'Comi cascasreal betis real madridbatata do lixo e me cobri com cadáveres para não morrer', diz sobrevivente do Holocausto:real betis real madrid

Francisco Balkanyi, sobrevivente do Holocausto,real betis real madridcasa,real betis real madridSão Paulo

Crédito, Flavia Nogueira/BBC Brasil

Legenda da foto, Uruguaio radicadoreal betis real madridSão Paulo, Francisco Balkanyi,real betis real madrid88 anos, relembra como escapou da morte durante nazismo

Balkanyi é um dos poucos sobreviventes ainda vivos do massacre. Nesta sexta-feira, comemora-se o Dia Internacionalreal betis real madridMemória das Vítimas do Holocausto, solenidade instituída pela ONUreal betis real madrid2005.

Em um mistoreal betis real madridportuguês e espanhol, ele relembra as privações e torturas pelas quais passou com uma memória invejável, apesar da idade avançada.

Filho únicoreal betis real madridjudeus húngaros, Balkanyi nasceu no Uruguaireal betis real madrid3real betis real madridoutubroreal betis real madrid1928, mas se mudou para a Europa com os pais, quando tinha apenas um ano.

"Meus avós paternos estavam com saudades do meu pai e insistiam que ele voltasse para a Europa", diz.

De volta ao Velho Continente, os Bakanyis se instalaramreal betis real madridCakovec, uma cidade da antiga Iugoslávia, hoje Croácia. Ali montaram uma livraria e uma gráfica - e o negócio logo prosperou.

Francisco Balkanyi, sobrevivente do Holocausto,real betis real madridcasa,real betis real madridSão Paulo

Crédito, Flavia Nogueira/BBC Brasil

Legenda da foto, No antebraço esquerdoreal betis real madridBalkanyi, estão gravados os dígitos 186550, identificação que lhe fora designada pelos nazistas

Prisão

Mas a ascensãoreal betis real madridregimes totalitários na Europa começou a preocupar a família, que tentou revalidar a nacionalidade uruguaia, sem êxito. Foram impedidos pela ditadurareal betis real madridGabriel Terra (1931-1938), que então comandava o Uruguai.

Em 1940, a Hungria se aliou ao Eixo e,real betis real madridmenosreal betis real madridum ano, invadiu o norte da Iuguslóvia com o respaldo dos alemães. Os bens dos Balkanyis acabaram confiscados, conta ele.

A perseguição aumentou gradativamente e,real betis real madrid1944, com a Hungria dominada por completo pelas forças nazistas, o destino dos Balkanyis foi fatalmente selado.

"Fomos feitos prisioneiros e colocadosreal betis real madridtrens rumo aos camposreal betis real madridconcentração", recorda ele.

A família acabou separada: pai e filho foram enviados para o camporeal betis real madridconcentraçãoreal betis real madridAuschwitz, na Polônia, enquanto a mãe foi mantidareal betis real madridoutro,real betis real madriduma cidade próxima.

"Só soubemos do paradeiroreal betis real madridminha mãe e que ela estava viva quando recebemos uma correspondência dela", conta ele.

"Ela havia conseguido subornar um guarda nazista dando-lhe as roupasreal betis real madridjudeus que haviam sido enviados às câmarasreal betis real madridgás", acrescenta.

As câmarasreal betis real madridgás, aliás, foram o trágico destinoreal betis real madridseus avós maternos. O vigor físicoreal betis real madridBalkanyi, então com 15 anos, o poupou do extermínio.

Mas embora areal betis real madridsaúde o tenha inicialmente salvado da morte, os cercareal betis real madrid11 mesesreal betis real madridque ficou presoreal betis real madridcamposreal betis real madridconcentração - inicialmentereal betis real madridAuschwitz, na Polônia, e posteriormentereal betis real madridBuchenwald, na Alemanha, cobraram o seu preço.

Inicialmente forçado pelos alemães a trabalhar na construçãoreal betis real madriduma fábricareal betis real madridprodutos químicos, chegou a carregar sacosreal betis real madridcimentoreal betis real madridaté 50 quilos. Até hoje, por causa disso,real betis real madridmobilidade é reduzida.

"Não tinha o que comer. À noite, quando os guardas nazistas iam dormir, eu e outros companheiros íamos roubar as cascasreal betis real madridbatata jogadas no lixo. Era delas que nos alimentávamos", recorda.

Francisco Balkanyi, sobrevivente do Holocausto,real betis real madridcasa,real betis real madridSão Paulo

Crédito, Flavia Nogueira/BBC Brasil

Legenda da foto, Balkanyi foi libertado pelos americanosreal betis real madrid11real betis real madridabrilreal betis real madrid1945

Libertação

Em 1945, com o avanço dos soviéticos e o prenúncio do fim da guerra, os nazistas começaram a deixar as áreas ocupadas no leste europeu e retornar à Alemanha. Levaram consigo os prisioneiros, no que ficou conhecido como a "Marcha da Morte" - muitos deles não resistiram às jornadas quilômétricas feitas a péreal betis real madridmeio ao inverno intenso, sob temperaturas negativas.

