Cientista que ajudou a eliminar sarampo e rubéola do Brasil está na linhabet 818frente contra covid:bet 818

Salabet 818vacinação no dia D da campanha contra o sarampobet 8182019

Crédito, Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Legenda da foto, Em 1992, país imunizou cercabet 81848 milhõesbet 818crianças e jovens contra o sarampobet 818pouco maisbet 818um mês

"Não adianta a gente entrar com um programabet 818vacinação se a população não ajuda. Pode demorar muito pra gente ver a situação controlada."

A chefe do Laboratóriobet 818Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) fala com conhecimentobet 818causa:bet 8182016, junto com outras três autoridades, ela recebeu o certificado da eliminação da rubéola e do sarampo no Brasil pela Organização Panamericanabet 818Saúde (Opas), braço da Organização Mundialbet 818Saúde (OMS) nas Américas.

O trabalho começou 24 anos antes, com uma ampla campanhabet 818vacinaçãobet 8181992, quando o sarampo matava no mundo cercabet 8182,5 milhõesbet 818crianças, um número próximo ao númerobet 818vítimas do Sars-CoV-2bet 818um anobet 818pandemia.

"A gente conseguiu imunizar 96% da população-alvo, que eram crianças menoresbet 81814bet 818idade,bet 818um mês e pouco. Foi um sucesso absoluto."

De um ano para outro, o númerobet 818casos notificados no país caiu 81%,bet 81842.934bet 8181991 para 7.934.

A maior campanhabet 818vacinação do mundo

Marilda trabalhou na vigilância laboratorial e epidemiológica do programa, à frente do Laboratóriobet 818Vírus Respiratórios. A coordenação da força-tarefa, ela frisa, ficou a cargo do Programa Nacionalbet 818Imunizações, o PNI, ligado ao Ministério da Saúde.

Naquela época, a cientista fazia o doutoradobet 818Microbiologia na Universidade Federal do Riobet 818Janeiro (UFRJ).

Formadabet 818Farmácia e Bioquímica pela Universidade Estadualbet 818Londrina (UEL), a paulistabet 818Catanduva se mudou para o Riobet 818Janeiro no fim dos anos 1970 para fazer a especializaçãobet 818Microbiologia e Imunologia e o mestradobet 818Biologia Parasitária na Fiocruz.

Marilda Siqueirabet 818frente a quadro da campanha contra sarampo dos anos 90 que fica embet 818sala

Crédito, Vinicius Ferreira/IOC/Fiocruz

Legenda da foto, Marilda com quadro da campanha contra sarampo que fica embet 818sala: 'Brasil foi luz no fim do túnel para outros países'

No início dos anos 1990, o mundo já havia conseguido erradicar a varíola, e as Américas tinham feito um bom trabalho no controle da poliomielite.

"A pergunta que se fez então foi: qual seria a outra doença que tem impacto sobre a saúde das populações e para a qual há boa vacina? O sarampo."

O Brasil fez a maior campanhabet 818vacinação do mundo até então — imunizou 48 milhõesbet 818crianças e adolescentes entrebet 81822bet 818abril e 25bet 818maiobet 8181992 — e virou modelo.

O laboratóriobet 818Marilda passou a treinar equipesbet 818outros países e a disseminar a metodologia baseada no tripébet 818ampla imunização e vigilância laboratorial e epidemiológica.

"Eu lembro que um ano ou dois depois fui ao Uruguai a convite do Ministério da Saúde para dar uma palestra lá — algo mais relacionado a questões laboratoriais, mas apresentei gráficosbet 818questões epidemiológicas. Quando falei que tínhamos vacinado 48 milhõesbet 818crianças menoresbet 81814 anosbet 818idade, várias pessoas da plateia me interromperam e pediram que eu repetisse o número — a população do Uruguai erabet 8183,5 milhões", ela recorda.

"Para muitos países essa estratégia utilizada pelo Brasil foi como se acendesse uma tocha, um raiobet 818luz no finalbet 818um túnel."

A ideia era que, se um paísbet 818grande extensão territorial, socialmente desigual, com cidadesbet 818locais remotos, outras densamente povoadas e com favelas conseguiu fazer um programabet 818vacinaçãobet 818massa, outros também conseguiriam.

"Foi muito bonito. Fico até emocionada quando me lembro."

Vários vidrinhos da vacina tríplice

Crédito, Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Legenda da foto, Coberturabet 818uma sériebet 818vacinas vem caindo entre os brasileiros nos últimos anos

Além da ampla divulgação — com o objetivobet 818sensibilizar a populaçãobet 818geral, a classe política e os profissionaisbet 818saúde —, o planobet 818eliminação do sarampo contou com campanhas nos anos seguintes para eliminar o volumebet 818crianças ainda suscetíveis à doença.

Ao mesmo tempo, contava com uma vigilância epidemiológica intensiva dos casos suspeitos e com o diagnósticobet 818todo caso suspeito notificado, para que as autoridadesbet 818saúde pudessem se antecipar a eventuais surtos e terem tempobet 818agir para evitar uma piora do quadro.

Um trabalho parecido foi feito com a rubéola, levandobet 818consideração as particularidades da doença. A vacina era dadabet 818conjunto com a do sarampo, com a dupla viral ou a tríplice viral, que também protege contra caxumba.

O país recebeu o certificadobet 818eliminaçãobet 8182016 — mas acabou perdendo três anos depois,bet 8182019,bet 818parte pela queda expressiva da cobertura nacional.

