'Minha mãe nos salvou do mesmo destinocassino million40 parentes: a câmaracassino milliongás', diz sobrevivente do Holocausto radicado no Brasil:cassino million

Crédito, Vozes do Holocausto/Arqshoah

Legenda da foto, Nazistas na Acrópole durante a ocupação da Grécia pela Alemanha

"Foram o destemor e a sagacidade da minha mãe que nos salvaramcassino millionter o mesmo destino que o restantecassino millionnossa família: a morte na câmaracassino milliongás", diz Leon Menache à BBC News Brasil.

Leon tem hoje 77 anos e vive desde os 11 no Brasil. Ele é sobrevivente do Holocausto, como ficou conhecido o assassinatocassino millionmassacassino millionmilhõescassino millionjudeus, bem como homossexuais, ciganos, Testemunhascassino millionJeová e outras minorias, durante a 2ª Guerra Mundial, a partircassino millionum programacassino millionextermínio sistemático implementado pelo partido nazistacassino millionAdolf Hitler.

Crédito, Vozes do Holocausto/ArqShoah

Legenda da foto, Leon Menache sobreviveu ao Holocausto

Perseguição

A maior parte dos parentes diretos dos Menaches vivia na cidadecassino millionTessalônica, no norte da Grécia, onde uma grande comunidadecassino millionjudeus expulsos da Península Ibérica havia se estabelecido séculos antes. Comunicavam-se normalmentecassino millionladino, dialeto semelhante ao castelhano e com palavras do hebraico que Leon fala até hoje.

Em 1938, seus pais, no entanto, decidiram mudar-se para Atenas e buscar trabalho na capital grega.

"Foi o que nos salvou. Se tivéssemos ficadocassino millionTessalônica, muito provavelmente teríamos sido enviados aos camposcassino millionconcentração e assassinados", diz Leon.

Como muitos judeus vivendo na Europa do início do século 20, apesarcassino millionhistoricamente perseguidos e vivendocassino millioncomunidades, muitos já estavam completamente integrados às sociedades onde viviam — a Alemanha não era exceção. Exerciam cargos públicos, atuavam no comércio e até mesmo casavam-se com não judeus.

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Legenda da foto, Alunos da escola primária da Alliance School onde estudou Isaac Jacob Menache, paicassino millionLeon. Salônica,1928-29.

Nascidos na Grécia, os paiscassino millionLeon, ambos judeus, tinham tido uma educação mais "internacional": falavam o grego como língua materna assim como outros idiomas. Foi o que,cassino millioncerta forma, também lhes garantiu sobreviver quando o país foi subjulgado pelos nazistas, conta Leon.

Em 28cassino millionoutubrocassino million1940, após a rejeição a um ultimato do ditador fascista, Benito Mussolini, a Grécia foi invadida pela Itália. Pouco depois,cassino millionabrilcassino million1941, os nazistas invadiram o paíscassino millionapoio a seus aliados fascistas, dividindo o território com eles e com os búlgaros. As principais regiões da Grécia, incluindo Tessalônica, ficaram sob controle alemão.

Assim, para os judeuscassino millionTessalônica, onde se concentrava a maior parte da comunidade judaica, a situação se agravou. Os nazistas se apropriaramcassino millionuma lista com os nomes deles, tomaram seus bens, alémcassino millionobrigá-los a usar a estrela amarelacassino millionDavid.

Os judeus foram mantidoscassino millionum gueto à margem da ferrovia. No iníciocassino million1943, começaram a ser deportados para o campocassino millionconcentraçãocassino millionAuschwitz, na Polônia. Em dois meses, cercacassino million50 mil judeus, entre eles membros paternos e maternos da famíliacassino millionLeon, sucumbiram ao mesmo destino.

"Perdi maiscassino million40 parentes diretos durante o Holocausto. Do meu lado paterno, morreram minha avó, meus tios e minhas tias e suas famílias. A exceção foi minha tia Rachel, que como tinha um filho na resistência grega, foi convencida e ajudada a saircassino millionTessalônica. Ela e suas duas filhas sobreviveram. Minha tia teve que se passar por surda-murda, pois, como falava o grego com sotaque, se abrisse a boca, reconheceriam que ela era judia", acrescenta.

"Já do lado materno, foi um desastre total. Morreram meus dois avós, suas quatro filhas e suas respectivas famílias", acrescenta.

Dos quase 50 mil judeuscassino millionTessalônica, quase todos deportados para Auschwitz-Birkenau, sobreviveram menoscassino million2.000.

