Vacina para HIV: O estudante que perdeu o tio para a aids e decidiu ajudar na busca por imunizante:fifa na bet

Thiago Storari

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Thiago Storari,fifa na bet29 anos, é voluntáriofifa na betestudo sobre vacina contra o HIV

O estudo do qual ele está participando, intitulado Mosaico, é o únicofifa na betfase três contra o HIVfifa na bettodo o mundo atualmente. Essa é a última etapa antesfifa na beto imunizante, caso aprovado nessa fase, ser disponibilizado para a população.

Os responsáveis pelo estudo são a empresa Janssen, controlada pela Johnson & Johnson, o Instituto Nacionalfifa na betAlergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (​NIAID, na siglafifa na betinglês), a Redefifa na betEnsaiosfifa na betVacinas contra o HIV e o Comandofifa na betPesquisa e Desenvolvimento Médico do Exército dos EUA.

A pesquisa é considerada um avanço muito importante no combate ao vírus, que teve os primeiros casos confirmados no início da décadafifa na bet80.

Nas últimas décadas, diversos cientistas trabalharam para tentar descobrir um imunizante contra o HIV. Já foram testadas outras vacinas, mas nenhuma foi considerada eficaz o suficiente para ser aplicada na população.

Entre os grandes desafios para encontrar um imunizante contra o HIV estão o fatofifa na betele possuir muitas variedades e sofrer diversas mutações para evitar ser atacado pelo sistema imunológico.

No caso do estudofifa na betfase três atualmente, os cientistas desenvolveram o imunizante por meiofifa na betpartes diferentes do HIV — uma espéciefifa na betmosaico — para atuar contra os mais diversos tipos do vírus.

Os especialistas têm grandes expectativas sobre o estudo Mosaico porque consideram que os conhecimentos que adquiriram nas últimas décadas, e até as tentativas frustradasfifa na betencontrar um imunizante, foram fundamentais para chegar à vacina que está sendo testada atualmente.

A morte do tio

Vagner, o tiofifa na betThiago

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Vagner morreufifa na bet2008, aos 37 anos. Família relata que ele teve problemasfifa na betsaúde após abandonar o tratamento contra o HIV

Por muitos anos, a imagem que Thiago carregou do HIV era a do tio, que se chamava Vagner,fifa na betfase terminal.

Vagner contraiu o HIVfifa na betmeados dos anos 90. "Ele foi infectado por usar drogas injetáveis. Pouco depois, foi preso por roubofifa na betcarga. Na prisão, teve tuberculose duas vezes e a minha tia conta que foi lá que ele começou o tratamento com antirretrovirais contra o HIV", relata Thiago.

O usofifa na betmedicamentos antirretrovirais, distribuídos gratuitamente por meio do Sistema Únicofifa na betSaúde (SUS), permite que um paciente possa viver bem e impede que desenvolva a aids.

Desde 1996, o Brasil garante o tratamento universal e gratuito por meio do SUS a pessoas que vivem com o HIV. Atualmente, 640 mil pessoas recebem medicamentos contra o vírus no país, segundo o Ministério da Saúde.

A saúdefifa na betVagner piorou quando ele decidiu, por voltafifa na bet2007, suspender as medicações. Segundo a família, o homem acreditava que estava curado do vírus.

Essa decisão foi crucial para que Vagner ficasse cada vez mais debilitado. Isso porque os antirretrovirais devem ser consumidosfifa na betmodo contínuo, pois são a única formafifa na betgarantir que um paciente possa viver bem com o HIV e fique indetectável — quando deixafifa na bettransmitir o vírus. Sem eles, o sistema imunológico do paciente é duramente afetado.

"Enquanto o meu tio fazia tratamento, ele estava bem. Ele se tornou pastorfifa na betuma igreja e formou família. Mas quando ele acreditou que não precisava dos remédios mais, emagreceu muito e ficou muito frágil. Qualquer gripe que ele tinha já o deixava muito ruim. A gente sabia que era porque ele havia abandonado o tratamento contra o HIV", relembra Thiago.

