O jovem cientista que estudava impacto do coronavírus no cérebro e morreurollover betspeedcovid:rollover betspeed
Um legadorollover betspeedamor à pesquisa e à ciência.
Naturalrollover betspeedAbaetetuba, no interior do Pará, Nilton mudou-se para os subúrbios da capital, Belém, onde conheceria a futura mulher Sâmia - os dois eram vizinhos e estudavam na mesma escola. Começaram a namorar no Ensino Médio e estavam juntos havia 16 anos.
Na capital paraense, Nilton cursou graduação e mestradorollover betspeedneurociência e biologia celular pela Universidade Federal do Pará. Em 2012, mudou-se para São Paulo, onde ingressou no Institutorollover betspeedCiências Biomédicas (ICB) da USP.
Ali, foi aprovado no doutorado erollover betspeeddois pós-doutorados. Investigava o processorollover betspeedinflamação do cérebro, principalmente gerado pelo estresse, e como isso modifica o funcionamento das células, contribuindo para o desenvolvimentorollover betspeeddoenças como a depressão.
Bolsa no exterior
O esforço com o qual se dedicava à essa pesquisa foi recompensado no ano passado: Nilton foi aprovadorollover betspeedum intercâmbio no hospital Mount Sinai, um dos mais prestigiados dos Estados Unidos.
Mas a pandemiarollover betspeedcovid-19 mudaria seus planos. A viagem, que aconteceriarollover betspeedjaneirorollover betspeed2020, foi remarcada para janeiro do ano que vem.
Dizrollover betspeedorientadora, Carolina Munhoz, professora do Departamentorollover betspeedFarmacologia do ICB/USP: "O consulado americano suspendeu a emissão dos vistos e, logo depois, as fronteiras foram fechadas. O sonho do Nilton, desde que ele veio para São Paulo, era fazer um estágio no exterior".
"Ele era brilhante e sensacional, uma pessoa com quem adorávamos trabalhar. Ele sempre pensava no coletivo", acrescenta.
Carolina lembra que Nilton havia acabadorollover betspeedpublicar um estudo do qual era coautor na aclamada revista científica Nature Neuroscience.
"O que me dói mais nisso tudo é que ele realmente estava no auge da carreira dele e a pontorollover betspeedcolher os frutosrollover betspeedseu trabalho árduo", lamenta ela.
"Ele estava se preparando para poder prestar concurso. Tinha um currículo imbatível, mas até os concursos foram suspensos. Não tinha vaga."
Mas Nilton não esmoreceu. Apesar da frustração diante da mudança forçadarollover betspeedplanos, ele passou a se dedicar a pesquisar, com outros colegas, o impacto do coronavírus no sistema nervoso central.
O objetivo era entender se o vírus, que ataca e mata os neurônios, pode aumentar a propensão para o desenvolvimentorollover betspeeddoenças neurodegenerativas, como demência, por exemplo.
"Nilton era muito curioso, característica primordial para qualquer cientista. Quando a pandemia chegou ao Brasil e as coisas se agravaram, nossas atividades foram suspensas. E começamos, dentro das nossas limitações, a investigar o assunto", conta Carolina.
"Estávamos tentando correlacionar se a gravidade da infecção no sistema nervoso central correspondia à gravidade da infecção no pulmão, mas não conseguimos comprovar isso pelas amostras que tínhamos", explica.
Infecção e hospitalização
Apesarrollover betspeedo coronavírus ter interrompido temporariamente os planos do casalrollover betspeedpassar uma temporada no exterior, Nilton e Sâmia viviam o "melhor momento"rollover betspeedsuas vidas, diz ela.
"Quando Nilton veio para São Paulo,rollover betspeed2012, passamos dois anos à distância. Em 2014, vim para cá. Sou engenheirarollover betspeedformação, mas por necessidade trabalheirollover betspeedshopping e padaria. Quando o Nilton conseguiu a bolsa e eu passei no mestrado, foi a primeira vez que a gente conseguiu sair do sufoco", conta.
Sâmia não sabe como Nilton foi infectado pela covid. Tampouco por que ele foi o único da família que viverollover betspeedSão Paulo a desenvolver os sintomas mais graves da doença.
"Éramos muito cuidadosos. Nunca deixávamosrollover betspeedusar máscara, evitávamos aglomerações e lavávamos todos os alimentos. Mas Nilton foi o único a agravar. Ele era extremamente saudável e não tinha nenhuma comorbidade", diz.
"Ele teve 90% dos pulmões comprometidos e seu quadro se agravou muito rapidamente."
Nilton ficou internado por dois meses no Hospital Emílio Ribas,rollover betspeedSão Paulo, referência para o tratamentorollover betspeedcovid, e morreu no último dia 5rollover betspeedmaio.
"Algumas semanas antes da morte dele, pudemos visitá-lo na UTI. Ele estava muito cansado, mas interagindo. Ele se mostrava preocupado com a situação política do Brasil. Sempre fomos muito progressistas. Sempre lutamos pela educação públicarollover betspeedqualidade e ele, pela pesquisa, e esse foi um setor que vem sofrendo seguidos cortes", conta.
"Ele também ficou feliz ao saber que os pais dele finalmente haviam sido vacinados."
Luto e revolta
Sâmia ainda tem dificuldades para enfrentar a dor do luto.
"Nilton é meu esteio. Sempre me apoiou profissionalmente, me engrandeceu, conhecia cada sorriso e cada sentimento que eu tinha, era a pessoa que certamente melhor me conhecia. A gente dormia abraçado todos os dias e para mim está sendo muito difícil. Não sei como vai ser a minha vida daqui para frente, como vou continuar na minha casa rodeadarollover betspeedmemórias dele todo o tempo", diz ela.
"Ele foi o meu primeiro namorado, meu marido, o amor da minha vida. Tive a sorterollover betspeedter um amor seguro, tranquilo, por 16 anos e só tenho que agradecer a Deus pela oportunidade", acrescenta.
O sentimento é compartilhado pela irmãrollover betspeedNilton, Neucy, que viverollover betspeedBelém.
"Ele continua vivorollover betspeedcada umrollover betspeednós. Era um irmão maravilhoso, um filho excelente, sempre preocupado com todo mundo", diz.
"Nilton era muito protetor, sempre esteve do meu lado."
Sâmia, com o apoio da família, decidiu autorizar a doaçãorollover betspeedórgãosrollover betspeedNilton. Partes do tecido do pulmão, coração e cérebro dele foram coletadas para que a pesquisa desenvolvida por ele continue. O objetivo é tentar entender por que que um paciente sem nenhuma comorbidade evoluiu tão gravemente.
"A saudade nunca vai passar. Mas temos muito orgulho dele. E a sensaçãorollover betspeedque ele cumpriu o papel dele e continuarollover betspeedmissão. Mesmo depoisrollover betspeedsua morte, a pesquisa vai continuar e esperamos que isso possa a salvar outras pessoas", diz Neucy.
Mas não é o só a dor do luto que Sâmia e a família têm que enfrentar, mas também a revolta.
"Estou extremamente revoltada. Nilton morreurollover betspeeduma doença para a qual já há vacina. Ele foi assassinado por um governo genocida", diz ela,rollover betspeedalusão à gestão do presidente Jair Bolsonaro.
"Temos um governo que não acredita na ciência, que não investerollover betspeedpesquisa, que odeia professor. É muito cruel", finaliza.
Nilton deixa os pais, Nilton e Maria Nércia, duas irmãs, Nádia e Neucy, e a esposa Sâmia, assim como uma dezenarollover betspeedamigos, muitos cientistas como ele.
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