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Legenda da foto, Isaac Menache, aos 18 anos,cassino millionfrente à Tour Blanche, fortaleza no portocassino millionTessalônica, marçocassino million1925

Em toda a Grécia, a população judaica foi praticamente dizimada. Dos 75 mil que lá viviam antes da guerra, cercacassino million10 mil sobreviveram, a maior parte escondida ou aderindo à resistência.

Mas, diferentementecassino millionTessalônica, a comunidade judaicacassino millionAtenas era pequena e mais dispersa. Ali os judeus falavam o grego com mais fluência. Conseguiram, assim, viver escondidos, usando identidades falsas, ajudados pela administração e polícia locais.

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Legenda da foto, Sara Leah e Isaac Menache durante o noivadocassino millionTessalônica, 1938

Além disso, os gregos ortodoxos foram instados pelo arcebispo Damaskinos, que se opôs aos nazistas, para que dessem abrigo aos judeus, o que não aconteceucassino millionTessalônica.

Também foram ajudados pelo chefecassino millionpolícia Angelos Evert, que ordenou a falsificaçãocassino millionmilharescassino milliondocumentoscassino millionidentidade.

Foi assim que Isaac, Sara e Leon Menache tornaram-se Nikos, Marina e Leônidas Kanelópoulos.

Pai preso

Em setembrocassino million1943, com a rendição da Itália aos aliados, os nazistas avançaram emcassino millionocupação da Grécia. A resistência grega começou a agir. Judeus da resistência sequestraram o rabinocassino millionAtenas, para evitar que os alemães tivessem acesso à lista da população judaicacassino millionAtenas.

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Legenda da foto, Casamentocassino millionSara Leah e Isaac Menache, 1938

Em meio à tensão cada vez maior, houve um atentado no clube dos oficiais nazistas, com mortos.

"Foram isolados quarteirões e dezenascassino millionreféns e suspeitos, capturados. A regra era clara: para cada morto alemão, 20 reféns fuzilados. Meu pai acabou sendo feito refém, preso e enviado para a prisãocassino millioncondenados, na ilhacassino millionEgina. Desapareceu."

Era o segundo semestrecassino million1942. A mãecassino millionLeon, que já tinha uma filhacassino milliondois anos, começou a percorrer todas as prisões alemãescassino millionbusca do marido. Finalmente, descobriu seu paradeiro, mas os reféns já estavam sendo fuzilados.

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Legenda da foto, Famíliascassino millionjudeus sefaraditascassino millionTessalônica. Ilhacassino millionRodes, 1924

"Felizmente, os prisioneiros acabaram sendo transferidos como mãocassino millionobra escrava na manutenção do aeroporto militarcassino millionAtenas, onde os alemães construíram barracões onde colocavam centenascassino millionreféns que iriam trabalhar na manutenção ao aeroporto. À noite, o aeroporto era bombardeado pelos aliados. Isso durou até setembrocassino million1944".

Do ladocassino millionfora, o drama era outro: a irmã mais velhacassino millionLeon faleceu, por faltacassino millionrecursos médicos.

"Minha mãe subornou o guarda lá do campo com um cupom que permitiu a meu pai assistir ao enterro da filha Beatriz (Bea). Tive mais uma irmã, que nasceu depois da guerracassino million1946, e que recebeu o nomecassino millionBela, igual à irmã caçula da minha mãe, que morreucassino millionAuschwitz."

Em junhocassino million1943, Leon nasceu. Sozinha com um filho recém-nascido, Sara teve que se virar como pôde, vendendo miudezas pelas ruas e arriscandocassino millionvida ao transitar ao lado dos algozes alemães.

"Assim, minha mãe me criou durante esse tempo, me escondeu e assim sobrevivemos, os dois", diz.

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Legenda da foto, Nazistas ocupam Tessalônicacassino million1941

"De temposcassino milliontempos, ela ia até o campo levar comida para meu pai conseguir sobreviver. Ela recebia também uma cestacassino millionvíveres da Cruz Vermelha e, segundo ela, assim sobreviveu com café e chocolate. E por uns tempos viveu vendendo chocolate, vendendo café para ter algum dinheiro".

Numa dessas visitas, Isaac apresentou a Sara umcassino millionseus companheiros do Partido Comunista, ao qual era ligado, que também estava no campo. Seu nome era Konstantinos Athanassiadis.

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Legenda da foto, Gueto judaicocassino millionTessalônica

"Ele se prontificou a nos ajudar e falou com a mulher dele, Katina, para nos esconder. E isso não era uma coisa muito simples, porque, se pegassem um cristão ou algum cidadão grego escondendo judeus, eles teriam o mesmo fim que os judeus", diz Leon, que até hoje mantém contato com a família Athanassiadis.