Mesmo com a saúde cada vez mais debilitada, Vagner insistia que não precisavafifa na betremédios porque estava bem. "Até que ele ficou tão mal que precisou ser internado no Emílio Ribas no iníciofifa na bet2008", comenta o sobrinho dele.

Thiago, na época com 16 anos, chegou a visitar o tio no hospital. "Ele estava muito fragilizado", relembra.

Após cercafifa na bettrês mesesfifa na betinternação, os médicos pediram que Vagner fosse levado para a casa da família. "Disseram que o estado dele era irreversível, porque ele não quis fazer o tratamento, e pediram que ele morresse perto dos parentes", diz Thiago.

Em casa, Vagner estava muito magro, não conseguia se alimentar direito e passava quase o dia inteiro deitado emfifa na betcama.

Na época, ele se separou e passou a morar com a mãe. O homem sobreviveu por mais quatro meses após deixar o hospital. "O meu tio chegou a pesar 30 quilos no fim da vida, por causa da aids. Quando ele contraiu uma pneumonia, não resistiu", relata o sobrinho. Vagner morreufifa na betsetembrofifa na bet2008, aos 37 anos.

Voluntáriofifa na betpesquisa sobre imunizante

Profissionalfifa na betsaúde aplica injeçãofifa na betThiagofifa na bethospitalfifa na betSão Paulo

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Registrofifa na betThiago feito no momentofifa na betque recebeu a primeira dose no estudofifa na betvacina contra o HIV

Desde a morte do tio, Thiago passou a conviver com o medofifa na betser infectado pelo HIV e viver situação semelhante àfifa na betVagner. Ele admite que até anos atrás desconhecia sobre o tema e hoje entende que é possível viver bem por meio dos antirretrovirais.

O jovem afirma que a história do tio fez com que ele tivesse um cuidado maiorfifa na betrelação ao HIV ou outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs),

Quando passou a ter uma vida sexual ativa, há cercafifa na betquatro anos, começou a fazer exames com frequência. "Vivi diversos conflitos internos sobre a sexualidade, por causa da religião. Mas aos 25 ou 26 anos, me entendi como um homem gay e sabia da importânciafifa na betfazer os exames com frequência", relata.

No início deste ano, quando foi a um postofifa na betsaúde para fazer exames, ele viu um anúncio sobre o estudo da vacina contra o HIV. No informativo, os responsáveis pela pesquisa diziam estar à procurafifa na betvoluntários.

"Eu já tinha visto sobre essa pesquisafifa na betuma propaganda no Instagram. Mas fui me informar mesmo depois que vi o anúncio no postofifa na betsaúde. Conversei com a médica, e disse que queria participar. Por ter o caso do meu tio na minha família, achei que seria interessante participar dessa iniciativa", relata.

Há alguns critérios para se tornar voluntário da pesquisa. É preciso ter entre 18 e 60 anos e não pode viver com o HIV. Os participantes precisam fazer partefifa na betdois grupos sociais com alta vulnerabilidade á infecção: homem que faz sexo com outro homem ou indivíduo transgênero — é importante frisar que não somente esses grupos estão suscetíveis ao vírus.

As inscrições para voluntários permanecem abertas. Os pesquisadores pedem que mais pessoas que se enquadrem no perfil e morem nas regiõesfifa na betque esses estudos são conduzidos, como São Paulo (SP), se inscrevam na iniciativa (mais informações neste link).

Além do Brasil, a pesquisa também é feita na Argentina, Itália, México, Peru, Polônia, Espanha e Estados Unidos. O estudo deve reunir cercafifa na bet3,8 mil voluntários. As inscrições começaramfifa na betnovembrofifa na bet2019, foram suspensasfifa na betrazão da pandemiafifa na betcovid-19 no ano passado e foram retomadas por voltafifa na betjunhofifa na bet2020.

Os voluntários são selecionados a partirfifa na betum questionário. Eles devem estar dispostos a passar por avaliações médicas, consultasfifa na betaconselhamento e testes regulares para o HIV.

Após se inscrever para participar da pesquisa, Thiago passou por triagem no Emílio Ribas no iníciofifa na betmaio. Foi a primeira vez que ele retornou ao hospital, referênciafifa na betinfectologia. No local, fez uma avaliação médica e psicológica. Posteriormente, foi considerado apto para participar dos testes.

