'Vendi as panelas para comprar pão e pébet no pokergalinha': os relatos da fome no Brasil às vésperas do novo auxílio emergencial menor:bet no poker

Supermercadobet no pokerBrasília,bet no poker27bet no pokerfevereirobet no poker2021, com faixasbet no pokerpreços dos produtos na entrada.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Inflaçãobet no pokeralimentos cresceu três vezes mais do que índice oficial

"Não tem papel higiênico aquibet no pokercasa, virou artigobet no pokerluxo. A gente vem cortando um lençol velho para levar ao banheiro."

Diagnosticada com artrose e fibromialgia, ela não pode trabalhar. O marido, caminhoneiro, está desempregado desde 2019 e também tem problemasbet no pokersaúde.

Ambos deram entrada no Benefíciobet no pokerPrestação Continuada (BPC), mas ainda não tiveram retorno do Instituto Nacionalbet no pokerSeguridade Social (INSS).

Assim como outros 56 milhõesbet no pokerbrasileiros, Fernanda paroubet no pokerreceber o auxílio emergencialbet no pokerdezembro. Teve acesso a cinco parcelasbet no pokerR$ 600 e a outras quatrobet no pokerR$ 300, quando o benefício foi reduzido.

O marido, apesarbet no pokertambém elegível ao auxílio, tevebet no pokeresperar nove meses para receber os pagamentos. A liberação foi inicialmente bloqueada porque constava erroneamente no sistema que ele estava recebendo seguro-desemprego. Em dezembro, após uma ordem judicial, o benefício foi liberado.

Desde janeiro, o casal sobrevive com os R$ 179 que recebe pelo Bolsa Família.

Naquele mês, eles conseguiram uma das cestas básicas que vinham sendo distribuídas no bairro. Depois disso, com o volume limitadobet no pokerdoações e aumento da demanda, ficou mais difícil.

"Aqui estão dando prioridade pra quem tem criança, e eu entendo", diz Fernanda. "Estou dentrobet no pokercasa passando fome, já passei da fasebet no poker'necessidade'."

Pésbet no pokergalinha comprados por Fernanda

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Os 5kgbet no pokerpésbet no pokergalinha que Fernanda comprou com a venda das panelas serão almoço e jantar para ela o marido até o fim da semana

Nos três mesesbet no pokerque o país levou para negociar a liberaçãobet no pokeroutras quatro parcelas do auxílio emergencial, a combinação entre desemprego elevado e inflação ascendente trouxe a fomebet no pokervolta às casasbet no pokermilhõesbet no pokerpessoas.

Na semana passada, o Congresso aprovou a Propostabet no pokerEmenda à Constituição (PEC) que permite o financiamento do novo auxílio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o valor médio ficariabet no pokerR$ 250, mas as cotas devem variar entre R$ 150 e R$ 375.

A Medida Provisória com os detalhes sobre o benefício, cuja publicação é necessária para que se iniciem os pagamentos, foi assinada nesta quinta (18/3), após diasbet no pokerexpectativas frustradas. Conforme o comunicado enviado pela Secretaria Especialbet no pokerComunicação Social, o presidente Jair Bolsonaro deve apresentá-la ao Congresso no fim da tarde.

"Assinando ou não (a medida), eles continuam almoçando e jantando lábet no pokerBrasília, né?", desabafa Fernanda, que há dias espera notícias sobre a retomada dos pagamentos.

'A comida acaba e a fila continua'

Uma pesquisa feita pelo Data Favela, uma parceria entre Instituto Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa),bet no pokerfevereiro apontou que, entre os 16 milhõesbet no pokerbrasileiros que morambet no pokerfavelas, 67% tiverambet no pokercortar itens básicos do orçamento com o fim do auxílio emergencial, como comida e materialbet no pokerlimpeza.

Outros 68% afirmaram que, nos 15 dias anteriores à pesquisa,bet no pokerao menos um faltou dinheiro para comprar comida. 8bet no pokercada 10 famílias disseram que não teriam condiçõesbet no pokerse alimentar, comprar produtosbet no pokerhigiene e limpeza ou pagar as contas básicas durante os mesesbet no pokerpandemia se não tivessem recebido doações.

As estatísticas se materializam nas filas por refeições e cestas básicasbet no pokerdiferentes regiões do país.

Na capital paulista, no entanto, o númerobet no pokermarmitas distribuídas por dia na favelabet no pokerParaisópolis caiubet no poker10 mil para algo entre 500 a 800.

Pessoas na fila da Caixa

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Última parcela do auxílio emergencial foi pagabet no pokerdezembro

"Tem dia que a comida acaba e a fila continua, que as pessoas ficam brigando lá fora", diz o líder comunitário Gilson Rodrigues.

A queda no volumebet no pokerdoações — recolhidas, entre outros canais, pelos sites novaparaisopolis.com.br e g10favelas.com.br — também afetou outros serviços que as lideranças comunitárias vinham prestando, entre elas as ambulâncias e as equipes médicas que assistiam a população.

