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Brasileiro perdeu quase 2 anosfivebet365expectativafivebet365vida na pandemia, e 2021 deve ser pior, diz demógrafafivebet365Harvard:fivebet365
Com a segunda maior taxafivebet365mortalidade do mundofivebet365números absolutos, o Brasil registra maisfivebet365355 mil óbitos causados pelo novo coronavírus. E o impacto dessa mortalidade na expectativafivebet365vida da população do país já é 72% maior do que a verificada nos Estados Unidos, líderfivebet365óbitos por covid-19 (560 mil). Enquanto os brasileiros perderam 1,94, ano, na média, os americanos perderam 1,13 anofivebet365expectativafivebet365vidafivebet3652020 por conta da pandemia (reduçãofivebet36578,8 anos para 77,8 anos).
Maisfivebet365dois anos?
Mas os dados podem ser na verdade piores do que essa estimativa. "A gente sabe que houve muita dificuldadefivebet365acesso ao testefivebet365covid-19, subnotificação e muita morte pelo novo coronavírus que não foi registrada dessa maneira", explica Castro.
Assim, os pesquisadores contemplaram um cenário alternativo: contabilizaram o impacto na expectativafivebet365vida brasileira a partir da somafivebet365todas as mortes oficialmente registradas como covid-19 acrescidasfivebet36590% daquelas identificadas como causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), quadro comumente provocado pelo novo coronavírus. Nesse cenário, a redução na expectativafivebet365vida no Brasil ultrapassaria os dois anos e meio.
"Ainda assim, são duas estimativas bastante conservadoras. As medidas devem ser ainda maiores porque mesmo depoisfivebet365contabilizar mortes por covid-19 e por SRAG, verificamos que há ainda um excessofivebet365óbitosfivebet365relação ao esperado, que pode ser causado por faltafivebet365assistência médica básica para outras doenças, por exemplo", afirma Castro. A demógrafa e os demais pesquisadores já trabalhamfivebet365novas pesquisas para estimar essa perda.
Em 2021 vai ser maior?
Além disso, o atual estado da pandemia no Brasil indica que,fivebet3652021,fivebet365vezfivebet365se recuperar um pouco do tombo, a expectativafivebet365vida no país pode sofrer uma redução ainda mais severa. Esse ano, o país já registra o equivalente a quase metadefivebet365todas as mortes por covid-19fivebet3652020. "Não estamos nemfivebet365meadosfivebet365abril e Estados como Amazonas e Rondônia já têm mais mais mortes esse ano do quefivebet365todo o ano passado. Então é fácil prever que esse ano deve ser ainda pior", nota Castro.
A tendência,fivebet365acordo com a cientista, não éfivebet365melhora porque a vacinação avança a passos lentos no país - nem 12% da população recebeu ao menos uma dosefivebet365imunizante - e as medidasfivebet365saúde pública que poderiam conter a transmissão do vírus - como o usofivebet365máscaras e o distanciamento social - não têm sido adotadasfivebet365forma consistente ao redor do Brasil. A atual média móvelfivebet365mortes diáriasfivebet365brasileiros por covid-19 está acimafivebet3653 mil.
Para piorar,fivebet365acordo com a Fiocruz, nas últimas semanas o país enfrenta o maior colapso hospitalarfivebet365sua história. Nessas circunstâncias, o númerofivebet365mortes por causas tratáveis e evitáveis tende a aumentar, já que a população não consegue acesso regular a tratamentofivebet365saúdefivebet365um sistema sobrecarregado por vítimas da covid-19.
À situação, se somam a insegurança alimentar, estimadafivebet365dezenasfivebet365milhõesfivebet365pessoas, já que a economia patina e o auxílio emergencial atual equivale a menos da metade do concedidofivebet3652020. "Então você tem a pandemia, o restante do atendimentofivebet365saúde precário, um conjuntofivebet365famílias comfivebet365vida e renda desestruturada porque perderam um ou os dois mantenedores da casa, há fomefivebet365novo no Brasil, e tudo isso afeta os índicesfivebet365mortalidade não só entre idosos, mas a mortalidade infantil e a força produtiva brasileira também", afirma Castro.
Em um pior cenário, o Brasil poderia verificar uma redução da expectativafivebet365vida comparável à registrada nos Estados Unidos durante a epidemiafivebet365gripe espanhola,fivebet3651918, quando se verificou uma perda entre 7 e 12 anos da longevidade estimada dos americanos. "O que percebemos é que o Brasil não está nem tomando as medidas necessárias para tentar sair da onda atual, já que a pandemia corre solta, nem se preparando para a possibilidadefivebet365uma nova onda da covid-19 ainda neste ano", diz Castro.