"Ela moravacassino millionPireu, o grande portocassino millionAtenas. E ali nós ficamos escondidos com uma outra família durante uns cinco, seis meses", acrescenta.

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Legenda da foto, Cercacassino million9 mil judeus reunidos na Praça Eleftherias para serem registrados e, posteriormente, enviados para trabalhos forçados

Mas a família, assim como tantas outras, decidiu ir embora e Sara e Leon foram,cassino millionnovo, abandonados à própria sorte.

"Fomos obrigados a saircassino millionPireu, sobrevivendo a um terrível bombardeio inglês do porto que matou centenascassino milliongregos", diz.

Finalmente, Sara alugou um quarto onde já morava, no andarcassino millioncima, uma senhora — ali aconteceu a história contada por Leon que abre esta reportagem.

"Assim fomos sobrevivendo, com dificuldades. Eu fiquei doente, e ela tinha medocassino millionchamar o médico que podia perceber, ao tirar a minha roupa, que eu era circuncidado e nos delatar", diz.

"Mas, assim mesmo, ela chamou o médico. As condições nessa casa realmente eram terríveis: vivíamos no quarto deitados no chão", acrescenta.

Leon conta que outra situação difícil era pegar a comida com os cuponscassino millionracionamento. Sua mãe tinha medo, pois poderiam reconhecê-la.

"Ela mandava uma vizinha com os cupons e, até essa moça voltar, era um terror".

Naquela época, os assassinatoscassino millionmassacassino millionjudeus já haviam começado e os alemães passaram a tentar atrai-los distribuindo algum tipocassino millionalimentocassino millionsinagogas, conta Leon.

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Legenda da foto, Judeus reunidos na Praça Eleftherias

"Minha mãe ficou sabendo que os judeus podiam ir à sinagoga para receber comida. Mas logo percebeu se tratarcassino millionuma armadilha e avisou às amigas".

Leon estima que até mil judeus vivendocassino millionAtenas foram capturados dessa forma, nas vésperas do Pessach (Páscoa judaica)cassino million1944.

"Minha mãe contava que cobriu o rosto dela com um xale, me apertou no colo, pois estava comigo, e saiu correndo, correndo. Assim levou a vida dela até o final da guerra enquanto o meu pai estava preso no campo", diz.

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Legenda da foto, Isaac Jacob Menache (o primeiro à esquerda) no campocassino milliontrabalho forçado. Tatoi, 1944

Em "setembro ou outubro daquele ano", Isaac acabou libertado, quando os alemães se retiraram da Grécia.

"Meu pai dizia que saiu do campo muito desconfiado, não quis olhar para trás, achando que na saída seria metralhado, fuzilado. Mas não aconteceu nada disso. Andou até poder desaparecer e se apresentarcassino millioncasa", conta.

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Legenda da foto, Isaac Jacob Menache (em pé, o terceiro a partir da esquerda) no campocassino milliontrabalho forçado do aeroporto militarcassino millionAtenas, sob ocupação alemã, 1944

Ele chegoucassino millioncasa pesandocassino milliontornocassino million40 quilos e com tuberculose.

Pouco depois, mais uma adversidade: começou uma uma guerra civil entre comunistas e nacionalistas, e Isaac foi requisitado pelo Exército. Mas constataram que ele ainda estava muito doente.

Fim da guerra

Com o fim da guerra, os Menaches começaram a buscar notícias da família. E descobriram que, com exceçãocassino millionRachel (irmãcassino millionIsaac), ninguém se salvou, conta Leon.

Crédito, Vozes do Holocausto/Arqshoah

Legenda da foto, Ficha consularcassino millionimigraçãocassino millionIsaac Jacob Menache, emitida pelo cônsul-geral do Brasilcassino millionPireu, 5 jul. 1954. Anotados como filhos menores: Leon, com 11 anos, e Bela, com 8 anos

"Em marçocassino million1945, minha mãe recebeu uma carta do patrãocassino millionsua irmã caçula, Bela. Ela trabalhava numa alfaiatariacassino millionTessalônica e foi levada pelos alemães. Esse alfaiate chamava-se Pericles Sarayotes", diz Leon.

Nessa carta, conta, Sarayotes dizia que ficou "muito satisfeito"cassino millionsaber que os Menaches estavam vivos, mas não tinha boas notícias sobre Bela.

"Infelizmente, aqui as notícias não são boas. No dia 5cassino millionabrilcassino million1944 eu fiquei sabendo que os alemães iam recolher os judeus. No dia seguinte eu levantei cedo para ver. Ecassino millionfato, lá pelas tantas, começaram a passar pessoas na frente da minha casa. Todos eles com suas malas, com suas mochilas, passaram marchando na frente da minha casa e eu vi acassino millionfamília", escreveu Pericles.