Os veículos do Serviçobet no pokerAtendimento Móvelbet no pokerUrgência (Samu) não entram na comunidade na zona sulbet no pokerSão Paulo, onde vivem cercabet no poker100 mil pessoas. Os moradores já entraram na Justiça para reivindicar o atendimento durante a pandemia, mas, na faltabet no pokeruma resposta, os vizinhos se ajudam como podem com carrosbet no pokerpasseio.

Nos últimos dias, se multiplicaram nas redes sociais as campanhasbet no pokerarrecadaçãobet no pokerrecursos para colocar comida na mesa dos brasileiros mais vulneráveis. Entre elas estão a Tem Gente com Fome, cuja meta é auxiliar cercabet no poker220 mil famílias pelos próximos quatro meses.

Alta dos alimentos três vezes maior que inflação oficial

Comer ficou significativamente mais carobet no pokerum ano para cá no Brasil.

Os preçosbet no pokeralimentos e bebidas estãobet no pokermédia 15% mais altos nos 12 meses encerradosbet no pokerfevereiro, quase três vezes a inflação oficial, que atingiu 5,2%, conforme o Índice Nacionalbet no pokerPreços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Os 15%bet no pokeraumento médio na categoria alimentos e bebidas, já elevado, esconde altas ainda maiores, como a do arroz, que ficou quase 70% mais caro nos últimos 12 meses, do feijão preto (50%), da batata inglesa (47%), da cebola (69%), do limão (79%).

O aumento da inflaçãobet no pokeralimentos tem impacto especialmente sobre as famílias mais pobres, que têm um percentual maior da renda comprometida com itens básicos - e, agora, no momento mais agudo da pandemia, terão acesso a um auxílio financeiro significativamente menor.

Paola Carvalho, da organização Rede Brasileirabet no pokerRenda Básica, que vinha pressionando o governo para que mantivesse o auxíliobet no pokerseu formato original, ressalta que os R$ 150 que serão pagos a milhõesbet no pokerfamílias nos próximos quatro meses é menosbet no poker25% do valorbet no pokeruma cesta básica, que custabet no pokermédia R$ 620, conforme o Dieese (Departamento Intersindicalbet no pokerEstatística e Estudos Socioeconômicos).

Mulher segura tijela vazia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Campanhas para tentar ajudar famílias vulneráveis têm se multiplicado nas últimas semanas

"Esse valor empurra as pessoas para a rua."

Para ela, a lógica do auxílio emergencial deveria ser diferente das demais políticasbet no pokertransferênciabet no pokerrenda, já que teoricamente também tem como objetivo garantir o mínimobet no pokersubsistência para que as pessoas não precisem sair para trabalhar e, assim, contribuir para o esforçobet no pokertentar controlar a circulação do vírus no país.

"Seria possível baixar o benefício a partir do momentobet no pokerque a população estivesse imunizada, não agora, quando a gente está no pior momento da pandemia", acrescenta Paola.

O economista Vinícius Botelho concorda que, "quanto menor o valor, menor a potência do benefício para tirar as pessoas temporariamente da forçabet no pokertrabalho", o que, para ele, reforça a urgênciabet no pokerse acelerar a imunização contra covid-19 no país.

"A gente continuar usando auxílio emergencial como estratégiabet no pokerdistanciamento social é muito caro", avalia.

Urgente também é a necessidadebet no pokerse pensarbet no pokeruma política para a redução estrutural da pobreza no país, que retoma a trajetóriabet no pokercrescimento após uma breve interrupçãobet no poker2020.

No fim do ano passado, diante da iminência do fim do pagamento do auxílio emergencial, o economista calculou o impacto potencial da suspensão do benefício: cercabet no poker3,4 milhões cairiam na extrema pobrezabet no poker2021, levandobet no pokerconta o patamarbet no pokerrendabet no pokerUS$ 1,90 por dia usado pelo Banco Mundial.

A extensão do auxílio por mais quatro meses muda pouco a perspectiva, já que a despesa com o benefício será significativamente menor,bet no pokerR$ 44 bilhões, ante R$ 290 bilhões pagosbet no poker2020.

Além disso, as perspectivasbet no pokerreação da economia, que embasaram as estimativas do estudo, têm se deteriorado neste primeiro trimestre - o que dificulta a saída das famílias da condiçãobet no pokervulnerabilidade.

"A notícia mais assustadora não é nem quantidadebet no pokerpessoas, mas o fatobet no pokerque esse aumento pode ser permanente se a trajetóriabet no pokerrenda per capita não acelerar", diz o doutorandobet no pokereconomia dos negócios pelo Insper.

A pobreza extrema no Brasil vinhabet no pokeruma crescente desde 2014. Teve uma interrupção temporáriabet no poker2020, por conta do auxílio emergencial - que transferiu um volumebet no pokerrecursos para famíliasbet no pokerbaixa renda, mas que é insustentável do pontobet no pokervista fiscal no médio prazo -, e deve retomar a trajetória.

Quanto mais o país demora para controlar a pandemia, diz o especialista, pior o cenário: os efeitos que deveriam ser temporários vão ganhando cicatrizes - as empresas que não conseguem mais se manterbet no pokeroperação à espera do retorno à "normalidade", por exemplo - e isso acaba tendo reflexo sobre a geraçãobet no pokeremprego e renda e,bet no pokerúltima instância, sobre a pobreza.

Línea.

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