu e a região costeira, o Paraná é um Estado devastado", diz Clóvis Borges.
Nos últimos dias, cresceram temorespicpay sportingbetque mesmo a proteção do parque nacional esteja sob risco.
Em 9picpay sportingbetjunho, deputados federais do Paraná conseguiram fazer com que um Projetopicpay sportingbetLei que permitiria a reaberturapicpay sportingbetuma estrada dentro da unidade tramitepicpay sportingbetregimepicpay sportingbeturgência, modalidade que acelera a análise da proposta.
A estrada foi fechadapicpay sportingbet1986 por uma decisão judicial e, desde então, foi recoberta pelas matas.
Autor da proposta, o deputado Vermelho (PSD-PR) diz que a estrada existia antes da criação do parque e que a obra seguirá boas práticas ambientais. Apoiadores da proposta dizem que moradores que viajam entre Serranópolis e Capanema economizarão 180 quilômetros se a estrada for reaberta.
Já Clóvis Borges afirma que a tentativapicpay sportingbetreabrir a estrada reflete uma "impertinência cultural".
Segundo ele, há 30 anos políticos paranaenses agem para desmontar órgãos ambientais estaduaispicpay sportingbetbenefíciopicpay sportingbetum "ruralismo canhestro".
Ele lembra que congressistas paranaenses estiveram entre os principais defensores das mudanças no Código Florestal aprovadaspicpay sportingbet2012 - mudanças que, entre outros pontos, afrouxaram as exigênciaspicpay sportingbetpreservação ao longopicpay sportingbetcursos d'água.
Antes da mudança, a legislação exigia a restauração e conservaçãopicpay sportingbetmargenspicpay sportingbetrios, riachos e nascentes. Com o novo código, muitos proprietários rurais ficaram dispensados da exigência.
Para Clóvis Borges, a bacia do Iguaçu só será recuperada quando proprietários rurais forem remunerados por conservar o ambiente.
Ele diz que já há formaspicpay sportingbetcalcular o valor que uma área protegida gera ao evitar emissõespicpay sportingbetcarbono e proteger as águas, por exemplo. "Agora falta conversar com as partes beneficiadas e cobrar delas para que paguem ao proprietário, porque ele só vai proteger se for pago", ele diz.
Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, também propõe soluções. "É importante estabelecer áreas públicas e privadas prioritárias para a restauração e ampliá-las, compensando os donos".
Ela diz ainda que o Brasil deve investirpicpay sportingbetoutras fontespicpay sportingbetenergia para não depender tantopicpay sportingbethidrelétricas e termelétricas.
"É importante investirpicpay sportingbetenergias limpas e renováveis, como eólica e solar, para que quando tivermos problemas climáticos não haja um conflito entre o setor elétrico e a preservação."
"As cataratas são um patrimônio da humanidade, não dá para ficar compartimentando ainda mais o rio", defende.
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