"Eu vi passar na minha frente acassino millionmãe,cassino millionirmã... Seu pai estavacassino millionum outro bairro. A Bela - que ficou comigo durante tanto tempo, coitada - se agarrou nas grades da minha porta e chorava desconsolada, mas eu não podia fazer anda. Porque conosco também os alemães nos tratavam como bestas. Ecassino millionfato passaram e nunca mais tivemos notícias. Eles estavam indo para aquele gueto no bairro Hirsch, na ferrovia, ecassino millionlá seriam deportados. Quer dizer, eu não sei se ela foi nesse mesmo dia ou nos dias seguintes, mas pelo menos no dia cinco passou na frente da casa. Depois, eu passei pela casa deles e, realmente, estava tudo desarrumado, cheiocassino millionretratos espalhados pelo chão. Recolhi e estou te mandando", acrescentou o alfaiate.

Junto com a carta, veio uma caixacassino millionretratos que Leon guarda até hoje.

Seu pai, Isaac, voltou à Tessalônica para tentar recuperar alguns pertences. Ele foi à casa dos pais, mas não achou nada e descobriu que uma família estava morando ali, que não quis devolver nada nem o receber, conta Leon.

"Ele ficou muito incomodado. Mas trouxe um relógiocassino millionparede que era do irmão dele e falou: "Vocês podem ficar com tudo, mas isso aqui eu vou levar". E foi a única coisa que ele levou. E eu tenho esse relógio até hoje".

Crédito, Vozes do Holocausto/Arqshoah

Legenda da foto, Ficha Consularcassino millionimigraçãocassino millionSara Isaac Menache, emitida pelo cônsul-geral do Brasilcassino millionPireu,cassino million5cassino millionjulhocassino million1954. Anotados como filhos menores: Leon, com 11 anos, e Bela, com 8 anos, todos com vistos permanentes

O anelcassino millionBela

Leon conta que, depoiscassino millionmuito tempo, resolveu procurar nas redes sociais por Pericles Sarayotes, a partir da suposiçãocassino millionque, normalmente, os pais colocam os nomes dos avóscassino millionseus filhos.

"E não é que me respondeu um Pericles Sarayotes? Perguntei por um pai ou um avô que tinha uma alfaiatariacassino millionTessalônica na décadacassino million1930. E ele falou: 'Olha, o meu avô se chamava Pericles Sarayotes e ele tinha uma alfaiataria na rua 25cassino millionMarço'. Soube, então, que ele era economista e trabalhava no Banco Mundialcassino millionViena (Áustria)".

"Nessa data, estavacassino millionférias na casa do avô: na verdade ele era neto do Pericles, cujo filho chamava Dimitris. E então ele me contou que tinha 'entre 4 a 5 anoscassino millionidade. Me lembro quando acassino millionfamília e acassino milliontia Bela passaram pela nossa casa. Lembro que eu perguntei para o meu pai o que era aquilo. Ele me explicou na época sobre os alemães, nazistas, mas eu não entendi bem o que era. Me lembro até hoje que eu vi acassino milliontia chegar até nós — eu vi todas as suas irmãs — e deu, na ocasião, para o meu pai um anel e ela disse 'se eu voltar, você me devolve, senão ficacassino millionlembrança".

"Ele me disse então quecassino millionfamília havia guardado o anel por décadas e ele nos pertencia. E me mandou pelo correio", emociona-se Leon.

Um novo destino

Com o fim da guerra, a Grécia, assim como o restante da Europa, estava completamente arrasada e na miséria. Para piorar, uma guerra civil entre comunistas e nacionalistas eclodiu, que duroucassino million1946 e 1949.

Foi um período difícil, conta ele. Nas vésperas do nascimentocassino millionsua irmã, Bela,cassino million1946, Leon foi enviado a um orfanatocassino millioncrianças judias. A maioria havia perdido todos os familiares e seriam encaminhadas ao futuro Estadocassino millionIsrael, fundadocassino millionmaiocassino million1948. Ali, ele permaneceu durante "três ou quatro anos, pois meus pais não tinham condiçõescassino millionme manter".

"Lembro-me do ovo mole que minha mãe insistia com as cozinheiras para me dar diariamente. Ou dos sapatos apertados que tínhamos que usar pois eram todos doados. Meus pais iam me ver toda semana e me levavam algum agrado", diz.

Mas a vida para os Menaches não estava fácil. Às voltas com a dura realidade do pós-guerra, a ideiacassino milliondeixar a Grécia começou a ganhar força.