Pior no Norte, melhor no Nordeste
O estudo, aindafivebet365versão pré-print (sem revisão pelos pares), indica também que a pandemia reduziufivebet365modo desigual a expectativafivebet365vida a depender da região do país.
Fenômeno parecido foi registrado nos Estados Unidos. Lá, estudos feitos com recortefivebet365raça mostraram que, enquanto um homem americano branco teve uma reduçãofivebet3650,8 ano na expectativafivebet365vidafivebet365decorrência da pandemia, um negro registrou quedafivebet3653 anos no indicador e um hispânico,fivebet3652,4 anos.
No Brasil, o cálculo por raça não se mostrou viável porque um terço dos registrosfivebet365óbito por covid-19 não continha essa informação. "Não tenho dúvidas que encontraríamos dados semelhantes aos americanos, com pretos e pardos mais vitimados também no Brasil, mas a estimativa ficaria frágil pela falta do dado completo", afirmou Castro.
A solução foi verificar as diferenças da mortalidade por Estado. A primeira constatação é que, diante da inexistênciafivebet365uma estratégia centralizada do governo federal para combater a pandemia, as estratégias locais variaram e os resultadosfivebet365relação à pandemia, também.
Os pesquisadores descobriram que o Distrito Federal, onde está a capital do país, registrou o pior resultado: ali, a expectativafivebet365vida recuoufivebet365maisfivebet3653 anos. A região ganhou destaque tanto pelo colapso do sistemafivebet365saúde que, recentemente levou a cenasfivebet365acúmulofivebet365corposfivebet365vítimas da covid-19 no chãofivebet365hospitais públicos, como pelas repetidas excursões do presidente Jair Bolsonaro às cidades satélites que compõem o DF. Nessas ocasiões, o mandatário, sem máscara, provocou aglomerações e repetiu o costumeiro discurso contra medidasfivebet365como o distanciamento social.
O DF foi seguido por três Estados do Norte: Amapá, com quedafivebet3652,98 anos na expectativafivebet365vida, Amazonas, com perdafivebet3652,92 anos, e Roraima, com reduçãofivebet3652,74 anos.
Na outra ponta, entre os Estados que menos perderam na expectativafivebet365vidafivebet3652020, estão vários nordestinos, como Maranhão, Piauí e Bahia, os três abaixofivebet3651,49 anofivebet365redução na expectativafivebet365vida.
A descoberta intrigou os pesquisadores, já que, conforme assinalam no estudo, os "Estados das regiões Norte e Nordeste têm os piores indicadoresfivebet365desigualdadefivebet365renda, pobreza, acesso à infraestrutura e disponibilidadefivebet365médicos e leitos hospitalares". Então, por que o Nordeste não foi tão devastado pela pandemia quanto o Norte do país?
Em um artigo publicado nesta quarta-feira, 14/4, na revista científica Science, eles abordam hipóteses para essa disparidade entre as duas regiões mais pobres do país.
Uma delas é a rapidez com que a pandemia se interiorizou nos Estados. Os pesquisadores usaram uma escalafivebet3650 a 100,fivebet365que quanto mais próximofivebet365100 mais concentrados geograficamente os casos e mortes estão. Se a pandemia tivesse sido restringida com sucesso a poucos municípios, os índices deveriam se manterfivebet365valores acimafivebet36550 por várias semanas. Se ela tivesse se espalhado sem controle pelo território, a tendência seriafivebet365uma queda rápida desses valoresfivebet365poucas semanas.
O achado não poderia ser mais ilustrativo. Na primeira semanafivebet365que casosfivebet365covid-19 foram diagnosticados, Amazonas, Roraima e Amapá (justamente aqueles Estados com maior redução na expectativafivebet365vida) já registravam índicesfivebet365casos e morte abaixo dos 50 na metodologia dos pesquisadores, ou seja, uma transmissão altamente disseminada e velozfivebet365todo o território.
"Isso sugere a circulação não detectada do vírus antes do primeiros registros oficiais (e, portanto, quando os diagnósticos começaram já havia uma grande fração da população infectada), ou introduções rápidas e múltiplas do vírus seguidas por rápida propagação espacial", escrevem os cientistas no estudo. Os cientistas concluíram que o novo coronavírus já circulava no Brasil ao menos um mês antes do primeiro caso oficialmente diagnosticado, no finalfivebet365fevereirofivebet3652020.