Em 26fifa na betmaio, ele foi chamado para receber a primeira dose. Por se tratarfifa na bettestes clínicos, Thiago não sabe se recebeu o imunizante ou um placebo — substância sem nenhum efeito no corpo.

Os voluntáriosfifa na bettestes clínicos são divididosfifa na betdois grupos: aqueles que recebem doses do produto ativo e os que recebem placebo. Esse método é fundamental para saber se um imunizante é seguro e eficaz.

O objetivo é que o grupo imunizado esteja mais protegido contra determinada doença infecciosafifa na betrelação aos que receberam placebo.

Ao longofifa na betum ano, Thiago deve tomar mais três doses e fará exames frequentesfifa na betHIV. "Não fiquei com nenhum receio quando tomei a primeira dose. Sófifa na betfazer parte desse estudo que vai mudar a vidafifa na betmuita gente, me sinto feliz", diz.

A vacina contra o HIV

Ilustração do vírus HIV

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Nas últimas décadas, cientistasfifa na bettodo o mundo estudaram formasfifa na betcriar um imunizante contra o HIV

Os resultados do estudo Mosaico devem ser divulgadosfifa na betcercafifa na betdois anos e meio, avaliam os cientistas.

A vacina é considerada fundamental no combate ao HIV. Porém, é importante frisar que, além dos antirretrovirais para quem vive com o vírus, houve diversos avançosfifa na betrelação ao tema nas últimas décadas.

Atualmente há novas formasfifa na betprevenção ao vírus, além dos preservativos. Uma delas é a profilaxia pré-exposição (PrEP), comprimido com drogas antirretrovirais que previne a transmissão. Ela está disponível no SUS.

Outro avanço é a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), tratamento que deve ser feito após suspeitafifa na betexposição ao HIV. O procedimento deve ser iniciado em, no máximo, 72 horas após o contato com o vírus e dura 28 dias. O método também está disponível no SUS.

Enquanto o Brasil, que tem cercafifa na bet920 mil pessoas vivendo com o HIV, é considerado um modelo na distribuiçãofifa na betmedicamentos, nem todos os lugares do mundo têm o mesmo acesso aos antirretrovirais.

Para especialistas, não há dúvidasfifa na betque a vacina é a melhor formafifa na betevitar o avanço do HIVfifa na bettodo o mundo, que atualmente tem cercafifa na bet38 milhõesfifa na betpessoas infectadas pelo vírus. Essa imunização é a forma mais eficazfifa na beterradicar doenças infecciosas.

Desde o início da busca por uma vacina contra o HIV, há cercafifa na bet40 anos, o conhecimento sobre o vírus avançou muito. Isso se deve também a muitos estudos que não conseguiram atingir o objetivofifa na betdescobrir um imunizante eficaz, mas ajudaram a avançar no tema.

"Hoje há muito mais conhecimentofifa na betrelação ao HIV e às vacinasfifa na betgeral. Agora, com as informações dos últimos anos e o entendimento sobre o vírus é mais provável montar um esquemafifa na betvacinação que dê certo, aliando conhecimento científico com basefifa na bettudo o que deu certo ou errado no passado", relata o infectologista Álvaro Furtado, do Centrofifa na betReferência e Treinamento DST/Aidsfifa na betSão Paulo.

O objetivo dos cientistas é encontrar uma vacina que possa combater as inúmeras variações genéticas do HIV e estimule o sistema imunológicofifa na betforma mais ampla, porque o vírus é muito diverso.

Por que vacina contra covid surgiufifa na bettão menos tempo?

O imunizante do estudo Mosaico é desenvolvido por meiofifa na betum conjuntofifa na betproteínas semelhantes às que compõem a parte externa do HIV. Os cientistas frisam que não há risco da vacina infectar os voluntários.

Um dos especialistas que conduzem a pesquisa no Brasil, Furtado explica porque foi possível encontrar vacinas para a covid-19fifa na betmenosfifa na betum anofifa na betpandemia, enquanto o HIV ainda não possui um imunizante efetivo.