Em 2017, conforme os dados do Programa Nacionalbet 818Imunizações (PNI), o percentualbet 818imunizados nos grupos-alvo chegou a 83,8%. No ano seguinte, houve surtosbet 818diversos Estados, com um volume totalbet 818maisbet 81810 mil casos.

Campanhabet 818vacinação contra sarampobet 8182019

Crédito, Valter Campanato/Ag. Brasil

Legenda da foto, País perdeu certificadobet 818eliminação do sarampobet 8182019

E, no meio do caminho, tinha uma pandemia...

Enquanto o país tentava aumentar os índicesbet 818vacinação, que vinham caindobet 818forma quase generalizada nos anos anteriores, estourou a pandemiabet 818covid-19 — e a rotinabet 818Marilda se transformou completamente.

À frente do Laboratóriobet 818Vírus Respiratórios e Sarampo,bet 818referência nacional, a cientista trabalhou no início para capacitar laboratóriosbet 818todas as regiões do país para que pudessem processar exames diagnósticos para a doença. Os únicos laboratóriosbet 818referência regionais eram o Instituto Adolfo Lutz,bet 818São Paulo, e o Evandro Chagas, no Pará.

Naquele momento, o esforço foi para capacitar os Laboratórios Centraisbet 818Saúde Pública (Lacens), distribuídos pelos diferentes Estados, para que processassem testesbet 818PCR, e para desenvolver protocolos para o diagnóstico da doença.

O Instituto Oswaldo Cruz, ao qual o laboratóriobet 818Marilda é vinculado, também ajudou no desenvolvimento do kit diagnóstico molecular do Instituto Biomanguinhos.

As longas jornadas se tornaram extenuantes. Entre fevereiro e maio, a cientista trabalhoubet 818forma ininterrupta. Hoje, a jornada vai geralmente 5h30 da manhã até pertobet 81822h — quando consegue, ela tira o domingobet 818folga.

Passado um ano do início da pandemia, a situação no país teve uma piora significativa e, diante do surgimentobet 818variantes preocupantes do coronavírus, há uma urgênciabet 818ampliação da chamada vigilância genômica — o trabalhobet 818sequenciamento do genoma do vírus para entender quais linhagens estão se espalhando pelo país e com qual velocidade.

Esse tem sido um dos focos do laboratório, por meio da rede genômica da Fiocruz, que conta com instituiçõesbet 81811 Estados e analisa amostrasbet 818todo o país.

Os laboratórios têm feito sequenciamento genético desde o início da crise sanitária, graças à expertise adquirida pela vigilância genômica do vírus influenza feita há anos pelo grupo e da experiência recente com a epidemiabet 818H1N1, entre 2009 e 2010.

O volumebet 818amostras sequenciadas até então, contudo, era baixo,bet 818parte devido à escala sem precedentes da crise sanitária, que fez com que os laboratórios tivessem muitas vezes que priorizar o processamentobet 818exames diagnósticosbet 818covid.

O Brasil contribuiu com 3,7 mil entre os maisbet 818660 mil genomas sequenciados compartilhados na plataforma pública Gisaid — um número elevado se comparado com outros na América Latina, mas ainda baixo se comparado com países que têm feito uma boa vigilância genômica.

Esse acompanhamento produz dados importantes para embasar decisõesbet 818política pública que vãobet 818lockdown a distribuiçãobet 818vacinas e, por isso, é fundamental dentro da estratégiabet 818controle da doença.

Marilda Siqueirabet 818máscara, bata e touca no Laboratóriobet 818Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz

Crédito, Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Legenda da foto, 'O individual interfere no coletivo. Essa noção tem que estar clara para as pessoas'

É 'mais complexo' vacinar agora

De volta à campanhabet 818eliminação do sarampo, a cientista compara os dois momentos e diz acreditar que a estratégiabet 818vacinação no caso da covid-19 é "muito mais complexa".

Um primeiro ponto, para ela fundamental, é a questão do acesso às vacinas, hoje ainda limitado. Mas o país enfrenta outros problemas que se colocam como obstáculo: uma desconfiança da população muito grande, a polarização política no país, "que também influencia", uma faltabet 818organização ebet 818estratégia melhor definidabet 818todos os três níveisbet 818governo — "não sóbet 818vacinação, mas estratégiasbet 818controle".

"Em locais onde ainda há alta transmissibilidade, não deveríamos fazer um outro lockdown?", questiona.

Para controlar a disseminação do coronavírus, diz a cientista, a participação da população é fundamental. Os brasileiros estão esgotados, mas é preciso entender o custobet 818não seguir as recomendaçõesbet 818distanciamento social, das aglomerações.

"O individual interfere no coletivo. Essa noção tem que estar clara para as pessoas", diz ela.

"Essa conscientização se perdeu um pouco no meiobet 818tantas questões que começaram a surgir com a pandemia."

Isso vale também para as vacinas, que são alvobet 818uma miríadebet 818notícias falsas que desencorajam a populaçãobet 818se imunizar. Assim como no caso do sarampo, frisa Marilda, a ampla cobertura vacinal é fundamental para controlar o Sars-CoV-2.

"O controle hoje — veja, não estamos falandobet 818eliminação, masbet 818controle — depende basicamentebet 818três fatores essenciais: as vacinas, as estratégias utilizadas pelos três níveisbet 818governo e a aderência da população às estratégias corretas", destaca.

"Sem esses três fatores vai ficar muito complicado. A gente vai ter um ano difícil se isso não acontecer."

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