O resultado do quadro vistofivebet365Amazonas, Roraima e Amapá é um número muito altofivebet365casosfivebet365um amplo espaço geográfico efivebet365um curto espaçofivebet365tempo. E essa é, segundo Castro, a receita para que a mortalidade avance não só pelos efeitos do vírus, mas pela faltafivebet365estruturafivebet365saúde. "No Amazonas, por exemplo, só Manaus têm leitosfivebet365UTI. Se esses leitos se esgotam rapidamente, apenas com pacientes da capital, enquanto há doentes que precisam deles a muitas horasfivebet365distância dali, o que acontece é inevitável: esse paciente distante vai morrer", explica Castro.
Mas não é só isso. Os pesquisadores também notaramfivebet365que maneira a resposta dos Estados produzia melhores ou piores resultados com o passar das semanas. "O impacto na expectativafivebet365vida está ligado obviamente a como a epidemia se espalhou, que é uma função direta da ausênciafivebet365controle do vírus. E a ausênciafivebet365controle do vírus está ligada à questão do alinhamento político dos governadores a Bolsonaro", afirma Castro.
Segundo ela, os pesquisadores encontraram uma correlação entre o apoio dos atuais governadores ao então candidato à presidência Jair Bolsonaro,fivebet3652018, comfivebet365propensão a tomar medidas como lockdowns e imposição do usofivebet365máscaras, que contrariavam as diretrizes dadas pelo governo federal. Na Região Norte, dos sete governadores eleitos, cinco apoiaram abertamente Bolsonaro: Gladson Cameli (PP), no Acre; Wilson Lima (PSC), Amazonas; Coronel Marcos Rocha (PSL),fivebet365Rondônia; Antonio Denarium (PSL),fivebet365Roraima; e Waldez Góes (PDT), no Amapá. Do outro lado, no Nordeste, dos nove governadores, nenhum declarou apoio a Bolsonaro no pleito.
"As medidas que foram tomadas contra a pandemia quando você compara as duas regiões são completamente diferentes. Na região Nordeste você verifica medidas que iam completamente contra o que o presidente queria que fosse feito", diz Castro. Bolsonaro chegou a entrar com ação contra os governadores no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir lockdowns. Em marçofivebet3652021, quando o governador baiano Rui Costa decretou severas restrições à circulação da população e ao comércio, Bolsonaro prometeu ir à Justiça para derrubar a ordem estadual. Costa reagiu dizendo que o presidente era "aliado do vírus".
'Baby boom' à vista?
Para Castro, os próximos meses serão cruciais para definir o futuro demográfico do país. Segundo a demógrafa, após um choquefivebet365mortalidade como o experimentado pelo Brasil, é comum ver um "baby boom", uma ondafivebet365nascimentos que recupere as taxas populacionais do lugar.
A pesquisadora, no entanto, tem dúvidas se algo semelhante acontecerá no Brasil agora, dado o cenário sombrio que se projeta para os próximos meses e a dificuldadefivebet365ver um fim para a pandemia no país. "É provável que tenhamos muitos casais que tenham adiado os planosfivebet365filhos no ano passado. Mas isso não significa que eles verão condiçãofivebet365ter um filho agora", diz Castro.
Em 2020, cidades como o Riofivebet365Janeiro já registraram mais mortes do que nascimentos. O déficit populacional carioca ficoufivebet365quase 5 mil pessoas. Essa era uma tendência projetada pelo IBGE para acontecer apenasfivebet3652047.
Segundo Castro, é difícil prever como a pandemia alterará os aspectos demográficos do país. "A gente ainda faz cálculos com base no Censofivebet3652010. A gente não sabe, por exemplo, o tamanho do impacto que essas mortes podem ter sobre o sistema da previdência social. Ou na composição populacional das cidades. Ou na taxafivebet365reposição da populaçãofivebet365dadas áreas, com mais mortes do que nascimentos", diz Castro.
A pandemia atrasou a execução do Censo, realizado a cada 10 anos, e empurrou a pesquisa para 2021. Mas a redução no orçamento público reservado para a empreitada -fivebet365R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões - agora ameaça inviabilizar a realizaçãofivebet365um novo Censo, o que deixaria o Brasil no escuro sobre a configuraçãofivebet365sua própria população.
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