Enquanto o seu pai permaneceureal betis real madridAuschwitz, por causa da saúde debilitada ("Eles diziam que iam matá-lo"), Balkanyi foi postoreal betis real madridum tremreal betis real madridtransportereal betis real madridcarvão com destino ao camporeal betis real madridconcentraçãoreal betis real madridBuchenwald, na Alemanha.

Os vagões eram abertos e, sem proteção, tevereal betis real madriddesafiar a morte mais uma vez.

"Tivereal betis real madridme cobrir com cadáveresreal betis real madridoutros prisioneiros para aguentar o frio. Das 200 pessoas que estavam a bordo, acho que só 20 sobreviveram", estima.

Em 11real betis real madridabrilreal betis real madrid1945, Balkanyi foi finalmente libertado pelos americanos.

"Durante o temporeal betis real madridque estive preso, passeireal betis real madrid80 para 42 quilos. Era só pele e osso. Se os americanos tivessem demorado mais 15 dias, teria morrido", diz.

Livre, ele voltou a Cakovec, onde, miraculosamente, reencontrou o pai e a mãe - a família, uma das poucas a ter sobrevivido ao Holocausto, havia combinadoreal betis real madridvoltar à cidade se escapasse com vida do genocídio.

Sem dinheiro e com a Europa devastada pelo conflito, os três conseguiram voltar ao Uruguaireal betis real madrid1948 com a ajudareal betis real madridum parente.

Em Montevidéu, Balkanyi conheceria a futura mulher, Rita, com quem teve três filhos. Ali dedicou-se ao comércio e teve duas fábricasreal betis real madridroupas.

Francisco Balkanyi, sobrevivente do Holocausto,real betis real madridcasa,real betis real madridSão Paulo

Crédito, Flavia Nogueira/BBC Brasil

Legenda da foto, Durante o temporeal betis real madridque esteve preso, Balkanyi passoureal betis real madrid80 para 42 quilos

Mudança para o Brasil

Tudo corria bem, quandoreal betis real madridmeados dos anos 60, decidiu se mudar com toda a família para o Brasil, preocupado com o totalitarismo que avançava no Uruguai.

"Tinha um amigo que morava aqui (São Paulo) e me convidou para vir. Não queria passar novamente pelo que passei", recorda.

Hoje com seis netos e quatro bisnetos, Balkanyi diz estar preocupado com a ascensão do neonazismo no Brasil.

Uma reportagem recente da BBC Brasil mostrou que a polícia civil vem detectando uma maior movimentaçãoreal betis real madridgruposreal betis real madridcaráter neonazistareal betis real madridSão Paulo nos últimos meses.

Segundo especialistas e policiais, entre as possíveis causas para essa tendência estão o cenário político no Brasil, o fortalecimentoreal betis real madridpartidos conservadores ereal betis real madridextrema-direita no exterior e a situaçãoreal betis real madriddesemprego e instabilidade econômica.

"Tenho 88 anos e não vou viver para sempre. Por isso, é muito importante continuarmos a contar essa história para que o mundo nunca se esqueça do que aconteceu", diz Balkanyi, que tem material suficiente, entre memórias e anotações, para escrever "um ou dois livros, mas me falta a habilidade dos grandes escritores".

Exposição fotográfica "Lembrar e Honrar"

Crédito, Conib

Legenda da foto, Exposição fotográfica "Lembrar e Honrar", sobre as crianças no Holocausto, ficareal betis real madridcartaz até 26real betis real madridfevereiro

Ato solene

Por ocasião do Dia Internacionalreal betis real madridMemória das Vítimas do Holocausto, entidades judaicas (Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita do Estadoreal betis real madridSão Paulo (Fisesp) e Congregação Israelita Paulista (CIP) vão promover um ato solenereal betis real madridSão Paulo no domingo.

A cerimônia, cujo tema será o "Holocausto e Intolerância no Mundo", vai homenagear os 6 milhõesreal betis real madridjudeus mortos, com o acendimentoreal betis real madridseis velas por sobreviventes do Holocausto, representantesreal betis real madridoutras comunidades, vítimas do nazismo ereal betis real madridperseguições, autoridades políticas, religiosas, institucionais e jovens.

No mesmo dia, será inaugurada a exposição fotográfica "Lembrar e Honrar", sobre as crianças no Holocausto. A mostra ficaráreal betis real madridcartaz na Sinagoga da Congregação Israelita Paulista (CIP),real betis real madridSão Paulo, até 26real betis real madridfevereiro.

Colaborou Flavia Nogueira, da BBC Brasilreal betis real madridSão Paulo