Foi quando um dia, sentadoscassino millionum bar, Isaac e Sara ouviram um idioma parecido ao ladino, o dialeto que falavamcassino millioncasa. Era o português falado por marinheiros brasileiros do navio-escola da Marinha brasileira.

"Meus pais começaram a conversar com eles e o Brasil acabou se tornando uma opção para a gente", diz.

Em 1954, os Menaches decidiram, então, deixar a Grécia rumo ao "desconhecido" Brasil, com a ajuda da Joint, uma entidadecassino millionapoio a judeus.

Leon lembra-se do diacassino millionque o Bretagne, o transatlântico francês, chegou ao porto do Riocassino millionJaneiro.

"Era 21h do dia 29cassino millionsetembrocassino million1954. Na proa do navio, fiquei maravilhado com o Cristo Redentor. Meus pais estavam loucos atráscassino millionmim. Eles tinham costurado US$ 100 ou US$ 200 na minha blusa, o que nos permitiria começar uma nova vida aqui", ri.

No Riocassino millionJaneiro, os Menaches encontraram dois primos sobreviventes. Após uma breve estada na cidade, decidiram, no fimcassino million1954, partir rumo a Belo Horizonte, onde havia uma pequena comunidade judaica.

"Na verdade, a opção foi Belo Horizonte foi por causa do clima, mais parecido com ocassino millionAtenas. Tanto que o cônsul brasileiro tinha nos dito que muitos judeus escolheram a cidade por isso", conta.

Em Belo Horizonte, Isaac começou a produzir camisas. Antescassino millionsair da Grécia, ele havia feito cursos na ORT, uma instituição judaica, onde aprendeu a pintar paredes e também corte e costura. Depoiscassino millionganhar algum dinheiro, abriu uma loja.

Já Sara se tornou "sacoleira", diz Leon, depoiscassino millionouvir uma dicacassino millionuma amigacassino millionque "costurar camisas era uma perdacassino milliontempo. O negócio era vendercassino millioncasacassino millioncasa".

"Minha mãe acabou contribuindo decisivamente para alcançar uma estabilidade econômica familiar".

Leon estudou Economia ecassino millionirmã, Bela, Direito. Trabalhou como economista e como professor universitário, concretizando a vontadecassino millionseu pai. "Ele queria que eu fosse professor. Era o grande orgulho dele".

Ele é casado com Miriam, com quem tem três filhos e cinco netos.

Crédito, Vozes do Holocausto/Arqshoah

Legenda da foto, Leon Menache, a esposa Míriam e o filho Alberto. São Paulo, 2014

"Fomos muito bem recebidos no Brasil e amamos esse país. Passei praticamente toda a minha vida aqui", diz.

Hoje aposentado, depoiscassino million41 anos trabalhando como professor, Leon dedica-se a manter viva a memória do Holocausto, contandocassino millionhistóriacassino millionescolas, por exemplo, assim como outros sobreviventes que escolheram o Brasil para viver após a 2ª Guerra Mundial.

"Essa memória precisa continuar a ser transmitida oralmente, assim como minha mãe fez comigo. Há muito negacionismo e desinformação hojecassino milliondia. Não podemos deixar que isso volte a acontecer", diz ele.

Cerimônia virtualcassino millionmemória das vítimas

Leon será um dos seis sobreviventes do Holocaustocassino milliondiferentes comunidades judaicas do Brasil convidados para acender uma velacassino millionhomenagem aos 6 milhõescassino millionjudeus assassinadoscassino millioncerimônia virtual às 19h (horáriocassino millionBrasília) desta quarta-feira (27/1), organizada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) com o apoio institucional da Embaixadacassino millionIsrael no Brasil e do Consulado Geralcassino millionIsraelcassino millionSão Paulo.

Nesta data, é comemorado o Dia Internacionalcassino millionMemória das Vítimas do Holocausto, por ocasião da libertação do campocassino millionconcentraçãocassino millionAuschwitz pelo Exército vermelho.

"Este é um momento não só para lembrarmos o sofrimento do povo judeu, mas um convite a refletirmos sobre o compromisso com o ideário democrático, com a tolerância e com o respeito às diferenças", diz à BBC News Brasil Cláudio Lottenberg, presidente da Conib.

O evento será transmitido pela Conib no Facebook (https://www.facebook.com/Conib1948/) e no YouTube (https://www.youtube.com/user/conib48).

*As fotos que ilustram esta reportagem fazem parte do projeto Vozes do Holocausto, do Núcleocassino millionEstudo Arqshoah, LEER- USP, coordenado pela Profa. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro.

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