"O HIV tem várias estratégias para encarar o sistema imunológico do paciente, porque possui uma variação genética muito grande. É como se o HIV fosse uma caixafifa na betlápisfifa na bet36 cores, enquanto a covid é uma caixa com duas cores apenas", diz o infectologista.

"Como a variação genética e geográfica do HIV é muito grande, o sistema imune consegue ser enganado com mais facilidade. Por isso é preciso uma vacina que pense nisso e estimule o sistema imunológico a encontrar formasfifa na betcombater essa variação do vírus", acrescenta.

Ainda sobre a covid-19, o médico ressalta que foi possível produzir vacinasfifa na betum período considerado curto porque já havia conhecimentos sobre dois coronavírus identificados nas últimas duas décadas, o Mers e o Sars.

"Já havia conhecimento científico desses primeiros coronavírus, por isso existia uma basefifa na betentendimento imunológico para se fazer uma vacina. Já se conhecia a estrutura do vírus e as peças do quebra-cabeça para uma vacina. Os estudos anteriores só não caminharam porque essas epidemias acabaram e não deu para estudarfifa na betuma população", explica o infectologista.

"O que aconteceu com a covid-19 é que foi uma epidemia astronomicamente maior. Com o conhecimento dos dois primeiros coronavírus, foi possível testar vacinasfifa na betlarga escalafifa na betfase um, dois e três", detalha Furtado.

A vacina contra a covid-19 tem sido fundamental para evitar novos casos e mortes pela doença pelo mundo. Países com boa parte da população imunizada têm retomado, aos poucos, a rotinafifa na betantes da pandemia.

A expectativa éfifa na betque, assim como no caso da covid-19, uma vacina eficaz impeça o aumentofifa na betnovas infecções pelo HIV. Segundo estatísticas globais, são registradas maisfifa na bet1 milhãofifa na betnovas infecções pelo vírus no mundo por ano.

"O objetivo é ver se a vacina é segura e se tem eficácia acimafifa na bet50%. Se reduzirfifa na bet50% a transmissãofifa na betHIV no mundo, ela já muda a história do vírus", pontua o especialista.

"Já reduziria à metade os casos. Mas é preciso haver uma cobertura vacinal grande para ter essa efetividade populacional", ressalta Furtado.

'Estamos com grande expectativa'

Thiago Storari

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Estudante decidiu ser voluntário por considerar que estudofifa na betvacina representa um avanço muito importante

Para chegar aos resultados do estudo Mosaico, um comitê internacional terá acesso aos dados das pesquisas feitasfifa na betdiferentes países.

"Precisamos avaliar os voluntários após o período das vacinas. O HIV não é como a covid-19fifa na betque a pessoa sai na rua sem máscara e pode pegar. É preciso avaliar se ela teve relação desprotegida, se passou por alguma situaçãofifa na betrisco (de infecção pelo HIV) e fazer exames frequentes", explica Furtado.

"Se der certo, a intenção é que comece a ser introduzida, principalmente, antesfifa na betuma pessoa começar a ter vida sexual", acrescenta o médico.

Caso a vacina seja considerada eficaz, Furtado considera que será um momento histórico. "Estamos com grande expectativa, por ser uma vacina desenvolvida também com base nos resultados dos estudos anteriores", diz.

Ele aponta que a descoberta da vacina pode ser também o caminho para chegar a uma cura do vírus para as pessoas que vivem com HIV. "'À medidafifa na betque há sucessofifa na betuma vacina para prevenção, abre-se espaço para desenvolver novas linhasfifa na betpesquisa para a cura", declara.

Para Thiago, o estudofifa na betfase três simboliza a esperança. Ele conta que os familiares, que viram o tio dele sofrer intensamente no passado, ficaram felizes ao descobrir sobre a pesquisa da vacina.

"Eu contei para o pessoal da minha família que estou participando do estudo. Uma tia comentou que é uma formafifa na betfechar um ciclo. Ela viu o irmão falecer por complicações da aids e agora, com a ciência mais avançada, o sobrinho ajuda na busca pela prevenção", diz.

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